PÁGINA ABERTA ECONOMISTA E PROFESSORA UNIVERSITÁRIA LAURINDA HOYGAARD SOBRE A SITUAÇÃO DO PAÍS “A BOA GOVERNAÇÃO É DECISIVA PARA UM PAÍS” 8 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
PÁGINA ABERTA A conceituada economista Laurinda Hoygaard analisa a situação económica do país, realçando a necessidade de uma governação mais inclusiva e participativa que tenha em conta as prioridades do país. Quanto à assistência que estamos a receber do Fundo Monetário Internacional considera positiva e necessária, frisando que vai aumentar a confiança na economia e promover o desenvolvimento Entrevista: Suzana Mendes Reportagem fotografica de: George Nsimba Figuras & Negócios (F&N): Como é que caracteriza o quadro económico de Angola neste momento? Laurinda Hoygaard (L.H.): Em primeiro lugar, para entrar nas questões de ordem económica é necessário traçar um quadro mais abrangente, que engloba também elementos de ordem política e social porque o elemento económico é muito determinado por estas outras esferas. Angola está num processo bonito, de muita esperança, de reencontro, onde, de maneira geral, os cidadãos angolanos têm grande confiança na forma como se está a dinamizar toda a estrutura económica e social e tirar o país de uma crise profunda na qual mergulhou ao longo de muitos anos, a criar novamente motivações e incentivos para começar a sair desta crise; uma crise sobre a qual não reflectimos o suficiente para ver como estava a acontecer em escalada de grande gravidade. No plano económico, o que acontece é reflexo do passado. O país realizou muitas vezes investimentos que obrigaram a recorrer a recursos externos, caiu num ciclo de endividamento (interno e externo) muito profundo, que está a condicionar de uma maneira muito drástica a reactivação da economia. Foram feitos investimentos muito caros que não foram os melhores, não se estimulou o emprego nacional, e, pelo contrário, fizeram-se investimentos condicionados à vinda de mão-de-obra associada aos empréstimos obtidos. Não se estimulou o emprego da juventude. De uma maneira geral, os investimentos foram feitos, sobretudo na área das infra-estruturas. Não se aproveitou a oportunidade, realizando investimentos triplamente negativos, muito caros, a preços incompatíveis com os padrões internacionais de investimento homólogo, sem criar emprego doméstico e sem formar a força de trabalho nacional. Angola foi aprofundando a sua dependência da extração de matérias-primas, sobretudo o petróleo. Viveu momentos de euforia que beneficiaram apenas os que estavam, de uma maneira geral, ligados à gestão destes recursos, mas na verdade deixou-se que o país caísse nesse desequilíbrio estrutural, as indústrias não estão assentes na matéria-prima nacional. Hoje, Angola depende da importação de bens e serviços na sua estrutura de consumo e na sua estrutura de investimento. Praticamente tudo o que consumimos e precisamos investir tem que ser adquirido ao exterior. A pintura que se pode fazer da economia do país é bastante negativa, mas ela é resultado de decisões e acções anteriores. Na verdade, há um esforço muito sério no sentido de se inverterem estes processos negativos. Iniciativas no plano normativo têm sido definidas, primeiro, no Plano de Desenvolvimento Nacional 2018/2022, que determina quais são as metas que o país tem que alcançar, a forma, os mecanismos, os instrumentos principais necessários para se atingirem os objectivos traçados. Aliás, o PDN define 83 projectos por objectivos, que facilitarão a gestão dos recursos e o cumprimento das metas. Temos este documento fundamental para orientar a vida do país e, em paralelo, estão a ser feitas mudanças no plano jurídico, institucional e inclusive no plano das políticas financeiras e económicas, no sentido de se colocar Angola nos trilhos da diversificação da economia e do progresso, o que só pode acontecer se as pessoas participarem das decisões, se forem integrantes activas e participativas nas decisões que forem tomadas em relação aos grandes projectos e programas a serem implementados. F&N: Como é possível explicar que Angola tenha registado um crescimento de dois dígitos e hoje esteja com uma taxa de crescimento tão baixa? L.H.: No mundo de hoje e sempre, a boa governação é decisiva o que implica usar os recursos de forma adequada, compatibilizando Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 9