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F&N202

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RECADO<br />

SOCIAL<br />

Carlos Miranda<br />

carlosimparcial@gmail.com.<br />

DESARMAMENTO: OUTRA GUERRA!!<br />

Dados recentes da Polícia<br />

Nacional dão conta que o<br />

processo de desarmamento<br />

da população civil, que<br />

iniciou em Março de 2008,<br />

permitiu a recolha de 110<br />

mil e 572 armas, mais de 68 mil carregadores,<br />

766 mil e 399 munições, bem como<br />

161mil e 834 explosivos.Citada pela Angop,<br />

a nossa polícia revelou que "por posse<br />

ilegal de armas de fogo, foram abertos mil<br />

e 945 processos-crime, mil e 900 julgados,<br />

mil e 822 condenados, 78 absolvidos e mil<br />

e 45 casos em instrução preparatória".Só?<br />

Espantoso!<br />

Já se passaram mais de dez anos, desde<br />

que foi despoletado este processo de desarmamento.<br />

Lembro-me como eram apresentados<br />

os balanços, mais ou menos regulares,<br />

sobre as operações desencadeadas pela<br />

Polícia Nacional. Umas com mais ou menos<br />

"trungungo", mas a polícia lá ia sossegando<br />

a população e esta aplaudia.Algumas delas<br />

eram publicitadas como se ainda estivéssemos<br />

em guerra declarada contra os<br />

terroristas internos, rebeldes armados até<br />

aos dentes, ou coisa que se pareça...<br />

Hoje, o quadro mudou?. Não! Continuamos<br />

assustados. Com medo de atravessar<br />

as ruas, os becos; de irmos aos bancos,<br />

aos serviços, às escolas e universidades,<br />

hospitais; continuamos com receio de regressarmos<br />

aos campos, vilas e cidades do<br />

interior porque, sinceramente, a batalha do<br />

desarmamento vitorioso dos civis em posse<br />

ilegal de armas de guerra tarda em acabar.<br />

Daí a existência de um estádio permanente<br />

de insegurança pessoal. Cada um dos<br />

vinte e quatro milhões com os seus pesadelos.<br />

Uns, sentem-se perturbados com o vizinho<br />

da frente ou com o parente ex-militar;<br />

outros, temem que o primo desmobilizado<br />

se revolte e sinta vontade de estraçalhar os<br />

miolos do mais próximo. Os dados quanto<br />

ao desarmamamento da população em posse<br />

ilegal de armas de fogo, não são muito<br />

apaziguadores.E mais: quem for apanhado<br />

com uma ou várias armas de fogo, julgado<br />

e condenado, apanha uma mísera pena de<br />

dois a seis anos de prisão efectiva.E consta<br />

que se for bem comportado, pode sair ao<br />

cabo de uns mesitos para, cá fora, voltar a<br />

ter oportunidade de armar-se em "rambo"<br />

no povoado, onde, não raras vezes, é acolhido<br />

como "herói", um "ciente" corajoso!<br />

A boa notícia é que o Ministério do<br />

Interior decidiu recrudescer esta "batalha"<br />

do desarmamento e neste contexto teve até<br />

uma decisão porreira: que se construam<br />

depósitos provinciais das armas que vão<br />

sendo recolhidas para posteriormente<br />

serem destruídas. Claro que os cidadãos<br />

acolheram com satisfação esta ideia, mas<br />

não deixam de torcer o nariz quanto à sua<br />

praticabilidade nos tempos que correm.<br />

Querem que as armas sejam apreendidas<br />

e imediatamente destruídas, num curtíssimo<br />

espaço de tempo. E porquê? Porque<br />

a própria polícia já terá reconhecido que<br />

existem muitas armas "desviadas" de<br />

vários locais de sua propriedade para o<br />

mercado negro. Não é novidade que, por<br />

exemplo, no famoso mercado "Roque<br />

Santeiro" não se tenham vendido apenas<br />

fisgas ou alicates. Vendiam-se armas<br />

de fogo e tudo indica que terão existido<br />

outras "praças" em que tais negócios proliferavam<br />

e prosperavam...<br />

Por isso, é preciso fazer uma introspecção<br />

muito séria no seio de várias instituições<br />

detentoras do "privilégio" de utilizarem<br />

armas de fogo. Feliz ou infelizmente,<br />

algumas estão ligadas às empresas de<br />

segurança privada, quer sejam de entidades<br />

colectivas, como individuais. Só falta<br />

ver basukas e lança-mísseis em posse de<br />

algumas delas, tal é a capacidade de fogo<br />

que certas armas detêm.<br />

Figuras&Negócios - Nº 202 - JUlHO 2019 79

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