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F&N202

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Victor Aleixo<br />

victoraleixo12@gmail.com<br />

PONTO<br />

DE ORDEM<br />

TRIBUTO A MANDELA<br />

Angola foi um dos poucos países do mundo que não deverá ter<br />

feito o suficiente para homenagear o "Mandela Day". Poder-se-á<br />

apresentar a mais completa argumentação sobre tão gritante<br />

"súbito esquecimento" ou " curta memória colectiva", mas não se<br />

deve admitir que se passe, de forma tão leviana, por cima de tal<br />

efeméride. Foi como se o nosso país não fizesse parte do continente,<br />

da sua região austral e, sobretudo, não tivesse sido, também ele, um dos que mais<br />

se sacrificou para que a liberdade deste homem do mundo fosse um facto.Nem<br />

sequer isto fez com que certas mentes "adormecidas" pelo poder fétido e egos<br />

estupidificados parissem algumas ideias, por forma a recordar o legado de Nelson<br />

Mandela, um dos quais foi o de ter conseguido riscar do mapa um regime a todos<br />

os títulos desumano e violento na região.<br />

É verdade que se tenham registado alguns actos fugazes comemorativos do<br />

centenário do nascimento de Nelson Mandela. É verdade que os sul-africanos<br />

terão, no seu cantinho, homenageado um dos homens que mais lutou para que<br />

se libertassem do regime mais odiado do continente africano. É verdade que a<br />

União Africana terá feito alguns encontros sub-reptícios para lembrar a obra deste<br />

gigante que deixou um legado tão ou mais nobre do que dezenas, senão centenas<br />

de europeus, americanos ou asiáticos que fizeram a História dos Heróis destes e<br />

doutros tempos.<br />

Também é verdade que, na SADC, alguns países recordaram o dia do nascimento<br />

de Mandela como mais um marco histórico calendarizado para festejá-lo com<br />

orgulho, honra e dignidade, tal como o fazem com outros dias importantes para<br />

as suas gerações mais jovens, pois sabem que se estas seguirem os exemplos de<br />

Nelson Mandela, o seu futuro estará certamente melhor preenchido com mais<br />

acções benéficas que prejudiciais.<br />

Faço questão de recordar a importância do "18 de Julho" como um dia<br />

em que todos nós, conscientes da sua importância, nos devíamos orgulhar,<br />

homenageando aquele que foi, sem dúvidas, o africano que mais dignificou o<br />

continente-berço da humanidade. "Actuem, inspirem-se na mudança, façam de<br />

cada dia um Dia Mandela", exortou há dias a fundação que leva o seu nome, no<br />

âmbito das comemorações do centenário do nascimento do primeiro presidente<br />

negro da República sul-africana.<br />

Apesar de não se ter feito muito "estrondo mediático"sobre a efeméride, fica<br />

registado um facto aparentemente simples, mas significativo.No dia 18 de Julho<br />

não houve fogos de artifício, nem festas de arromba nos grandes salões da nobreza,<br />

mas se Mandela estivesse vivo, certamente agradeceria o gesto: na sua cidade<br />

natal , em Mvezo, na província de Cabo Oriental, no sudeste, foi inaugurada uma<br />

clínica.Agradeceria com a sua simplicidade,humildade e amor pelas crianças na<br />

sua procura incessante pela terra prometida, pela terra da liberdade, democracia<br />

e igualdade.<br />

O sonho de Mandela não foi cumprido tal como desejava e neste ano em que se<br />

comemorou mais um aniversário do seu nascimento, urge recordar os objectivos<br />

pelos quais foi capaz de submeter o seu corpo e a alma a uma série de sevícias, às<br />

quais poucos poderiam suportar.<br />

Está claro que, 25 anos após o fim oficial do Apartheid, a pobreza continua a<br />

fazer da vida dos sul-africanos um inferno; a economia está num sufoco e o racismo<br />

insiste em dividir a nação, provocando violentos conflitos internos. Mas, no meio<br />

de tanto desemprego também provocado pela má gestão dos imensos recursos<br />

naturais do país, apesar do quadro económico e social funesto, um nome continua<br />

a servir de farol para que se continue a lutar no sentido de fazer da África do Sul<br />

uma terra boa para que todos- negros, brancos e mestiços- possam viver em paz e<br />

harmonia, na igualdade de direitos.<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 7

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