F&N #201
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ÁFRICA<br />
Palácio da Justiça da Guiné Equatorial<br />
“<br />
Todas essas acusações<br />
são falsas e infundadas.<br />
A única coisa que<br />
queremos é que o Governo<br />
aceite a convocatória que<br />
lhe enviámos em Genebra<br />
para negociar um roteiro<br />
para organizar um Governo<br />
de transição nacional<br />
em que participem todos<br />
os líderes políticos da Guiné<br />
Equatorial<br />
“<br />
gamento, em mais de dois meses e<br />
meio, não mencionaram o meu nome<br />
em qualquer dia. Não só o meu, a<br />
maioria dos opositores exilados que<br />
foram condenados não tiveram o seu<br />
nome mencionado [anteriormente]",<br />
referiu Salomon Abeso a partir de<br />
Paris, onde se encontra.<br />
"Não nos terem apresentado a<br />
julgamento, foi o primeiro erro, porque<br />
não nos podem julgar na nossa<br />
ausência", explicou, garantindo que<br />
está "à procura de uma forma para<br />
denunciar a situação" junto de países<br />
e organizações "a nível ocidental".<br />
De acordo com o membro da oposição,<br />
esta situação faz parte de uma<br />
manobra do Governo para "eliminar<br />
toda a oposição da Guiné Equatorial".<br />
Salomon Abeso diz ser acusado<br />
de "financiar a oposição e de financiar<br />
mercenários" e, portanto, de<br />
"tentar assassinar o Presidente".<br />
O julgamento que terminou na<br />
passada sexta-feira, dia 31 de maio,<br />
sentenciou mais de 130 pessoas acusadas<br />
de envolvimento numa tentativa<br />
de golpe de Estado na Guiné<br />
Equatorial a penas entre os três e os<br />
96 anos de prisão.<br />
Os processos recuavam a janeiro<br />
de 2018, quando as autoridades<br />
equato-guineenses afirmaram ter<br />
conseguido impedir um golpe de<br />
Estado organizado por um grupo de<br />
mercenários estrangeiros que pretendia<br />
atacar o Presidente, Teodoro<br />
Obiang Nguema, na véspera de natal<br />
do ano anterior.<br />
Três dias depois, a 27 de dezembro,<br />
cerca de 30 homens armados<br />
foram detidos pela polícia camaronesa<br />
na fronteira entre os Camarões<br />
e a Guiné Equatorial, tendo as autoridades<br />
equato-guineenses procedido<br />
a várias detenções no país e<br />
emitido mandados de captura contra<br />
cidadãos que vivem no estrangeiro e<br />
contra outros cidadãos estrangeiros.<br />
Salomon Abeso negou "categoricamente"<br />
as acusações de que foi<br />
alvo, referindo que são "falsas e infundadas"<br />
e que apenas pretende<br />
que o Governo do país aceite negociar<br />
um governo de transição nacional<br />
transversal a todos os líderes políticos<br />
do país.<br />
"Nego-as categoricamente. Todas<br />
essas acusações são falsas e infundadas.<br />
A única coisa que queremos é<br />
que o Governo aceite a convocatória<br />
que lhe enviámos em Genebra para<br />
negociar um roteiro para organizar<br />
um Governo de transição nacional<br />
em que participem todos os líderes<br />
políticos da Guiné Equatorial",<br />
afirmou, sublinhando que pretende<br />
a assistência das Nações Unidas,<br />
União Europeia, União Africana e<br />
nações com influência naquele país,<br />
"como França, Portugal, Inglaterra,<br />
Espanha e Estados Unidos" nestas<br />
negociações. "Tanto eu como o bloco<br />
[a CORED], em nome de toda a oposição,<br />
rejeitamos categoricamente as<br />
condenações de que fomos alvo na<br />
Guiné Equatorial", concluiu.<br />
Salomon Abeso diz ter sido já<br />
condenado à morte pela justiça<br />
equato-guineense em 2002, por um<br />
alegado envolvimento no planeamento<br />
de golpe de Estado encabeçado<br />
por opositores como o seu tio,<br />
Felipe Ondo Obiang. Nessa ocasião,<br />
Abeso, que era diretor financeiro de<br />
uma petrolífera, fora também acusado<br />
de financiar o movimento.<br />
A Guiné Equatorial tem tido uma<br />
história turbulenta de golpes e tentativas<br />
de golpes desde a sua independência<br />
da Espanha, em 1968. O Governo<br />
de Teodoro Obiang Nguema, que celebrou<br />
77 anos, 39 dos quais no poder,<br />
é regularmente acusado de violações<br />
dos direitos humanos pelos seus opositores<br />
e organizações internacionais.<br />
A Guiné Equatorial é, desde julho<br />
de 2014, membro da Comunidade<br />
de Países de Língua Portuguesa, que<br />
integra ainda Angola, Brasil, Cabo<br />
Verde, Guiné-Bissau, Moçambique,<br />
Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.<br />
(JYO // JH).<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 55