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F&N202

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PÁGINA ABERTA<br />

Figuras&Negócios (F&N)<br />

– Publicou, recentemente,<br />

a sua segunda<br />

obra. O que nos pode<br />

dizer sobre este trabalho<br />

literário?<br />

E.M.: “Versos Confessos” é o título<br />

da minha segunda obra poética,<br />

cuja abordagem se encerra no mundo<br />

e nos fenómenos que se desenvolvem<br />

à minha volta e no meu interior:<br />

expresso o quotidiano, o amor, a saudade,<br />

as dores e as alegrias, com uma<br />

pitada de imaginação e revelação de<br />

sonhos poéticos. Refere-se também à<br />

nossa Angola, enfim, às vivências (…)<br />

F&N – A aposta continua a ser<br />

a poesia. Porque não outro género<br />

literário?<br />

Elsa Major (E.M).: Sou apaixonada<br />

pela poesia. A vida sem poesia não<br />

faz sentido! É nela onde encontro a<br />

minha essência e por isso a minha<br />

predilecção. Não consigo imaginar<br />

um mundo sem pinceladas poéticas...<br />

A sociedade precisa de poesia,<br />

sensibilidade e de amor.<br />

Os outros géneros literários também<br />

têm lugar na minha vida literária<br />

e oportunamente colocarei à disposição<br />

da sociedade.<br />

F&N – O que a impulsionou<br />

para apostar no mundo das letras?<br />

E.M.: Penso que não se aposta nas<br />

letras. A arte de escrever nasce connosco<br />

e se desenvolve a medida que<br />

se ganham hábitos de leitura, e da escrita<br />

- dois exercícios que dependem<br />

da exigência e acompanhamento,<br />

tanto da família como da escola. O<br />

processo de ensino e aprendizagem<br />

deve conter políticas que incentivem<br />

as crianças a desenvolverem hábitos<br />

de leitura. Felizmente tive uma boa<br />

orientação neste sentido, facto que<br />

me impulsionou a abraçar a escrita<br />

com responsabilidade.<br />

F&N – Onde ou como se inspira<br />

para a sua produção literária?<br />

E.M.: O poeta inspira-se até com<br />

o ar que respira, não há um lugar<br />

nem momento específico para a inspiração.<br />

O poeta vive em constante<br />

invasão dos espaços e se, por um<br />

lado, o quotidiano o impele a experimentações<br />

constantes, por outro<br />

lado, a imaginação o eleva a uma<br />

criatividade em que a melodia transcende<br />

o silêncio e as palavras deixam<br />

de ser somente palavras, pois o poema<br />

é uma oração e cada verso uma<br />

confissão.<br />

Hoje penso que não devemos ficar<br />

à espera da inspiração; o hábito<br />

pela escrita nos obriga a criar ambientes<br />

propícios e espaços inspiradores<br />

para o deleite.<br />

“<br />

O poeta vive em constante<br />

invasão dos espaços<br />

(...) a imaginação o eleva a<br />

uma criatividade em que a<br />

melodia transcende o silêncio<br />

e as palavras deixam de<br />

ser somente palavras, pois o<br />

poema é uma oração e cada<br />

verso uma confissão<br />

“<br />

F&N – Como caracteriza o estado<br />

actual da literatura angolana?<br />

E.M.: Observamos uma melhoria<br />

na literatura em Angola. Deixamos<br />

de constatar a letargia de há alguns<br />

anos e seguimos com atenção o aparecimento<br />

de mais escritores, produção<br />

de mais obras literárias, e de<br />

vários géneros. A juventude surge<br />

com a sagacidade que os tempos impõem,<br />

pese embora o facto de que as<br />

edições de livros terem custos muito<br />

elevados, factor que impede, sobremaneira,<br />

o maior e cabal desenvolvimento<br />

da literatura em Angola.<br />

Há, todavia, um longo caminho a calcorrear,<br />

e todos somos chamados<br />

a unir sinergias para alcançarmos<br />

o objectivo almejado, o que implica<br />

colocar livros no mercado em quantidade<br />

e qualidade, redução dos preço<br />

dos livros, aumento de bibliotecas<br />

e criação de bibliotecas nas escolas,<br />

desenvolvimento de políticas e projectos<br />

para incentivar o gosto pela<br />

leitura e pela escrita, essencialmente<br />

em crianças e jovens.<br />

Neste contexto, as organizações<br />

focadas na literatura têm esta responsabilidade.Porém,<br />

cabe essencialmente<br />

ao Executivo Angolano,<br />

isto é, aos Departamentos Ministeriais<br />

afins, implementar as políticas<br />

que concorram para o desenvolvimento<br />

da literatura de qualidade e,<br />

com certeza, os escritores angolanos<br />

estão dispostos a participar em todo<br />

este processo.<br />

F&N – Diz-se que o mercado regista<br />

escassez em termos de produção.<br />

O que se pode fazer para se<br />

reverter o quadro?<br />

E.M.: É verdade que se regista<br />

muita escassez de produção local,<br />

pois a maior parte dos livros publicados<br />

são editados fora do país.<br />

Em Angola a produção fica muito<br />

onerosa, o que dificulta a edição de<br />

obras no mercado. Este facto impede<br />

o desenvolvimento e a expansão da<br />

literatura angolana, dando lugar ao<br />

encarecimento dos livros.<br />

É evidente que o último aspecto<br />

que atrás referi também contribui<br />

para que a camada infanto-juvenil<br />

deixe de ter o livro como um amigo<br />

predilecto.<br />

F&N - O que deve ser feito para<br />

que não haja tanto custo?<br />

E.M.: Compete às instituições<br />

do Executivo Angolano, vocacionadas<br />

para o efeito, executar e implementar<br />

as políticas que concorram<br />

a redução dos custos de edição das<br />

obras. Um país sem leitores é um<br />

país sem esperança, sem futuro.<br />

F&N - Que acções podem contribuir<br />

para o incentivo ao gosto<br />

pela leitura no seio da juventude?<br />

E.M.: Aumentar o número de bibliotecas<br />

em escolas nas comunidades,<br />

incentivar e dar liberdade de escolha<br />

aos jovens dos temas, géneros<br />

literários, leitura e escrita constitui<br />

um desafio para o país. É necessário<br />

estabelecer parcerias entre a escola<br />

e a família, utilizar as tecnologias<br />

para estimular o gosto pela leitura e<br />

escrita criativa.<br />

F&N – Até que ponto a Lei do<br />

Mecenato pode ajudar para que<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 9

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