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Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 1


2 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


CARTA DO EDITOR<br />

Como se sabe, a partir da<br />

edição número 200, decidiu-se<br />

suspender, temporariamente,<br />

a impressão da<br />

revista Figuras & Negócios,<br />

passando a ser lida em diversas<br />

plataformas digitais. Assim, acolhemos<br />

com satisfação as mais variadas<br />

manifestações de adesão por parte de<br />

milhares de internautas,pelo que agradecemos,<br />

desde já, o gesto de estima e<br />

consideração que têm pelo nosso trabalho<br />

quotidiano.<br />

Palmo a palmo, vamos conquistando<br />

o nosso espaço nesta nova era, em que<br />

o estado d'alma dos nosssos leitores<br />

nos convencem que, também através do<br />

nosso site e da nossa página no Facebook,<br />

continuam a ser fiéis seguidores.<br />

Como se diz na gíria: "não nos largam e<br />

não se deixam" e todo este carinho faz<br />

com que redobremos os nossos esforços,<br />

no sentido de aprimorarmos cada<br />

vez mais as matérias que vos apresentamos,<br />

com responsabilidade, rigor, isenção<br />

e imparcialidade.<br />

Continuamos a desejar que se fortaleçam<br />

os laços que nos ligam há mais<br />

de trinta anos, quer através desta revista<br />

que é também vossa, como de outras publicações<br />

criadas ao longo do tempo da<br />

nossa existência.<br />

De resto,o que nos moveu sempre é<br />

a vossa presença permanente nos bons<br />

e nos maus momentos, e, por este facto,<br />

cá estamos para o que der e vier.Para já,<br />

tudo leva a indicar que tão cedo quanto<br />

possível, voltaremos ao vosso convívio<br />

com a revista imprimida, física; enquanto<br />

isso, tudo faremos para que todos os<br />

esforços tendentes a alargar a nossa<br />

presença nestas e noutras plataformas<br />

digitais sejam coroados de sucesso.<br />

Acompanhem nesta edição a análise<br />

do quadro social e económico na palavra<br />

autorizada da economista e professora<br />

universitária, Laurinda Hoygaard. Apreciem<br />

também outros conteúdos sobre o<br />

que aconteceu no país e no estrangeiro,<br />

desde a cultura, passando pelo desporto<br />

e a moda.<br />

Destacamos igualmente os pontos<br />

de vista personalizados dos nossos cronistas<br />

e opinionistas de plantão que,<br />

com espírito crítico q.b., se predispuseram<br />

em escrever diversos temas de interesse<br />

público de actualidade.<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 3


08<br />

PÁGINA ABERTA<br />

LAURINDA HOYGAARD, ECONOMISTA E PROFESSORA UNIVERSITÁRIA<br />

"A BOA GOVERNAÇÃO É DECISIVA PARA UM PAÍS"<br />

3. CARTA DO EDITOR<br />

7. PONTO DE ORDEM<br />

NÃO AO TERRORISMO!!<br />

14. NOTAS DE IMPRENSA<br />

58. MUNDO<br />

69. FIGURAS DE JOGO<br />

70. SAÚDE & BEM-ESTAR<br />

16. NOTÍCIAS BREVES<br />

18. PAÍS<br />

24. POLÍTICA<br />

26. FIGURA DO MÊS<br />

29. MAHEZU<br />

30. SOCIEDADE<br />

32. REPORTAGEM<br />

35. MUNDO REAL<br />

38. FIGURAS DE CÁ<br />

42. CULTURA<br />

48.<br />

ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />

IMPLEMENTAÇÃO DO IVA<br />

QUEM PAGA, COMO, QUANDO E PORQUÊ?<br />

4 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


Publicação mensal de economia,<br />

negócios e sociedade<br />

Ano 20- n. º 201, Junho – 2019<br />

N. º de registo 13/B/97<br />

Director Geral: Victor Aleixo<br />

Redacção: Carlos Miranda,<br />

Júlia Mbumba, Sebastião Félix,<br />

Suzana Mendes e Venceslau Mateus<br />

Fotografia: George Nsimba<br />

e Adão Tenda<br />

Colaboradores:<br />

Édio Martins, Domingos Fragoso,<br />

Juliana Evangelista, João Marcos,<br />

João Barbosa (Portugal),<br />

Manuel Muanza, Rita Simões,<br />

54.<br />

Ana Kavungu, D.Dondo,<br />

Wallace Nunes (Brasil),<br />

Alírio Pina e Olavo Correia<br />

(Cabo-Verde), Óscar Medeiros<br />

(S.Tomé), Crisa Santos (Moda) e<br />

Conceição Cachimbombo (Tradutora).<br />

ÁFRICA Design e Paginação: Humberto Zage<br />

e Sebastião Miguel<br />

OPOSITOR DE TEODORO NGUEMA Capa: Bruno Senna<br />

Publicidade: Paulo Medina (chefe),<br />

CONDENADO A 60 ANOS DE PRISÃO<br />

Gabriel Capapinha<br />

Tel: (+244) 937 465 000<br />

Assinaturas (geral):<br />

Katila Garcia<br />

Revisão: Baptista Neto<br />

Brasil:<br />

Wallace Nunes<br />

Móvel: (55 11) 9522-1373<br />

e-mail: nunewallace@gmail.com<br />

Inglaterra (Londres):<br />

Diogo Júnior<br />

12 - Ashburton Road Royal Docks<br />

- London E16 1PD U.K<br />

Portugal:<br />

66.<br />

Rita Simões<br />

Rua Rosas do Pombal Nº15 2dto<br />

2805-239<br />

Cova da Piedade Almada<br />

Telefone: (00351) 934265454<br />

Produção Gráfica:<br />

DESPORTO<br />

Imprimarte (Angola)<br />

74.<br />

Cor Acabada, Lda (Portugal)<br />

Tiragem: 10.000 exemplares<br />

Direcção e Redacção:<br />

MODA & BELEZA<br />

Edifício Mutamba-Luanda<br />

78.<br />

2º andar - Porta S.<br />

Tel: 222 397 185/ 222 335 866<br />

FIGURAS DE LÁ<br />

Fax: 222 393 020<br />

79.<br />

Caixa Postal - 6375<br />

E-mails: figurasnegocios@hotmail.com<br />

VIDA SOCIAL<br />

artimagem@snet.co.ao<br />

Site: www. figurasenegocios.co.ao<br />

Facebook:<br />

Revista Figuras&Negócios Angola<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 5


6 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


Victor Aleixo<br />

victoraleixo12@gmail.com<br />

PONTO<br />

DE ORDEM<br />

NÃO AO TERRORISMO!!<br />

Já não são raras as notícias que dão conta que existem planos lúgubres do<br />

terrorismo islâmico em tentar estender os seus tentáculos a mais alguns<br />

países africanos, desta feita à região austral do continente. Moçambique<br />

terá sido de algum modo alertado com maior incidência para este facto, mas<br />

existem mais estados africanos que já sentiram as consequências macabras<br />

destes planos de terror, que visam, sobretudo, desestabilizar, matar e mutilar<br />

quem não siga as suas doutrinas; actos que, aliás, nada têm a ver com os princípios<br />

plasmados pelos maiores criadores e defensores do Islamismo.<br />

Mas a verdade é que este terrorismo já manchou de sangue, luto e dor a vida de<br />

vários países africanos acima da linha do Equador. Estamos tristemente lembrados<br />

dos massacres perpetrados pelos terroristas no Quênia e numa grande parte dos<br />

países do Sahel, sem nos esquecermos de uma Somália terrivelmente mergulhada no<br />

caos, e da Nigéria, onde o dia a dia de milhares de seres humanos tem sido fustigado<br />

com bombas, raptos e mutilações violentas por parte de um grupo denominado<br />

Boko Haram.<br />

Faz todo o sentido de os governantes angolanos "porem as barbas de molho", pois<br />

o país estabelece uma faixa fronteiriça terrestre e fluvial de milhares de quilómetros<br />

com um dos maiores estados de África - a República Democrática do Congo - assolado<br />

há dezenas de anos por um conflito armado instigado por fundamentalistas de todo<br />

o género, entre os quais alguns grupos armados com uma forte vontade de aliar-se<br />

e sustentar no terrorismo islâmico.<br />

Ao discursar na 73ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, realizada em Nova<br />

Iorque (EUA), a 26 de Setembro de 2018, o Presidente da República de Angola<br />

chamou atenção à ONU para que assuma o seu dever da promoção da paz, numa<br />

altura em que existe uma configuração política do mundo contemporâneo, no qual<br />

os conflitos locais, regionais e intra-estatais representam os principais focos de<br />

tensão internacional e de ameaça à paz.<br />

João Lourenço mostrou-se preocupado com as proporções atingidas pelo<br />

terrorismo internacional, pelo crime organizado transnacional, pela imigração<br />

ilegal, pela xenofobia, pelo tráfico de pessoas humanas e de drogas, e muitos outros<br />

males, que afectam a qualidade de vida dos habitantes do planeta.<br />

É evidente que, neste alerta, fica subjacente um recado para dentro do continente,<br />

sobretudo para a sua região austral , que de forma organizada e fortemente<br />

integrada, pode e deve garantir que os apetites dos terroristas não façam dos nossos<br />

estados mais um palco de intrigas, de ameaças à estabilidade conquistada graças<br />

aos esforços conjuntos dos seus povos, hoje com todas as razões e mais algumas<br />

para prevenir certas "vagas migratórias" susceptíveis de inviabilizar a criação e<br />

consolidação de sociedades pacíficas, equitativas e sustentáveis.<br />

O papel do nosso país tem sido exemplar,pois no seu território não há sinais<br />

de manifestações contra quem professe outras religiões, que não as tradicionais,<br />

existentes há séculos. Aliás, é preciso lembrar que em Angola não existe qualquer<br />

espécie de sentimento anti-religioso pautado no Islamismo. Longe disso. Tanto<br />

mais que, por exemplo, esta religião é professada livremente na maior parte das<br />

províncias do país.<br />

Melhor do que ninguém, têm as autoridades angolanas razões de sobra para<br />

acolher no seu espaço territorial quem professe a religião, desde que seja feita<br />

em nome da paz e da harmonia entre os povos; desde que apele à tolerância e a<br />

liberdade de expressão, princípios consagrados na Constituição da República.<br />

Neste contexto, aqui apela-se igualmente ao papel das organizações regionais,<br />

quer sejam de âmbito político, económico, científico ou cultural. Temos de admitir<br />

que a SADC continua empenhada em garantir que os seus estados-membros<br />

priorizem, sempre, a promoção dos direitos dos homens e mulheres, por forma<br />

a que se possa fazer desta região um belo exemplo de convivência entre todas as<br />

crenças religiosas , na base do respeito e da igualdades entre todos os povos.<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 7


PÁGINA ABERTA<br />

ECONOMISTA E PROFESSORA UNIVERSITÁRIA<br />

LAURINDA HOYGAARD SOBRE A SITUAÇÃO DO PAÍS<br />

“A BOA<br />

GOVERNAÇÃO<br />

É DECISIVA PARA<br />

UM PAÍS”<br />

8 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


PÁGINA ABERTA<br />

A conceituada economista<br />

Laurinda Hoygaard analisa<br />

a situação económica do<br />

país, realçando a necessidade<br />

de uma governação<br />

mais inclusiva e participativa<br />

que tenha em conta<br />

as prioridades do país.<br />

Quanto à assistência que<br />

estamos a receber do<br />

Fundo Monetário Internacional<br />

considera positiva<br />

e necessária, frisando que<br />

vai aumentar a confiança<br />

na economia e promover o<br />

desenvolvimento<br />

Entrevista: Suzana Mendes<br />

Reportagem fotografica de: George Nsimba<br />

Figuras & Negócios<br />

(F&N): Como é que caracteriza<br />

o quadro económico<br />

de Angola neste<br />

momento?<br />

Laurinda Hoygaard<br />

(L.H.): Em primeiro lugar, para entrar<br />

nas questões de ordem económica<br />

é necessário traçar um quadro<br />

mais abrangente, que engloba também<br />

elementos de ordem política e<br />

social porque o elemento económico<br />

é muito determinado por estas outras<br />

esferas. Angola está num processo<br />

bonito, de muita esperança, de<br />

reencontro, onde, de maneira geral,<br />

os cidadãos angolanos têm grande<br />

confiança na forma como se está a<br />

dinamizar toda a estrutura económica<br />

e social e tirar o país de uma<br />

crise profunda na qual mergulhou ao<br />

longo de muitos anos, a criar novamente<br />

motivações e incentivos para<br />

começar a sair desta crise; uma crise<br />

sobre a qual não reflectimos o suficiente<br />

para ver como estava a acontecer<br />

em escalada de grande gravidade.<br />

No plano económico, o que<br />

acontece é reflexo do passado. O país<br />

realizou muitas vezes investimentos<br />

que obrigaram a recorrer a recursos<br />

externos, caiu num ciclo de endividamento<br />

(interno e externo) muito<br />

profundo, que está a condicionar de<br />

uma maneira muito drástica a reactivação<br />

da economia. Foram feitos investimentos<br />

muito caros que não foram<br />

os melhores, não se estimulou o<br />

emprego nacional, e, pelo contrário,<br />

fizeram-se investimentos condicionados<br />

à vinda de mão-de-obra associada<br />

aos empréstimos obtidos. Não<br />

se estimulou o emprego da juventude.<br />

De uma maneira geral, os investimentos<br />

foram feitos, sobretudo<br />

na área das infra-estruturas. Não se<br />

aproveitou a oportunidade, realizando<br />

investimentos triplamente negativos,<br />

muito caros, a preços incompatíveis<br />

com os padrões internacionais<br />

de investimento homólogo, sem criar<br />

emprego doméstico e sem formar a<br />

força de trabalho nacional. Angola<br />

foi aprofundando a sua dependência<br />

da extração de matérias-primas, sobretudo<br />

o petróleo. Viveu momentos<br />

de euforia que beneficiaram apenas<br />

os que estavam, de uma maneira geral,<br />

ligados à gestão destes recursos,<br />

mas na verdade deixou-se que o país<br />

caísse nesse desequilíbrio estrutural,<br />

as indústrias não estão assentes<br />

na matéria-prima nacional. Hoje,<br />

Angola depende da importação de<br />

bens e serviços na sua estrutura de<br />

consumo e na sua estrutura de investimento.<br />

Praticamente tudo o que<br />

consumimos e precisamos investir<br />

tem que ser adquirido ao exterior. A<br />

pintura que se pode fazer da economia<br />

do país é bastante negativa, mas<br />

ela é resultado de decisões e acções<br />

anteriores.<br />

Na verdade, há um esforço muito<br />

sério no sentido de se inverterem estes<br />

processos negativos. Iniciativas<br />

no plano normativo têm sido definidas,<br />

primeiro, no Plano de Desenvolvimento<br />

Nacional 2018/2022, que<br />

determina quais são as metas que<br />

o país tem que alcançar, a forma, os<br />

mecanismos, os instrumentos principais<br />

necessários para se atingirem<br />

os objectivos traçados. Aliás, o PDN<br />

define 83 projectos por objectivos,<br />

que facilitarão a gestão dos recursos<br />

e o cumprimento das metas. Temos<br />

este documento fundamental para<br />

orientar a vida do país e, em paralelo,<br />

estão a ser feitas mudanças no plano<br />

jurídico, institucional e inclusive<br />

no plano das políticas financeiras e<br />

económicas, no sentido de se colocar<br />

Angola nos trilhos da diversificação<br />

da economia e do progresso, o<br />

que só pode acontecer se as pessoas<br />

participarem das decisões, se forem<br />

integrantes activas e participativas<br />

nas decisões que forem tomadas em<br />

relação aos grandes projectos e programas<br />

a serem implementados.<br />

F&N: Como é possível explicar<br />

que Angola tenha registado um<br />

crescimento de dois dígitos e hoje<br />

esteja com uma taxa de crescimento<br />

tão baixa?<br />

L.H.: No mundo de hoje e sempre,<br />

a boa governação é decisiva<br />

o que implica usar os recursos de<br />

forma adequada, compatibilizando<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 9


PÁGINA ABERTA<br />

meios e objectivos. Sendo recursos<br />

nacionais, estes tinham que ser usados<br />

em benefício do país, tinham que<br />

ser estabelecidas prioridades e para<br />

isso há que se definir efectivamente<br />

como tudo deve ser feito, tendo em<br />

conta os recursos e os beneficiários.<br />

F&N: Quanto às autarquias tem<br />

sido fracturante o ponto sobre o<br />

modelo a adoptar e agora a questão<br />

do número de municípios a<br />

atingir. Como olha para esta questão?<br />

L.H.: Não sou especialista nesta<br />

matéria, mas para mim é fundamental<br />

destacar que as autarquias serão<br />

postas em prática agora, embora já<br />

se tivesse falado desta questão na<br />

governação anterior. Temos dois elementos<br />

positivos: a decisão de fazer<br />

a descentralização e a desconcentração<br />

das decisões, integrando o país<br />

no que toca às decisões sobre medidas<br />

económicas e sociais e, por outro<br />

lado, fazer de facto. Sobre o gradualismo<br />

há por aí discussões, sobretudo<br />

entre os juristas penso que se poderia<br />

fazer um processo gradual, mas<br />

não por escolha directa. Poderíamos<br />

encontrar um modelo onde os municípios<br />

escolhidos dependessem<br />

dos próprios munícipes. Poderiam<br />

elaborar-se critérios amplamente<br />

discutidos e que seriam a base para<br />

a tomada de decisão. Creio que o país<br />

deve ser inserido integralmente neste<br />

processo desde o topo à base; há<br />

sempre possibilidade de as pessoas<br />

participarem desde que as regras<br />

estejam definidas e sejam aplicadas<br />

através das instituições correspondentes.<br />

Porque um dos problemas<br />

centrais do nosso país é o problema<br />

da corrupção que só pode ser banido<br />

se forem dados sinais efectivos de inclusão<br />

sem previlegiar esta ou aquela<br />

organização ou cidadãos. Um dos<br />

problemas centrais do nosso país é a<br />

segregação territorial. Ao longo dos<br />

anos privilegiaram-se as cidades e<br />

depois criou-se um ciclo vicioso. As<br />

cidades desenvolvem-se e as pessoas<br />

do campo acabam por mudar para as<br />

cidades e cada vez mais é necessário<br />

criar estruturas para as cidades.<br />

É urgente e necessário reverter este<br />

processo. Efectivamente, há zonas<br />

do País que estão abandonadas. À<br />

medida que nos afastamos do litoral<br />

agrava-se o distanciamento entre os<br />

beneficiários dos recursos do País e<br />

aqueles que ficaram excluídos.<br />

“<br />

Um dos problemas<br />

centrais do nosso país é a<br />

segregação territorial. Ao<br />

longo dos anos privilegiaram-se<br />

as cidades e depois<br />

criou-se um ciclo vicioso,<br />

as cidades desenvolvem-<br />

-se e as pessoas do campo<br />

acabam por mudar para as<br />

cidades e cada vez mais é<br />

necessário criar estruturas<br />

para as cidades. É urgente<br />

e necessário reverter este<br />

processo. Efectivamente<br />

há zonas do País que estão<br />

abandonadas, à medida<br />

que nos afastamos do<br />

litoral agrava-se o distanciamento<br />

entre os beneficiários<br />

dos recursos do<br />

País e aqueles que ficaram<br />

excluídos<br />

“<br />

F&N: Recentemente foram divulgados<br />

dados sobre o desemprego.<br />

São preocupantes?<br />

L.H.: Os dados são extremamente<br />

preocupantes e creio que os mesmos<br />

não reflectem a realidade do fenómeno.<br />

Não sei se os dados reflectem<br />

as pessoas que estão no mercado informal.<br />

Suponho que não. Podemos<br />

ver em duas perspectivas, as pessoas<br />

do sector informal podem ser consideradas<br />

pessoas que estão empregadas,<br />

embora não da forma mais<br />

adequada mas alinhado com o que<br />

acontece com as jovens economias<br />

africanas. É sempre um emprego<br />

precário. Portanto, se as pessoas do<br />

sector informal foram consideradas<br />

como empregadas, então, a estes números<br />

tem que se acrescentar esta<br />

situação porque provavelmente temos<br />

números de desemprego muito<br />

mais elevados.<br />

F&N: O que é que é possível fazer,<br />

do ponto de vista económico,<br />

para absorver todas estas pessoas<br />

que estão desempregadas?<br />

L.H.: É preciso fazer investimento,<br />

criar atracção nas zonas do interior<br />

do país, por isso é que tem que<br />

se ter muito cuidado na forma como<br />

se vão implantar as autarquias. Muitos<br />

dos jovens que estão em Luanda<br />

certamente ficariam nas suas zonas<br />

de origem se tivessem melhores<br />

condições de vida lá; se houvesse<br />

escolas para os filhos, condições de<br />

emprego. Nestas zonas há muita actividade<br />

agrícola onde essa juventude<br />

é necessária, mas é preciso que<br />

haja possibilidade de mobilidade. O<br />

país tem que estar todo ligado, com<br />

boas estradas. As infra-estruturas,<br />

sobretudo ao nível das estradas,<br />

são determinantes. Tem que haver<br />

lojas, sistemas comercias em todo o<br />

país; os camponeses precisam de ter<br />

produtos industriais, não só os que<br />

precisam para o cultivo da terra mas<br />

outros. É preciso que tenham formas<br />

de escoamento dos seus produtos o<br />

que não se faz através de grandes entrepostos<br />

mas criando e estimulando<br />

redes comerciais no país inteiro.<br />

O Governo tem em curso uma acção<br />

muito importante de reavaliação de<br />

todo o equipamento que está espalhado<br />

pelo país, que está inutilizado,<br />

certamente que os inventários não<br />

estão disponíveis, o que significa um<br />

volume imenso de dinheiro que o<br />

país ou já consumiu ou está endividado<br />

por ter comprado todo este equipamento.<br />

Mesmo as estradas que<br />

foram feitas são de muito má qualidade,<br />

prédios que foram construídos<br />

e que estão totalmente desabitados,<br />

há uma subutilização gritante e chocante,<br />

que magoa qualquer pessoa<br />

que pode confrontar a miséria na<br />

qual muitas franjas da população vivem<br />

e a “leveza” com que muitos investimentos<br />

foram feitos sem terem<br />

10 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


PÁGINA ABERTA<br />

uma utilidade efectiva. Portanto, a<br />

inventariação de todos esses meios<br />

ao longo do país inteiro, têm que ser<br />

os administradores de cada zona a<br />

tomarem as iniciativas de fazer, com<br />

pessoas que, sendo responsáveis de<br />

órgãos administrativos, mesmo ao<br />

nível mais elementar, se preocupem<br />

com tudo o que está na sua zona,<br />

identifiquem, inventariem, e proponham<br />

soluções para utilização de<br />

maneira a servir as populações onde<br />

na minha opinião, a importância do<br />

trabalho.<br />

F&N: Outra questão que tem<br />

sido levantada, no plano económico<br />

é a questão da carga fiscal. Os<br />

empresários reclamam constantemente.<br />

L.H.: Creio que é muito pesado;<br />

o Estado quer compensar o défice<br />

de receitas públicas fazendo com<br />

que a sociedade pague os seus custos<br />

de funcionamento. Por um lado,<br />

o Estado continua muito pesado, é<br />

necessário fazer uma reavaliação da<br />

distribuição dos recursos humanos<br />

na administração pública, no país inteiro,<br />

por outro lado, os empresários<br />

estão descapitalizados porque eles<br />

próprios foram prejudicados porque<br />

o Estado usou as poupanças do País<br />

ao ir ao sector bancário pedir dinheiro<br />

emprestado, absorvendo as poupanças<br />

domésticas e as externas, o<br />

que agrava as dificuldades. O Estado<br />

recorreu à dívida pública interna retirando<br />

recursos que deveriam ser<br />

postos ao serviço do sector privado<br />

e que foram colocados ao serviço do<br />

sector público. Há uma concorrência<br />

por parte do Estado que é mais<br />

agravada porque o Estado não pagou<br />

as dívidas. Será certo, como disse a<br />

Secretária de Estado das Finanças,<br />

sobre este tema que muito da dívida<br />

não é efectiva, pois, como disse, 25%<br />

da dívida identificada não corresponde<br />

a serviços prestados e nem a<br />

bens fornecidos. Mas a não liquidaçao<br />

dos restantes 75% da dívida para<br />

com os empresários nacionais coloca-os<br />

numa situação difícil porque o<br />

Estado não pagou todas as dívidas,<br />

não actualiza os câmbios (estamos<br />

num processo de desvalorização da<br />

nossa moeda, que é necessário fazer,<br />

mas com graves consequências para<br />

a economia nacional) com efeitos no<br />

agravamento das dificuldades das<br />

empresas. A questão dos impostos,<br />

o sistema tributário tem que funcionar,<br />

mas talvez fosse necessário<br />

avaliar devidamente quais são as incidências,<br />

o impacto que isso cria em<br />

termos da incapacidade das empresas<br />

para realizarem os seus procesesses<br />

meios não utilizados se encontram.<br />

É muito importante também<br />

que se faça a reconstrução da indústria<br />

têxtil, mas não temos a matéria-<br />

-prima, no caso o algodão. Foi muito<br />

perniciosa essa separação que aconteceu<br />

muitas vezes entre os investimentos<br />

feitos e os fundamentos para<br />

sua eficaz utilização, pelo que agora<br />

é necessário reavaliar tudo isso. Está<br />

a ser feito um grande trabalho no<br />

domínio da tributação, no domínio<br />

dos seguros, no que toca às questões<br />

financeiras, dos empréstimos e isso<br />

vai relançar a economia. O apelo que<br />

está a ser feito, as políticas públicas<br />

definidas e as medidas que estão a<br />

tentar implantar para facilitar este<br />

timento e muitas questões a nível<br />

normativo, não apenas investimento<br />

físico mas também em capital humano,<br />

reforço e capacitação institucional.<br />

Poderíamos fazer mais, mas<br />

é preciso monitorar os resultados.<br />

O elemento central são as instituições<br />

que têm que funcionar. Neste<br />

aspecto estamos muito longe de uma<br />

eficácia mínima. Em primeiro lugar,<br />

tem que haver aumento da produtividade<br />

com base em muito rigor,<br />

assiduidade e pontualidade porque<br />

muitas vezes esquecemos que para<br />

além de exigirmos dos outros temos<br />

que trabalhar e fazer o que tem que<br />

ser feito. A título de exemplo, a questão<br />

da lei dos feriados sinalizou mal,<br />

investimento terão, penso eu, algum<br />

sucesso, embora persistam constrangimentos<br />

de base que, pouco a<br />

pouco, vão ser identificados e serão<br />

superados.<br />

F&N: Seria possível falar em<br />

aumento de investimento público<br />

no actual contexto?<br />

L.H.: Quando falei em infra-estrutura<br />

é responsabilidade do Governo.<br />

Trata-se de investimento público,<br />

a requalificação que implica inves-<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 11


PÁGINA ABERTA<br />

canal obrigatório para que as empresas<br />

que estão em condições económicas<br />

difíceis consigam responder<br />

positivamente, no imediato. Esta<br />

questão tem que ser analisada pelos<br />

especialistas, têm que ser feitos mais<br />

debates que envolvam as empresas,<br />

as grandes e as pequenas empresas.<br />

“<br />

Praticamente tudo o que<br />

consumimos (...) tem que<br />

ser adquirido ao exterior.<br />

A pintura que se pode<br />

fazer da economia do país<br />

é bastante negativa, mas<br />

ela é resultado de decisões<br />

e acções anteriores.<br />

Na verdade, há um esforço<br />

muito sério no sentido de<br />

se inverterem estes processos<br />

negativos<br />

“<br />

sos de trabalho, investirem e criarem<br />

mais postos de trabalho.<br />

F&N: E quanto ao IVA que também<br />

tem suscitado debate, estamos<br />

prontos?<br />

L.H.: Suponho que sim, embora<br />

seja necessário continuar a analisar<br />

os processos de organização das<br />

contabilidades das empresas, mas<br />

os especialistas dizem que isso não<br />

interfere. Não sou especialista nesta<br />

questão mas trata-se de substituir<br />

o imposto de consumo pelo IVA. No<br />

fundo quem vai responder melhor<br />

serão as empresas mais organizadas,<br />

que têm mais capacidade para continuar<br />

a investir. Não sei se o IVA vai<br />

realmente servir de incentivo e de<br />

F&N: A investigação é um dos<br />

elementos fundamentais para<br />

a compreensão dos fenómenos.<br />

Como é que tem avaliado este factor<br />

no que toca as questões económicas?<br />

L.H.: A questão da consultoria e<br />

da pesquisa é também um dos erros<br />

muito graves que foram cometidos<br />

no passado porque facilitamos a<br />

abertura de universidades, um assunto<br />

que merece muita reflexão (se<br />

efectivamente foi um bom caminho)<br />

mas não demos às instituições que<br />

criámos a oportunidade de evoluírem<br />

e se consolidarem não apenas<br />

como centros de transmissão de<br />

conhecimentos e de formação mas<br />

também como centros de investigação,<br />

o que implica a criação de laboratórios,<br />

centros de documentação.<br />

Também era necessário que o Estado<br />

recorresse às universidades para<br />

pedir estudos concretos e assim os<br />

grandes investimentos feitos tenham<br />

como base fundamentos científicos<br />

e técnicos, sendo que o Estado po-<br />

12 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


PÁGINA ABERTA<br />

deria recorrer também às empresas<br />

especializadas. O que aconteceu, dito<br />

por especialistas de empresas de fiscalização<br />

e auditoria, é que as decisões<br />

foram tomadas à revelia daqueles<br />

que tecnicamente dominavam os<br />

dossiers e têm elementos técnicos<br />

que poderiam levar a maior ponderação<br />

quanto à eficácia, qualidade,<br />

oportunidade e preço.<br />

F&N: Angola está a receber assistência<br />

do FMI que antes foi tão<br />

criticado...<br />

L.H.: Concordo em absoluto com<br />

esta decisão, não tenho dúvidas a<br />

respeito.<br />

F&N: É uma medida que peca<br />

por atraso?<br />

L.H.: É um processo, já tivemos o<br />

apoio do FMI e depois recuámos mas<br />

esta fase que o país enfrenta, para<br />

estimular a confiança dos cidadãos e<br />

dos investidores e, de uma maneira<br />

geral, dos cidadãos no crescimento<br />

e desenvolvimento do país, entendo<br />

que o FMI pode ter um papel preponderante,<br />

não apenas pelo empréstimo<br />

que é feito mas pela assistência<br />

técnica. Não apenas o FMI mas<br />

também o Banco Mundial e de uma<br />

maneira geral as instituições financeiras<br />

internacionais, incluindo as<br />

de Bretton Woods, que estão a emprestar<br />

dinheiro. Estas instituições<br />

demonstram que estão a acompanhar<br />

o modo de implementação dos<br />

programas económicos do governo,<br />

o que transmite confiança; um sinal<br />

não só para nós, mas também para<br />

os investidores estrangeiros que<br />

queiram vir para o país. Claro que há<br />

questões que têm que ser resolvidas.<br />

Volto a insistir na tónica institucional,<br />

toda a administração do país e a<br />

atitude das pessoas; temos que avaliar<br />

qual é a participação de cada um<br />

neste processo de reforma e restruturação<br />

nacional.<br />

F&N: Que perspectivas económicas<br />

para Angola até o final deste<br />

ano e o início do próximo?<br />

L.H.: As perspectivas continuam<br />

a não ser muito boas porque as políticas<br />

que estão a ser implementadas<br />

só terão efeitos com reacção positiva<br />

de todos os actores da sociedade<br />

e isso demora tempo. Mas acho que<br />

estamos no caminho certo e vamos<br />

ter bons resultados. Estão em curso<br />

operações para moralizar a sociedade<br />

e assim com carácter, com honestidade<br />

e vontade podemos mudar o<br />

quadro actual.<br />

F&N: Focou várias vezes ao<br />

longo da entrevista a questão da<br />

agricultura. É extremamente importante<br />

que haja um investimento<br />

neste sector?<br />

L.H.: Sem dúvidas, agora com<br />

uma política de concessão de subsídios<br />

para empregos para a juventude,<br />

não só subsídios internos, foram<br />

adjudicados, creio eu, 21 mil milhões<br />

de Kwanzas para o emprego dos jovens;<br />

tem que se discutir muito bem,<br />

tem que se avaliar muito bem como<br />

desenhar os programas onde estes<br />

valores serão aplicados assim como<br />

valores de investidores estrangeiros<br />

ou instituições estrangeiras como o<br />

Banco Mundial. É preciso que sejam<br />

desenhados programas específicos<br />

em harmonia com o Plano de Desenvolvimento<br />

Nacional e com os 83<br />

programas deste plano de desenvolvimento.<br />

Sobretudo, não podem ser<br />

decisões centrais apenas, tem que<br />

haver um processo decisório que engaje,<br />

inclua todos os que vão ser beneficiários<br />

e que têm que participar. O<br />

sentido patriótico tem que prevalecer.<br />

“<br />

Não sei se o IVA vai<br />

realmente servir de incentivo<br />

e de canal obrigatório<br />

para que as empresas que<br />

estão em condições económicas<br />

difíceis consigam<br />

responder positivamente,<br />

no imediato. Esta questão<br />

tem que ser analisada<br />

pelos especialistas, têm<br />

que ser feitos mais debates<br />

que envolvam as empresas,<br />

as grandes e as pequenas<br />

empresas<br />

“<br />

F&N: O mundo está mergulhado<br />

numa profunda crise económica<br />

que já dura anos. Vislumbra-se<br />

já uma saída deste problema?<br />

L.H.: A crise é muito grande<br />

e deve-se muito à forma como os<br />

bancos centrais têm actuado a nível<br />

do mundo inteiro. Para corrigir as<br />

formas de actuação será necessário<br />

reflectir nos níveis de consumo<br />

e de investimento. Tem que haver<br />

uma retracção na forma como os<br />

bancos se têm permitido alargar o<br />

endividamento que é imenso. Há<br />

que garantir concertação entre os<br />

diferentes actores públicos com o<br />

sector privado e as organizações da<br />

sociedade civil, até a nível das instituições<br />

financeiras mundiais, mas,<br />

naturalmente, é muito difícil uma<br />

decisão conjunta desta natureza<br />

porque cada um quer defender os<br />

seus interesses.<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 13


NOTAS DE IMPRENSA<br />

ALGUMAS JÁ REEMBOLSARAM, OUTRAS FORAM ARRESTADAS...<br />

GOVERNO OBRIGA EMPRESAS<br />

A PAGAR FINANCIAMENTOS<br />

A<br />

Procuradoria-Geral<br />

da República (PGR)<br />

angolana, através<br />

da Serviço Nacional<br />

de Recuperação de<br />

Activos, identificou<br />

sete empresas privadas criadas com<br />

financiamentos do Estado angolano,<br />

que até à presente data não foram<br />

ainda reembolsados, tendo sido<br />

determinado o arresto de três delas.<br />

Entre as empresas que tinham (ou<br />

tiveram) dívidas ao Estado angolano,<br />

estava a Lektron Capital, de Manuel<br />

Vicente, antigo vice-Presidente<br />

de Angola.<br />

A Lektron Capital e a Geni<br />

beneficiaram de financiamentos do<br />

Estado, através da Sonangol, para a<br />

aquisição de participações sociais<br />

no Banco Económico, antigo Banco<br />

Espírito Santo Angola (BESA), informa<br />

a PGR. O documento esclarece<br />

que a empresa Lektron já entregou<br />

de forma voluntária as participações<br />

sociais ao Estado, enquanto a Geni<br />

assumiu o compromisso de proceder<br />

ao pagamento da dívida que,<br />

caso não aconteça, será instaurado<br />

imediatamente pela PGR “o procedimento<br />

cautelar de arresto das<br />

referidas participações”.<br />

A Lektron Capital, empresa<br />

pertencente a Manuel Domingos<br />

Vicente, antigo vice-Presidente de<br />

TIRADAS DA IMPRENSA<br />

"A mercadoria é o núcleo econômico<br />

do sistema capitalista e, enquanto ela<br />

existir, seus efeitos se farão sentir na<br />

organização da produção e, conseqüentemente,<br />

na consciência".<br />

-Che Guevara<br />

Foto: Arquivo NET<br />

Angola e actualmente deputado à<br />

Assembleia Nacional, e Manuel Hélder<br />

Vieira Dias Júnior (“Kopelipa”),<br />

ex-ministro de Estado e chefe da<br />

Casa de Segurança do Presidente da<br />

República, beneficiou do montante<br />

de 125 milhões de dólares (110,7<br />

milhões de euros), igualmente para<br />

aquisição de ações no Banco Económico<br />

(antigo BESA).<br />

Já a Geni, empresa pertencente a<br />

Leopoldino Fragoso do Nascimento<br />

(“Dino”), consultor do ministro de<br />

Estado e chefe da Casa de Segurança<br />

do Presidente da República, no<br />

tempo do ex-Presidente angolano<br />

"Quando me desespero, lembro-me de<br />

que em toda a história a verdade e o<br />

amor sempre venceram. Houve tiranos<br />

e assassinos e, por um tempo, pareciam<br />

invencíveis mas, no final, sempre<br />

caíram. Pense nisso! Sempre".<br />

-Mahatma Ghandi<br />

José Eduardo dos Santos, celebrou<br />

um contrato em kwanzas equivalente<br />

a 53,2 milhões de dólares (47,1<br />

milhões de euros), dos quais pagou<br />

apenas 23,6 milhões de dólares (20,9<br />

milhões de euros), faltando cumprir<br />

29,5 milhões de dólares (26,1<br />

milhões de euros).<br />

A nota da PGR refere ainda as<br />

empresas Fábrica de Tecidos (Mahinajethu<br />

– Satc), localizada no Dondo,<br />

província do Cuanza Norte; a Fábrica<br />

Têxtil de Benguela (Alassola – África<br />

Têxtil) e a Nova Textang II, em<br />

Luanda, cujos beneficiários últimos<br />

são, entre outros, Joaquim Duarte da<br />

"Dizes contentar-te com pouco; é essa,<br />

na realidade, a suprema sabedoria<br />

mas eu fui sempre a grande revoltada<br />

e a grande ambiciosa que só quer a<br />

felicidade quando ela seja como um<br />

turbilhão que dê a vertigem e que<br />

deslumbre!".<br />

-Florbela Espanca<br />

14 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


NOTAS DE IMPRENSA<br />

Costa David, antigo diretor-geral da<br />

Sonangol, ministro da Indústria, das<br />

Finanças e da Geologia e Minas e<br />

atualmente deputado à Assembleia<br />

Nacional, além de Tambwe Mukaz,<br />

José Manuel Quintamba de Matos<br />

Cardoso, e sócios constantes dos<br />

pactos sociais.<br />

Segundo a PGR, através de uma<br />

linha de crédito do Japan Bank for<br />

International Cooperation, foram<br />

disponibilizados para a reactivação<br />

das antigas fábricas um total de<br />

1.011,2 milhões de dólares (895.966<br />

milhões de euros), financiamentos<br />

que estão a ser pagos pelo Estado<br />

angolano.<br />

Para a fábrica de Tecidos no<br />

Dondo e para a Fábrica Têxtil de<br />

Benguela, o Banco Angolano de<br />

Investimentos (BAI) concedeu uma<br />

linha de crédito, assegurada pela garantia<br />

soberana no Estado, de 12,9<br />

mil milhões de kwanzas (33,7 milhões<br />

de euros), “que nunca foram<br />

pagos por aquelas, estando o Estado<br />

a ser cobrado enquanto garante,<br />

tendo inclusive já sido descontado<br />

uma prestação”.<br />

A celebração de contratos<br />

de concessão para a exploração<br />

e gestão dessas unidades fabris<br />

foram autorizadas por Despachos<br />

Presidenciais de 2018, por meio de<br />

constituição de sociedades-veículo<br />

que serviriam para se efectivar o<br />

processo de transferência gradual<br />

dos direitos sobre os activos, à<br />

medida que os pagamentos fossem<br />

efectuados.(...)<br />

N.R. - Título da F&N<br />

In "Portal de Angola"<br />

"Podem ser encontrados aspectos<br />

positivos até nas situações negativas<br />

e é possível utilizar tudo isso como<br />

experiência para o futuro, seja como<br />

piloto, seja como homem".<br />

- Ayrton Senna<br />

BOCAS SOLTAS<br />

Nada previa que a entrada em vigor da implementação do IVA - Imposto<br />

sobre o Valor Acrescentado- fosse uma vez mais adiada, tal era a intransigência<br />

demonstrada pela Administração Geral Tributária (AGT)<br />

que tinha estabelecido no seu cronograma a data apertadíssima do<br />

mês de Julho. Agora, segundo um acordo alcançado entre o Governo e<br />

o Grupo Técnico Empresarial (GTE), fica assente que a implementação<br />

do IVA comece a ser feita a partir de Outubro próximo, embora esteja<br />

ainda tudo dependente de um novo calendário a ser assumido por<br />

aquele organismo do Estado. Entretanto, uma lição deve ser tirada no<br />

culminar deste processo: a sociedade deve ser sempre ouvida na tomada<br />

de decisões tão importantes para a vida económica da nação.Os<br />

cidadãos anónimos desta rubrica foram chamados a abordar aquilo a<br />

que muita gente qualificou de "vitória da democracia"...<br />

....................................................<br />

"Sem dúvidas que terá valido a pena que a classe empresarial organizada<br />

angolana tinha feito ouvir a sua voz. Pelo menos deu a entender que, doravante,<br />

poderá ter uma influência importante na própria gestão dos múltiplos<br />

problemas que o país enfrenta no domínio económico".<br />

....................................................<br />

"Isto dá para reflectir. Fez-se saber que o governo deve ouvir mais as pessoas.<br />

Se não o fizer, é sinal de que ainda estamos agarrados aos vícios do<br />

passado, que tanto mal fizeram ao país...Houve uma altura em que só faltava<br />

dizer às pessoas o que devem fazer para respirarem melhor...Agora não; o<br />

país está a mudar, sim senhor!".<br />

....................................................<br />

"O povo foi ouvido! Mas eles não estavam a ver que a maior parte das pessoas<br />

nem sequer sabia o que é isto de IVA?Mesmo em países mais organizados,<br />

a implementação de certos impostos tão especiais quanto os deste tipo,<br />

merece a aplicação de uma estratégia de comunicação didáctica muito mais<br />

prolongada e eficaz. Aqui não; queriam fazer as coisas às pressas e tudo leva<br />

a crer que as coisas podiam correr mal".<br />

....................................................<br />

" Não tinham como não ouvir o clamor dos empresários. Estes, coitados, a<br />

maior parte apanha de todos os lados.Principalnente os nacionais que não<br />

têm aonde cair mortos nesta fase desta crise que parece nunca mais acabar.<br />

Pelo menos quanto à implementação do IVA, acordaram e venceram um<br />

grande desafio".<br />

....................................................<br />

"Mesmo assim não concordo com o que se diz por aí. Outubro também é<br />

muito cedo. Para mim, este tal de IVA devia ser cobrado apenas numa situação<br />

em que Angola já estivesse mais folgada em termos financeiros.É muita<br />

carga para as grandes empresas do país, que, também elas, tardam em<br />

recuperar-se desta doença terrível que é a má gestão dos recursos públicos".<br />

....................................................<br />

"Estas coisas não devem ser impostas apenas por<br />

decreto. Todas as entidades envolvidas no processo de implementação<br />

do IVA deviam, desde o início, apelar ao bom senso, priorizando sempre<br />

o diálogo e a concertação entre todas as partes.Que este processo<br />

sirva de exemplo para as futuras acções do governo!"<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 15


NOTÍCIAS BREVES<br />

O PIIM, AS "FAZENDAS" PARA AS FAA<br />

E OS MILHÕES PARA O AEROPORTO<br />

O Programa Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) terá um período de implementação<br />

de 4 anos, poderá beneficiar até 1 milhão de famílias nas 18 províncias. Cada família receberá AOA<br />

5.000 (cerca de EUR 13 ) durante 12 meses, com uma segunda componente de inclusão produtiva e<br />

reforço do Sistema de Protecção Social.<br />

Citado pelo África Monitor, o projecto governamental deverá ter a aprovação do Banco Mundial,<br />

juntamente com um pacote financeiro de USD 1.500 milhões .<br />

Por outro lado, foi já aprovado o Plano Integrado de Comunicação sobre o Ajustamento dos Preços<br />

Fixados (água, combustíveis e electricidade), segundo decisão da Comissão Económica do Conselho<br />

de Ministros , para "esclarecer os cidadãos sobre o ajustamento efectuado no preço da água e o que<br />

se pretende fazer no preço da electricidade e dos combustíveis".<br />

APLICAÇÃO DO IVA SÓ EM OUTUBRO - O início da introdução do Imposto sobre o Valor Acrescentado<br />

(IVA) em Angola está marcado para 1 de Outubro próximo, segundo decisão da Comissão Económica.<br />

Por outro lado, 190 Empresas públicas, 32 das quais de referência nacional, serão privatizadas pelo<br />

Governo, através da Bolsa de Valores. Trata-se de outra decisão da Comissão Económica ocorrida<br />

no mês de Junho. Estão no pacote de privatizações, diversas empresas ligadas aos sectores agrícola,<br />

industrial, turístico, financeiro e mineiro e dos transportes e das telecomunicações<br />

Cerca de USD 2.000<br />

milhões é o montante<br />

disponibilizado<br />

pelo Fundo Soberano<br />

de Angola (FSDA) que<br />

deverá ser aplicado<br />

pelo Governo no Plano Integrado<br />

de Intervenção nos Municípios<br />

(PIIM), de acordo com o Presidente<br />

da República, João Lourenço.<br />

No PIIM estão inscritos projectos<br />

de"grande impacto", alguns dos<br />

quais já iniciados, mas que, por<br />

não terem sido contemplados nas<br />

linhas de financiamento externo,<br />

estão paralisados há anos.Quanto<br />

à verba do FDSA para o referido<br />

projecto, João Lourenço explicou<br />

que o seu enquadramento<br />

"significa dizer que este plano<br />

será executado sem o recurso a<br />

endividamento público".<br />

Note-se que o plano abrange<br />

os 164 municípios do país e<br />

prevê nomeadamente criação de<br />

4.000 salas de aulas, com 200<br />

equipamentos hospitalares, a<br />

asfaltagem,terraplanagem ou rea-<br />

Foto: George Nsimba<br />

bilitação de estradas, com prioridade<br />

para as secundárias e terciárias,<br />

que vão facilitar o escoamento da<br />

produção agrícola local. O África<br />

Monitor realça o facto de também<br />

estarem integrados no PIIM,<br />

lançado em Luanda pelo Presidente<br />

angolano, projectos no domínio da<br />

segurança pública, com a construção<br />

e apetrechamento de esquadras<br />

de polícia, da energia, das águas e<br />

do saneamento básico, bem como se<br />

prevê a construção de 36 complexos<br />

residenciais administrativos, estando<br />

igualmente prevista a edificação<br />

de oito infraestruturas para acomodar<br />

o funcionamento dos órgãos das<br />

autarquias locais, tendo em conta<br />

o processo preparatório em curso<br />

para a sua realização em 2020.<br />

16 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


NOTÍCIAS BREVES<br />

Dois projectos de desenvolvimento agropecuário resgatados<br />

em Outubro de 2018 a 5 empresas detidas pelo<br />

Fundo Soberano, segundo decreto do Presidente João<br />

Lourenço, serão entregues às Forças Armadas Angolanas<br />

(FAA), "cuja gestão profícua (das unidades) permitirá às<br />

Forças Armadas atingirem a auto-suficiência em alguns<br />

produtos agrícolas e de origem animal". Em causa estão o Projecto de<br />

Desenvolvimento Agro-pecuário do Manquete, na província do Cunene, e<br />

a Fazenda Agro-industrial de Camacupa, no Bié .<br />

Foto: Arquivo NET<br />

Foto: Arquivo NET<br />

Um acordo foi recentemente<br />

assinado<br />

em Luanda entre o<br />

ministro do Interior<br />

angolano, Ângelo Veiga<br />

Tavares, e a embaixadora<br />

dos EUA em Angola, Nina Maria Fite,<br />

para troca de informações com vista<br />

à prevenção,investigação e combate à<br />

criminalidade internacional. Segundo<br />

o ministro, o memorando vai permitir<br />

que Angola possa beneficiar da experiência<br />

dos EUA no domínio policial,<br />

nomeadamente “no tráfico ilícito de<br />

drogas, o tráfico de seres humanos,<br />

o terrorismo, sobretudo, onde os<br />

EUA têm uma vasta experiência, bem<br />

como o branqueamento de capitais<br />

e financiamento ao terrorismo" e<br />

assim "exercer uma acção mais firme<br />

e contar com um parceiro fundamental<br />

para cumprir os seus programas”<br />

nesse domínio,"particularmente no<br />

que concerne ao branqueamento<br />

de capitais e ao combate à<br />

corrupção".<br />

Foto: Arquivo NET<br />

Aeroporto "4 de Fevereiro"-<br />

O Governo<br />

angolano vai investir<br />

USD 300 milhões<br />

na remodelação e<br />

expansão do actual<br />

aeroporto internacional de Luanda<br />

, 4 de Fevereiro, revelou o ministro<br />

dos Transportes, Ricardo de Abreu,<br />

citado pela A.M. que destaca que as<br />

obras do projecto decorrerão num<br />

prazo de 18 a 24 meses a partir de<br />

2020. Elas contemplam o aumento<br />

do espaço do terminal, com realce<br />

para o espaço de “check-in”, acomodação<br />

dos passageiros, salas de<br />

espera, escritórios, área de estacionamento<br />

e melhoria do perímetro<br />

de segurança.<br />

Preve-se que a capacidade seja<br />

aumentada de 1,5 milhões passageiros/ano<br />

para 4 milhões .<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 17


PAÍS<br />

LANÇADO PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA<br />

PIIM VAI GASTAR USD 2,1 MIL<br />

MILHÕES EM PROJECTOS SOCIAIS<br />

PARA MAIS POBRES<br />

O Plano Integrado de Intervenção nos Municípios foi lançado pelo Presidente da República,<br />

João Lourenço, e ao que indicam as reacções dos cidadãos, foi bem acolhido e as<br />

razões para que assim acontecesse estão ligadas à implementação de vários projectos<br />

sociais de grande impacto no seio das comunidades mais pobres, sobretudo porque<br />

terá como sustento uma almofada financeira avaliada em 2,1 mil milhões de dólares,<br />

proveniente do Fundo Soberano.<br />

Para o Presidente da República,o Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM)<br />

representa um significativo passo em frente no processo de desconcentração e descentralização<br />

administrativas, assumido pelo Governo como um desafio incontornável da<br />

reforma do Estado<br />

Foto: Arquivo F&N<br />

18 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


PAÍS<br />

"Aos poucos vamos fazendo<br />

com que os municípios<br />

ocupem mais espaço<br />

na vida política, económica<br />

e social, tenham mais<br />

intervenção e sejam mais<br />

fortes. Várias medidas têm sido tomadas<br />

e implementadas de modo<br />

a alterar o nosso paradigma de<br />

governação, estimulando a uma<br />

maior participação da Administração<br />

Local e uma redução, na<br />

medida do recomendável, da intervenção<br />

da Administração Central<br />

do Estado", disse João Lourenço<br />

no acto de lançamento do Plano<br />

Integrado de Intervenção nos Municípios.<br />

João Gonçalves Lourenço acredita<br />

que "determinadas tarefas<br />

são melhor desenvolvidas quando<br />

realizadas por quem está mais<br />

próximo das populações e vive<br />

directamente os seus problemas".<br />

"Temos, portanto, que continuar o<br />

caminho iniciado e garantir a execução<br />

correcta das medidas que<br />

aprovámos", afirmou, garantindo<br />

que algumas dessas medidas começam<br />

aos poucos a ganhar forma,<br />

sendo disso exemplos, entre<br />

outros, o processo de reforço da<br />

desconcentração administrativa<br />

em curso e o início do processo<br />

de transferência de competências<br />

para os municípios.<br />

O Chefe de Estado alertou<br />

aos futuros gestores dos recursos<br />

alocados aos cento e sessenta e<br />

quatro municípios no sentido de<br />

trabalharem mais no processo de<br />

arrecadação de receitas municipais,<br />

explorando o enorme potencial<br />

que existe em todos os municípios,<br />

pois o aumento da receita,<br />

torna-se cada vez mais necessário<br />

para fazer face à crescente necessidade<br />

de despesa pública para se<br />

prestarem melhores serviços aos<br />

cidadãos.<br />

"Os municípios têm que fazer<br />

mais e não ficar só à espera da<br />

receita proveniente da Administração<br />

Central; devem promover<br />

o desenvolvimento local, prestar<br />

melhores serviços e criar condições<br />

para a atracção do investimento<br />

privado.Só assim alcançaremos<br />

o grande objectivo de fazer<br />

dos municípios o centro do desenvolvimento<br />

nacional", alertou o<br />

Chefe do Executivo angolano.<br />

“<br />

Este programa (...)<br />

abrange a totalidade dos<br />

164 municípios do país<br />

e comporta um conjunto<br />

vasto e diversificado de<br />

projectos, estando avaliado<br />

num valor em kwanzas<br />

equivalente a dois mil milhões<br />

de dólares, recursos<br />

do Fundo Soberano de Angola<br />

que, paradoxalmente,<br />

embora sendo propriedade<br />

do Estado Angolano,<br />

este não tinha o controlo<br />

dos mesmos(...)<br />

“<br />

João Lourenço disse que o Programa<br />

de Desenvolvimento Local<br />

e Combate à Pobreza, através do<br />

qual todos os municípios recebem<br />

mensalmente recursos financeiros<br />

que, embora escassos, "começa a<br />

dar outra vida às nossas comunidades",<br />

mas alertou que o referido<br />

plano precisa de ser permanentemente<br />

avaliado, ajustado e melhorado,<br />

realçando por outro lado<br />

a necessidade de se revitalizar<br />

as comissões de moradores para<br />

criar outros mecanismos de participação,<br />

"a fim de garantir uma<br />

gestão pública local mais participada,<br />

mais aberta e mais próxima<br />

do cidadão, que nos levará à efectiva<br />

descentralização administrativa<br />

através da criação das Autarquias<br />

Locais".<br />

Explicou que o PIIM "é um plano<br />

ambicioso, voltado para a resolução<br />

de problemas concretos<br />

e pensado da base para o topo".<br />

"Trata-se de um plano dos municípios,<br />

com prioridades definidas<br />

pelos municípios e que procura<br />

responder as necessidades específicas<br />

dos munícipes. Privilegia<br />

mais a Administração Local do que<br />

a Administração Central, representando<br />

uma mudança de paradigma<br />

não negligenciável se tivermos em<br />

conta que, do total de projectos previstos,<br />

cerca de 68% serão executados<br />

pelos órgãos da administração<br />

local porque assenta no princípio<br />

de “Acreditar mais, confiar mais nos<br />

municípios, dar mais vida aos municípios”,<br />

frisou o Chefe de Estado.<br />

" Este programa que hoje anunciamos<br />

abrange a totalidade dos<br />

164 municípios do país e comporta<br />

um conjunto vasto e diversificado<br />

de projectos, estando avaliado num<br />

valor em kwanzas equivalente a dois<br />

mil milhões de dólares, recursos do<br />

Fundo Soberano de Angola que, paradoxalmente,<br />

embora sendo propriedade<br />

do Estado Angolano, este<br />

não tinha o controlo dos mesmos<br />

mas que, felizmente, conseguimos<br />

recuperá-los recentemente. Isso<br />

significa dizer que este Plano será<br />

executado sem o recurso a endividamento<br />

público, para investir em sectores<br />

importantes da vida dos cidadãos,<br />

nomeadamente na educação,<br />

na saúde, nas infraestruturas administrativas,<br />

nas vias de comunicação<br />

secundárias e terciárias, na<br />

segurança pública, no saneamento<br />

básico, na energia, na água, entre<br />

outros domínios importantes para<br />

as comunidades", perspectivou<br />

João Lourenço na cerimónia oficial<br />

de lançamento do Plano Integrado<br />

de Intervenção nos Municípios .<br />

Entretanto, fez questão de<br />

ressaltar que as verbas "não são<br />

seguramente suficientes para resolver<br />

todos os problemas", mas,<br />

aconselhou aos gestores que "se<br />

forem bem aplicados para se fazer<br />

o que é certo e de modo correcto,<br />

vamos ter de certeza bons<br />

resultados".<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 19


PAÍS<br />

PR ALERTA AOS GESTORES DO PIIM:<br />

"RESISTAM À TENTAÇÃO<br />

DE ENVEREDAR POR PRÁTICAS<br />

INCORRECTAS"<br />

O Presidente da República pediu que os gestores do Plano Integrado de Intervenção<br />

nos Municípios não ignorem os princípios e as regras que regem o funcionamento da<br />

Administração Pública e que resistam à tentação de enveredar por práticas incorrectas<br />

que atentem contra os deveres de probidade, de transparência e de imparcialidade a<br />

que todos estamos sujeitos. Para si, o referido plano valerá pelos resultados positivos<br />

que vier a trazer para a vida dos cidadãos, dependendo não apenas dos recursos disponíveis<br />

mas sobretudo, do empenho, da criactividade e da vontade de todos<br />

"O sucesso deste Plano dependerá<br />

da nossa capacidade<br />

de coordenação<br />

institucional entre a Administração<br />

Central e a Administração<br />

Local, sendo<br />

que os Departamentos Ministeriais<br />

devem prestar todo o apoio técnico<br />

e metodológico aos órgãos da Administração<br />

Local. O sucesso do PIIM<br />

vai depender da nossa capacidade de<br />

planificação das acções e de monitorar<br />

a sua execução.Peço por isso a<br />

todos os que terão a responsabilidade<br />

directa de dar vida ao Plano que<br />

tenham sempre presente a necessidade<br />

de fazer bem o seu trabalho",<br />

afirmou João Lourenço, manifestando<br />

ao mesmo tempo a sua disponibilidade<br />

de incentivar todos os gestores<br />

dos órgãos da Administração<br />

Local "a envolverem os cidadãos no<br />

processo decisório e na execução<br />

das medidas, considerando-os como<br />

parte da solução dos seus próprios<br />

problemas".<br />

O Chefe do Executivo angolano<br />

destacou que a implementação do<br />

Plano Integrado de Intervenção nos<br />

Municípios é uma oportunidade<br />

para que o empresariado nacional<br />

concorra para as diferentes empreitadas,<br />

mas, disse, " vamos ser rigorosos<br />

pagando o preço justo prevenin-<br />

Foto: Arquivo F&N<br />

do a sobrefacturação; vamos também<br />

ser exigentes para com a fiscalização<br />

da qualidade das obras".<br />

Revelou que no âmbito do referido<br />

plano prevê-se a construção de raiz<br />

ou a conclusão de obras por concluir,<br />

de cerca de quatro mil salas de aulas<br />

para vários níveis de ensino e que no<br />

domínio da saúde, estão previstas a<br />

construção, reabilitação e apetrechamento<br />

de cerca de 200 equipamentos<br />

hospitalares de diferentes categorias<br />

em vários municípios.<br />

"As vias de comunicação são<br />

igualmente um domínio contemplado<br />

pelo PIIM, estando previstas a as-<br />

20 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


PAÍS<br />

faltagem ou terraplanagem de vias e<br />

a reabilitação de estradas, sobretudo<br />

de vias secundárias e terciárias, sendo<br />

importante que sejam privilegiadas<br />

vias que facilitem o escoamento<br />

da produção agrícola do campo,<br />

incentivando assim o aumento da<br />

produção, o aumento do emprego e<br />

o desenvolvimento local", destacou,<br />

acrescentando que outras acções<br />

não menos importantes serão desenvolvidas<br />

tanto no domínio da segurança<br />

pública, com a construção<br />

e apetrechamento de esquadras de<br />

polícia, como no domínio da energia,<br />

águas e saneamento básico.<br />

João Lourenço assegurou igualmente<br />

que estão ainda inscritos no<br />

PRIIM projectos de grande impacto,<br />

nomeadamente alguns que tendo<br />

iniciado, não foram contudo contemplados<br />

nas linhas de financiamento<br />

externo e por isso estão há anos paralisados."<br />

Questão abordada pelo Presidente<br />

no seu discurso inaugural do lançamento<br />

do PIIM foi a da mobilidade<br />

de quadros para certos municípios,<br />

sendo esclarecida de imediato, com a<br />

garantia de que o PIIM prevê a construção<br />

de 36 complexos residenciais<br />

administrativos que estarão disponíveis<br />

para os quadros com vínculo<br />

com a Administração Local e não residentes<br />

no respectivo município. Na<br />

altura, informou também que, neste<br />

âmbito, está prevista a construção<br />

de oito infraestruturas para acomodar<br />

o funcionamento dos órgãos das<br />

Autarquias Locais, tendo em conta o<br />

processo preparatório em curso.<br />

"Incentivo-os também a envolverem<br />

mais os Conselhos de Auscultação<br />

da Comunidade e as diferentes<br />

organizações da sociedade civil. Todos<br />

somos poucos para a imensidão<br />

do desafio que temos pela frente.<br />

Esta é também uma oportunidade<br />

de se incentivar o desenvolvimento<br />

local, atraindo empresas para os municípios<br />

e criando postos de trabalho<br />

para a nossa juventude; é ainda uma<br />

oportunidade para se promoverem<br />

soluções locais, adaptáveis à realidade<br />

de cada município", afirmou.<br />

NO FACEBOOK<br />

P.R. ABRE NOVA PÁGINA<br />

O Presidente da República lançou recentemente no<br />

Facebook uma nova página de conteúdos relacionados<br />

com a sua actividade e a vida pública do Palácio Presidencial.<br />

Segundo um comunicado da Presidência da<br />

República, a página, que se junta às plataformas que<br />

doravante complementarão as informações geradas à<br />

volta da figura do Chefe de Estado angolano "constitui<br />

um reforço do paradigma comunicacional entre o centro<br />

do poder político em Angola e a sociedade no geral"<br />

Sabe-se que a Página<br />

de João Lourenço tem<br />

já revelado publicação<br />

de imagens e textos,<br />

mostrando distintos<br />

momentos da sua agenda<br />

presidencial. Recorde-se que na<br />

publicação inaugural, que se registou<br />

recentemente, reportou-se<br />

a audiência que o Presidente da<br />

República concedeu à Presidente<br />

da empresa portuguesa de energia<br />

GALP, Paula Amorim.<br />

Um comunicado da Secretaria<br />

para os Assuntos de Comunicação<br />

Institucional e Imprensa do<br />

Presidente da República divulgado<br />

à propósito, revelou na altura em<br />

que a página tinha acabado de ser<br />

lançada, que ela "será uma porta<br />

aberta aos internautas que pretendam<br />

viver a par e passo a dinâmica<br />

da acção do Presidente João<br />

Lourenço, acedendo a informação<br />

relevante sobre os seus actos públicos,<br />

designadamente as audiências<br />

que concede, os decretos que<br />

exara, os discursos que profere, as<br />

visitas que efectua, entre muitas<br />

outras tarefas de Estado".<br />

Através do referido comunicado,<br />

soube-se igualmente que com a<br />

entrada em funcionamento da página<br />

"Presidência da República de<br />

Angola", saíram do ar as páginas<br />

pessoais do Presidente João Lourenço,<br />

que, doravante, "privilegiará<br />

, nos seus actos de comunicação,<br />

a plataforma Twitter, à semelhança<br />

do que acontece com um grande<br />

número de Chefes de Estado no<br />

mundo".<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 21


PAÍS<br />

ANGOLA TEM UM FINANCIAMENTO GLOBAL DE USD 3,7 MIL MILHÕES<br />

FMI<br />

CONCEDE MAIS<br />

USD 248 MILHÕES<br />

Fotos: Arquivo F&N<br />

A primeira tranche, no valor de mil milhões de dólares,<br />

foi concedida e confirmada em Luanda a 20 de Dezembro<br />

de 2018 pela Directora-geral do FMI, Christine Lagarde,<br />

mas, muito recentemente, o Fundo Monetário Internacional<br />

acabou por aprovar um novo financiamento no valor<br />

de 248 milhões dólares (219 milhões de Euros) para<br />

Angola, na sequência da conclusão da primeira avaliação<br />

do programa de apoio concedido ao país<br />

Segundo informações<br />

prestadas pela instituição,<br />

reactadas pelo Jornal<br />

Económico, em Luanda,<br />

com este novo financiamento,<br />

o montante total<br />

concedido a Angola ao abrigo do<br />

Programa de Financiamento Ampliado<br />

ascende aos 1.24 mil milhões de<br />

dólares (1.09 mil milhões de Euros).<br />

O Programa de Financiamento<br />

Ampliado foi aprovado a 7 de Dezembro<br />

de 2018 e prevê uma duração<br />

de três anos, permitindo o acesso<br />

a um financiamento global de 3.7 mil<br />

milhões de dólares (3.2 mil milhões<br />

de Euros) e a assistência técnica para<br />

apoiar o Programa de Estabilização<br />

22 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


PAÍS<br />

Macroeconómica e o Plano de Desenvolvimento<br />

Nacional 2018-2022.<br />

Entretanto, confirmou-se que o<br />

FMI considera esta primeira avaliação<br />

positiva, apesar de Angola apresentar<br />

ainda muitos desafios, tendo<br />

dado destaque ao facto de estar a<br />

viver um período de maior incerteza<br />

do preço de petróleo, condições<br />

financeiras externas mais restritivas<br />

e um crescimento económico<br />

global lento.<br />

O Fundo Monetário Internacional<br />

encorajou as autoridades angolanas<br />

a continuarem com as reformas,<br />

apostando na diversificação económica,<br />

bem como na estabilização<br />

do sistema financeiro. O FMI apoiou<br />

também os esforços de consolidação<br />

orçamental, isto é, a melhoria<br />

da qualidade da despesa, a redução<br />

dos subsídios a preço e de bens fixados<br />

e aplicação de medidas de<br />

diversificação da base das receitas<br />

não petrolíferas.<br />

O conselho de administração do<br />

FMI recomenda mais esforços para<br />

mitigar os riscos que se colocam<br />

à sustentabilidade da dívida, bem<br />

como acelerar a reestruturação das<br />

empresas públicas. Contudo, o FMI<br />

saudou o Executivo pelo esforço que<br />

tem desenvolvido para melhorar a<br />

gestão do risco de crédito nos bancos<br />

públicos bem como o seu sistema<br />

de governação.<br />

INE CONFIRMA INFLAÇÃO DE MAIS DE 17%<br />

PREÇOS AUMENTARAM NO PAÍS<br />

Os preços em Angola<br />

aumentaram 1,13%<br />

entre abril e maio, valor<br />

que coloca a inflação<br />

acumulada a 12 meses<br />

em 17,35%, atingindo o<br />

valor mais baixo desde<br />

janeiro de 2016. Segundo<br />

o Instituto Nacional de<br />

Estatística, o Índice de<br />

Preços no Consumidor<br />

(IPC), tendo como referência<br />

Luanda, registou<br />

uma variação de 1,13%<br />

entre abril e maio, cerca<br />

de 0,07 pontos percentuais<br />

superiores à registada<br />

entre Março e Abril<br />

De acordo com a<br />

Lusa, citada pelo<br />

Diário de Notícias,<br />

a variação homóloga<br />

atingiu 17,35%,<br />

registando um decréscimo<br />

de 3,30 pontos percentuais<br />

com relação à observada em<br />

igual período do ano anterior.<br />

Faz-se notar que a classe<br />

"Alimentação e Bebidas não<br />

Alcoólicas" foi a que mais contribuiu<br />

para a taxa de inflação do<br />

mês , com um aumento de 0,53<br />

pontos percentuais, seguida das<br />

classes "Mobiliário, Equipamento<br />

Doméstico e Manutenção" e "Bens<br />

e Serviços Diversos", ambos com<br />

0,11 pontos percentuais, "Saúde"<br />

e "Habitação, Água, Eletricidade e<br />

Combustíveis", com 0,09 pontos<br />

percentuais.<br />

Os bens e serviços que registaram<br />

as taxas mais elevadas<br />

pertencem às classes "Lazer,<br />

Recreação e Cultura", com 1,95%,<br />

"Saúde" (1,89%), "Mobiliário,<br />

Equipamento Doméstico e Manutenção"<br />

(1,45%) e "Hotéis, Cafés e<br />

Restaurantes" (1,29%).<br />

As províncias que registaram<br />

maior aumento foram a Huíla,<br />

com 1,38%, Cunene (1,36%),<br />

Malanje (1,34%), Lunda Sul e<br />

Cuanza Sul (ambos com 1,22%).<br />

As províncias com menor variação<br />

foram Benguela, com 0,85%, Uíge<br />

(0,88%), Namibe (0,93%), Bié<br />

(0,97%) e Zaire (1,01%), revela o<br />

Diário de Notícias.<br />

No Orçamento Geral do Estado<br />

(OGE) revisto para 2019, o executivo<br />

prevê uma taxa de inflação<br />

(a 12 meses) de 15%, tal como<br />

se previa do documento original,<br />

aprovado em 14 de dezembro de<br />

2018. Em 2016, a inflação em Angola<br />

(12 meses) chegou a 41,12%,<br />

em 2017 desceu para 23,67%, e<br />

fechou 2018 nos 18,60%.<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 23


POLÍTICA<br />

AOS NOVOS MEMBROS DO COMITÉ CENTRAL<br />

LÍDER DO MPLA APELA<br />

AO COMPROMISSO MORAL<br />

O MPLA realizou recentemente um congresso extraordinário (o VII na sua história)<br />

e com ele foi cumprido o seu objectivo principal: alargar a composição do Comité<br />

Central,e, com algumas surpresas, fizeram-se eleger 134 membros que passam a<br />

engrossar um órgão agora composto por 497 membros. O Presidente do partido, João<br />

Lourenço, deixou orientações claras , no sentido de se engajarem "no combate à corrupção<br />

e à impunidade" e ao processo de maior abertura democrática que se está a<br />

consolidar no país, onde os princípios como a liberdade de imprensa, de pensamento,<br />

de expressão e de manifestação devem ser respeitados<br />

Fotos: Arquivo F&N<br />

24 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


POLÍTICA<br />

Para si, os novos dirigentes<br />

não deverão<br />

esperar encontrar "regalias,<br />

facilidades e<br />

privilégios"."Ser membro<br />

do Comité Central<br />

exige mais trabalho, mais responsabilidade,<br />

melhor conduta social, que<br />

o Partido precisa de descobrir e de<br />

promover", alertou, congratulando-<br />

-se com o facto de o C.C. ter alcançado<br />

os 42% para o género e 61% para<br />

os jovens com idades até os 45 anos,<br />

sendo que 125 dos 134 novos membros<br />

terem formação superior.<br />

"Os eleitores votaram massivamente<br />

no MPLA, porque acreditaram<br />

que somos realmente capazes de<br />

começar a construir uma sociedade<br />

diferente, onde os que têm a responsabilidade<br />

de fazer respeitar a Constituição<br />

e a lei, sejam os primeiros a<br />

cumpri-la para que com seu exemplo<br />

eduquem toda a sociedade na necessidade<br />

do respeito pelo bem público,<br />

da necessidade de todos prestarem<br />

contas da forma como gerem o erário<br />

público que é propriedade de<br />

todos os contribuintes",lembrou o<br />

líder do partido.<br />

curso, que visam criar um verdadeiro<br />

Estado Democrático de Direito baseado<br />

no primado da lei, uma sociedade<br />

mais justa que dê às angolanas e<br />

aos angolanos, iguais oportunidades<br />

de inserção na sociedade e de sucesso<br />

na realização e concretização de<br />

seus sonhos".<br />

O 7º Congresso Extraordinário do<br />

MPLA, que decorreu em Luanda, sob<br />

o lema “MPLA e os Novos Desafios”,<br />

abordou dois grandes temas: o processo<br />

das primeiras eleições autárquicas<br />

do país, que estão previstas<br />

para 2020, e o alargamento do comité<br />

Central do partido.<br />

“<br />

Sejam os primeiros<br />

a cumprir (a Constituição)<br />

para que com seu exemplo<br />

eduquem toda a sociedade<br />

na necessidade do respeito<br />

pelo bem público, da necessidade<br />

de todos prestarem<br />

contas da forma como<br />

gerem o erário público que<br />

é propriedade de todos os<br />

contribuintes<br />

“<br />

João Lourenço recordou ainda<br />

que todo o processo de mudanças<br />

em curso no país "só pode ter sucesso<br />

se a Direcção do Partido for<br />

reforçada com camaradas realmente<br />

comprometidos com a causa das<br />

reformas políticas e económicas em<br />

BUREAU POLÍTICO DO MPLA<br />

NOVOS REFORÇOS<br />

Depois da votação dos<br />

497 membros do C.C.<br />

do MPLA, realizou-se<br />

uma reunião deste<br />

órgão para eleger 72<br />

membros do Bureau Político, no culminar<br />

da qual o até então Secretário<br />

para a Informação, Paulo Pombolo,<br />

conseguiu obter 427 dos 460 votos<br />

válidos, consagrando-se assim como<br />

o novo Secretário- Geral do MPLA .<br />

O anterior Secretário-Geral do<br />

MPLA, Boavida Neto , continua a ser<br />

membro do BP, onde também entraram<br />

jovens quadros do partido, tais<br />

como Vera Daves, actual Secretária<br />

de Estado do Orçamento e Tesouro, e<br />

o Governador Provincial de Luanda,<br />

Sérgio Luther Rescova. Destacável<br />

também foi a ascenção do jornalista,<br />

escritor e professor universitário Dr.<br />

Albino Carlos, eleito para exercer<br />

o cargo de Secretário do Bureau<br />

Político para a Informação.<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 25


FIGURA DO MÊS<br />

MÁRCIA FERRANDEZ<br />

UMA DANÇARINA<br />

COM ATITUDE NO MUNDO<br />

CRIATIVO DA MODA<br />

A dar cartas no mundo da<br />

moda angolana, a antiga<br />

dançarina Márcia Ferrandez<br />

aponta a formação<br />

como a melhor via para o<br />

perfecionismo. Em exclusivo<br />

a Figuras&Negócios,<br />

Márcia Ferrandez fala do<br />

seus dia-a-dia e dos seu<br />

projectos no mundo da<br />

moda no país<br />

Textos: Venceslau Mateus<br />

Figuras&Negócios<br />

(F&N) - Da dança para<br />

o mundo da moda.<br />

Sente-se, profissionalmente,<br />

uma criadora<br />

realizada?<br />

Márcia Ferrandez (M&F)- Os<br />

objectivos de hoje são diferentes dos<br />

de ontem. Não poderei dizer realizada,<br />

pois o ser humano enquanto vive<br />

nunca termina nada, quer sempre<br />

mais e mais. Profissionalmente, já<br />

realizei alguns sonhos.<br />

F&N - Quando e por que mergulhou<br />

no mundo da moda?<br />

M&F –Desde muito cedo que<br />

cultivo uma paixão por moda. Gostava<br />

de refazer as minhas roupas, e a<br />

paixão foi aumentando mais e mais<br />

quando me tornei bailarina, porque<br />

fazíamos as próprias roupas para os<br />

shows, e era com todo prazer. O meu<br />

pai ofereceu-me uma máquina de<br />

costura industrial, motivou-me mui-<br />

to, razão pela qual em 2016 decidi<br />

fazer a minha marca, e fazer aquilo<br />

que gosto, moda. Entrei para fazer a<br />

diferença. O difícil não é fazer, o difícil<br />

é ser diferente (....), pois, quando<br />

se faz algo, deve ser com diferença.<br />

Há muita gente que faz. A questão<br />

não é fazer, mas, sim, ser diferente.<br />

F&N - Quais são as características<br />

das suas colecções?<br />

M&F - Normalmente, tentamos<br />

expor cores jovens, vivas, expressivas<br />

que evoquem sentimentos alegres.<br />

Esse tem sido o DNA da Cincocores.<br />

F&N – Que análise faz das iniciativas<br />

que acontecem no país<br />

destinadas a promover os criadores<br />

e os seus produtos?<br />

M&F - O objectivo deveria ser diferenciar<br />

o nosso trabalho, para assim<br />

criar o nosso próprio estilo que<br />

crie tendência. Também é verdade<br />

que têm servido de alavanca para<br />

muitos jovens criadores. Portanto,<br />

são bem-vindas e devem continuar a<br />

ser promovidas para o bem da cultura<br />

angolana, em particular do mundo<br />

da moda angolana.<br />

F&N - Onde sente mais dificuldade<br />

para fazer o seu trabalho<br />

diariamente?<br />

M&F -A parte empresarial é a<br />

mais difícil, porque encontramos<br />

muitas travas e barreiras burocráticas<br />

desnecessárias. Para as empresas<br />

pequenas fica pesado.<br />

F&N - Um dos grandes handicaps<br />

dos criadores angolanos está<br />

relacionado com a matéria-prima.<br />

Em que mercados recorre para ter<br />

os seus cestos sempre cheios com<br />

material para trabalhar?<br />

M&F -Temos importado os tecidos<br />

e complementos da Espanha.<br />

F&N - Em função das dificuldades<br />

ligadas à matéria-prima, o<br />

mercado nacional também se recente<br />

com a falta de recursos humanos<br />

qualificados. Como supera<br />

este deficit para levar a cabo o seu<br />

trabalho e com a qualidade desejada?<br />

M&F -A base de paciência e formação.<br />

A formação é fundamental<br />

em qualquer segmento da sociedade.<br />

Dá as bases para que se possa levar<br />

em diante todo e qualquer projecto<br />

em carteira.<br />

F&N - Compensa o binómio<br />

preço/qualidade, tendo em conta<br />

o que gasta para produzir uma<br />

peça?<br />

M&F - Contrariamente ao que as<br />

pessoas possam pensar, os custos de<br />

produção em Angola são altos. Mas<br />

se quiser oferecer qualidade, no entanto,<br />

compensa.<br />

F&N - Que avaliação faz do<br />

mercado da moda em Angola?<br />

M&F - O mercado angolano está<br />

a crescer cada vez mais, apesar de algumas<br />

dificuldades, particularmente<br />

pela falta de uma indústria de apoio<br />

aos criadores, a fim de criarem e<br />

trabalharem ao mais alto nível. Mas<br />

também devo reconhecer que há um<br />

grupo muito grande, muitos criadores<br />

com vontade de fazer e que até<br />

têm possibilidade de actuar. A moda<br />

não é acordar e dizer que sou estilista<br />

ou criador. Acordámos, temos<br />

26 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


FIGURA DO MÊS<br />

Foto: Márcia Ferrandez<br />

de pensar, temos de montar um<br />

plano de trabalho e, acima de tudo,<br />

devo também realçar que o talento<br />

joga papel muito grande. Se alguém<br />

não sabe desenhar, não entende de<br />

moda, não tem um estudo feito sobre<br />

a matéria, fica complicado navegar<br />

nesta arte.<br />

É isso de que o mercado angolano<br />

precisa neste momento. Cada<br />

criador deve parar e pensar no que<br />

vai fazer de diferente, o que vai mostrar,<br />

visto que é aí onde as coisas não<br />

encaixam bem. Contudo, está-se a<br />

trabalhar e devem-se dar os parabéns<br />

às pessoas com vontade e motivação<br />

de fazer mais e melhor.<br />

“<br />

Desde muito cedo<br />

que cultivo uma paixão por<br />

moda. Gostava de refazer<br />

as minhas roupas, e a paixão<br />

foi aumentando mais<br />

e mais quando me tornei<br />

bailarina, porque fazíamos<br />

as próprias roupas para os<br />

shows, e era com todo prazer.<br />

O meu pai ofereceu-me<br />

uma máquina de costura<br />

industrial, motivou-me<br />

muito, razão pela qual em<br />

2016 decidi fazer a minha<br />

marca, e fazer aquilo que<br />

gosto, moda. Entrei para<br />

fazer a diferença<br />

“<br />

F&N - O que se produz no país,<br />

em termos de moda, tem a qualidade<br />

necessária e desejada para<br />

competir no mercado internacional?<br />

M&F -Tem sim. Temos actualmente<br />

criadores que são bastante<br />

apreciados fora do país. Com mais<br />

trabalho e mais investimentos podemos<br />

subir mais alto.<br />

F&N - Até que ponto a falta de<br />

uma escola de formação tem prejudicado<br />

o vosso trabalho?<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 27


FIGURA DO MÊS<br />

“LA ATITUDE”:<br />

A MAIS RECENTE MARCA<br />

Trata-se da colecção Primavera<br />

Verão 2019<br />

para o lançamento<br />

da sub-marca “LA<br />

ATITUDE” do Grupo<br />

Cincocores. É inspirada<br />

em celebrar singularidade e<br />

reflexão. Nesta temporada, a criadora<br />

olha para dentro; mergulha<br />

num extenso arquivo e criamos<br />

uma colecção de coisas que<br />

ama fazer. Nela, o público observa<br />

uma mistura de clássicos<br />

e elementos que são icónicos<br />

para a marca, acentuados por<br />

actualizações contemporâneas<br />

e alternativas.<br />

A história de cores<br />

primárias apresenta uma<br />

paleta de branco, ferrugem,<br />

caçadores verde, menta,<br />

tons de azul, rosa e bege,<br />

acentuados com tons de<br />

preto e marinho. Usamos<br />

o eterno favorito, 100%<br />

algodão genuíno, bem<br />

como luxuoso e ecoconsciente<br />

100% tênsil.<br />

Destaca também a renda<br />

espanhola, chiffon, Setin<br />

Leve, Selda Selvagem, variedade<br />

de Tuli, acessórios como<br />

Missangas e pedras cristalinas.<br />

As silhuetas nesta colecção<br />

variam de acessível a avant-<br />

-garde e são espontâneos e<br />

em camadas de uma forma<br />

que se sente complexo, mas<br />

com um acabamento mínimo que<br />

equilibra os adornos e elementos<br />

funcionais. Todos os looks são estilizados<br />

como correspondência total,<br />

define a cor e o tecido. Procura<br />

criar com a colecção um senso de<br />

familiaridade, injectado com a<br />

frescura e relevância do que está<br />

a acontecer globalmente nestes<br />

tempos emocionantes.<br />

Foto: Platina Line<br />

M&F - Muito, é um problema estrutural a resolver.<br />

F&N - Para se entrar no mundo da moda é<br />

assim tão necessária uma formação nesta vertente<br />

ou é dispensável, bastando, para tal, ser-se<br />

autodidacta?<br />

M&F -Fica mais simples tendo a formação para<br />

o efeito, mas nada é impossível.<br />

F&N - Para além do mundo da moda, quem é<br />

e como é a Márcia Ferrandez fora dos holofotes?<br />

M&F -Sou uma pessoa normal, sou mulher, sou<br />

mãe, sou esposa.<br />

F&N - Que projectos está a desenvolver fora<br />

do mundo da moda?<br />

M&F - A moda me absorve quase 100%, mas a<br />

minha outra paixão é a maquilhagem que o tenho<br />

feito devagarinho.<br />

PERFIL BIOGRÁFICO<br />

Márcia Ferrandez nasceu aos<br />

04 de Setembro de 1989,<br />

no município da Ingombota,<br />

em Luanda. É casada e<br />

mãe de um filho. Formada<br />

em Contabilidade Financeira<br />

pela Universidade Jean Piaget de Luanda-<br />

-Angola.<br />

Começou a carreira como bailarina e<br />

durante 15 anos trabalhou com vários artistas<br />

como Yuri da Cunha, Celma Ribas, Michelle<br />

Divoi, Armi Squad, Heavy C, Tatiana Durão,<br />

Yola Araújo, Dream Boy, Teenover, C4 Pedro,<br />

Big Nelo, entre outros. Foi durante três anos<br />

bailarina de palco do programa Jovemania da<br />

TPA 1. Márcia Ferrandez também fez parte<br />

do grupo de dança as Dádivas, com o qual<br />

apresentou-se em grandes palcos nacionais e<br />

internacionais.<br />

Em 2016, decidiu realizar um sonho de<br />

criança, o de se tornar estilista. Abandonou<br />

a dança e mergulhou no mundo da moda,<br />

lançando a marca Cincocores. Uma marca jovem<br />

e totalmente feminina.Em 2019, a agora<br />

estilista angolana decide ampliar o projecto<br />

e adiciona a Cincocores, uma submarca “La<br />

Atitude” que é uma marca<br />

também voltada para o<br />

feminino, mas com um<br />

padrão mais alto, elegante<br />

e clássico.<br />

28 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


MAHEZU<br />

Por: Carmo Neto<br />

LUGAR DO TEMPO<br />

Éramos finalistas da primeira oitava classe do Liceu Sagrada Esperança,aos catorze anos de<br />

idade,quando deixamos Malanje,sem pagamento de propinas,por conta do Ministério da<br />

Educação,pela primeira vez num avião que baloiçava,a rasgar o céu.Tinha o coração aos<br />

pulos.Amparávamos o passado a contar anedotas.Líamos o Jornal de Angola que naquele<br />

dia coincidentemente trazia uma reportagem sobre a vida de uma rainha europeia.Mas<br />

da nossa rainha Ginga sepultada no solo malangino,nem sequer o local conhecemos.Os<br />

jornais angolanos nunca visitaram o túmulo da rainha Ginga.<br />

Falávamos do professor de matemática de passo lento,fala mansa,do alto do púlpito arrastava<br />

os pés.Por cada prova numa turma apenas dois a cinco estudantes preenchiam notas positivas.Não o<br />

alcunhamos,uma excepção,porque seu nome já era cómico.Nunca descobrimos a razão dos serviços<br />

notariais se terem distraído tanto e deixaram acontecer!<br />

Enquanto o avião baloiçava enchíamos o espaço com sonoras gargalhadas até que o David com a<br />

costa da mão a reduzir a sonoridade do riso alertou-nos que iríamos aterrar.E aconteceu.Mais surpresos<br />

ficamos a caminho do local que nos alojaria.A cidade de Benguela surpreendia-nos.Parecia não ter<br />

sido visitado pela guerra,naquele ano de mil novecentos e setenta e oito.<br />

O céu azul de Benguela recordava-nos os dias de paraíso na lagoa bar,em Malanje, ou sentados,na<br />

escola preparatória Marques de Pombal.Pelas ruas da cidade sentíamos o acolhimento como em casa<br />

da tia Carolina,lá do bairro Ritondo,mãe de muitos filhos,gerados pelo seu ventre e dos outros que<br />

viviam debaixo das nuvens sem tecto.Tinha um coração do tamanho do mundo.Naquele tempo as mães<br />

eram tutoras de muitos filhos,dos seus e dos outros.Os bandos de pássaros aguçavam nossa imaginação<br />

com a fisga nas mãos.No interior do mini autocarro com à noite a crescer parecíamos engaiolados;<br />

característica do tempo das madrugadas cheias de sons proibidos,por causa do recolher obrigatório.<br />

Lençóis da cor do algodão,quartos de banho perfumados,cozinha com ementa.Fomos assim recebidos.Nosso<br />

colega João de mínimas falas tecia elogiosos comentários sobre o Instituto Normal de Educação<br />

do Lobito.De repente aquilo já não era um só a falar.Todos queriam opinar.Gerava-se um clima<br />

de alegria.Os colegas de Malanje apresentavam-se aos outros do Huambo,Benguela,Moxico e outras<br />

províncias.Um surto de risos ouvia-se espontaneamente no local.O director do instituto cedo percebeu<br />

que os colegas já faziam saltar os olhos sobre as meninas,quando encaminhou-nos para os quartos.<br />

Diferentes espaços da cidade do Lobito,a pastelaria Áurea era o nosso local de frequência,durante<br />

os primeiros meses,sentados logo à entrada.No início não falávamos pra ninguém.Depois que o Lau<br />

travou conhecimento com os clientes habituais da Pastelaria Áurea conheceu a Lola Kaloputu.Ai aquela<br />

gaja(ja),meu Deus!...Lobitanga da Kaponte ,nunca mais saiu de lá.E eu jamais esqueci Benguela,João do<br />

Moxico também, até um dia nos terem anunciado a morte do Briffel.<br />

Excepcional estudante, foi embora pra outro mundo.Decidimos viajar pra Luanda como estudantes<br />

internos do São José do Cluny com o guarda chuva do Ministério da Educação.Nada era subtraído dos<br />

bolsos dos nossos tutores.<br />

Lá conhecemos,algum tempo depois,um garboso comissário político em Luanda.Desenhava-nos no<br />

seu discurso a glória de sermos pilotos pra blindar a liberdade do ensino gratuito.Suas palavras desbravavam<br />

a vida como um lençol branco estendido sobre a cama.E a Eva não resistiu,mesmo com carnes<br />

quase a rasgarem suas roupas,de tão gorda que era,queria ingresso,pra aviação militar.<br />

Anos passados, numa manhã de sábado, eu e o Timóteo cruzamos o mesmo caminho diante do São<br />

José do Cluny.Falamos da malta toda.O sobrinho que lhe acompanhava admirado questionou: -Afinal<br />

aquele governador também esteve aqui no vosso tempo de estudante?<br />

Confirmamos a dúvida. Quis eu também saber do paradeiro da Xica,antiga namorada do Xavier?<br />

-Desde que o chefe roubou-lhe a namorada anda às apalpadelas pelas ruas da cidade.Ela está gorda.<br />

Corre às vezes na marginal,respondeu.<br />

- E o Sousa?<br />

-Depois de concluir o curso de medicina na Europa esteve cá.Foi embora.É director de uma clínica lá.<br />

Quando o tio falava, o sobrinho espiava o rosto, a tentar descobrir algum facto e perguntou se havia<br />

cumprido serviço militar obrigatório.Disse-lhe que sim.Insistente, quis saber se viajávamos fora do<br />

país.Eu e o Timóteo respondemos ao mesmo tempo:<br />

-Sim.Com seiscentos dólares!...<br />

O rapaz explodiu com gargalhadas.<br />

-Também sonhávamos,acrescentei. Um colega nosso quis ser astronauta.Faleceu durante o treino<br />

de voo num Mig . O SONHO TAMBÉM MORRE.O homem se fisgou com Mig/mãe também se evaporou/<br />

perdida na rosa-dos-ventos.<br />

MAHEZU,ngana!<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 29


SOCIEDADE<br />

Fotos: Arquivo F&N<br />

LUÍSA ROGÉRIO NA COMISSÃO EXECUTIVA<br />

DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE JORNALISTAS<br />

ANGOLA COM VOTO<br />

IMPORTANTE NA FIJ<br />

O jornalismo angolano acaba de ganhar um importante assento no contexto da defesa<br />

da liberdade de imprensa mais global, com a eleição de uma das suas mais prestigiadas<br />

figuras a membro da Comissão Executiva da Federação Internacional de Jornalistas<br />

(FIJ), no decorrer do 30º Congresso que se realizou recentemente na Tunísia<br />

30 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


SOCIEDADE<br />

Trata-se de Luísa Rogério<br />

que junta-se a um<br />

grupo muito restrito de<br />

jornalistas (15) que, à<br />

escala mundial, estabelece<br />

e implementa, permanentemente,<br />

todas as estratégias<br />

relacionadas com a promoção da liberdade<br />

de imprensa, direitos humanos,<br />

direitos trabalhistas, democracia,<br />

combate à corrupção e à pobreza.<br />

Angola marca assim o seu espaço<br />

através de uma profissional que ao<br />

longo da sua carreira tem revelado<br />

excelentes predicados de natureza<br />

ética e moral. Dela, a classe jornalística<br />

pode esperar mais trabalho e uma<br />

boa representatividade na organização<br />

mundial que representa mais de<br />

500.000 jornalistas de cerca de 100<br />

países.<br />

É já conhecida a intensa trajectória<br />

de Luísa Rogério no movimento<br />

sindical angolano, especialmente no<br />

quadro da existência do Sindicato<br />

dos Jornalistas Angolanos (SJA), cuja<br />

direcção actual fez questão de homenageá-la<br />

publicamente, por ocasião de<br />

uma conquista que a todos angolanos<br />

deve orgulhar, inclusive ao próprio<br />

Presidente da República que, note-se,<br />

de imediato publicou uma mensagem<br />

na sua conta pessoal do Twitter, desejando<br />

êxitos nas novas funções da<br />

jornalista.<br />

Aliás, a eleição teve uma particularidade<br />

notável: é que é a primeira<br />

vez que um jornalista angolano integra<br />

a Comissão Executiva da FIJ, como<br />

titular. De acordo com uma nota de<br />

imprensa do Sindicato dos Jornalistas<br />

Angolanos, divulgada a propósito,<br />

"além de Angola, outros dois países de<br />

expressão portuguesa, Brasil e Portugal,<br />

elegeram igualmente representantes,<br />

sendo outro facto inédito na história<br />

da organização, fundada em 1906".<br />

"O Congresso de Túnis ficará também<br />

na história por assistir pela primeira<br />

vez a chegada de um africano<br />

ao cargo de presidente da FIJ, o marroquino<br />

Younes Mjahed, que durante<br />

longos anos exerceu a função de vice-<br />

-presidente da associação", revelou o<br />

comunicado do SJA.<br />

O QUE É A FIJ? - A Federação Internacional<br />

de Jornalistas (FIJ ou IFJ,<br />

na sigla em inglês) é uma federação<br />

mundial de sindicatos de jornalistas<br />

- actualmente, a maior do mundo. Foi<br />

fundada em 1926 e relançada duas<br />

vezes: em 1946 e 1952.<br />

“<br />

É já conhecida a intensa<br />

trajectória de Luísa Rogério<br />

no movimento sindical<br />

angolano, especialmente<br />

no quadro da existência<br />

do Sindicato dos Jornalistas<br />

Angolanos (SJA), cuja direcção<br />

fez questão de homenageá-la<br />

publicamente, por<br />

ocasião de uma conquista<br />

que a todos angolanos deve<br />

orgulhar, inclusive ao próprio<br />

Presidente da República<br />

que, note-se, de imediato<br />

publicou uma mensagem na<br />

sua conta pessoal do Twiter,<br />

desejando êxitos nas novas<br />

funções da jornalista<br />

“<br />

De acordo com a Wikipédia, na<br />

época da Guerra Fria (1945-1989),<br />

a FIJ era a entidade que defendia os<br />

interesses dos jornalistas de países<br />

capitalistas, contra a Organização<br />

Internacional dos Jornalistas, que<br />

abrigava os sindicatos de países socialistas.<br />

Com sede em Bruxelas,<br />

na Bélgica, a FIJ alega "não aderir a<br />

nenhum ponto de vista político específico"<br />

mas também declara ser "a<br />

organização que dá voz aos jornalistas".<br />

Faz-se notar que a adesão plena<br />

à FIJ é aberta apenas a sindicatos de<br />

jornalistas, mas outras entidades<br />

ligadas a jornalistas ou à liberdade<br />

de imprensa podem ser admitidas<br />

como membros associados.<br />

Importa salientar que, desde<br />

1994, a FIJ publica um relatório<br />

anual que documenta casos de assassinatos<br />

de jornalistas e funcionários<br />

de veículos de mídia. A entidade,<br />

revela-se no website, "usa a informação<br />

para fazer campanha por maior<br />

segurança para jornalistas, particularmente<br />

repórteres locais e freelancers,<br />

e equipas de apoio que carecem<br />

de recursos para se protegerem em<br />

zonas de conflito".<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 31


REPORTAGEM<br />

CABRAIS, O ALBERGUE POSSÍVEL PARA AS VÍTIMAS DAS CHEIAS EM BENGUELA<br />

DRAMA DA POBREZA<br />

VISTO DE UM CENTRO<br />

DE SAÚDE<br />

A região que recebeu os cerca de dois mil sinistrados daquela que é tida como a maior<br />

enxurrada das últimas décadas ganhou uma unidade sanitária, ainda que por equipar,<br />

mas as queixas face aos sinais de penúria suplantaram a festa. Quando várias famílias<br />

preferem regressar às antigas zonas, colocando as vidas em risco, parece tudo dito. Organizações<br />

internacionais, como a USAID e a ADPP, constataram o drama<br />

Texto e Fotos: João Marcos - Em Benguela<br />

32<br />

Figuras&Negócios - Nº 200 - MAIO 2019


REPORTAGEM<br />

Resultado da fusão de<br />

terrenos agrícolas,<br />

a localidade dos Cabrais,<br />

onde se encontram<br />

as vítimas das<br />

cheias de Março de<br />

2015 em Benguela, voltou a ser vista<br />

no mapa de Angola aquando da<br />

inauguração, recentemente, de um<br />

centro de saúde, num acto que descortinou<br />

dramas motivados pela falta<br />

de alimentos, electricidade, água e<br />

transporte.<br />

À chegada dos financiadores, a<br />

Agência Americana para o Desenvolvimento<br />

Internacional (USAID), Associação<br />

das Companhias Exploradoras<br />

de Petróleo de Angola (ACEP)<br />

e ADPP, ouviu-se um grito de satisfação<br />

pelos indicadores de melhorias<br />

na saúde, mas cedo se percebeu que<br />

este sentimento acabou diluído nas<br />

denúncias relativas a condições que<br />

forçam a fuga de famílias.<br />

Quem sobreviveu a enxurradas<br />

que provocaram cerca de 70 mortos,<br />

principalmente no Lobito, prefere,<br />

segundo relatos captados pela nossa<br />

reportagem, regressar às chamadas<br />

zonas de risco, de onde o Governo<br />

Provincial tenciona retirar centenas<br />

de famílias, prevendo que venham a<br />

ser construídas mil e setecentas casas<br />

sociais.<br />

Fixado em 350 há quatro anos,<br />

no calor da agitação própria de um<br />

complexo processo de mudança, o<br />

número de famílias sinistradas à espera<br />

de casas nos Cabrais, entre 50<br />

a 80 quilómetros do Lobito e Catumbela,<br />

está, portanto, a baixar.<br />

‘’Estamos mal, não há casas,<br />

muitos já não vivem aqui por causa<br />

do sofrimento’’, conta a jovem Silvina<br />

Cassinda, na primeira resposta<br />

às perguntas sobre o modo de vida<br />

numa região que ‘’não consegue esconder’’<br />

o espectro de abandono.<br />

As mães, prossegue Cassinda, vão<br />

às matas cortar pau para fazer carvão,<br />

muito por conta da falta de um<br />

mercado.<br />

‘’As tendas estão estragadas, continuamos<br />

a pedir que o Governo acabe<br />

as nossas casas. Muitos voltaram<br />

Representantes da ADPP, USAID e ACEP<br />

e o governador no local do drama<br />

“<br />

Quem sobreviveu a<br />

enxurradas que provocaram<br />

cerca de 70 mortos,<br />

principalmente no Lobito,<br />

prefere, segundo relatos<br />

captados pela nossa reportagem,<br />

regressar às chamadas<br />

zonas de risco, de onde<br />

o Governo Provincial tenciona<br />

retirar centenas de<br />

famílias, prevendo que venham<br />

a ser construídas mil<br />

e setecentas casas sociais<br />

“<br />

para as zonas de risco, também porque,<br />

às vezes, não há comida’’, lamenta,<br />

a escassos metros, outra senhora,<br />

Domingas Daniel.<br />

A estes relatos, junta-se o de<br />

Manuel Domingos, um cidadão que<br />

alerta para o perigo vigente numa<br />

área assolada já pela malária, doenças<br />

diarréicas agudas e respiratórias<br />

e a sarna. ‘’A minha tenda, por<br />

exemplo, está rota, as famílias estão<br />

a sofrer. Sem luz, sem mosquiteiros,<br />

há muita cobra perigosa. O Governo<br />

tem de ver o problema das nossas<br />

casas’’, solicita.<br />

Tempo de estratégias para o<br />

dia seguinte - Inaugurado o centro<br />

de saúde, a USAID, segundo Julie<br />

Nenon, olha já para os desafios do<br />

amanhã, que passarão pelo apetrechamento,<br />

a cargo, como definido,<br />

do Governo Provincial de Benguela.<br />

Daí que a representante da agência<br />

americana tivesse falado em fase<br />

número três, para a qual as autoridades<br />

locais terão de levar as mãos aos<br />

bolsos, sem que, no entanto, se exclua<br />

a contribuição dos seus parceiros.<br />

‘’Nada impede a participação de<br />

organizações não governamentais e<br />

do sector privado. Esta infra-estrutura<br />

precisa de algo mais’’, vinca Julie.<br />

Na sua intervenção, o governa-<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 33


REPORTAGEM<br />

dor provincial, Rui Falcão, destacou<br />

a importância do centro de saúde,<br />

momentos antes de ter garantido<br />

dias melhores para os sinistrados,<br />

a começar pela energia, agora que<br />

Benguela é abastecida já pelo sistema<br />

norte.<br />

‘’Já posso dizer que conseguimos<br />

recursos financeiros para o problema<br />

da água’’, anunciou o governante,<br />

sem ter feito qualquer referência à<br />

problemática das famílias ainda em<br />

tendas e obras por concluir, desprovidas<br />

de cobertura.<br />

A unidade sanitária, orçada em 1<br />

milhão de dólares americanos pode<br />

internar 25 pacientes, contando com<br />

dois blocos, para urgência e saúde<br />

reprodutiva.<br />

Do ‘’coração’’ da metrópole<br />

ao ponto da tragédia - Falar dos<br />

Cabrais, uma localidade administrativamente<br />

ligada à Catumbela, mas<br />

‘’presa’’ ao Lobito por força da geografia,<br />

é falar, se quisermos, das bases<br />

para o projecto metropolitano de<br />

Benguela, desenhado pelo anterior<br />

governador, Isaac dos Anjos.<br />

Funcionaria como ponto de partida<br />

para uma auto-estrada até à comuna<br />

do Dombe Grande (Baía Farta),<br />

passando por Benguela, numa extensão<br />

superior a 120 quilómetros.<br />

Os milhares de hectares disponíveis<br />

serviriam para unidades de<br />

“<br />

Já posso dizer que<br />

conseguimos recursos<br />

financeiros para o problema<br />

da água’’, anunciou o<br />

governante, sem ter feito<br />

qualquer referência à<br />

problemática das famílias<br />

ainda em tendas e obras<br />

por concluir, desprovidas<br />

de cobertura<br />

“<br />

produção industrial e empresas geradoras<br />

de postos de trabalho. Tudo,<br />

como agora se vê, desenhado em<br />

nome de um projecto de referência<br />

que, quatro anos depois, acaba longe<br />

da agenda do actual governador.<br />

Aliás, Rui Falcão chegou mesmo a<br />

afirmar, após a cerimónia de troca de<br />

pastas, que analisaria a viabilidade<br />

da iniciativa antes de qualquer passo<br />

rumo à materialização.<br />

Incógnita à parte, certo é que várias<br />

famílias optam por deixar o ‘’paraíso<br />

imaginário’’ para o regresso às<br />

antigas moradias, nas chamadas zonas<br />

de risco, afectadas pelas chuvas<br />

do passado mês de Março.<br />

Basta sublinhar que as mais de<br />

doze mortes e o rasto de destruição<br />

fizeram soar o alarme, tendo o Governo<br />

central, que deverá financiar<br />

as casas para os cidadãos que saírem<br />

destas zonas, enviado um batalhão<br />

de ministros, chefiado pelo vice-<br />

-presidente da República, Bornito de<br />

Sousa.<br />

Na localidade dos "Cabrais" os visitantes constataram a realidade carente da população<br />

34 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


MUNDO REAL<br />

Por: Suzana Mendes<br />

MUDANÇAS CLIMÁTICAS E<br />

OS DESAFIOS DO PRESENTE E DO FUTURO<br />

O<br />

efeito das mudanças climáticas é um grande desafio para o mundo actual pelas<br />

graves consequências no contexto actual e para as gerações futuras. Mudanças de<br />

temperatura, precipitação, nebulosidade e outros fenómenos climáticos preocupam<br />

uma vez que vêm se alterando em relação às médias históricas.<br />

Processos naturais e o impacto da acção do homem na natureza estão na base<br />

das mudanças climáticas. Diante do consenso da comunidade científica quanto<br />

ao aumento da temperatura na Terra, a ONU aprovou a Convenção Quadro sobre as Mudanças<br />

Climáticas Globais, subscrita pelos chefes de estado reunidos no Rio de Janeiro durante a Rio-92.<br />

Sete anos depois, em 1997, como a recomendação da Convenção para que os países desenvolvidos<br />

reduzissem as suas emissões não estava sendo cumprida, foi aprovado, dentro do seu marco jurídico,<br />

um novo instrumento – o Protocolo de Quioto, para estabelecer prazos e metas obrigatórias.<br />

No caso de Angola para além de outras preocupações ligadas as mudanças climáticas, temos a<br />

questão do impacto no Grande Ecossistema Marinho da Corrente de Benguela onde se registaram<br />

mudanças com realce para o aquecimento das águas superficiais do mar nas fronteiras norte e sul<br />

do sistema nas últimas décadas, também houve indicações durante o mesmo período de resfriamento<br />

nas áreas costeiras ao longo das costas oeste e sul da África do Sul, que podem ser resultado<br />

de aumentos nos ventos que geram ressurgência como se pode ler no documento do projecto<br />

de “Aumento da Resiliência às mudanças climáticas<br />

no Sistema de Pescas da Corrente de Benguela”,<br />

que está a ser implementado pela Convenção da<br />

Corrente de Benguela.<br />

As mudanças climáticas têm impacto negativo<br />

para as comunidades de pescadores que trabalham<br />

na referida zona sendo que uma das preocupações<br />

mais relatadas é a diminuição dos índices de captura<br />

do pescado, uma situação que afecta a renda<br />

das famílias que vivem da pesca.<br />

Devido a esta questão é necessário que sejam<br />

tomadas medidas para dar resposta ao impacto<br />

das mudanças climáticas. O projecto “Aumento da<br />

Resiliência às mudanças climáticas no Sistema de<br />

Pescas da Corrente de Benguela”, que está a ser<br />

implementado pela BCC com o apoio de Angola,<br />

Namíbia e África do Sul e com o suporte do Fundo Global para o Ambiente e a Organização das<br />

Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) é uma importante iniciativa neste sentido.<br />

O objectivo desta iniciativa é construir resiliência e reduzir a vulnerabilidade às alterações climáticas<br />

dos sectores de pesca marinha e maricultura no Grande Ecossistema Marinho da Corrente<br />

de Benguela através da implementação de estratégias de adaptação para garantir a segurança<br />

alimentar e de subsistência.<br />

Iniciativas como estas são importantes por permitirem dar resposta a um problema concreto.<br />

O ecossistema da Corrente de Benguela pela sua riqueza e extensão é de grande importância daí<br />

que os três países que partilham este ecossistema (Angola, Namíbia e África do Sul) se tenham<br />

unido para garantir a protecção das espécies e apoiar também as comunidades que vivem nesta<br />

zona.<br />

É importante abordar estas questões ligadas as mudanças climáticas na Corrente de Benguela<br />

pois é preciso aumentar a consciencialização a nível local, nacional e regional sobre a importância<br />

de abordagens multissectoriais para adaptação e aumento da resiliência aos impactos climáticos,<br />

com enfoque especial na pesca e a aquicultura. O envolvimento das comunidades das zonas<br />

costeiras neste processo garante que todo o trabalho tenha em conta a perspectiva daqueles que<br />

lidam diariamente com o problema das mudanças climáticas.<br />

Ao mesmo tempo é importante que sejam feitas pesquisas para se acompanhar o impacto das<br />

mudanças climáticas na região e como as populações estão a responder a esta realidade que preocupa<br />

cada vez mais não apenas os governos mas a sociedade em geral.<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 35


36 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 37


FIGURAS DE CÁ<br />

AUGUSTO TOMÁS<br />

HORA DA VERDADE<br />

Fotos: Arquivo Figuras & Negócios<br />

O antigo ministro dos Transportes, Augusto Tomás, que começou<br />

a ser interrogado pelo Tribunal Supremo (TS), disse, durante uma<br />

sessão de julgamento, que foi detido sem saber porquê e que só está<br />

a ser julgado por ter desmantelado redes de mafiosos no Aeroporto e<br />

no Porto de Luanda.<br />

"As pessoas aqui apanhavam os aviões e saiam do País sem respeitar<br />

as regras e eu pus fim a isso. Foi necessário tomar medidas bastantes<br />

duras, e é lógico, deixei cair 12 companhias aéreas de ministros e<br />

generais", disse Augusto Tomás, acrescentando que está a ser julgado<br />

por existirem outros contornos devido às suas decisões enquanto<br />

titular de um cargo no aparelho do Estado.<br />

"Foi necessário também, nessa altura, tomar medidas para reverter<br />

as situações anormais que havia no Aeroporto de Luanda e impedir<br />

que algumas pessoas fossem com as suas viaturas até aos aviões",<br />

afirmou ainda o ex-governante que, citado pelo Novo Jornal, acrescentou<br />

que "Havia um congestionamento portuário de cerca de 90<br />

navios encalhados no porto de Luanda, com despesas diárias de 25<br />

mil dólares, despesas essas avaliadas em mais de 2,5 mil milhões<br />

dólares anuais, dinheiro que não se revertia para a população".<br />

SALÚ GONÇALVES<br />

"OU É... OU NÃO É!..."<br />

Todos os dias úteis, ele entra-nos pela casa<br />

adentro e revela-nos dados sobre o nosso<br />

quotidiano, sob todas as formas e feitios.Salú<br />

Gonçalves é, sem dúvidas, o "homem televisão"<br />

do momento, que espelha, através de<br />

um trabalho de equipa, o rigor da informação<br />

transmitida com verdade.<br />

Por isso, está hoje na boca do mundo e<br />

vai-se transformando numa figura pública<br />

proeminente, devido ao seu talento puro<br />

de comunicador nato, aliás com méritos já<br />

reconhecidos na nossa praça. Ele reforça a<br />

sua credibilidade profissional, agora pela TV<br />

Zimbo, no programa "Fala Angola", provavelmente<br />

o que mais tem audiência no país das<br />

Tv's. A receita é eficaz: o programa surgiu<br />

em boa hora para defender os interesses dos<br />

mais carenciados. Há que seguir-lhe o exemplo,<br />

sim senhor!<br />

38 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


FIGURAS DE CÁ<br />

JOSÉ PATROCÍNIO<br />

CIDADANIA EXEMPLAR<br />

O activista José Patrocínio partiu para a eternidade,mas<br />

nunca é demais relembrar os seus feitos, pois marcou<br />

uma existência recheada de bons exemplos de<br />

cidadania.A Handeka refere-se a ele como "uma alma<br />

perfeitamente alinhada com os ideais que defendemos<br />

e que o fazia de forma magistral, dando voz àqueles<br />

que não a tinham". "O "Zetó" é indubitavelmente um<br />

exemplo e uma referência incontornável para todos que<br />

se preocupam e lutam por Angola. Um espírito livre,<br />

um ser humano vertical, generoso, dócil e inflexível<br />

com as injustiças que testemunhava ao seu redor"- são<br />

palavras ditas em nome de uma das muitas organizações<br />

sociais que certamente irão seguir os exemplos<br />

deixados por aquele que "dedicou toda a sua vida a<br />

semear amor, tolerância, concórdia e reconciliação e os<br />

valores que tragicamente se perderam e hoje se fala em<br />

resgatar".<br />

CAROLINA CERQUEIRA<br />

TAREFA COMPLICADA<br />

Carolina Cerqueira deixou o Ministério da Cultura,<br />

onde esteve bastante activa nos últimos tempos,<br />

sobretudo devido às acções que deverão ser implementadas<br />

no quadro da ascensão de Mbanza Kongo<br />

a Património Mundial da Humanidade, acabou por<br />

assumir muito recentemente o cargo de Ministra de<br />

Estado da Acção Social.<br />

Pelos vistos, aquela que foi uma das vozes mais<br />

brilhantes da rádio no país, mas que abraçou também<br />

com destaque a política, irá certamente ocupar-se<br />

de um pelouro bastante complicado, pois fá-lo numa<br />

altura em que o país se encontra a lutar com enormes<br />

dificuldades para sair rapidamente da crise económica<br />

e financeira. Carolina Cerqueira tem em mãos uma<br />

"pasta" que tentará a assegurar para que não se torne<br />

mais carente de recursos, pois, apesar do OGE de<br />

2019 a ter reforçado com mais uns milhões, todavia,<br />

principalmente neste momento de apertos, as migalhas<br />

nunca chegam para distribuir, com equilíbrio, por<br />

todos os cidadãos carenciados. Boa sorte!<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 39


FIGURAS DE CÁ<br />

NSOKI<br />

NO TOP DOS<br />

MAIS INFLUENTES<br />

A cantora angolana Nsoki consta da lista dos "100<br />

Jovens Africanos mais influentes com menos de 40<br />

anos" na categoria de Mídia e Cultura, distinção<br />

feita pela organização americana MIPAD.<br />

Segundo a agência angolana de notícias, a lista<br />

anual de distinção consagra 100 jovens africanos<br />

e afro-descendentes que têm tido contribuições<br />

positivas em quatro categorias (Política e Governação;<br />

Negócios e Empresariado; Religião e<br />

Humanitária e Mídia e Cultura).<br />

A distinção da MIPAD (Most Influential People of<br />

African Descent), em português "Pessoas Mais<br />

Influentes de Origem Africana", e enquadra-se na<br />

década internacional para pessoas africanas ou de<br />

descendência africana, proclamada pela Assembleia<br />

Geral das Nações Unidas pela resolução<br />

68/337 a ser observada de 2015-2024, salienta a<br />

Angop.<br />

MARIA DA PIEDADE DE JESUS<br />

GARANTIA DECONTINUIDADE<br />

A nova ministra da Cultura, Maria da Piedade de Jesus, vai dar continuidade<br />

aos projectos em diversas vertentes já estabelecidos no sector.Para já,<br />

estabeleceu como tarefas prioritárias do seu pelouro a continuidade dos<br />

trabalhos para a inscrição e classificação do Cuito Cuanavale, Tchitundo<br />

Hulo e o Corredor do Cuanza para Património Cultural Mundial,<br />

sem perder de vista a necessidade de acelerar o cumprimento das<br />

estratégias delineadas para que o mundo conheça melhor a cidade<br />

histórica de MBanza Congo, outro património universal.<br />

Note-se que o corredor do Kwanza é detentor de um vasto conjunto<br />

de riquezas patrimoniais e Tchitundo Hulo é um morro<br />

granítico situado no município de Virei, na província do Namibe,<br />

conhecido pelas pinturas rupestres da Pré-História existentes<br />

em Angola. Maria de Piedade de Jesus também pretende trabalhar<br />

com o Ministério do Ambiente para a inscrição na lista<br />

indicativa, do sítio do Okavango, que considera ser um misto<br />

natural cultural.<br />

40 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


FIGURAS DE CÁ<br />

GENERAL ZÉ MARIA<br />

PRESO EM CASA<br />

O Supremo Tribunal Militar (STM) angolano<br />

aplicou recentemente a medida de coação pessoal<br />

de prisão domiciliar ao ex-chefe do Serviço de<br />

Inteligência e Segurança Militar (SISM), general<br />

António José Maria. De acordo com o site "Africa<br />

21", "o general José Maria deverá aguardar nesta<br />

condição os ulteriores trâmites do processo", e<br />

refere, citando uma nota do Supremo Tribunal<br />

Militar (STM), que José Maria estará indiciado<br />

como autor do extravio de documentos, aparelhos<br />

ou objectos com informações de carácter militar e<br />

insubordinação.<br />

Soube-se igualmente que o antigo chefe do SISM<br />

incorre em ilícitos previstos e puníveis nos termos<br />

dos artigos 42 número 01 e 17 número 01, ambos<br />

da Lei 04/94, de 28 de Janeiro (Lei dos Crimes<br />

Militares).<br />

HÉLDER MARTINS<br />

ÚLTIMO APITO<br />

Depois de uma excelente exibição no CAN do<br />

Egipto, o árbitro internacional angolano Hélder<br />

Martins poderá abandonar o apito muito brevemente,<br />

depois de ter feito uma carreira de mais<br />

de vinte anos nos estádios de futebol quer em<br />

Angola como em várias partes do mundo.<br />

Antes de ter deixado Luanda com destino ao<br />

Egipto, para representar Angola na mais alta<br />

roda do futebol africano, Hélder Martins manifestou<br />

o seu desagrado pelo facto de não ter<br />

sido apoiado inúmeras vezes para que pudesse<br />

prestigiar a arbitragem nacional nas ocasiões<br />

em que foi convidado a apitar. Revelou que em<br />

várias ocasiões foi capaz de elevar o bom nome<br />

do país, graças ao seu empenho pessoal,quer no<br />

tratamento de vistos de viagens, como pagando,<br />

inclusive, as despesas do seu próprio bolso.<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 41


CULTURA<br />

COMEMOROU 25 ANOS DE CARREIRA NO KWANZA SUL<br />

YURI DA CUNHA<br />

REGRESSA ÀS ORIGENS<br />

O cantor angolano Yuri da<br />

Cunha realizou, na cidade<br />

do Waku Kungo, município<br />

da Cela, província do Cuanza<br />

Sul, um show alusivo aos 25<br />

anos da sua carreira artística.<br />

O Waku Kungo foi escolhido<br />

por ser o local onde<br />

tem as suas “raízes”, apesar<br />

de ter nascido na cidade do<br />

Sumbe e crescido em Luanda.<br />

O espectáculo contou<br />

com as participações de Justino<br />

Handanga, Cabo Snoop,<br />

o moçambicano Twenty<br />

FIngers, entre outros artistas<br />

Foto: Arquivo F&N<br />

Vencedor de vários troféus<br />

nacionais e internacionais,<br />

o músico ganhou<br />

já o prémio Rádio Luanda<br />

2008, na categoria<br />

“Kianda do Sucesso”, pela<br />

quantidade de shows realizados ao<br />

longo do ano e valorização da cultura<br />

nacional.<br />

Em 2004, com a música “Makumba”,<br />

venceu o Top Rádio Luanda. Em<br />

2009, participou numa tournée de Eros<br />

Ramazzotti, por diversos países europeus.<br />

Em 2010 colocou no mercado o<br />

disco “Kuma Kua Kié”. Venceu Top dos<br />

Mais Queridos por duas ocasiões, em<br />

2009 e 2015.<br />

Yuri da Cunha, que começou a carreira<br />

como cantor infantil, é detentor<br />

ainda do troféu de Melhor Artista da<br />

África Austral, uma distinção da AFRIM-<br />

MA.Cantor e compositor, Yuri da Cunha,<br />

conta com quatro álbuns “É tudo amor”<br />

(1999), “Eu” (2005), “Kuma Kua Kié”<br />

(2009) e “O Intérprete” (2015).<br />

42 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


CULTURA<br />

Fotos: Arquivo de Augusta Conchiglia<br />

"DA GUERRILHA AOS PRIMEIROS<br />

ANOS DA INDEPENDÊNCIA"<br />

AUGUSTA CONCHIGLIA<br />

LANÇA OBRA HISTÓRICA<br />

Uma obra fotográfica intitulada "Da guerrilha aos primeiros<br />

anos da independência", da fotógrafa Augusta<br />

Conchiglia, que mergulha na epopeia de libertação<br />

africana foi lançada, em Luanda, com o apoio da Fundação<br />

António Agostinho Neto<br />

A<br />

obra fotográfica aborda<br />

a trajectória de Agostinho<br />

Neto, seus companheiros<br />

de armas e sua<br />

família durante os anos<br />

da luta de libertação nacional.<br />

No livro faz parte da fotoreportagem<br />

realizada em 1968, no leste<br />

do país, na terceira região político-<br />

-militar, onde se desencadeou a<br />

maior parte da luta armada contra<br />

o colonialismo português.<br />

A obra, produzida pela Fundação<br />

António Agostinho Neto, foi<br />

revisada por Irene Neto, enquanto<br />

a tradução dos textos esteve a cargo<br />

de Carla Nunes, Irene Neto, Felícia<br />

de São Vicente, com a coordenação<br />

editorial de Maria Eugénia Neto.<br />

Augusta Conchiglia nasceu na<br />

região de Milão, Itália, estudou<br />

ciências sociais, fotografia e cinema,<br />

foi consultora da União Europeia<br />

para África Austral e participou nos<br />

centros de estudos africanos na<br />

Nigéria e na África do Sul.<br />

PENELAS SANTANA<br />

APRESENTA OBRA LITERÁRIA<br />

“A IGNORÂNCIA<br />

DOS INTELECTUAIS”<br />

A obra “A ignorância dos<br />

Intelectuais e a Coragem<br />

Ensurdecedora do Cidadão<br />

João Manuel Gonçalves Lourenço”,<br />

da autoria de Penelas<br />

Santana, foi apresentada<br />

em Malanje. No livro, o autor<br />

aborda, em 340 páginas,<br />

as medidas que têm sido<br />

tomadas pelo Presidente da<br />

República de Angola, João<br />

Lourenço, com acto de coragem<br />

abre esperança para o<br />

nascimento do estado novo<br />

A<br />

obra faz uma análise<br />

sobre a actual situação<br />

política, económica<br />

e social do país, para<br />

além de outras questões<br />

registadas sob a<br />

liderança de João Lourenço, como as<br />

exonerações e nomeações registadas<br />

no xadrez político nacional.<br />

António da Rocha Penelas Santana<br />

nasceu a 1 de Julho de 1981 em<br />

Ndalatando, província do Cuanza<br />

Norte. É autor de 10 obras, com<br />

destaque para “Crónicas da nossa<br />

gente”, “Dikwata mortes na sanzala”,<br />

“Quando o adultério é sinónimo de<br />

amor”, “o mundo não desaba quando<br />

termina uma relação”, “Algumas razões<br />

que fazem o MPLA e dos Santos<br />

ganharem eleições volume I e II”,<br />

“Como conquistar ou reconquistar a<br />

pessoa que você ama”.<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 43


CULTURA<br />

RODRIGO FRANÇA, CIENTISTA SOCIAL, DESCOBRE AS SUAS ORIGENS, 41 ANOS DEPOIS<br />

PRECISO CONHECER O BENIN<br />

"É DIA DE<br />

COMEMORAR!"<br />

• Cientista Social recebeu, no passado dia 13 de<br />

Maio, o resultado de teste que analisa ancestralidade:<br />

"Estou emocionado. Finalmente conheço<br />

a minha raiz". Rodrigo França conta que o plano,<br />

agora, é visitar o Benin ainda no segundo semestre<br />

do ano: "Eu preciso", afirma.<br />

O que, para grande parte das pessoas brancas, é<br />

algo quase que natural, para a maior parcela da<br />

população brasileira (54%, segundo o IBGE) é<br />

uma conquista. Saber onde nasceram os avós,<br />

bisavós e tataravós é uma informação ainda<br />

distante para muitos negros, que, por causa da<br />

escravidão, tiveram o seu passado apagado —<br />

documentos destruídos, parentes separados e<br />

história oral perdida. E é por isso que — quando<br />

se lembra o dia da assinatura da Lei Áurea,<br />

data celebrada pela historiografia oficial e<br />

momento de reflexão para o movimento negro<br />

—, o cientista social e professor Rodrigo França,<br />

ex-participante do Big Brother Brasil 19<br />

(BBB), ficou tão emocionado.<br />

Em entrevista exclusiva ao GLOBO,<br />

Rodrigo destaca a importância<br />

de conhecer a própria origem<br />

e ressalta que, para<br />

quem não carrega esse<br />

enigma — a esmagadora<br />

maioria dos brancos —,<br />

é fundamental ter consciência<br />

de que isso é um<br />

tipo de privilégio<br />

Por: Clarissa Clains - Brasil<br />

Fotos: Arquivo NET<br />

44 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


CULTURA<br />

Você pegou hoje o resultado<br />

do exame<br />

para identificar de<br />

onde vieram seus antepassados.<br />

Qual foi<br />

o resultado?<br />

Benin. E é uma região que a<br />

gente conhece muito pouco. Eu fico<br />

triste de saber tão pouco sobre esse<br />

lugar. As escolas contam como se o<br />

continente africano fosse um país só.<br />

Você tinha algum indício, algum<br />

chute, de que sua família vinha de lá?<br />

Não. Eu lembro, agora, que há<br />

muitos anos um estudioso me disse<br />

que, pelos meus traços, pelo meu<br />

olho puxado, eu poderia ser de Benin.<br />

Mas eu não tinha ideia.<br />

Como você fez esse teste?<br />

Eu fiz dentro de uma pesquisa da<br />

UFRJ. Nela, é possível identificar de<br />

qual região nos originamos de maneira<br />

predominante. Não consigo ver<br />

o percentual, nem o quanto se deve<br />

ao lado materno ou paterno, mas<br />

tenho como saber que, maioritariamente,<br />

minha família veio de Benin.<br />

O teste era a primeira fase da<br />

pesquisa e envolveu cerca de 600<br />

pessoas. Todas voluntárias, e o exame<br />

foi gratuito. Agora, só 19 dessas<br />

pessoas vão participar da segunda<br />

fase, porque só essas veem de países<br />

que são o objecto de estudo da pesquisa.<br />

Quem quiser ainda tem como<br />

participar desse estudo e fazer a<br />

análise de DNA?<br />

Não, a pesquisadora que está à<br />

frente me disse que agora acabou a<br />

verba para a pesquisa e não vai dar<br />

para continuar. Ela disse que até gostaria<br />

de chamar outras pessoas da<br />

minha família, para fazer uma análise<br />

mais completa. Mas não tem mais<br />

verba.<br />

Quando o teste foi realizado?<br />

Uma semana antes do confinamento<br />

para o BBB. Cheguei até a comentar<br />

sobre esse assunto dentro da<br />

casa. O resultado saiu, inclusive, enquanto<br />

eu ainda estava no programa.<br />

Mas só hoje eu consegui buscar.<br />

E é uma data simbólica, 13 de<br />

maio, o dia da abolição da escravidão<br />

no Brasil.<br />

Sim, é uma data simbólica, que a<br />

gente não comemora. É uma data de<br />

reflexão. Não tem como comemorar.<br />

Passamos por um processo histórico<br />

de apagar esse lado perverso, que foi<br />

a escravidão, como se ela não tivesse<br />

existido. A gente hoje estampa estatísticas<br />

de discriminação, de homicídio<br />

todos os dias. Não houve e não há<br />

um projeto de Estado que considere<br />

negros em paridade com brancos. A<br />

população negra nem sequer sabe<br />

o seu real nome, por ter sido rebatizada<br />

em outros países. E qualquer<br />

nomenclatura relacionada à cultura<br />

africana acabou sendo renomeada<br />

para assumir uma identidade cristã.<br />

“<br />

A população negra<br />

nem sequer sabe o seu real<br />

nome, por ter sido rebaptizada<br />

em outros países.<br />

E qualquer nomenclatura<br />

relacionada à cultura africana<br />

acabou sendo renomeada<br />

para assumir uma<br />

identidade cristã<br />

“<br />

O que você sentiu quando recebeu<br />

o resultado do teste nas<br />

mãos?<br />

Estou até agora emocionado... E<br />

é tão simbólico hoje... É muito triste<br />

você não saber a sua raiz. E é muito<br />

triste o porquê de a gente não saber.<br />

Eu sinto um misto de alegria<br />

e tristeza. Porque é emocionante,<br />

depois de 41 anos, finalmente saber<br />

minha ancestralidade. Mas, ao<br />

mesmo tempo, quem é que sabe?<br />

Quem tem como fazer uma análise<br />

de DNA?<br />

Você tinha há muito tempo<br />

vontade de fazer essa análise?<br />

Eu sempre tive curiosidade,<br />

sempre quis saber. É um exame<br />

caro. Eu já tinha pesquisado e vi<br />

que custaria de R$ 2 mil a R$ 4 mil.<br />

Você tem planos de visitar<br />

Benin?<br />

Ainda este ano. Eu vou dar meu<br />

jeito. Ainda no segundo semestre,<br />

vou a Benin. Eu preciso. Quero ir<br />

com a minha mãe.<br />

Na sua opinião, esse conhecimento<br />

sobre a ancestralidade<br />

muda a percepção que se tem da<br />

própria identidade?<br />

Sim, vai ter até comemoração na<br />

minha família, porque hoje a gente<br />

tem certeza (sobre a ancestralidade).<br />

Hoje temos algo concreto, é dia<br />

de comemorar. A gente sabe o nosso<br />

ponto de partida. Quando eu era<br />

criança, ouvia colegas de classe dizendo<br />

que o avô era italiano, português...<br />

e eu não tinha o que dizer. Eu<br />

não fazia ideia. Agora, dá uma sensação<br />

de orgulho, de honra. Eu sinto<br />

que preciso entender essa cultura,<br />

preciso conhecer Benin e seu povo.<br />

Eu quero hoje ser um porta-voz da<br />

cultura africana.<br />

E para os outros, especialmente<br />

para brancos, que costumam saber<br />

de onde os avós, bisavós vieram, é<br />

importante ter essa percepção também,<br />

não é? De que isso não é algo<br />

natural, dado. Que, para muitos, saber<br />

isso não é automático.<br />

É muito importante a gente ter<br />

consciência dos nossos privilégios,<br />

sejam eles quais forem. Eu tenho<br />

consciência de que sou privilegiado<br />

academicamente, financeiramente.<br />

E isso faz com que eu olhe<br />

para os outros não com ar superior,<br />

mas com entendimento. Quem sabe<br />

da sua ancestralidade tem que ter<br />

consciência disso, de que isso é um<br />

privilégio.<br />

Ajuda a desenvolver empatia<br />

também...<br />

Exacto, empatia. Quando a gente<br />

não tem essa consciência, a gente<br />

desenvolve um conceito supostamente<br />

meritocrático de que o outro<br />

não faz porque não quer, de que<br />

é bobagem querer saber de onde<br />

veio, que minorias sociais reclamam<br />

muito... Como a gente vai desenvolver<br />

autoestima se não se sabe nem<br />

minimamente a origem da família,<br />

a história familiar? Por que uns sa-<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 45


CULTURA<br />

bem sua ancestralidade desde que<br />

nascem, e outros deveriam simplesmente<br />

aceitar não saber?<br />

E em que pé está o processo<br />

sobre intolerância religiosa contra<br />

a Paula, do BBB?<br />

Não foi um processo que eu<br />

movi, e sim uma denúncia popular.<br />

A delegacia esperou a minha saída<br />

do programa para me ouvir, como<br />

vítima. O processo está em segredo<br />

de Justiça.<br />

“<br />

Quando eu era<br />

criança, ouvia colegas de<br />

classe dizendo que o avô<br />

era italiano, português...<br />

Agora, dá uma sensação<br />

de orgulho, de honra. Preciso<br />

entender essa cultura,<br />

preciso conhecer Benin<br />

e seu povo. Eu quero hoje<br />

ser um porta-voz da cultura<br />

africana<br />

“<br />

Eu sabia que existia o antagonismo<br />

lá dentro, mas eu não tinha a menor<br />

noção de tudo o que era dito de<br />

maneira velada. Mesmo se não houvesse<br />

a denúncia popular, eu teria<br />

denunciado depois de sair do BBB.<br />

A gente não pode legitimar um crime.<br />

Porque, senão, as pessoas continuam<br />

reproduzindo o crime como se fosse<br />

algo natural. A liberdade de expressão<br />

tem que ser exercida desde que o conteúdo<br />

seja lícito. É um compromisso<br />

que eu tenho com a população que segue<br />

religiões de matriz africana.<br />

Depois que você saiu do BBB,<br />

teve gente que te falou que se sentiu<br />

inspirado ou representado por você?<br />

A maioria dos que me abordam.<br />

Realmente houve um grande incômodo<br />

aqui fora (com os episódios<br />

caracterizados como intolerância religiosa<br />

na denúncia). O que eu mais<br />

ouço é gente que fala "eu estou contigo".<br />

In Jornal O Globo.<br />

46 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 47


ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />

IMPLEMENTAÇÃO DO IMPOSTO DE VALOR ACRESCENTADO (I.V.A.)<br />

QUEM PAGA,<br />

COMO, QUANDO<br />

E PORQUÊ?<br />

48 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />

Os objectivos do sistema<br />

tributário continuam a ser<br />

os enunciados pelos clássicos<br />

da teoria económica<br />

- em que a administração<br />

deve garantir a equidade<br />

e a justiça distributiva, de<br />

forma a criar uma sociedade<br />

mais justa, fomentando<br />

a actividade económica.<br />

Este corolário deve ser<br />

hoje perseguido, respeitando<br />

princípios de eficiência<br />

e eficácia da administração<br />

pública, que por<br />

via do design de políticas,<br />

programas e instrumentos<br />

de gestão, deve garantir o<br />

maior resultado em termos<br />

qualitativos e quantitativos,<br />

com o menor custo<br />

para o contribuinte<br />

Por: Juliana Evangelista Ferraz *<br />

Fotos: Arquivo NET<br />

Esta afirmação espelha o<br />

desafio que os governos<br />

têm hoje no tocante à<br />

política tributária. Num<br />

ambiente de complexidade<br />

económica como<br />

o que vivemos, uma alteração na<br />

forma como se colecta os impostos<br />

pode ter um impacto significativo na<br />

economia.<br />

As contribuições fiscais implicam<br />

que cidadãos e os agentes económicos<br />

tenham que prescindir de uma<br />

parte do seu rendimento para pagar<br />

impostos, o que lhes retira de certa<br />

forma o poder de compra e a capacidade<br />

de investir.<br />

“<br />

A implementação do<br />

IVA prevê a isenção para<br />

produtos da cesta básica,<br />

combustíveis e medicamentos.Para<br />

o regime<br />

geral, o IVA será aplicado<br />

numa primeira fase, com<br />

carácter obrigatório, sos<br />

grandes contribuintes,<br />

totalizando 421 empresas,<br />

com destaque para os sectores<br />

petrolífero, bancos<br />

comerciais e operadores<br />

de telefonia, e às importações<br />

de bens<br />

“<br />

Recentemente foi aprovado a<br />

Lei 7/19 de 24 de Abril, que aprova<br />

o código do Imposto sobre o Valor<br />

Acrescentado (IVA) e revoga o regulamento<br />

do imposto de consumo<br />

republicado pelo Decreto Legislativo<br />

Presidencial, nº3-A/14 de 21 de<br />

Outubro, e demais legislação que<br />

contrarie o disposto na presente lei,<br />

assim como o imposto de selo previsto<br />

na verba nº15 da tabela a que<br />

se refere o Decreto Legislativo Presidencial<br />

nº3/14 de 21 de Outubro,<br />

que aprova a revisão e Republicação<br />

do Código do Imposto de Selo.<br />

O Executivo propõe a aplicação<br />

de uma taxa única de 14% na introdução<br />

do Imposto sobre o Valor<br />

Acrescentado (IVA) inicialmente<br />

previsto para Julho de 2019. No entanto,<br />

este processo foi adiado para o<br />

2º semestre de 2019. A implementação<br />

do IVA prevê a isenção para produtos<br />

da cesta básica, combustíveis e<br />

medicamentos.<br />

Para o regime geral, o IVA será<br />

aplicado numa primeira fase, com<br />

carácter obrigatório, aos grandes<br />

contribuintes, totalizando 421 empresas,<br />

com destaque para os sectores<br />

petrolífero, bancos comerciais e<br />

operadores de telefonia, e às importações<br />

de bens.<br />

Os referidos contribuintes podem<br />

aderir ao cumprimento das<br />

disposições do Código do IVA, a partir<br />

da data da sua entrada em vigor,<br />

mediante verificação cumulativa<br />

de requisitos previstos no Código<br />

do IVA, nomeadamente: Devem ter<br />

contabilidade organizada e cadastro<br />

actualizado no sistema do registo<br />

geral de contribuintes;Existência de<br />

meios adequados para a emissão de<br />

facturas através de sistemas de processamento<br />

de dados, (Software);<br />

Existência de meios adequados para<br />

a submissão, por transmissão electrónica<br />

de dados, das declarações<br />

fiscais, bem como os elementos da<br />

sua facturação e contabilidade;Não<br />

possuírem dívida fiscal e aduaneira.<br />

Os contribuintes do regime transitório<br />

enquadram-se os sujeitos passivos<br />

cadastrados nas outras repartições<br />

fiscais, com volume de negócios<br />

igual ou superior a 250.000,00 USD)<br />

ou o equivalente em kwanzas).<br />

Neste regime, o apuramento e<br />

pagamento do imposto incide sobre<br />

a metade da taxa do IVA, sobre o volume<br />

de negócios efectivamente recebido<br />

dos 3 meses anteriores, com<br />

excepção das operações isentas e<br />

sobre as aquisições de serviços efectivamente<br />

pagos a prestadores não<br />

residentes.<br />

A dedução do IVA incide até ao<br />

limite de 4% do IVA suportado nas<br />

aquisições de bens e serviços que<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 49


ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />

Os produtos da cesta básica estão isentos do IVA<br />

constem do mapa de fornecedores, sendo que o pagamento<br />

do imposto é efectuado de forma trimestral.<br />

Para o regime da não sujeição, são considerados<br />

sujeitos passivos do imposto as empresas que não tenham<br />

atingido, nos 12 meses anteriores, um volume<br />

de negócios ou operações de importação igual ou superior<br />

em Kwanzas ao equivalente a USD 250.000,00<br />

à excepção dos sujeitos passivos não residentes. Para<br />

estas empresas, não há liquidação de<br />

IVA nas operações activas (facturação)<br />

e sem dedução do IVA incorrido<br />

nas operações passivas (mas pode<br />

abater à colecta 10% do IVA suportado<br />

(sujeito à declaração de fornecedores).<br />

* Fonte: OCPCA.<br />

50 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />

UM DESAFIO DA INTEGRAÇÃO REGIONAL<br />

AS (DES)VANTAGENS<br />

DA CHEGADA DO I.V.A.<br />

Angola é o único membro<br />

da SADC que ainda não<br />

implementou o IVA. Ao definir<br />

a taxa única de 14%<br />

do IVA, fixado pelo Executivo,<br />

para a tributação<br />

da despesa, o país põe em<br />

prática o acordo ratificado<br />

a nível da região, segundo<br />

o qual não se pode definir,<br />

no Código do IVA, uma taxa<br />

inferior a 10%.<br />

Com a introdução deste<br />

imposto teremos as seguintes<br />

vantagens:<br />

Por: Juliana Evangelista Ferraz<br />

Fotos: Arquivo NET<br />

1• Impedimento da<br />

dupla tributação;<br />

2<br />

• Será implementada<br />

uma taxa que se<br />

aplica apenas ao valor<br />

acrescentado em cada<br />

fase do processo, incidindo sobre<br />

as mercadorias, serviços e importações;<br />

3<br />

• Redução da evasão fiscal: Um<br />

dos objectivos da implementação<br />

do IVA em Angola é o combate<br />

à evasão e fraude fiscal. Com base<br />

nisto, o contributo do IVA para este<br />

objectivo virá da emissão de documentos<br />

por parte dos operadores<br />

económicos;<br />

4<br />

• Maior transparência das actividades<br />

económicas: Na medida<br />

que o agente económico seja o<br />

vendedor ou prestador de serviços,<br />

tem a obrigatoriedade de inserir o<br />

valor do IVA na factura ou documento<br />

equivalente. A AGT conseguirá<br />

acompanhar o valor do IVA pago,<br />

ou algum incumprimento fiscal por<br />

parte das empresas;<br />

5.Alargamento da base fiscal,na<br />

medida em que as empresas registadas<br />

para efeitos fiscais, nomeadamente<br />

os grandes contribuintes, entrarão<br />

obrigatoriamente no regime,<br />

estando obrigados de forma mensal<br />

a entrega da declaração periódica<br />

do IVA e respectivo pagamento.<br />

Relativamente às desvantagens,<br />

a taxa de imposto de IVA varia de<br />

país para país. Por exemplo: existem<br />

países em que as taxas variam em<br />

função da natureza do produto ou<br />

serviço a incidir sobre o IVA, com<br />

a denominação de taxa normal, intermédia<br />

e reduzida. No nosso caso<br />

em concreto, nas situações em que<br />

deveriam ser aplicadas taxas reduzidas,<br />

aplicar-se-á a taxa de 14%.<br />

A tendência internacional<br />

relativamente ao sistema tributário<br />

apela aos estados que reformem a<br />

máquina fiscal, de forma a eliminar<br />

os constrangimentos que se observam<br />

a nível das trocas comerciais,<br />

investimento e desenvolvimento<br />

económico, e possam por esta via<br />

implementar políticas públicas<br />

que primem pelo desenvolvimento<br />

sustentado.<br />

Portanto, as recomendações do<br />

Fundo Monetário Internacional e<br />

outras organizações como a Organização<br />

para a Cooperação e Desenvolvimento<br />

Económico (OCDE), em<br />

matéria de reforma fiscal, apontam<br />

no sentido dos estados primarem<br />

pelo reforço institucional de forma<br />

a criar um sistema fiscal justo e<br />

moderno.<br />

A (OCDE) destaca que as<br />

economias africanas, “não devem<br />

concentrar-se exclusivamente no<br />

aumento dos impostos, mas, alargar<br />

a base fiscal a outros contribuintes<br />

ou sectores de actividade que estão<br />

à margem da administração fiscal<br />

e que por motivos de equidade e<br />

justiça devem contribuir.<br />

A OCDE acrescenta que em<br />

grande parte das economias da África<br />

subsariana existem ineficiências<br />

da máquina fiscal, que decorrem<br />

de certos aspectos que devem ser<br />

eliminados dos sistemas como as<br />

inúmeras subvenções artificiais que<br />

existem nas pautas fiscais e que de<br />

acordo com o parecer dos especialistas<br />

da OCDE, deviam ser rapidamente<br />

eliminados por causarem distorções<br />

graves ao desenvolvimento<br />

económico e geração de emprego.<br />

A problemática da execução fiscal<br />

envolve uma plêiade de factores<br />

relacionados, na medida em que<br />

o estado precisa de recursos para<br />

expandir e melhorar os serviços<br />

e prestações sociais e é por via da<br />

contribuição dos cidadãos e empresas<br />

que arrecadará receitas para por<br />

em acção o seu plano.<br />

Os remédios para o problema<br />

fiscal africano mais do que o aumento<br />

das taxas de impostos, exigem<br />

a supressão /redução de taxas, o<br />

alargamento da base tributária, e o<br />

reforço da cultura de cumprimento<br />

fiscal, pois, existem grandes franjas<br />

de contribuintes à margem dos<br />

sistemas fiscais que devem ser incluídos<br />

na arrecadação de receitas.<br />

Esta inclusão permitirá o aumento<br />

da receita fiscal e redução das taxas<br />

de impostos causando um melhor<br />

ambiente fiscal para famílias e empresas.<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 51


ÁFRICA<br />

Fotos: Arquivo F&N<br />

TENTATIVA DE GOLPE DE ESTADO NA GUINÉ EQUATORIAL<br />

ADVOGADO CONTRA<br />

"DECISÃO ARBITRÁRIA"<br />

DAS AUTORIDADES<br />

O advogado e activista dos direitos humanos, o equato-guineense Ponciano Mbomio<br />

Nvó, classificou recentemente de "arbitrária" a decisão da justiça da Guiné Equatorial<br />

que condenou mais de 130 pessoas acusadas de envolvimento numa tentativa de golpe<br />

de Estado no país. "Em princípio, para aplicar uma pena, há que saber se a pessoa visada<br />

é responsável ou não. As penas foram aplicadas de uma maneira arbitrária", disse o<br />

advogado à Lusa, por telefone<br />

52 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


ÁFRICA<br />

"O número de pessoas que<br />

conheciam o tema do golpe<br />

de Estado não era o número<br />

de pessoas que se acusou e<br />

penalizou. Havia um número<br />

reduzido de pessoas que<br />

conheciam o caso e se consideravam<br />

como culpadas", explicou Ponciano<br />

Mbomio Nvó.<br />

Mais de 130 pessoas acusadas de<br />

envolvimento numa tentativa de golpe<br />

de Estado na Guiné Equatorial, em Dezembro<br />

de 2017, foram condenadas<br />

a penas entre os três e os 96 anos de<br />

prisão. O advogado referiu ainda que<br />

há situações em que "duas ou três<br />

pessoas que nunca se viram na vida"<br />

foram condenadas pelo mesmo delito.<br />

"Para que tu e eu cometamos um<br />

delito, primeiro temos de nos sentar<br />

e falar, e chegar a um acordo para<br />

cometer o delito. Estamos a assistir<br />

a um caso em que pessoas que nunca<br />

se viram antes foram acusadas do<br />

mesmo delito", afirmou.<br />

neense "não autoriza que se condene<br />

uma pessoa ausente no processo ou<br />

que não tenha sido ouvida".<br />

O advogado e activista dos direitos<br />

humanos na altura assinalou também<br />

a chegada de uma missão da Comuni-<br />

“<br />

Em Janeiro de 2018,<br />

as autoridades de Malabo<br />

afirmaram que tinham<br />

conseguido evitar um golpe<br />

de Estado organizado por<br />

um grupo de mercenários<br />

estrangeiros que quis atacar<br />

o Presidente, Teodoro<br />

Obiang Nguema, na véspera<br />

de Natal do ano anterior,<br />

quando o chefe de Estado<br />

estava no seu palácio em<br />

Koete Mongomo<br />

“<br />

Sobre o impacto que esta decisão<br />

pode ter no futuro, Ponciano Mbomio<br />

Nvó admitiu que "as famílias estão<br />

destruídas e destroçadas". "É uma<br />

decisão que não cria um ambiente<br />

favorável para o país. É melhor que<br />

quando se culpa uma pessoa, esta seja<br />

culpada do delito de que foi acusada.<br />

Mas quando te detêm e te colocam na<br />

prisão e depois te condenam (...) por<br />

um delito que não cometeste, cria um<br />

ambiente desconfortável para o país e<br />

para as famílias", concluiu.<br />

A decisão anunciada no passado<br />

dia 7 de Junho representa o final de<br />

um processo que decorria desde 22<br />

de Março. Em Janeiro de 2018, as autoridades<br />

de Malabo afirmaram que<br />

tinham conseguido evitar um golpe<br />

de Estado organizado por um grupo<br />

de mercenários estrangeiros que quis<br />

atacar o Presidente, Teodoro Obiang<br />

Nguema, na véspera de Natal do ano<br />

anterior, quando o chefe de Estado<br />

estava no seu palácio em Koete Mon-<br />

Advogado<br />

Ponciano Mbomio Nvó<br />

Teodoro Obiang Nguema,<br />

Presidente da Guiné Equatorial<br />

desde 1979<br />

Ponciano Mbomio Nvó considerou<br />

que a justiça da Guiné<br />

Equatorial não actuou "conforme<br />

a lei"."Primeiro, Advogado equato-<br />

-guineense critica sentenças , disse,<br />

acrescentando que a lei equato-guidade<br />

dos Países de Língua Portuguesa<br />

(CPLP) à capital do país, Malabo. "Convinha<br />

que esta missão verifique (...) se<br />

a imagem da Guiné pode ser lavada<br />

depois da aplicação de penas a condenados<br />

inocentes", apontou.<br />

gomo, a cerca de 50 quilómetros da<br />

fronteira com o Gabão. Três dias depois,<br />

a 27 de Dezembro, cerca de 30<br />

homens armados foram detidos pela<br />

polícia camaronesa na fronteira entre<br />

os dois estados.<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 53


ÁFRICA<br />

EXILADO EM PARIS<br />

OPOSITOR DE TEODORO NGUEMA<br />

CONDENADO A<br />

60 ANOS DE PRISÃO<br />

• Salomon Abeso diz ser acusado de "financiar a<br />

oposição, mercenários" e de "tentar assassinar o Presidente".<br />

O opositor equato-guineense<br />

Salomon Abeso,<br />

condenado a 60 anos e<br />

quatro meses de prisão<br />

por uma tentativa de<br />

golpe de Estado contra o<br />

Presidente da Guiné Equatorial,<br />

afirmou que "não<br />

existe justiça" no seu país<br />

e rejeitou as acusações.<br />

"Na Guiné Equatorial não<br />

existe justiça. A justiça é<br />

o ditador Teodoro Obiang<br />

Nguema. Desde que tomou<br />

o poder em 03 de Agosto<br />

de 1979, nunca houve<br />

justiça nesse país", disse<br />

o opositor, membro da<br />

Coligação Restauradora de<br />

um Estado Democrático<br />

(CORED), à agência Lusa,<br />

numa conversa telefónica<br />

a partir de Paris, onde se<br />

sedia o partido<br />

Fotos: Arquivo F&N<br />

O<br />

opositor, exilado em<br />

Londres há 18 anos,<br />

recebeu as notícias<br />

da sentença de "um<br />

julgamento falso" com<br />

"muita dor". Salomon<br />

Abeso defende que o julgamento não<br />

decorreu de forma conforme com a<br />

justiça da Guiné Equatorial, uma vez<br />

que muitos dos condenados não foram<br />

presentes a tribunal.<br />

"Só fomos informados de termos<br />

sido acusados de um dos delitos no<br />

início de 2018 (...). Em todo o jul-<br />

54 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


ÁFRICA<br />

Palácio da Justiça da Guiné Equatorial<br />

“<br />

Todas essas acusações<br />

são falsas e infundadas.<br />

A única coisa que<br />

queremos é que o Governo<br />

aceite a convocatória que<br />

lhe enviámos em Genebra<br />

para negociar um roteiro<br />

para organizar um Governo<br />

de transição nacional<br />

em que participem todos<br />

os líderes políticos da Guiné<br />

Equatorial<br />

“<br />

gamento, em mais de dois meses e<br />

meio, não mencionaram o meu nome<br />

em qualquer dia. Não só o meu, a<br />

maioria dos opositores exilados que<br />

foram condenados não tiveram o seu<br />

nome mencionado [anteriormente]",<br />

referiu Salomon Abeso a partir de<br />

Paris, onde se encontra.<br />

"Não nos terem apresentado a<br />

julgamento, foi o primeiro erro, porque<br />

não nos podem julgar na nossa<br />

ausência", explicou, garantindo que<br />

está "à procura de uma forma para<br />

denunciar a situação" junto de países<br />

e organizações "a nível ocidental".<br />

De acordo com o membro da oposição,<br />

esta situação faz parte de uma<br />

manobra do Governo para "eliminar<br />

toda a oposição da Guiné Equatorial".<br />

Salomon Abeso diz ser acusado<br />

de "financiar a oposição e de financiar<br />

mercenários" e, portanto, de<br />

"tentar assassinar o Presidente".<br />

O julgamento que terminou na<br />

passada sexta-feira, dia 31 de maio,<br />

sentenciou mais de 130 pessoas acusadas<br />

de envolvimento numa tentativa<br />

de golpe de Estado na Guiné<br />

Equatorial a penas entre os três e os<br />

96 anos de prisão.<br />

Os processos recuavam a janeiro<br />

de 2018, quando as autoridades<br />

equato-guineenses afirmaram ter<br />

conseguido impedir um golpe de<br />

Estado organizado por um grupo de<br />

mercenários estrangeiros que pretendia<br />

atacar o Presidente, Teodoro<br />

Obiang Nguema, na véspera de natal<br />

do ano anterior.<br />

Três dias depois, a 27 de dezembro,<br />

cerca de 30 homens armados<br />

foram detidos pela polícia camaronesa<br />

na fronteira entre os Camarões<br />

e a Guiné Equatorial, tendo as autoridades<br />

equato-guineenses procedido<br />

a várias detenções no país e<br />

emitido mandados de captura contra<br />

cidadãos que vivem no estrangeiro e<br />

contra outros cidadãos estrangeiros.<br />

Salomon Abeso negou "categoricamente"<br />

as acusações de que foi<br />

alvo, referindo que são "falsas e infundadas"<br />

e que apenas pretende<br />

que o Governo do país aceite negociar<br />

um governo de transição nacional<br />

transversal a todos os líderes políticos<br />

do país.<br />

"Nego-as categoricamente. Todas<br />

essas acusações são falsas e infundadas.<br />

A única coisa que queremos é<br />

que o Governo aceite a convocatória<br />

que lhe enviámos em Genebra para<br />

negociar um roteiro para organizar<br />

um Governo de transição nacional<br />

em que participem todos os líderes<br />

políticos da Guiné Equatorial",<br />

afirmou, sublinhando que pretende<br />

a assistência das Nações Unidas,<br />

União Europeia, União Africana e<br />

nações com influência naquele país,<br />

"como França, Portugal, Inglaterra,<br />

Espanha e Estados Unidos" nestas<br />

negociações. "Tanto eu como o bloco<br />

[a CORED], em nome de toda a oposição,<br />

rejeitamos categoricamente as<br />

condenações de que fomos alvo na<br />

Guiné Equatorial", concluiu.<br />

Salomon Abeso diz ter sido já<br />

condenado à morte pela justiça<br />

equato-guineense em 2002, por um<br />

alegado envolvimento no planeamento<br />

de golpe de Estado encabeçado<br />

por opositores como o seu tio,<br />

Felipe Ondo Obiang. Nessa ocasião,<br />

Abeso, que era diretor financeiro de<br />

uma petrolífera, fora também acusado<br />

de financiar o movimento.<br />

A Guiné Equatorial tem tido uma<br />

história turbulenta de golpes e tentativas<br />

de golpes desde a sua independência<br />

da Espanha, em 1968. O Governo<br />

de Teodoro Obiang Nguema, que celebrou<br />

77 anos, 39 dos quais no poder,<br />

é regularmente acusado de violações<br />

dos direitos humanos pelos seus opositores<br />

e organizações internacionais.<br />

A Guiné Equatorial é, desde julho<br />

de 2014, membro da Comunidade<br />

de Países de Língua Portuguesa, que<br />

integra ainda Angola, Brasil, Cabo<br />

Verde, Guiné-Bissau, Moçambique,<br />

Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.<br />

(JYO // JH).<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 55


ÁFRICA<br />

GUINÉ EQUATORIAL<br />

CONFISCADA COLECÇÃO<br />

DE CARROS DE LUXO<br />

DO FILHO DO PRESIDENTE<br />

• Os Bugatti, Lamborghini, Koenigsegg e<br />

McLaren foram apreendidos. Vão a leilão. Na Suíça...<br />

O vice-presidente da Guiné<br />

Equatorial, Teodoro<br />

Nguema Obiang Mangue<br />

tem uma forte paixão por<br />

carros de luxo – e mansões<br />

onde estacioná-los –, com<br />

ênfase para os superdesportivos.<br />

Sucede que os<br />

seus superdesportivos já<br />

não são dele, tendo sido<br />

confiscados pela justiça e<br />

muitos vendidos<br />

Fotos: Arquivo NET<br />

Muitas vezes criticado<br />

pelo uso<br />

indevido de fundos<br />

estatais, tendo<br />

já possuído<br />

uma mansão em<br />

França avaliada em 100 milhões<br />

de euros, o vice-presidente viu a<br />

sua colecção de carros ser confiscada<br />

por duas vezes, em 2012<br />

e em 2016, segundo a GTspirit. O<br />

primeiro lote de veículos, apreendido<br />

há sete anos, foi rapidamente<br />

leiloado pelas autoridades francesas,<br />

preparando-se agora os suíços<br />

para fazer o mesmo ao lote de 25<br />

modelos apreendido em 2016.<br />

Não há ainda muitos dados sobre<br />

o leilão, apenas que será organizado<br />

pela Bonhams ainda em<br />

56 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


ÁFRICA<br />

2019 e decorrerá no Bonmont Golf<br />

& Country Club, um elegante castelo<br />

nas margens do lago Genebra,<br />

na Suíça.<br />

As estrelas do lote de superdesportivos<br />

são um Bugatti Veyron,<br />

um Lamborghini Veneno, um Koenigsegg<br />

One:1 e um McLaren P1,<br />

cada um deles a valer cerca de 4,5<br />

milhões de euros, de acordo com<br />

a organização. Mas há outros desportivos<br />

menos exuberantes que<br />

faziam parte dos brinquedos do vice-presidente,<br />

com destaque para<br />

três modelos da Ferrari, nomeadamente<br />

Enzo, LaFerrari e F12 tdf,<br />

além de um Aston Martin One-77.<br />

Num país frequentemente envolvido<br />

em acusações de fraude,<br />

corrupção e abusos, por parte de<br />

organizações dos direitos humanos,<br />

Obiang Mangue tem o seu lugar<br />

de vice-presidente garantido,<br />

entre outros motivos porque foi<br />

nomeado pelo seu pai e presidente,<br />

Teodoro Obiang Nguema Mbasogo.<br />

O futuro presidente da Guiné<br />

Equatorial, quando seu pai abdicar,<br />

estudou durante anos num colégio<br />

privado em França, mas acabou<br />

por se formar em apenas cinco meses<br />

numa universidade em Malibu,<br />

conhecida estância balnear na Califórnia.<br />

(Alfredo Lavrador | Observador).<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 57


MUNDO<br />

BRASIL<br />

O BNDES E<br />

O RISCO DE EXTINÇÃO<br />

Na primeira quinzena do mês de Junho, a maior parte dos analistas políticos e os próprios<br />

actores da cena política pareciam bastante preocupados em decifrar o “modus<br />

operandi” do governo Bolsonaro. Afinal, não era prá menos! Ao longo de poucos dias, o<br />

capitão havia exonerado 3 generais que ele mesmo tinha nomeado para cargos estratégicos<br />

no primeiro escalão da Esplanada.<br />

Foram afastados o Ministro da Secretaria de Governo, General Carlos Alberto dos Santos<br />

Cruz, o Presidente da FUNAI, General Franklimberg Freitas e o Presidente da Empresa<br />

de Correios, General Juarez de Paula Cunha. Para cada acto de demissão foram apresentados<br />

argumentos relativos a algum tipo de incompatibilidade com a orientação geral<br />

emanada do Palácio do Planalto<br />

Por: Paulo Kliass * / Fotos: Arquivo NET<br />

Santos Cruz não estaria<br />

disposto a atender às demandas<br />

do círculo mais<br />

próximo aos filhos de Bolsonaro<br />

e do autoproclamado<br />

guru Olavo de Carvalho.<br />

No caso da FUNAI, o problema<br />

estaria na pressão dos ruralistas, que<br />

não confiavam na disposição do general<br />

em atender às suas demandas nas<br />

disputas com as nações indígenas. O<br />

general Juarez teria sido demitido da<br />

ECT por suas declarações públicas<br />

contrárias à privatização da empresa<br />

pertencente à União.<br />

No entanto, o que pouca gente imaginava<br />

é que o chefe do governo iria<br />

ampliar ainda mais o grau de descontentamento<br />

com relação ao seu modo<br />

de organizar a tropa e operar mudanças...<br />

Em um conversa rápida com<br />

58 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


MUNDO<br />

jornalistas, ele praticamente demitiu<br />

o Presidente do BNDES, por meio de<br />

um recado ríspido direcionado a Joaquim<br />

Levy. A surpresa vem daqueles<br />

que avaliam as dificuldades enfrentadas<br />

pelo governo e da necessidade<br />

de ampliar o seu suporte político no<br />

seio dos representantes do sistema<br />

financeiro.<br />

Tirar Levy para extinguir o BN-<br />

DES - Mas não foi assim, não. Não<br />

teve muita conversa. Bolsonaro foi<br />

duro e directo, passando por cima da<br />

hierarquia, uma vez que Levy havia<br />

sido sugerido para o cargo por Paulo<br />

Guedes, seu superior na própria estrutura<br />

do Ministério da Economia.<br />

A desculpa esfarrapada para tal acto<br />

foi a nomeação por Levy de um ex-<br />

-assessor da presidência do banco<br />

ainda na gestão do PT. Outros lembram<br />

ainda as dificuldades encontradas<br />

para abrir a tal da “caixa preta”<br />

dos empréstimos do banco, com a<br />

intenção explícita de promover uma<br />

devassa persecutória nas gestões anteriores.<br />

Ora, essas razões não se sustentam<br />

de pé. O próprio Joaquim Levy,<br />

apesar de seu perfil conservador, é<br />

um oriundo das administrações petistas.<br />

Foi aproveitado lá trás ainda<br />

por Palocci, em 2003, que nomeou<br />

o antigo colaborador das gestões<br />

tucanas para o estratégico cargo<br />

da Secretaria do Tesouro Nacional.<br />

Antes de Levy ser nomeado por Dilma<br />

para o Ministério da Fazenda<br />

no estelionato eleitoral de 2015, o<br />

economista havia também ocupado<br />

cargos no FMI e no Banco Mundial<br />

representando o governo brasileiro.<br />

Nessas condições, fica difícil atribuir<br />

à nomeação de um assessor a razão<br />

para sua demissão.<br />

Lembremos que Levy tem uma<br />

passagem muito fácil no interior do<br />

financismo, em razão da extensa ficha<br />

de bons serviços prestados à nata da<br />

elite. Essa identidade de interesses<br />

deu-se nos momentos em que o ocupante<br />

de cargos públicos formulava<br />

políticas governamentais que agradavam<br />

plenamente aos desejos da<br />

banca. Ou então em períodos que o<br />

próprio Levy actuava como dirigente<br />

do capital privado. Aliás, foi na condição<br />

de indicado pelo Bradesco que<br />

ele chegou ao Ministério no segundo<br />

mandato de Dilma.<br />

“(…) “Como liberais,<br />

somos contrários a empresas<br />

estatais. Com excepção<br />

do Banco Central, bancos<br />

públicos deveriam ser<br />

privatizados e o BNDES extinto.<br />

A Petrobras também<br />

deveria ser privatizada<br />

“<br />

Assim, imagina-se que demitir<br />

Levy é comprar dificuldades, ao menos<br />

momentâneas, com o povo da<br />

finança. Por que haveria Bolsonaro<br />

avançado esse sinal, em momento tão<br />

crucial para o avanço da proposta da<br />

Reforma da Previdência no interior<br />

da Câmara dos Deputados? É bem<br />

provável que o enredo teatral todo<br />

tenha sido articulado com o próprio<br />

Paulo Guedes, que também passou<br />

a apresentar nos últimos tempos<br />

algum desconforto com Levy no comando<br />

do BNDES.<br />

BNDES incomoda privados - Uma<br />

das dificuldades refere-se à exigência<br />

de que ele promovesse a devolução<br />

para os cofres do Tesouro Nacional<br />

de valores próximos a R$ 130 bilhões.<br />

Essa é a soma que o governo federal<br />

havia transferido ao banco, para que<br />

o mesmo pudesse desenvolver suas<br />

actividades de financiamento do desenvolvimento<br />

e de empréstimos de<br />

longo prazo a juros subsidiados. Assim,<br />

não faz sentido essa devolução<br />

que impacta de forma perigosa e negativa<br />

o património do BNDES.<br />

A bem da verdade, essa estratégia<br />

não faz “sentido” para aqueles que<br />

consideramos essencial que o Estado<br />

brasileiro conte com uma agência<br />

robusta para dar conta das tarefas<br />

de fomento do desenvolvimento. O<br />

problema é que Paulo Guedes tem<br />

uma visão totalmente oposta. Para o<br />

monetarista conservador, que nunca<br />

havia ocupado um cargo público até<br />

então, a principal tarefa é aquela associada<br />

à demolição.<br />

Ele não se cansa de deixar isso clara<br />

quando fala em privatizar todas as<br />

empresas estatais ou quando remete<br />

ao projeto de eliminação do modelo<br />

de previdência social pública.<br />

Ocorre que pouca gente atentou<br />

para uma declaração sua a respeito<br />

do próprio BNDES. Não nos esqueçamos<br />

jamais de que Guedes é oriundo<br />

do sistema financeiro, onde passou<br />

boa parte de sua vida profissional.<br />

Assim, além do viés “natural” do rentismo<br />

parasitário, ele vê nos bancos<br />

públicos um enorme obstáculo à ampliação<br />

dos negócios e das margens<br />

de lucro do capital financeiro privado.<br />

(...)<br />

*Em Berlim | Correio do<br />

Brasil/*Paulo Kliass é doutor em<br />

economia e membro da carreira de<br />

Especialistas em Políticas Públicas<br />

e Gestão Governamental do governo<br />

federal.<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 59


MUNDO<br />

UM DOCUMENTÁRIO ARRASADOR<br />

IMPEACHMENT,<br />

LULA E BOLSONARO<br />

Assistir desperta os sentimentos<br />

mais ambíguos, uma<br />

imensa vergonha do Brasil,<br />

dos deputados que votaram<br />

pelo impeachment, da tibieza<br />

do Supremo Tribunal Federal,<br />

do papel indecente da<br />

mídia no período.“El Odio”,<br />

um documentário arrasador,<br />

de Andrés Sal-lari, sobre o<br />

longo processo do impeachment<br />

de Dilma Rousseff, a<br />

prisão de Lula e a eleição de<br />

Bolsonaro<br />

Por: Luis Nassif / Jornal GGN / em Pátria<br />

Latina / Fotos: Arquivo NET<br />

Assistir desperta os<br />

sentimentos mais ambíguos,<br />

uma imensa<br />

vergonha do Brasil,<br />

dos deputados que<br />

votaram pelo impeachment,<br />

da tibieza do Supremo Tribunal<br />

Federal, do papel indecente da<br />

mídia no período.<br />

A visão de animais urrando na<br />

Câmara, enquanto votavam pelo impeachment,<br />

o ar solene dos apresentadores<br />

do Jornal Nacional, transformando<br />

a pantomima do Power Point<br />

em denúncia escandalosa, todos<br />

esses pontos, quando reunidos em<br />

um documentário, traçam um quadro<br />

dantesco. E, no contraponto, o<br />

martírio de Lula. Sim, conseguiram<br />

erigir Lula ao panteão dos grandes<br />

mártires do século 20, para desgosto<br />

de Fernando Henrique Cardoso, que<br />

passará à história como o Salieri de<br />

folhetim.<br />

Conseguiram o botim do momento,<br />

o poder. Com ele, o desmonte de<br />

qualquer forma de regulação, ambiental,<br />

social, controle de armas, de<br />

velocidade no trânsito. Tudo isso em<br />

nome de uma bandeira empunhada<br />

por um juiz que actuava politicamente.<br />

À medida em que os factos vão<br />

sendo, finalmente, assimilados pela<br />

opinião pública, avalia-se a dimensão<br />

do estrago que a operação causou ao<br />

país. Nos próximos meses, essa conta<br />

será cobrada duramente de seus<br />

principais estimuladores.<br />

60 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


MUNDO<br />

GUERRA COMERCIAL DECLARADA<br />

A CHINA NÃO É INIMIGO...<br />

Depois de os Estados Unidos terem posto um fim às tréguas da actual guerra ao anunciarem<br />

a imposição de tarifas sobre produtos importados, a 11ª sessão de diálogo entre os<br />

dois países terminou sem qualquer sucesso. E, no passado dia 1 de Junho, a China decidiu<br />

também impor tarifas sobre produtos importados dos Estados Unidos como resposta,<br />

deixando a situação entre os dois países num estado ainda mais extremo. Esta mudança<br />

na relação tem gerado graves consequências, primeiramente a nível económico<br />

Por: David Chan * / Opinião / Fotos: Arquivo NET<br />

É<br />

cada vez mais evidente<br />

o nível de alto risco e<br />

imprevisibilidade que<br />

os mercados de capital<br />

carregam. É por isso<br />

também interessante<br />

ler um recente artigo publicado pela<br />

CNN com o título "A China não é a<br />

raiz dos nossos problemas financeiros,<br />

mas sim a ganância empresarial".<br />

E essa é a verdade, a China não<br />

é nenhum inimigo, é apenas um país<br />

que, através da educação, comércio<br />

internacional, investimento em<br />

infraestruturas e tecnologias, está<br />

a tentar melhorar a qualidade de<br />

vida da população. Está a fazer o que<br />

qualquer outro país com historial de<br />

pobreza, ou que já esteve um pouco<br />

atrás de outras potências, faria. Porém<br />

estas tentativas de impedir o<br />

desenvolvimento da China, executadas<br />

pelo Governo de Trump poderão<br />

ser desastrosas para os EUA e para o<br />

resto do mundo.<br />

O artigo salienta que, ao longo de<br />

vários anos, as relações comerciais<br />

sino-americanas têm sido mutuamente<br />

benéficas, todavia, devido ao<br />

aumento da eficiência da produção<br />

e baixos custos de mão-de-obra chinesa,<br />

a China representa um rival<br />

impossível de bater para alguns produtores<br />

americanos, algo comum na<br />

competição de mercado. Em vez de<br />

culpar a China, os EUA deveriam aumentar<br />

os impostos sobre as empresas<br />

americanas que lucram com esta<br />

situação, e utilizar esses fundos para<br />

ajudar algumas famílias, criar novas<br />

infraestruturas e novos empregos. É<br />

preciso reconhecer que a China sofreu<br />

algumas adversidades políticas<br />

e económicas durante muito tempo,<br />

estando agora a tentar recuperar<br />

o tempo perdido. No espaço de 40<br />

anos a economia chinesa cresceu a<br />

alta velocidade, mas os resultados de<br />

mais de um século de pobreza e crise<br />

ainda estão presentes. Os líderes<br />

chineses querem apenas melhorar o<br />

país, e por isso não estão mais dispostos<br />

a vergar-se perante os EUA ou<br />

outras nações do ocidente.<br />

A China é neste momento a segunda<br />

maior economia do mundo,<br />

porém ainda está num processo de<br />

recuperação da pobreza anterior. No<br />

ano de 1980, o PIB chinês per capita<br />

era apenas 2,5 por cento do norte-<br />

-americano, e agora em 2018 subiu<br />

para 15,3 por cento. A estratégia de<br />

desenvolvimento da China é semelhante<br />

à que países como o Japão,<br />

Coreia do Sul e Singapura experien-<br />

ciaram anteriormente. De uma perspectiva<br />

económica, o que a China está<br />

a fazer não difere em nada do que outros<br />

países fizeram no passado.<br />

* Editor Senior/ Publicado em Plataforma.<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 61


MUNDO<br />

BREXIT<br />

VAI SER<br />

MESMO A DOER<br />

A evolução dos acontecimentos<br />

faz temer o pior<br />

para a questão do Brexit.<br />

Os 27 países ainda parceiros<br />

do Reino Unido<br />

não abrandam as posições,<br />

mas a monarquia<br />

insular tem agora um<br />

primeiro-ministro que<br />

quer a saída e não poupa<br />

afirmações de confronto.<br />

A resolução está marcada<br />

para 31 de Outubro e não<br />

é crível que a data seja<br />

novamente adiada<br />

Texto: João Barbosa / Fotos: Arquivo NET<br />

Boris Johnson, o favorito para ganhar a eleição interna no partido<br />

Conservador para suceder à primeira-Ministra britânica, Theresa May<br />

Boris Johnson, antigo<br />

presidente da Área Metropolitana<br />

de Londres,<br />

é agora o provável primeiro-Ministro<br />

e líder<br />

do Partido Conservador<br />

– no condicional, porque à hora de fecho<br />

desta edição era ainda a hipótese<br />

mais do que esperada. Partiu favorito<br />

e foi ganhando balanço, nas várias rondas<br />

das eleições partidárias, afastando<br />

adversários e até colhendo apoio de<br />

desistentes.<br />

Louro e de penteado esvoaçante<br />

– o que levou a comentários de comparação<br />

com Donald Trump – afirma<br />

que o Reino Unido não vai pagar por<br />

sair da UE. Essa é uma exigência dos<br />

parceiros e que – embora discordando<br />

dos valores pedidos, sobretudo, por<br />

França – Theresa May assumiu aceitar.<br />

O que vem aí é um divórcio litigioso.<br />

Vive-se a incerteza criada por não se<br />

alcançar qualquer acordo. Na verdade,<br />

ninguém sabe as consequências reais<br />

para o Reino Unido, UE e para o mundo.<br />

Coincidente é que vai haver problemas.<br />

Há quem diga «furacão».<br />

Aparentemente, ninguém deseja ao<br />

restabelecimento duma fronteira efectiva<br />

entre a República da Irlanda e o<br />

Ulster, parte do Reino Unido. Seria mau<br />

para a economia das duas partes, mas<br />

as exigências dos 27 são incompatíveis<br />

com as dos britânicos.<br />

O Mercado Único pressupõe a livre<br />

circulação de bens, capitais, serviços e<br />

pessoas. O problema está neste último<br />

ponto – leia-se trabalhadores. A questão<br />

laboral foi central no discurso dos<br />

defensores do Brexit. O Reino Unido<br />

pretende continuar a beneficiar deste<br />

acordo, mas não quer a componente<br />

humana. Contudo, isso é obrigatório<br />

para os ainda parceiros.<br />

É aqui que reside o problema da<br />

fronteira. Ninguém quer portões na<br />

Irlanda, mas isso não pode permitir ao<br />

Reino Unido contornar a questão do<br />

respeito pelos quatro pilares do Mercado<br />

Único. As cancelas estariam abertas<br />

para livre circulação de bens, capitais e<br />

serviços, mas as pessoas poderiam ser<br />

barradas à entrada.<br />

A possibilidade de contornar a<br />

questão da circulação de pessoas é<br />

possível. Para isso, os 27 exigem o pagamento<br />

pela excepção – o valor não<br />

está definido e a «indemnização» pela<br />

saída não respeita apenas a este ponto.<br />

62 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


MUNDO<br />

Boris Johnson garante que não vai pagar,<br />

mas não aceita o encerramento da<br />

fronteira irlandesa.<br />

Alguns dos ainda parceiros revelaram<br />

planos de como tencionam agir<br />

no caso de não haver acordo. Os países<br />

podem travar, nas suas fronteiras,<br />

viajantes em trânsito, antecipando a<br />

recusa das autoridades do destino –<br />

o que poupa trabalho e reduz custos.<br />

Esse controlo precoce irá deixar de<br />

acontecer. França foi clara ao dizer que<br />

não impossibilitará de seguir viagem<br />

quem pretenda chegar ao Reino Unido<br />

– seja qual for o meio de transporte.<br />

Theresa May saiu de cena – literalmente<br />

em lágrimas –, derrotada sucessivamente<br />

no Parlamento e no seu<br />

próprio partido. Pode dizer-se que,<br />

parcialmente, foi responsável por isso.<br />

Embora apoiante da manutenção do<br />

país na UE, esteve discreta na campanha<br />

para o referendo, esperando que<br />

os britânicos escolhessem ficar, mas<br />

houvesse uma minoria que assustasse<br />

os parceiros.<br />

A primeira-ministra deposta tentou<br />

ter opositores à manutenção no seu<br />

Governo, como Boris Johnson, mas não<br />

resultou. A maior algazarra foi desse<br />

seu secretário de Estado dos Assuntos<br />

Exteriores, que deixou o cargo em Julho<br />

de 2018 e que agora lhe sucede.<br />

As questões da Escócia e do Ulster<br />

- A Escócia votou pela manutenção<br />

do país na UE e pode ser o maior problema<br />

político interno de Boris Johnson,<br />

que o Partido Nacionalista Escocês<br />

acusa de ser racista. Em 2014, os<br />

escoceses escolheram ficar no Reino<br />

Unido. O Brexit traz de volta o debate<br />

sobre a independência do Norte da<br />

Grã-Bretanha.<br />

Uma parte do problema da Irlanda<br />

do Norte é o Partido Democrático<br />

Unionista, altamente conservador e<br />

nacionalista, e que sustenta, no Parlamento<br />

britânico, o Governo do Partido<br />

Conservador. A situação é delicada,<br />

uma vez que esta força contesta o<br />

acordo de paz, entre a República da<br />

Irlanda e da Irlanda do Norte, e o referendo<br />

que o aprovou, em 1998.<br />

A economia é outra das dores de<br />

cabeça do sucessor de Theresa May.<br />

As previsões económicas não são animadoras.<br />

Instituições financeiras ponderam<br />

a saída. Esperam-se efeitos no<br />

turismo. A indústria deverá recuar. O<br />

país estremece e a cotação da conservadora<br />

libra será desestabilizada.<br />

Trump com Johnson - Em visita<br />

ao Reino Unido – entre 3 e 5 de Junho<br />

–, Donald Trump não escondeu de que<br />

lado está, assumindo uma indelicadeza<br />

diplomática ímpar, imiscuindo-se<br />

na política interna. Permitiu-se manifestar<br />

o seu apoio à saída sem acordo<br />

e sem pagar.<br />

“<br />

Theresa May saiu de<br />

cena – literalmente em lágrimas<br />

–, derrotada sucessivamente<br />

no Parlamento<br />

e no seu próprio partido.<br />

Pode dizer-se que, parcialmente,<br />

foi responsável<br />

por isso<br />

“<br />

Foi a situação mais grave, mas não<br />

a única deselegância, durante a visita,<br />

incluindo com a rainha Isabel II e a<br />

família real. Aliás, chegou a ser insultuoso<br />

com o actual edil da Área Metropolitana<br />

de Londres, o muçulmano Sadiq<br />

Kahn – o trabalhista que, em 2016,<br />

derrotou Boris Johnson, anterior res-<br />

ponsável do cargo.<br />

O presidente dos Estados Unidos<br />

continua sem poupar os adjectivos positivos<br />

às suas ideias. Donald Trump<br />

prometeu um acordo fenomenal, nas<br />

suas próprias palavras, entre o seu<br />

país e o Reino Unido. Mostrou-se ao<br />

lado de Boris Johnson – o que até seria<br />

aceitável, se já fosse o chefe do Governo.<br />

Donald Trump não mostrou só<br />

apoio a Boris Johnson. Reuniu-se e<br />

manifestou grande simpatia por Nigel<br />

Farage, o rosto mais mediático dos<br />

defensores da saída da UE. Populista,<br />

extremista, anti-europeu e xenófobo,<br />

o líder do Partido do Brexit foi apelidado<br />

«bom rapaz», pelo presidente<br />

norte-americano, que defendeu que<br />

deveria estar presente nas negociações<br />

com os 27.<br />

Alargamento adiado - Com o<br />

problema do primeiro abandono do<br />

bloco, os países da UE são obrigados a<br />

repensar o alargamento do espaço comunitário.<br />

As negociações para a adesão<br />

da Albânia e da Macedónia foram<br />

adiadas para Outubro.<br />

Há quem critique a data, por ser<br />

prematura. O Brexit deverá acontecer<br />

até ao final de Outubro e o alargamento<br />

terá de ser debatido ainda sem que<br />

o problema maior da UE esteja resolvido.<br />

Aliás, com o separatista ainda no<br />

bloco.<br />

Em Maio, a Comissão Europeia recomendou<br />

ao Conselho Europeu o início<br />

das conversações para a admissão<br />

desses dois países balcânicos. França e<br />

Holanda mostram-se pouco receptivas<br />

a entradas. Porém, o bloco está dividido<br />

quase a meio.<br />

A lista de candidatos à admissão é<br />

mais vasta e composta por quatro países<br />

dos Balcãs e vítimas de guerra na<br />

passada década de 90: Bósnia-Herzegovina,<br />

Kosovo, Montenegro e Sérvia.<br />

Há ainda a Turquia, a eterna candidata,<br />

recusada sistematicamente devido<br />

questão do Norte de Chipre – que a<br />

opõe à Grécia e ao Chipre independente<br />

– e por problemas de respeito pelos<br />

Direitos Humanos e cujo regime, de<br />

Recep Erdogan, só fecha portas.<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 63


MUNDO<br />

ITALIANOS AGUARDAM CASTIGOS DA U.E.<br />

ITÁLIA TENTA EVITAR<br />

PROCEDIMENTO<br />

POR DÉFICE EXCESSIVO<br />

Itália é o novo problema da União Europeia. As dificuldades económicas eram conhecidas,<br />

mas agora o país está em risco de penalizações, devido à sua dívida. A situação de<br />

Itália é considerada como a maior ameaça à Eurozona, sendo comparável a um Brexit<br />

sem acordo – considera o Fundo Monetário Internacional<br />

Texto: João Barbosa / Fotos: Arquivo NET<br />

64 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


MUNDO<br />

A<br />

dimensão económica<br />

e populacional não é a<br />

de Portugal ou da Grécia,<br />

mas poderá ser o<br />

primeiro dos grandes<br />

estados a conhecer<br />

castigos do bloco. O ministro italiano<br />

das Finanças tenta evitar as sanções<br />

e garante a vontade de cumprir a<br />

meta do défice orçamental. Giovanni<br />

Tria diz que vão ser cortadas despesas,<br />

preferencialmente à subida das<br />

taxas dos impostos.<br />

A desaceleração da economia<br />

transalpina, em 2018, tramou as<br />

contas. Agora, Itália promete redução<br />

da despesa, incluindo em matéria<br />

social. Para 2020, Giovanni Tria<br />

promete um défice de 2,1% do produto<br />

interno bruto.<br />

As garantias de Giovanni Tria<br />

aconteceram em Londres, numa reunião<br />

com vários responsáveis de instituições<br />

financeiras e banqueiros, a<br />

19 de Junho. Porém, dias antes, a 14,<br />

na reunião do Eurogrupo, o ministro<br />

italiano tinha garantido que Itália<br />

não precisa de medidas para baixar<br />

a sua dívida.<br />

Os parceiros do Euro querem que<br />

Itália cumpra as regras, sob pena do<br />

sistema tremer mais e criar mais<br />

impactos na economia do bloco. Os<br />

governantes tentam travar a vontade<br />

da Comissão Europeia em abrir um<br />

procedimento por défice excessivo –<br />

proposta apresentada a 5 de Junho.<br />

Porém, não abdicam do esforço que<br />

o país terá de realizar.<br />

O executivo de Bruxelas admite<br />

mesmo que a dívida italiana pode<br />

agravar-se. Em 2018 situou-se em<br />

132,2% do PIB. As previsões da Comissão<br />

estabelecem 133,7%, neste<br />

ano, e 135,5, para 2020. O limite situa-se<br />

em 60%. Sinal desse caminho<br />

negativo foi o agravamento em Abril,<br />

atingindo 2,373 biliões de euros.<br />

Entre os conselhos, a Comissão<br />

recomenda acções que actuem face<br />

a fuga ao fisco, no combate à corrupção<br />

e para a resolução do crédito<br />

malparado.<br />

Por seu turno, o primeiro-ministro<br />

italiano garante o cumprimento<br />

das regras, mas pretende a alteração<br />

de alguns aspectos. Giuseppe Conte<br />

pretende a criação de novos mecanismos<br />

para a estabilidade e o crescimento,<br />

além de mexidas na partilha<br />

dos riscos.<br />

O FMI prevê que, em caso de se<br />

confirmarem os piores receios na<br />

UE, a Zona Euro viva um período<br />

considerável com fraco crescimento<br />

e fraca taxa de inflação.<br />

Inflação não dispara - O comportamento<br />

da inflação na Zona Euro<br />

continua a desiludir. Devido à progressão<br />

abaixo do objectivo de 2%,<br />

o Banco Central Europeu prepara-se<br />

para apresentar incentivos ao crescimento<br />

económico. Os dois dos medicamentos<br />

são antigos: cortes nas taxas<br />

de juro e voltar a comprar dívida.<br />

Sergio Mattarella, Presidente da Itália<br />

O FMI prevê que a Zona Euro<br />

apresente um maior crescimento no<br />

final deste ano mas, caso os riscos se<br />

materializem, o fundo conta com um<br />

período prolongado de baixo crescimento<br />

e baixa inflação.<br />

A Markit, agência de informação<br />

económica e financeira, revelou previsões<br />

sobre a União Europeia, relativa<br />

a Maio. Embora positivas, não<br />

são completamente animadoras. As<br />

economias da Alemanha e de França<br />

mostraram-se positivas. Mas Itália<br />

está em recessão ligeira. As previsões<br />

apontam para um crescimento<br />

débil da Zona Euro, em 2019.<br />

Os elementos apurados indicam<br />

que, no primeiro trimestre, a economia<br />

europeia cresceu 0,2%. Uma desaceleração<br />

face aos três meses anteriores,<br />

que registaram uma subida<br />

de 0,4%. Todavia, a agência assume<br />

que ainda não tem a totalidade dos<br />

dados de Junho.<br />

Os dados oficiais apontam para<br />

uma melhoria da economia da União<br />

Europeia. O Eurostat anunciou uma<br />

progressão do PIB em 0,4%, nos primeiros<br />

três meses em comparação<br />

com o trimestre anterior. Em comparação<br />

com o período de Janeiro<br />

a Março de 2018, a taxa melhorou<br />

1,5%. Na Zona Euro, a progressão foi<br />

de 0,4%, em cadeia, e de 1,2%, em<br />

período homólogo.<br />

Portugal está acima da média dos<br />

seus parceiros de moeda. Em cadeia,<br />

a economia melhorou 0,5% e, em<br />

termos homólogos, 1,8%. Esta foi a<br />

quarta vez consecutiva que consegue<br />

melhor desempenho.<br />

Outra notícia negativa pode vir<br />

da Alemanha. O Deutsche Bank prepara-se<br />

para uma grande reestruturação,<br />

devido a activos tóxicos calculados<br />

em cerca de 50 mil milhões de<br />

euros, representado perto de 14%<br />

das contas da instituição.<br />

O The Financial Times adianta<br />

que a constituição dum «banco mau»<br />

pode ser a solução a apresentar, a<br />

quando da divulgação dos resultados<br />

do primeiro semestre, que deverá<br />

acontecer a 24 de Julho.<br />

Esta é uma possível consequência<br />

pelo falhanço da fusão com o<br />

Commerzbank, que criaria o terceiro<br />

maior banco da União Europeia. Os<br />

problemas do Deutsche Bank têm<br />

um impacto real, uma vez que é o<br />

terceiro maior da Zona Euro, o sétimo<br />

da UE e 14º do mundo, segundo<br />

a agência Bloomberg.<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 65


DESPORTO<br />

SEM DINHEIRO A TEMPO E COM PREPARAÇÃO INEFICAZ<br />

PALANCAS FORAM AO EGIPTO<br />

PARA CHEGAR ÀS MEIAS FINAIS<br />

Angola, representada pela sua selecção nacional de futebol, Palancas Negras, foi com<br />

parcos recursos financeiros para participar na Taça de África das Nações. Depois de os<br />

Palancas Negras lograrem o apuramento à fase final e de o presidente da Federação Angolana<br />

de Futebol, Artur Almeida, ter assistido ao sorteio , foi recebido , já em Luanda,<br />

pelo Presidente da República<br />

Textos: António Félix / Fotos: Arquivo F&N<br />

Foram reveladas certas<br />

garantias e as condições<br />

financeiras para os compromissos<br />

das selecções<br />

nacionais, entre elas os<br />

Palancas Negras que,<br />

nesta edição organizada pelo Egipto,<br />

almejaram pela primeira vez às meias<br />

finais - superando os quartos de final<br />

de 2018, no Ghana. O certo é que os<br />

Palancas Negras até à partida do estágio<br />

em Portugal, viajaram sem apoio<br />

financeiro do Estado. O presidente<br />

da Federação Angolana de Futebol<br />

esclareceu, à data, que a viagem se<br />

consumou devido a um empréstimo<br />

que a instituição a que preside fez<br />

jundo de entidades bancárias não reveladas<br />

por si. Esta informação deu-a<br />

já, publicamente, a partir de Lisboa<br />

onde, por falta de suporte financeiro,<br />

os Palancas Negras, confrontaram-se<br />

com a falta de "cachet" para convidar<br />

e testar com outras selecções, sendo<br />

que a única que aceitou um "amigável"<br />

foi a da Guiné Bissau.<br />

Agregado este facto, os jogadores<br />

dos Palancas Negras exigiram atempados<br />

pagamentos das ajudas diárias;<br />

situação que levou Artur Almeida a<br />

regressar a Luanda, onde, numa altura<br />

em que a selecção já tinha saído de<br />

Lisboa para o Cairo, ouviu a ministra<br />

da Juventude e Desportos, Ana Paula<br />

Sacramento Neto, a confirmar a entrega<br />

da verba, sem apontar números.<br />

Na ocasião, o ministro das Finanças,<br />

Archer Mangueira, falando para a<br />

Rádio 5, em Luanda, chamou atenção<br />

para a necessidade de os orçamentos<br />

para competições de vulto, como<br />

a Taça de África das Nações, serem<br />

apresentados pela federação um ano<br />

antes do "ano desportivo", direccionados<br />

ao Ministério da Juventude e<br />

Desportos e deste ao Conselho de Ministros,<br />

a fim de constarem do Orçamento<br />

Geral do Estado.<br />

Na falta de confirmação oficial, se<br />

assim se procedeu, fica-se por saber<br />

se a federação falhou ou se, tendo<br />

cumprido, houve cortes. Sobram, assim,<br />

dúvidas se oficialmente a verba<br />

pública cedida corresponde ou não ao<br />

que o presidente da federação, Artur<br />

Almeida, projectou para a preparação<br />

e participação da selecção para maior<br />

torneio futebolístico africano.<br />

Artur de Almeida e Silva estimara,<br />

uma semana antes do anúncio da ministra,<br />

que seriam necessários entre<br />

600 e 700 milhões de Kwanzas para<br />

boa actuação dos Palancas.<br />

66 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


DESPORTO<br />

PRIMEIRO DE AGOSTO REAFIRMA FAVORITISMO<br />

GIRABOLA ARRANCA<br />

A 15 DE AGOSTO<br />

• Ferrovia do Huambo quer Kz 50 milhões para participar<br />

Está decidido que a próxima<br />

edição do Girabola<br />

- como é designado o<br />

campeonato de futebol<br />

da 1ª divisão em Angola<br />

- comece a 15 de Agosto,<br />

segundo o sorteio, realizado na sede<br />

da Federação Angolana de Futebol<br />

(FAF).<br />

O cartaz da 1ª jornada oferece os<br />

jogos entre o Desportivo da Huíla-<br />

-Bravos do Maquis; Sagrada Esperança-Interclube;<br />

Sporting de Cabinda-<br />

Recreativo do Libolo; Ferroviário do<br />

Huambo-Cuando Cubango FC; 1º de<br />

Maio-Académica do Lobito; Benfica<br />

do Lubango- Petro de Luanda e Progresso<br />

do Sambizanga-1º de Agosto.<br />

As ausências de vulto da prova<br />

são as do Atlético Aviação ASA, que<br />

entrou na prova em 1979, mas pontualmente<br />

despromovida este ano,<br />

assim como o Kabuscorp do Palanca,<br />

este devido ao castigo imposto pela<br />

FIFA por não ter pago a tempo os 500<br />

mil dólares contratuais que devia ao<br />

ex-internacional brasileiro Rivaldo.<br />

O 1º de Agosto, campeão em título,<br />

ambiciona repetir a proeza, na<br />

próxima época, sem conhecer, outra<br />

vez, derrota alguma, segundo reacção<br />

do técnico -adjunto Ivo Traça.<br />

"Gostaríamos de bater o mesmo recorde<br />

para irmos buscar o penta",<br />

disse .<br />

O Petro de Luanda, depois de dez<br />

anos sem conquistar o Girabola, está<br />

focado em voltar a erguer o troféu ,<br />

tendo apostado em dois reforços<br />

já confirmados. O central congolês<br />

democrático do Vita Club, Yanick<br />

Kibangala, e o avançado ruandês Jackes,<br />

do Gor Mahia do Quénia.<br />

Entretanto, sem que o campeonato<br />

desse o pontapé de saída, o Ferrovia<br />

do Huambo, que ascendeu pela<br />

primeira vez ao Girabola, já reclamou<br />

que necessita de mais de 50 milhões<br />

de kwanzas para suportar as despesas<br />

da sua participação, segundo o<br />

seu presidente de direcção, Adriano<br />

Marques Catito.<br />

Em termos competitivos, disse<br />

que a formação conta, até ao momento,<br />

com a equipa base que disputou o<br />

Zonal de Apuramento, mas que poderá<br />

ser reforçada por jogadores das<br />

camadas jovens e de outros clubes,<br />

sondados aquando da realização do<br />

nacional de Sub-20.<br />

15 ANOS DEPOIS<br />

UM ANGOLANO NA NBA<br />

O<br />

poste angolano<br />

Bruno Fernando<br />

fez jús, em nome<br />

pessoal e ao de<br />

Angola, ao velho<br />

adágio "água mole<br />

bate tanto em pedra dura até que<br />

fura". Entra para a NBA - National<br />

Basketball Association - depois de<br />

muitas tentativas falhadas pelos<br />

seus compatriotas desde 2004.<br />

Nascido em Luanda há 20<br />

anos, onde se iniciou nas escolas<br />

do 1º de Agosto e, depois, fazendo<br />

carreira universitária nos<br />

Estados Unidos em Maryland, foi<br />

o quarto jogador a ser eleito na<br />

segunda ronda do draft e, assim,<br />

vai tornar-se o primeiro angolano<br />

a jogar na competição, ao ser escolhido<br />

pelos Philadelphia 76'ers.<br />

Mas apesar de ter sido<br />

escolhido pelos Sixers, o poste<br />

de 2,08 metros deverá jogar em<br />

2019/2020 nos Atlanta Hawks,<br />

que, como conjunto de Filadélfia,<br />

pertence à Conferência Este, devido<br />

a uma das muitas trocas de<br />

jogadores na noite do draft.<br />

Na época 2018/19, a segunda<br />

ao serviço da Universidade de<br />

Maryland, Bruno Fernando, que<br />

começou a jogar basquetebol<br />

nos angolanos do 1.º de Agosto e<br />

rumou aos Estados Unidos com<br />

16 anos, conseguiu médias de<br />

13,6 pontos, 10,6 ressaltos e 1,9<br />

desarmes de lançamento.<br />

Cinco angolanos falharam,<br />

anteriormente, entrada na NBA,<br />

tida como maior liga de basquetebol<br />

do mundo. Trata-se Gerson<br />

Monteiro, que em 2004 tentou<br />

pelos San Antonio Spurs, Victor<br />

Muzadi (Dallas Mavericks/2005),<br />

Olímpio Cipriano (Detroit<br />

Pistons/2007), Yanick Moreira<br />

(Torento Raptors/2016) e Carlos<br />

Morais pelos Toronto Raptors, em<br />

2013.<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 67


DESPORTO<br />

BRUNO FERNANDO E A ENTRADA NA NBA<br />

A EXPLICAÇÃO<br />

OPORTUNA DE LUÍS COSTA<br />

Com a devida autoridade<br />

que se lhe confere como<br />

uma dos mais prestigiados<br />

jornalistas desportivos<br />

angolanos, Luís Costa,<br />

hoje radicado nos Estados<br />

Unidos da América, apresentou , num<br />

rico post publicado no facebook, uma<br />

peça onde recorda, de forma brilhante,<br />

o percurso trilhado por vários basquetebolistas<br />

angolanos, até se atingir este<br />

importante feito de Bruno Fernando,<br />

que acaba de entrar neste mundo fantástico<br />

que é a NBA. Ele explica por quê,<br />

as vantagens financeiras que o jovem<br />

teraá Eis o texto:<br />

REVISITANDO O DRAFT DA NBA-<br />

"Quem tomar as Summers Leagues (Ligas<br />

de Verão) como referências para dizer<br />

que alguém já está na NBA, então tem<br />

que concluir que Bruno Fernando não é<br />

o primeiro a fazê-lo. Em 2007 Olímpio<br />

Cipriano fez as Summers Leagues pelos<br />

Detroit Pistons mas foi cortado.<br />

Três anos antes, (2004) Gerson<br />

Monteiro, na altura com 31 anos, tinha<br />

conseguido chegar mais longe:<br />

fez a pré-temporada pelos San Antonio<br />

Spurs. Foi cortado uma semana antes<br />

do arranque oficial da Liga, justamente<br />

quando as equipas são obrigadas a<br />

declarar os plantéis para a temporada.<br />

Em 2013, aos 27 anos de idade,<br />

Carlos Morais também teve a mesma<br />

sorte. Fez a liga de verão, mas foi cortado.<br />

Morais vinha sendo observado desde<br />

2002, por Ujiri Masai o qual durante<br />

muitos anos foi olheiro de equipas da<br />

NBA. Foi pela mão dele, nessa altura<br />

(2013) já como VP para as operações<br />

de basquetebol dos Raptors, que CM<br />

fez a liga de verão desse ano.<br />

O draft basicamente garante à equipa<br />

que escolher um jogador direitos sobre<br />

o mesmo. [Arvidas Sabonis foi selecionado<br />

pelos Portland Trail Blazers em<br />

1986. Apenas juntou-se à NBA em 1995<br />

e teve que o fazer pela porta desta equipa<br />

a qual detinha os direitos sobre ele).<br />

O draft é meio caminho andado,<br />

pois de outra forma seria um desperdício<br />

para as equipas, já que o draft é uma<br />

montra única. Ao contrário dos outros<br />

três angolanos, Bruno tem a seu favor,<br />

vários anos de basquetebol americano.<br />

(ensino médio e universidade.)<br />

Seja como for ir ao draft não é<br />

uma garantia. Espero ardentemente<br />

que Bruno Fernando se mantenha nos<br />

Hawks e que isso dê mais exposição ao<br />

basquetebol angolano, hoje por hoje<br />

muito mal . O meu passado de jornalis-<br />

ta desportivo leva-me ao seguinte: os<br />

três angolanos que precederam Bruno<br />

Fernando tinham contra si, o facto de<br />

que nos anos em que se fizeram à NBA,<br />

havia muitos bases e extremos “baixos”<br />

a concorrerem para as mesmas posições.<br />

(Os americanos eram mais altos e<br />

mais novos do que os angolanos).<br />

O draft da última quinta-feira tem<br />

uma particularidade:<br />

No primeiro round, (de 1 a 30) apenas<br />

foram selecionados três “postes” de<br />

raíz. (Atlanta Hawks -Nr 8) , Indiana Pacers<br />

Nr 18 e Brooklyn Nets Nr 27).<br />

O jogador selecionado pelos Atlanta<br />

Hawks, Jaxson Hayes foi transferido na<br />

mesma noite para os Pelicans de New<br />

Orleans. Não me perguntem porque o<br />

fizeram mas uma das razões na perspectiva<br />

dos Pelicans podem ser os três<br />

cêntimos de diferença entre os dois. Os<br />

Hawks poderão ter outra perspectiva :<br />

Jaxson Hayes, 2.11 cm, 99 kg, (10 pontos,<br />

5 ressaltos e 0.3 assistes por jogo)<br />

na última temporada no colégio, escolhido<br />

na posição Nr 8, ficaria sempre<br />

mais caro do que qualquer jogador escolhido<br />

no segundo round que é o caso<br />

de Bruno Fernando (2.08 cm , 108 kg),<br />

12 pontos, 8.7 ressaltos e 1.4 assistes<br />

por jogo.<br />

A tabela salarial para rookies (caloiros)<br />

fixada pelo contrato colectivo de<br />

trabalho, reserva ao jogador seleccionado<br />

na posição Número 8 o seguinte:<br />

Primeira época $ 4,046,500<br />

Segunda época $4,248,800<br />

Terceira época $4,451,100<br />

Na quarta época o clube tem a opção<br />

de renovar ou declinar o contrato.<br />

Se renovar o jogador terá direito a um<br />

incremento salarial de 27.2% (Fonte<br />

Real GM).<br />

No segundo contrato, o qual tem a<br />

duração de cinco anos, o direito de renovar<br />

ou declinar o contrato aplicado<br />

ao fim do quarto ano, reverte para os<br />

jogadores.<br />

Escolhido no segundo round (posição<br />

34) Bruno Fernando habilita-se<br />

a um contrato de 800mil/900 mil ano.<br />

Um estudo da NBC Sports revela que<br />

nos dois últimos anos, 22 dos 30 jogadores<br />

seleccionados no segundo round receberam<br />

contratos de dois anos, a uma<br />

média 815 mil dólares por ano. Vou torcer<br />

para que Bruno Fernando, cuja equipa<br />

universitária jogava a meia hora da<br />

minha casa, chegue lá, faça a transição<br />

para a liga mais importante do mundo e<br />

que pelo meio faça algum dinheiro para<br />

ele. Boa sorte Bruno". (Luís Costa).<br />

68 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


FIGURAS<br />

António Félix<br />

felito344@yahoo.com.br<br />

DE JOGO<br />

HÁ "PROGRESSO"<br />

DA ERA PAIXÃO JÚNIOR?<br />

Se o Progresso do Sambizanga<br />

não superar a sua<br />

crise financeira, a ponto<br />

de quase ver na indigência<br />

jovens promessas<br />

como o Buchinho, hoje<br />

atirado à sua sorte, este clube pode,<br />

conforme vejo e anoto, ter o mesmo<br />

destino que o ASA ou mesmo<br />

o Kabuscorp do Palanca, o que, a<br />

acontecer, será triste, muito triste<br />

mesmo, porque não foi este o "pano<br />

de fundo" dos seus fundadores a 17<br />

de Novembro de 1975 (em breve<br />

completa 44 anos).<br />

Espera-se que assim não aconteça,<br />

porque deseja-se ainda um<br />

Progresso Associação Sambizanga<br />

para longo tempo, por forma a resgatar<br />

a vontade um dia defendida pelos<br />

seus fundadores, quando decidiram<br />

fundir a Juventude Unida do Bairro<br />

Alfredo e, assim, aglutiná-lo para o<br />

desenvolvimento do futebol.<br />

Já basta sentir e lembrar que é<br />

desde Maio de 1977 que a equipa<br />

ainda se ressente com os efeitos da<br />

ressaca do "27"; um marco que, em<br />

boa verdade, está também na base,<br />

dali até aqui...das gritantes dificuldades<br />

financeiras, intrigas de foro bairrista,<br />

incompatíveis com os tempos<br />

que correm e com os modos de gestão<br />

moderna que, diga-se, alguns bons<br />

dirigentes procuraram introduzir,<br />

como é o caso - sem desprimor para<br />

os restantes - do actual, Paixão Júnior.<br />

Deixa-me lembrar de novo que,<br />

antes dele, por lá já passaram dirigentes<br />

como Alves Baptista "Nito<br />

Alves", Rui de Jesus, Brito Sozinho,<br />

Beto Van-Dúnem, Lopo do Nascimento,<br />

Eduardo Veloso, Fiel Didi, Simão<br />

Paulo, Nelo Victor, Daniel Simas e<br />

Galvão Branco.<br />

O Progresso de hoje - é o que dizem<br />

os sócios e adeptos que desejam<br />

o seu sucesso - tem de voltar a ter<br />

craques inolvidáveis como os que já<br />

teve,e citam exemplos de Praia, Santinho,<br />

Manuel, Bonito, Lelé, Salviano,<br />

Chiminha, Luís Cão, Ginguma, Kiferro,<br />

Augusto Pedro, Santo António,<br />

Mirrage, Sorcié e Vata, Janguelito,<br />

Cacharamba, Zico e Pedro Mantorras.<br />

Deve voltar a destilar futebol<br />

alegre e vistoso como nos tempos em<br />

que bateu o pé e vergou a Académica<br />

do Ambrizete, Sporting do Musserra,<br />

Benfica do Kinzau e mais tarde o 1º<br />

de Agosto, TAAG, Mambrôa, Chela, FC<br />

do Uíge entre outros.<br />

Se foi a primeira equipa do continente<br />

africano a jogar no mítico estádio<br />

do Maracaná, durante um estágio<br />

efectuado no Brasil, tem de voltar à<br />

sua fama e espalhar o perfume do<br />

seu futebol nas frentes internacionais<br />

em que vier a estar engajada, ter<br />

muitos títulos e não apenas a Taça de<br />

Angola conquistada em 1996.<br />

Para mim - continuo a dizer<br />

isto - de 2009 para 2010 "interesses<br />

superiores" travaram a equipa, mas,<br />

depois também alinhei na fanfarra<br />

das gentes do mítico bairro Sambizanga<br />

e arredores, que morre de<br />

amores pela sua popular equipa de<br />

futebol. Agora resta-lhes este Progresso<br />

que hoje quase soçobra na era<br />

Paixão Júnior sem os apoios do outro<br />

tempo. 4<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 69


SAÚDE & BEM-ESTAR<br />

MAIS UMA ESPERANÇA PARA VEGETARIANOS QUE PRECISAM DE SUPLEMENTAÇÃO<br />

VITAMINA B12 EM PLANTAS:<br />

O FIM DE<br />

UM PESADELO?<br />

Quem nunca ouviu falar que vegetarianos têm deficiência de vitamina B12? Por muito<br />

tempo a mídia divulgou que a ausência de B12 (conhecida como cobalamina) é o pesadelo<br />

de toda pessoa que escolhe não ingerir produtos animais. A B12 é única entre as vitaminas<br />

porque é produzida somente por certas bactérias e, portanto, precisa passar por uma longa<br />

jornada até chegar a organismos multicelulares mais complexos como os animais, de onde,<br />

enfim, os carnívoros conseguem adquirir a quantidade necessária dessa vitamina<br />

Textos: Everton Fernando Alves * / Fotos: Arquivo F&N<br />

70 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


SAÚDE & BEM-ESTAR<br />

É<br />

facto, portanto, que<br />

a principal fonte de<br />

B12 se encontra em<br />

alimentos derivados<br />

de animais. Segundo a<br />

organização norte-americana<br />

Food and Nutrition Board,<br />

a dose diária de vitamina B12<br />

necessária para o organismo é de<br />

2,4 µg (microgramas) para adultos,<br />

1,2 µg para crianças de até oito anos<br />

e 2,8 µg para gestantes e mães que<br />

amamentam.<br />

No entanto, o que a mídia popular<br />

não divulga é que nem todos os<br />

vegetarianos terão necessariamente<br />

falta de vitamina B12 no organismo.<br />

Estudos mostram que 40% dos vegetarianos<br />

nunca terão deficiência<br />

nenhuma da vitamina. Mais curioso<br />

ainda é o facto de que comer produtos<br />

animais não garante que os carnívoros<br />

não tenham deficiência de<br />

vitamina B12. Como sabemos disso?<br />

Pesquisa mostrou que 40% dos indivíduos<br />

que ingerem carne também<br />

apresentam carência de B12.<br />

Mas qual é a função da vitamina<br />

B12? Essa vitamina é hidrossolúvel<br />

e ajuda a manter o metabolismo e a<br />

função do sistema nervoso central.<br />

Ela também reduz o risco de<br />

quebras cromossômicas levando a<br />

danos no DNA e é benéfica para os<br />

músculos. Esse nutriente participa<br />

da formação, integridade e maturação<br />

das células vermelhas do<br />

sangue, prevenindo especialmente a<br />

anemia megaloblástica. A vitamina<br />

B12 também tem sido recomendada<br />

para idosos, pois estudos apontam<br />

que ela previne a degeneração do<br />

cérebro.<br />

Mas, então, quais são os sintomas<br />

da falta dessa vitamina? “Sua<br />

falta pode afectar a memória e a<br />

concentração, gerar formigamentos<br />

nas pernas e nas mãos e desencadear<br />

até anemia”, afirma Andréa Pereira,<br />

médica nutróloga do Hospital Israelita<br />

Albert Einstein, em São Paulo.<br />

Ao contrário da crença popular,<br />

existem raros casos diagnosticados<br />

de vegetarianos estritos com déficit<br />

de B12. Isso porque há mecanismos<br />

complexos e maravilhosos no<br />

organismo humano de reaproveitamento<br />

e manutenção da quantidade<br />

anteriormente absorvida dessa<br />

vitamina. Especialmente por conta<br />

de uma circulação entero-hepática<br />

(entre o intestino e o fígado) muito<br />

eficiente que recupera grande parte<br />

da vitamina B12 excretada na bílis.<br />

Isso sugere que, para sua manutenção<br />

corporal, são mais importantes<br />

as questões ligadas ao metabolismo<br />

humano do que à quantidade<br />

ingerida.<br />

Para quem é ovolactovegetariano,<br />

ou seja, aqueles que além de vegetais<br />

também ingerem ovos e derivados<br />

do leite, a preocupação é menor ainda.<br />

Isso porque ovos e leite possuem<br />

B12, embora estudos apontem que<br />

menos de 9% da B12 consumida do<br />

ovo é aproveitada pelos humanos.<br />

Plantas cultivadas absorvem B12<br />

Por muito tempo também se afirmou<br />

categoricamente que as plantas<br />

não sintetizam nem armazenam vitamina<br />

B12 e que essa vitamina existe<br />

somente nos vegetais, se eles forem<br />

contaminados por bactérias que a<br />

produzam. Esse é mais um mito que<br />

cai por terra diante das evidências<br />

científicas actuais.<br />

Um estudo recentemente<br />

publicado na revista Cell Chemical<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 71


SAÚDE & BEM-ESTAR<br />

Biology divulgou uma descoberta<br />

surpreendente de como o teor<br />

vitamínico de algumas plantas pode<br />

ser melhorado para tornar mais<br />

completas as dietas ovolactovegetarianas<br />

e vegetarianas estritas. A<br />

equipe de pesquisa, liderada pelo<br />

professor Martin Warren, da Escola<br />

de Biociências da Universidade<br />

Kent (Reino Unido), provou que os<br />

Algas marinhas, como fonte de B12<br />

agriões comuns podem, de facto,<br />

absorver B12.<br />

Que notícia fantástica, não é?<br />

Para os cientistas, a quantidade de<br />

B12 absorvida pelo agrião depende<br />

da quantidade presente no meio de<br />

crescimento. Após sete dias de crescimento,<br />

as folhas das plantas foram<br />

removidas, lavadas e analisadas.<br />

Utilizando uma técnica a partir de<br />

moléculas fluorescentes de B12, os<br />

pesquisadores observaram o caminho<br />

que a B12 percorre desde que<br />

as mudas a absorvem do meio de<br />

crescimento até à armazenagem em<br />

suas folhas, fornecendo evidências<br />

definitivas de que algumas plantas<br />

podem absorver e transportar B12.<br />

Mas esse não foi o único estudo<br />

nessa direcção. Uma pesquisa realizada<br />

na Suíça já havia adicionado<br />

quantidades de análogo de B12 (cianocobalamina)<br />

ao solo de plantas de<br />

soja. Os pesquisadores observaram<br />

que 12-34% da B12 foram absorvidos<br />

pelas plantas. 66-87% da vitamina<br />

absorvida permaneceram nas<br />

raízes e o restante foi transportado<br />

para outras partes, principalmente<br />

as folhas.<br />

Outro estudo analisou como<br />

“<br />

A vitamina B12<br />

reduz o risco de quebras<br />

cromossômicas levando a<br />

danos no DNA e é benéfica<br />

para os músculos. Participa<br />

da formação, integridade<br />

e maturação das células<br />

vermelhas do sangue,<br />

prevenindo especialmente<br />

a anemia megaloblástica<br />

e tem sido recomendada<br />

para idosos, pois estudos<br />

apontam que ela previne a<br />

degeneração do cérebro<br />

“<br />

os níveis de B12 nas plantas (soja,<br />

grãos de cevada e espinafre) eram<br />

afectados pela adição de esterco de<br />

vaca ao solo. Ao medir o análogo de<br />

B12 nas amostras das plantas e de<br />

ambos os solos fertilizados organicamente,<br />

o autor do estudo concluiu<br />

que a absorção de B12 pelas plantas<br />

do solo, especialmente do solo adubado<br />

com esterco, poderia fornecer<br />

B12 para os humanos, e pode ser<br />

por isso que alguns veganos, que<br />

não suplementam B12, não desenvolvem<br />

deficiência dessa vitamina.<br />

Mas não para por aí. Pesquisa<br />

realizada em 2013 testou se a alface<br />

de crescimento hidropônico absorveria<br />

a vitamina B12 se ela fosse<br />

injectada no meio do cultivo. Os<br />

resultados mostraram que bastante<br />

B12 tinha sido absorvida e que duas<br />

folhas de alface poderiam conter 2,4<br />

µg de B12.<br />

Algas marinhas como fonte de<br />

B12 - Na sociedade em que vivemos,<br />

para prevenir a deficiência de<br />

vitamina B12 em populações que<br />

alguns grupos consideram de alto<br />

risco, como os vegetarianos, é necessário<br />

identificar, então, alimentos<br />

derivados de produtos naturais que<br />

contenham altos níveis de vitamina<br />

B12. E foi exactamente isso que<br />

fez uma equipe de cientistas cujos<br />

resultados foram publicados na<br />

revista Nutrients.<br />

Esse estudo identificou uma<br />

quantidade substancial (133,8<br />

g/100 g de peso seco) de vitamina<br />

B12 em pia roxo seca (nori). Nori,<br />

embora tecnicamente não seja uma<br />

planta, é uma espécie de folha feita a<br />

partir de algas marinhas amplamente<br />

utilizada em pratos da culinária<br />

japonesa. Uma pesquisa analisou o<br />

perfil nutricional de seis filhos veganos,<br />

com idades entre 4 e 10 anos,<br />

que consumiam dietas veganas<br />

incluindo arroz integral e pia roxo<br />

seco (nori), e sugeriu que o consumo<br />

de nori pode impedir a deficiência<br />

de B12 em crianças veganas.<br />

O laver roxo seco, outra espécie<br />

de alga marinha, também con-<br />

72 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


SAÚDE & BEM-ESTAR<br />

COM NÍVEIS ELEVADOS DE VITAMINA B12<br />

OUTRAS FONTES NATURAIS<br />

Níveis elevados de vitamina B12 foram detectados<br />

também no cogumelo seco shiitake, espécie Lentinula<br />

edodes (1,3–12,7 μg/100 g de peso seco) utilizada em<br />

vários pratos vegetarianos. Outras fontes não animais<br />

incluem ainda a spirulina (cianobactéria), o capim<br />

seco e a cevada<br />

Vitamina B12<br />

Complexo B 60 cápsulas Vegetais<br />

tém altos níveis de B12 (cerca de<br />

51,7g/100g seco). Aliás, metade de<br />

todas as espécies de algas absolutamente<br />

requer vitamina B12 para<br />

seu crescimento. Mas a microalga<br />

Chlorella também se destaca devido<br />

aos seus altos índices de B12.<br />

Uma pesquisa publicada em<br />

2010 na Current Gerontology and<br />

Geriatrics Research mostrou que os<br />

centenários coreanos que praticamente<br />

não comiam produtos animais<br />

tinham níveis normais de B12.<br />

Os pesquisadores mediram o<br />

conteúdo de B12 em alimentos<br />

consumidos por esses centenários<br />

e descobriram que muitos dos alimentos<br />

fermentados (como o kimchi<br />

caseiro), consumidos em quase todas<br />

as suas refeições, e algas continham<br />

análogos activos da vitamina B12.<br />

A conclusão é que os centenários<br />

estavam recebendo cerca de 30%<br />

(quantidade significante) de vitamina<br />

B12 de alimentos vegetais.<br />

* Mestre em Imunogenética pela UEM<br />

(In Revista Vida e Saúde).<br />

Além disso, estudos<br />

têm demonstrado<br />

que o Lactobacillus<br />

reuteri produz a<br />

B12 e que essa B12<br />

é equivalente à<br />

cianocobalamina. Num estudo realizado<br />

no Egipto, crianças em idade<br />

escolar foram alimentadas com<br />

iogurte fermentado apenas com<br />

Lactobaccillus acidophilus – duas<br />

xícaras por dia. Após 42 dias, seu<br />

índice de B12 foi comparado ao<br />

de crianças que receberam iogurte<br />

comercialmente preparado.<br />

Outro estudo analisou a alimentação<br />

de quatro veganos que<br />

incluía alimentos crus veganos e<br />

suplemento probiótico contendo<br />

Lactobacillus acidolphilus e outras<br />

espécies de Lactobacillus. Após três<br />

meses, os níveis de ácido metilmalônico<br />

(indicador de deficiência de<br />

vitamina B12) urinário de três dos<br />

quatro sujeitos diminuíram, embora<br />

não para níveis normais.<br />

Para a Sociedade Vegetariana<br />

Brasileira, a vitamina B12 é o “único<br />

nutriente que um vegetariano<br />

pode precisar suplementar mesmo<br />

com uma dieta bem planejada”.<br />

Por outro lado, como vimos nesta<br />

matéria, isso não quer dizer que<br />

um vegetariano necessariamente<br />

terá a deficiência.<br />

O meio de cultivo com B12 e<br />

sua absorção pelas plantas representa<br />

uma alternativa promissora<br />

para a resolução de problemas<br />

da comunidade vegetariana. No<br />

entanto, é importante aguardar novos<br />

resultados a fim de comprovar<br />

a eficácia dessas novas técnicas de<br />

cultivo para somente, então, depender<br />

de alimentos orgânicos como<br />

fonte exclusiva de vitamina B12.<br />

É importante fazer um acompanhamento<br />

periódico com um<br />

nutricionista ou médico especializado,<br />

a fim de rastrear eventuais<br />

deficiências dessa vitamina. Em<br />

casos comprovados, ainda tem sido<br />

recomendado que os vegetarianos<br />

tomem suplementos alimentares<br />

de vitamina B12 e/ou consumam<br />

alimentos enriquecidos com a vitamina,<br />

como leites vegetais, alguns<br />

produtos de soja e alguns cereais<br />

matinais.<br />

Lactobacillus acidophilus - bactéria<br />

'amigável' probiótico - converte a lactose<br />

em ácido lático, produz leite acidófilo<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 73


MODA & BELEZA<br />

FEBRE DA CAÇA DE TALENTOS AUMENTA<br />

O SEGREDO DO<br />

COMÉRCIO DAS<br />

SUPERMODELOS<br />

Tradicionalmente, as passarelas têm passado por ondas.<br />

Já lá vai o tempo em que os rostos mais procuradas eram<br />

as russas, brasileiras, holandesas ou nórdicas, constituindo<br />

uma proporção considerável nas pistas<br />

Texto: Crisa Santos / Fotos: www.pinterest.com<br />

Operando calmamente<br />

sob o radar,<br />

existe uma rede<br />

de ‘agências Mãe<br />

“em toda a África e<br />

Ásia extremamente<br />

ocupadas com o caça de talentos<br />

para a "próxima supermodelo", fazendo<br />

uma fortuna em comissões<br />

, enquanto impulsionadoras da diversidade<br />

nas capitais da moda.<br />

A mais recente onda de talentos<br />

da Nigéria, Sudão do Sul e Angola<br />

surgiu como resultado do desenvolvimento<br />

da rede entre agências-mãe<br />

e batedores, como<br />

Tamborin, que viajam para<br />

cidades e aldeias remotas<br />

em busca da próxima<br />

“It”-girl”.<br />

A diversidade nas pistas pode<br />

agora finalmente estar a equilibrar,<br />

mas muitas das agências-mães respeitáveis<br />

de hoje foram estabelecidas<br />

ao longo de uma década, a caçar<br />

talentos para as indústrias da moda<br />

locais e internacionais .<br />

No entanto, algumas agências-<br />

-mães têm modelos de má gestão.<br />

Outras podem ser francamente abusivas<br />

. Devido à má regulamentação<br />

em alguns países em desenvolvimento,<br />

envolver-se em comportamento<br />

anti-ético , incluindo o envio de talentos<br />

menores vulneráveis para um<br />

mercado estrangeiro sem um tutor<br />

ou acompanhante, não é incomum.<br />

Antes de assinar com uma agência<br />

capitais da moda, os modelos são<br />

enviados para testes nas pistas dos<br />

seus mercados domésticos, ou para a<br />

Ásia, onde as oportunidades comerciais<br />

são maiores.<br />

Espanha também se tornou um<br />

bom local para enviar modelos porque<br />

empresas como a Inditex recentemente<br />

começaram a usar modelos<br />

negras na Zara, e é um grande mercado<br />

para ganhar dinheiro e desenvolver<br />

talento.<br />

No entanto, ser um modelo edito-<br />

74 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


MODA & BELEZA<br />

rial de topo ou passarela não é garantia necessária<br />

de ser um ganhador de topo. Uma modelo que não<br />

é famosa, mas está a fazer catálogos pode fazer US<br />

$ 250.000 por ano, mas alguém em cada passarela<br />

pode ganhar US $ 10.000 por ano.<br />

O objectivo principal do agente é ter o máximo<br />

possível de books, mas para isso precisa de ter<br />

melhores modelos . A fim de fazer isso, os agentes<br />

muitas vezes trocam as modelos ou colocam a modelo<br />

numa agência em troca de alguém melhor. É o<br />

exercício de dinheiro.<br />

Contudo, para os poucos afortunados, as oportunidades<br />

podem ser mesmo maiores do que a<br />

fama e as fortunas pessoais. Os batedores ou caça<br />

talentos e as agências mães estão cientes de que<br />

identificar uma rapariga numa aldeia empobrecida<br />

e transformá-la numa "It-girl" pode trazer benefícios<br />

económicos modestos, mas significativos, de<br />

volta ao país natal da modelo. Frequentemente, há<br />

ponto de interesse nas modelos desse país e o apetite<br />

da indústria, de forma global para musas dessa<br />

parte do mundo, aumenta frequentemente.<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 75


FIGURAS DE LÁ<br />

FRADIQUE DE MENEZES<br />

"TROVOADA É FASCISTA"<br />

Patrice Trovoada é “um fascista que deve ser combatido”.<br />

Garantiu o ex-Presidente da República Fradique<br />

de Menezes, após várias horas de interpelação pela<br />

Comissão Parlamentar de Inquérito(CPI), que está a<br />

investigar o Golpe de Estado de 2003, à luz das acusações<br />

feitas em 2017 pelo operacional Peter Lopes,<br />

membro do antigo batalhão sul-africano “Búfalo”.<br />

De acordo com a "Página Global" , o operacional, que<br />

era amigo muito próximo do ex-Primeiro Ministro<br />

Patrice Trovoada, e activista político do partido de<br />

Patrice Trovoada, publicou um vídeo no ano 2017,<br />

anunciando que o ex-primeiro ministro foi o financiador<br />

do Golpe de Estado de 2003.(...) Fradique de Menezes<br />

garantiu à imprensa que ele era o único alvo,<br />

do Golpe de Estado de 2003. «Enquanto Presidente<br />

da Republica naquela altura, temos todos que reconhecer<br />

que esse golpe de Estado foi contra mim, era<br />

para suprimir este indivíduo que estava a incomodar<br />

muita gente», reforçou.<br />

DILMA ROUSSEFF<br />

LULA, LIBERDADE JÁ!<br />

A ex-Presidente brasileira Dilma Rousseff, voltou a pedir a libertação<br />

imediata do antigo chefe de Estado, Lula da Silva, por ter ,<br />

uma vez mais, constatado que houve falta de rigor e imparcialidade<br />

no processo movido contra o seu aliado de sempre. Em causa,<br />

agora, estão as mensagens trocadas entre o Juiz Moro e alguns<br />

procuradores. "As únicas provas dessa história são as evidências"<br />

apanhadas em flagrante "nas conversas reveladas agora, de que<br />

os procuradores fariam o que fosse preciso, independentemente<br />

da lei e do devido processo legal, para apoiar uma condenação, e<br />

de que para atingir este objectivo foram comandados pelo juiz<br />

[Sergio Moro], de maneira ilícita", afirmou recentemente Dilma<br />

Rousseff em comunicado.<br />

De se recordar que Sergio Moro, ministro da Justiça e da<br />

Segurança Pública no Governo liderado por Jair Bolsonaro, foi<br />

neste mês de Junho citado numa série de reportagens sobre a<br />

operação Lava Jato do 'site' The Intercept. Segundo o Intercept,<br />

conversas privadas revelam que o ex-juiz Sergio Moro<br />

sugeriu ao procurador e responsável pelas investigações da<br />

Lava Jato, Deltan Dallagnol, que alterasse a ordem das fases<br />

da operação, deu conselhos, indicou caminhos de investigação<br />

e deu orientações, isto é, teria ajudado a acusação, o que viola<br />

a legislação brasileira.<br />

76 Figuras&Negócios - Nº 200 - MAIO 2019


FIGURAS DE LÁ<br />

JOSÉ MÁRIO VAZ /<br />

DOMINGOS SIMÕES PEREIRA<br />

"GUERRA" PALACIANA<br />

Fez correr toneladas de tinta a nomeação definitiva<br />

de um nome para exercer o cargo de Primeiro<br />

Ministro na Guiné Bissau. Pelo menos até dia 20 de<br />

Junho nada estava decidido, uma vez que o Presidente<br />

guineense, José Mário Vaz, recusou o nome de<br />

Domingos Simões Pereira, líder do Partido Africano<br />

para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC),<br />

para exercer a chefia do governo.<br />

Em declarações à Lusa, Domingos Simões Pereira disse<br />

ter recebido na altura duas cartas do Presidente<br />

da Guiné-Bissau, uma a recusar o nome apresentado<br />

com "base em competências constitucionais que não<br />

especifica" e outra a pedir ao PAIGC para indicar outro<br />

nome. Domingos Simões Pereira afirmou também<br />

que o partido esteve reunido para analisar o conteúdo<br />

da carta e só depois anunciará uma decisão.<br />

De recordar que as eleições legislativas na Guiné-<br />

-Bissau realizaram-se a 10 de Março, mas o Presidente,<br />

José Mário Vaz, só recentemente começou a<br />

ouvir os partidos para indigitar o primeiro-ministro e<br />

consequente nomeação do Governo.<br />

JUAN GUAIDÓ<br />

"CHEFE DA MÁFIA" ?<br />

O procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, afirmou<br />

que o líder da oposição Juan Guaidó está directamente envolvido<br />

na má administração da verba destinada aos desertores<br />

venezuelanos na cidade fronteiriça colombiana de Cúcuta. No<br />

passado dia 18 de Junho, a procuradoria deu início à abertura<br />

do processo investigatório sobre os recentes relatos de corrupção<br />

entre os membros do partido político de Guaidó, encarregado<br />

de cuidar dos desertores venezuelanos.<br />

"O ministério iniciou uma investigação criminal com base em<br />

evidências tornadas públicas pela mídia internacional e pelas<br />

autoridades nacionais sobre a corrupção na utilização do dinheiro<br />

alocado para ajudar os venezuelanos na Colômbia", disse Saab<br />

em colectiva de imprensa, citado pela Página Global.Soube-se que<br />

este assunto envolve um alegado esquema tornado público depois<br />

que hotéis na cidade fronteiriça de Cúcuta começaram a despejar<br />

desertores por contas não pagas que, às vezes, chegavam a US$ 20<br />

mil (R$ 77 mil).<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 77


FIGURAS DE LÁ<br />

JEAN ZIEGLER<br />

DEMOCRACIA ESGOTADA<br />

Jean Ziegler é uma ave rara na cena política<br />

suíça, encarnando há quase meio século a figura<br />

do intelectual público de projecção global. Seu<br />

activismo político e actuação internacional,<br />

como relator especial da ONU, rendeu-lhe uma<br />

extensa gama de inimigos, não só entre os bancos,<br />

empresários e lideranças conservadoras,<br />

mas até mesmo no campo mais progressista.<br />

Mas Ziegler continua um observador activo, e<br />

nota que os cidadãos das grandes democracias<br />

vivem um “desespero silencioso e secreto”.<br />

É assim que o sociólogo Jamil Chade descreve<br />

Jean Ziegler, que, para si" não perde a esperança<br />

e insiste que a resposta à actual crise europeia<br />

está no fortalecimento de uma sociedade civil<br />

planetária. Aliás, já se sabe que para Ziegler,<br />

os acontecimentos nos últimos anos e a impotência<br />

do sistema político em dar respostas<br />

mostram que a “democracia representativa está<br />

esgotada”.<br />

JAIR BOLSONARO<br />

APOIOS ENFRAQUECIDOS<br />

"Independentemente do seu sucesso, a manifestação<br />

(registada recentemente no Brasil) é uma<br />

demonstração de fracasso do governo. Bolsonaro<br />

assumiu com uma boa base de apoio no Congresso<br />

e apoio popular, mas conseguiu destruir<br />

tudo isso em poucos meses", dá conta o Intercept<br />

Brasil.Para o seu colunista, José Maria, a manifestaçãoterá<br />

sido convocada logo após dois episódios<br />

que fragilizaram ainda mais o presidente. O<br />

primeiro, revela, foi o avanço das investigações<br />

do caso Queiroz, mostrando que a lama na qual<br />

Flávio Bolsonaro está atolado é maior do que se<br />

supunha.<br />

O segundo episódio, afirma-se no artigo, foi uma<br />

carta escrita por um filiado do Novo e compartilhada<br />

por Bolsonaro, em que classifica o país<br />

como “ingovernável fora de conchavos” e coloca o<br />

presidente como "um anjo indefeso cercado por<br />

ratos".<br />

78 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019


RECADO<br />

SOCIAL<br />

Carlos Miranda<br />

carlosimparcial@gmail.com.<br />

UM CONGRESSO "CHATO" E INDIGESTO<br />

O<br />

número de delegados ao VII<br />

Congresso Extraordinário do<br />

MPLA não terá sido insólito, mas<br />

a sua qualidade representativa,<br />

académica fundamentalmente,<br />

foi notável e de longe superior<br />

às que foram registadas até agora. Neste<br />

conclave,pela primeira vez sentiu-se o peso do<br />

novo líder nas escolhas e opções. A si, foram<br />

entregues numa bandeja de prata todos os louros<br />

conquistados antes, durante e depois de se<br />

ter colocado na mesa a necessidade urgente de<br />

se ampliar o Comité Central do partido.<br />

No ar, ficou clara a ideia de que chegou a<br />

hora de muitos "kotas arrumarem as bicuatas e<br />

irem pra casa", como bastas vezes se ouviu nos<br />

corredores do Centro de Convenções de Belas.<br />

Assim mesmo: sem curvas.E terá sido também<br />

aí que muitos dos mais velhos colocaram as<br />

contas em dia...Do passado, do presente e dum<br />

futuro que já parece incerto.<br />

Esteve mais do que evidente que não houve<br />

reticência alguma em se aumentar o número<br />

de membros do Comité Central:pouco importava<br />

se fossem mais cem ou duzentos os que<br />

entravam, pois os que lá estavam , permaneceriam<br />

sem ser beliscados, apesar de alguns,<br />

fartos destas mudanças bruscas, preferiram<br />

faltar à reunião magna do "seu" partido, a fim<br />

de traçar o seu destino, com juízo: cuidar dos<br />

netos e das posses materiais adquiridas ,sobretudo<br />

em nome do partido/estado/governante,<br />

ao longo de mais de quarenta anos.<br />

Pois é. Este congresso extraoridário foi uma<br />

"seca" para muitos da chamada "velha guarda"<br />

ou "núcleo duro e casmurro". Assistir, mais<br />

uma vez, a um "triste " espectáculo de putos foi<br />

um facto político difícil de engolir pelos velhos<br />

"maquisardes", ainda por cima numa manhã<br />

friorenta, muito susceptível de se contrair uma<br />

crise reumática ou respiratória aguda...<br />

Ainda assim, viu-se na sala pejada de gente<br />

jovem proveniente de todas as origens tribais<br />

e credos religiosos, vários "pesos pesados" da<br />

história antiga do MPLA. Com coragem mais<br />

do que revolucionária, lá estiveram desde o<br />

princípio até ao fim dum encontro "chato, atrevido<br />

e muito barulhento" em certos momentos<br />

de delírios juvenis.Momentos que nada tinha a<br />

ver com os seus territórios e faixas etárias...<br />

Para alguns, o VII Congresso Extraordinário<br />

foi mesmo uma realização "inoportuna" e<br />

sem qualquer interesse político que vincasse,<br />

uma vez mais, o facto de que só devia ser do<br />

Comité Central partido quem viesse de trás,<br />

dos tempos em que devia ser do partido quem<br />

merecesse e não quem quisesse. E de repente,<br />

muitas caras novas, jovens com atitude, muito<br />

bem formados, grande parte dos quais no estrangeiro<br />

e alguns até "pescados" de partidos<br />

políticos adversários.<br />

Este facto preencheu a alma de alguns<br />

kotas mais radicais de forma mais negativa<br />

que se possa imaginar. E vontade de<br />

"derraparem" daquele congresso não lhes<br />

faltou,nomeadamente nos momentos em que,<br />

desafiantes, alguns jovens tentavam propor algumas<br />

"selfies"...Que chatice!!! Todavia, certas<br />

deserções foram notadas e justificadas.É que<br />

já nem todos conseguem aguentar duas horas<br />

seguidas sentados , sem sentir uma vontade<br />

enorme de cumprir rigorosamente com os<br />

mandamentos fisiológicos da ordem em idades<br />

sensíveis à tantas intempéries que a vida longa<br />

continua a obrigar.<br />

Soube-se que alguns dos mais velhos já<br />

não puderam estar presentes na derradeira<br />

sessão de encerramento,ocorrida no pavilhão<br />

multiusos; um verdadeiro martírio para quem<br />

não se aconselha a ouvir e sentir tanta amplificação<br />

sonora. Os que se arriscaram a ouvir o<br />

que não deviam, arrependeram-se certamente,<br />

mas pelo menos lá foram vistos pelo chefe,<br />

fazendo-se saber que estão com ele, apesar dos<br />

pesares. Bom este "apesar dos pesares" é que<br />

muitos não querem ainda dizer o que de facto<br />

será, mas pode-se arriscar: tudo na vida tem<br />

um fim e o fim , para muitos, terá chegado com<br />

a realização do VII Congresso Extraordinário<br />

do partido.<br />

Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 79


80 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019

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