26.08.2019 Views

F&N202

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

FIGURA DO MÊS<br />

sentimentos das pessoas.<br />

Trata-se de uma música criada e<br />

produzida, na altura, como tantas outras,<br />

para transmitir o sentimento da<br />

maioria dos angolanos.Nela, procurei<br />

sensibilizar os angolanos para a necessidade<br />

da solidariedade, da partilha<br />

e da união. Na altura, passávamos<br />

por um momento muito difícil, e, como<br />

artista, que vivia o dia-a-dia dos angolanos,<br />

a aposta passou pela produção<br />

de temas musicais com mensagens<br />

educativas.<br />

- Surge no mercado angolano e<br />

nos Palop nos anos 80, tendo como<br />

companheiros Eduardo Paim, Ricardo<br />

Abreu e Ruca Van-Dúnem…<br />

- Os dois primeiros discos são arranjados<br />

e produzidos por Eduardo<br />

Paim e Ruca. Eles começaram, na altura,<br />

a mostrar-me a diferença entre<br />

a música na diáspora e a música que<br />

se pretendia voltar a fazer em Angola,<br />

porque, no final dos anos 80, ninguém<br />

gravava em Angola. Lembro-me que<br />

foram falar comigo em Lisboa, no caso<br />

concreto o Ricardo Abreu e o Ruca<br />

Van-Dúnem, para mostrarem outra<br />

forma de abordar Angola. Na altura,<br />

na diáspora, tínhamos muitas músicas,<br />

cujas letras transmitiam o sentimento<br />

de saudade que sentíamos do<br />

país, das nossas famílias. Com o Ruca<br />

e o Eduardo, vi e percebi que Angola<br />

também podia fazer parte do mundo,<br />

com a sua alegria e a sua ginga. No<br />

caso do Ruca, era uma música mais<br />

cadenciada: a kizomba.<br />

Como se dá a sua entrada no<br />

semba, tendo em conta que, no<br />

princípio da carreira, estava mais<br />

ligado à kizomba?<br />

O nome kizomba é dado, de facto,<br />

por causa das nossas músicas. Do<br />

Luandino de Carvalho, Eduardo Paim,<br />

Ruca Van-Dúnem, Ricardo Abreu.Em<br />

relação ao semba, surge na minha linha<br />

melódica com o “Tunda Mujila”,<br />

em 1992. Mas a incursão mais forte<br />

neste género musical dá-se com o<br />

“Canto o meu Semba”. Com o tempo,<br />

tornou-se na minha principal referência<br />

musical, reforçada com os discos<br />

“Ex-Combatentes” e “Recompasso”.<br />

Vario bastante, mas tenho tido a preocupação<br />

de não deixar ficar mal as pessoas<br />

que gostam da minha música.<br />

É um ritmo com o qual mais me<br />

identifico e, ao mesmo tempo, melhor<br />

me enquadro.Tenho o compromisso<br />

moral de tornar o semba cada vez<br />

mais vivo. Já toquei em várias partes<br />

do mundo e posso afirmar que kizomba<br />

todo o mundo faz e toca, mas o<br />

semba é mesmo só angolano. É a nossa<br />

bandeira.<br />

“(O Semba) é um<br />

ritmo com o qual mais me<br />

identifico e, ao mesmo<br />

tempo, melhor me enquadro.Tenho<br />

o compromisso<br />

moral de tornar o semba<br />

cada vez mais vivo. Já<br />

toquei em várias partes<br />

do mundo e posso afirmar<br />

que kizomba todo o mundo<br />

faz e toca, mas o semba<br />

é mesmo só angolano. É a<br />

nossa bandeira<br />

“<br />

“Inocente”, “Makalakato”, “Reencontro”,<br />

o que nos pode dizer sobre<br />

estas músicas?<br />

São diferentes, mas, ao mesmo<br />

tempo, completam o puzzle. E o<br />

puzzle é sempre do amor ao lugar.<br />

“Inocente” é uma música feita, na<br />

altura, a pensar nas crianças de rua,<br />

no seu sofrimento. “Reencontro” foi<br />

produzido a pensar no sentimento<br />

de saudade do país, na necessidade<br />

de regressar às origens. Já “Makalakato”<br />

é uma música escrita por Galiano<br />

Neto, mas que tive que dar um toque<br />

diferente, mudando a forma em que<br />

estava escrita. É uma música marcante,<br />

que tem história e que continua a<br />

ser ouvida pelo país.<br />

Às vezes, não procuro tanto o<br />

aplauso ou aquele palco. O que procuro<br />

é continuar a ter o prazer quando<br />

termino uma música, sentir-me vivo,<br />

sentir-me com vontade de continuar<br />

à procura e perceber que, muitas vezes,<br />

a música ganha uma dimensão na<br />

vida das pessoas da qual não temos<br />

noção. Quero, essencialmente, continuar<br />

a criar e a comunicar de uma<br />

maneira que possa fazer diferença na<br />

vida das pessoas.<br />

QUEM É PAULO FLORES ?<br />

Paulo Flores, que nasceu<br />

no município do<br />

Cazenga, em Luanda,<br />

em 1972, é um dos<br />

cantores mais populares<br />

de Angola. Mudou-se para Lisboa<br />

durante a sua infância. Lançou o<br />

seu primeiro álbum em 1988. As<br />

suas canções tratam temas diversos<br />

como governação, quotidiano dos<br />

angolanos, guerra e corrupção.<br />

DISCOGRAFIA<br />

• Kapuete, 1988<br />

• Sassasa, 1990<br />

• Coração Farrapo e Cherry, 1991<br />

• Brincadeira Tem Hora, 1993<br />

• Inocente, 1995<br />

• Perto do Fim, 1998<br />

• Recompasso, 2001<br />

• Xé Povo, 2003<br />

• The Best, 2003<br />

• Quintal do Semba, 2003<br />

• Ao Vivo, 2004<br />

• Ex-Combatentes, 2009<br />

• Ex-combatentes Redux, 2012<br />

• O País Que Nasceu Meu Pai, 2013<br />

• Bolo de Aniversário, 2016<br />

• Kandongueiro Voador, 2017<br />

26 Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!