F&N202

FIGURAS
António Félix
felito344@yahoo.com.br
DE JOGO
ARTUR ALMEIDA PODE CAIR?
No seguimento da participação
pouco aplaudida
dos Palancas Negras no
CAN do Egipto, há vozes
a clamarem para que
o actual presidente da
Federação Angolana de Futebol (FAF)
apresente a sua demissão, saindo com
os seus pares, ou então incentiva-se os
associados a promoverem eleições antecipadas,
o que a acontecerem, estas
poderão ser altamente polémicas.Há
quem defenda mesmo a intervenção do
Ministério da Juventude e Desportos,
suspendendo a direcção, nomeando
uma comissão de gestão.
Desde a data da sua fundação, em
1979, a Federação Angolana de Futebol
(FAF) nunca viveu momentos de verdadeira
paz, sobretudo quando se passou
a realizar eleições, na verdade tão
polémicas, tão concorridas e mediatizadas
como as que guindaram Artur
Almeida e pares à sua liderança.
Polémicas porque o processo
eleitoral pode ser ser visto de modo
diferente pela população votante, que
são os clubes e associações. Concorridas
e mediatizadas porque os candidatos à
presidência terão muitas facilidades, não
vividas nos mandatos anteriores.
Na verdade, consta nos anais do futebol
angolano que o primeiro presidente
da FAF, Eduardo Macedo dos Santos,
que dirigiu a federação de 1979 a 1983,
fê-lo por via da nomeação pela então
Secretaria de Estado de Educação Física
e Desportos, tal como aconteceu com o
segundo, Luís Gomes (1983 a 1989) e
para o terceiro, José Fernandes (1990).
Este último, irmão de Justino
Fernandes, mas já falecido, dirigiu
a federação em comissão de gestão,
devido a uma crise directiva ao tempo
de Luís Gomes.Com o fim do critério
político de nomeação, apanágio do
então regime político monopartidário,
o primeiro presidente eleito, graças
aos sinais da democracia participativa
que também chegou ao desporto, foi
Armando Machado (1991 a 2000).
Este dirigente, à época vindo do
Huambo, onde abdicou o cargo de presidente
da Associação Provincial de Futebol,
concorreu com Daniel Simas, da
associação de Luanda, a quem venceu,
facilmente, por 11 votos contra apenas
1.Depois de dois mandatos (cada um
é de quatro) eivado de alguns ganhos
pelo meio, como a primeira participação
de Angola numa fase final do CAN
(1996, na África do Sul), conquista da
Taça Cosafa (1999) e a construção de
uma sede e um hotel para servir a federação
e a selecção nacional, Armando
Machado tinha trunfos para voltar
a concorrer desde que os estatutos
alargassem para um terceiro mandato,
mas não logrou esta pretensão.
O obstáculo foi Justino Fernandes,
defesa de renome no ASA dos anos
sessenta, presidente do 1º de Agosto
e ministro da Juventude e Desportos.
A Armando Machado ter-se-á pedido
mesmo para não fazer frente a quem
(Justino Fernandes) era assessor social
do ex-Presidente da República, Eduardo
dos Santos.
Provavelmente por causa desse
peso político, Justino Fernandes, nas
duas eleições seguintes (2005 e 2008),
não enfrentou a ousadia de candidatos
de peso. No seu mandato conseguiu a
conquista do título de campeão africano
de Sub-20, em 2001, na Etiópia,
presença no Mundial (2006), nos CAN
de 2006 e 2008, no Egipto e Ghana,
vitória, em 2006, no Egipto, para organização
do CAN de 2010 e, finalmente,
a realização, com êxito, deste evento.
Sucessos à parte, foram questões
da falta de apoios e contactos regulares
com as associações que motivaram estas
a forçarem a direcção da FAF, liderada
por Justino Fernandes, a solicitar
eleições antecipadas, abrindo espaço
para a concorrência que só terminou
no dia em que Pedro Neto subiu ao
"trono", onde actualmente está Artur
Almeida, também na corda bamba.
Pergunta-se: Artur Almeida
pode cair?
Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 67