F&N #201
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Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 1
2 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
CARTA DO EDITOR<br />
Como se sabe, a partir da<br />
edição número 200, decidiu-se<br />
suspender, temporariamente,<br />
a impressão da<br />
revista Figuras & Negócios,<br />
passando a ser lida em diversas<br />
plataformas digitais. Assim, acolhemos<br />
com satisfação as mais variadas<br />
manifestações de adesão por parte de<br />
milhares de internautas,pelo que agradecemos,<br />
desde já, o gesto de estima e<br />
consideração que têm pelo nosso trabalho<br />
quotidiano.<br />
Palmo a palmo, vamos conquistando<br />
o nosso espaço nesta nova era, em que<br />
o estado d'alma dos nosssos leitores<br />
nos convencem que, também através do<br />
nosso site e da nossa página no Facebook,<br />
continuam a ser fiéis seguidores.<br />
Como se diz na gíria: "não nos largam e<br />
não se deixam" e todo este carinho faz<br />
com que redobremos os nossos esforços,<br />
no sentido de aprimorarmos cada<br />
vez mais as matérias que vos apresentamos,<br />
com responsabilidade, rigor, isenção<br />
e imparcialidade.<br />
Continuamos a desejar que se fortaleçam<br />
os laços que nos ligam há mais<br />
de trinta anos, quer através desta revista<br />
que é também vossa, como de outras publicações<br />
criadas ao longo do tempo da<br />
nossa existência.<br />
De resto,o que nos moveu sempre é<br />
a vossa presença permanente nos bons<br />
e nos maus momentos, e, por este facto,<br />
cá estamos para o que der e vier.Para já,<br />
tudo leva a indicar que tão cedo quanto<br />
possível, voltaremos ao vosso convívio<br />
com a revista imprimida, física; enquanto<br />
isso, tudo faremos para que todos os<br />
esforços tendentes a alargar a nossa<br />
presença nestas e noutras plataformas<br />
digitais sejam coroados de sucesso.<br />
Acompanhem nesta edição a análise<br />
do quadro social e económico na palavra<br />
autorizada da economista e professora<br />
universitária, Laurinda Hoygaard. Apreciem<br />
também outros conteúdos sobre o<br />
que aconteceu no país e no estrangeiro,<br />
desde a cultura, passando pelo desporto<br />
e a moda.<br />
Destacamos igualmente os pontos<br />
de vista personalizados dos nossos cronistas<br />
e opinionistas de plantão que,<br />
com espírito crítico q.b., se predispuseram<br />
em escrever diversos temas de interesse<br />
público de actualidade.<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 3
08<br />
PÁGINA ABERTA<br />
LAURINDA HOYGAARD, ECONOMISTA E PROFESSORA UNIVERSITÁRIA<br />
"A BOA GOVERNAÇÃO É DECISIVA PARA UM PAÍS"<br />
3. CARTA DO EDITOR<br />
7. PONTO DE ORDEM<br />
NÃO AO TERRORISMO!!<br />
14. NOTAS DE IMPRENSA<br />
58. MUNDO<br />
69. FIGURAS DE JOGO<br />
70. SAÚDE & BEM-ESTAR<br />
16. NOTÍCIAS BREVES<br />
18. PAÍS<br />
24. POLÍTICA<br />
26. FIGURA DO MÊS<br />
29. MAHEZU<br />
30. SOCIEDADE<br />
32. REPORTAGEM<br />
35. MUNDO REAL<br />
38. FIGURAS DE CÁ<br />
42. CULTURA<br />
48.<br />
ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />
IMPLEMENTAÇÃO DO IVA<br />
QUEM PAGA, COMO, QUANDO E PORQUÊ?<br />
4 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
Publicação mensal de economia,<br />
negócios e sociedade<br />
Ano 20- n. º 201, Junho – 2019<br />
N. º de registo 13/B/97<br />
Director Geral: Victor Aleixo<br />
Redacção: Carlos Miranda,<br />
Júlia Mbumba, Sebastião Félix,<br />
Suzana Mendes e Venceslau Mateus<br />
Fotografia: George Nsimba<br />
e Adão Tenda<br />
Colaboradores:<br />
Édio Martins, Domingos Fragoso,<br />
Juliana Evangelista, João Marcos,<br />
João Barbosa (Portugal),<br />
Manuel Muanza, Rita Simões,<br />
54.<br />
Ana Kavungu, D.Dondo,<br />
Wallace Nunes (Brasil),<br />
Alírio Pina e Olavo Correia<br />
(Cabo-Verde), Óscar Medeiros<br />
(S.Tomé), Crisa Santos (Moda) e<br />
Conceição Cachimbombo (Tradutora).<br />
ÁFRICA Design e Paginação: Humberto Zage<br />
e Sebastião Miguel<br />
OPOSITOR DE TEODORO NGUEMA Capa: Bruno Senna<br />
Publicidade: Paulo Medina (chefe),<br />
CONDENADO A 60 ANOS DE PRISÃO<br />
Gabriel Capapinha<br />
Tel: (+244) 937 465 000<br />
Assinaturas (geral):<br />
Katila Garcia<br />
Revisão: Baptista Neto<br />
Brasil:<br />
Wallace Nunes<br />
Móvel: (55 11) 9522-1373<br />
e-mail: nunewallace@gmail.com<br />
Inglaterra (Londres):<br />
Diogo Júnior<br />
12 - Ashburton Road Royal Docks<br />
- London E16 1PD U.K<br />
Portugal:<br />
66.<br />
Rita Simões<br />
Rua Rosas do Pombal Nº15 2dto<br />
2805-239<br />
Cova da Piedade Almada<br />
Telefone: (00351) 934265454<br />
Produção Gráfica:<br />
DESPORTO<br />
Imprimarte (Angola)<br />
74.<br />
Cor Acabada, Lda (Portugal)<br />
Tiragem: 10.000 exemplares<br />
Direcção e Redacção:<br />
MODA & BELEZA<br />
Edifício Mutamba-Luanda<br />
78.<br />
2º andar - Porta S.<br />
Tel: 222 397 185/ 222 335 866<br />
FIGURAS DE LÁ<br />
Fax: 222 393 020<br />
79.<br />
Caixa Postal - 6375<br />
E-mails: figurasnegocios@hotmail.com<br />
VIDA SOCIAL<br />
artimagem@snet.co.ao<br />
Site: www. figurasenegocios.co.ao<br />
Facebook:<br />
Revista Figuras&Negócios Angola<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 5
6 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
Victor Aleixo<br />
victoraleixo12@gmail.com<br />
PONTO<br />
DE ORDEM<br />
NÃO AO TERRORISMO!!<br />
Já não são raras as notícias que dão conta que existem planos lúgubres do<br />
terrorismo islâmico em tentar estender os seus tentáculos a mais alguns<br />
países africanos, desta feita à região austral do continente. Moçambique<br />
terá sido de algum modo alertado com maior incidência para este facto, mas<br />
existem mais estados africanos que já sentiram as consequências macabras<br />
destes planos de terror, que visam, sobretudo, desestabilizar, matar e mutilar<br />
quem não siga as suas doutrinas; actos que, aliás, nada têm a ver com os princípios<br />
plasmados pelos maiores criadores e defensores do Islamismo.<br />
Mas a verdade é que este terrorismo já manchou de sangue, luto e dor a vida de<br />
vários países africanos acima da linha do Equador. Estamos tristemente lembrados<br />
dos massacres perpetrados pelos terroristas no Quênia e numa grande parte dos<br />
países do Sahel, sem nos esquecermos de uma Somália terrivelmente mergulhada no<br />
caos, e da Nigéria, onde o dia a dia de milhares de seres humanos tem sido fustigado<br />
com bombas, raptos e mutilações violentas por parte de um grupo denominado<br />
Boko Haram.<br />
Faz todo o sentido de os governantes angolanos "porem as barbas de molho", pois<br />
o país estabelece uma faixa fronteiriça terrestre e fluvial de milhares de quilómetros<br />
com um dos maiores estados de África - a República Democrática do Congo - assolado<br />
há dezenas de anos por um conflito armado instigado por fundamentalistas de todo<br />
o género, entre os quais alguns grupos armados com uma forte vontade de aliar-se<br />
e sustentar no terrorismo islâmico.<br />
Ao discursar na 73ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, realizada em Nova<br />
Iorque (EUA), a 26 de Setembro de 2018, o Presidente da República de Angola<br />
chamou atenção à ONU para que assuma o seu dever da promoção da paz, numa<br />
altura em que existe uma configuração política do mundo contemporâneo, no qual<br />
os conflitos locais, regionais e intra-estatais representam os principais focos de<br />
tensão internacional e de ameaça à paz.<br />
João Lourenço mostrou-se preocupado com as proporções atingidas pelo<br />
terrorismo internacional, pelo crime organizado transnacional, pela imigração<br />
ilegal, pela xenofobia, pelo tráfico de pessoas humanas e de drogas, e muitos outros<br />
males, que afectam a qualidade de vida dos habitantes do planeta.<br />
É evidente que, neste alerta, fica subjacente um recado para dentro do continente,<br />
sobretudo para a sua região austral , que de forma organizada e fortemente<br />
integrada, pode e deve garantir que os apetites dos terroristas não façam dos nossos<br />
estados mais um palco de intrigas, de ameaças à estabilidade conquistada graças<br />
aos esforços conjuntos dos seus povos, hoje com todas as razões e mais algumas<br />
para prevenir certas "vagas migratórias" susceptíveis de inviabilizar a criação e<br />
consolidação de sociedades pacíficas, equitativas e sustentáveis.<br />
O papel do nosso país tem sido exemplar,pois no seu território não há sinais<br />
de manifestações contra quem professe outras religiões, que não as tradicionais,<br />
existentes há séculos. Aliás, é preciso lembrar que em Angola não existe qualquer<br />
espécie de sentimento anti-religioso pautado no Islamismo. Longe disso. Tanto<br />
mais que, por exemplo, esta religião é professada livremente na maior parte das<br />
províncias do país.<br />
Melhor do que ninguém, têm as autoridades angolanas razões de sobra para<br />
acolher no seu espaço territorial quem professe a religião, desde que seja feita<br />
em nome da paz e da harmonia entre os povos; desde que apele à tolerância e a<br />
liberdade de expressão, princípios consagrados na Constituição da República.<br />
Neste contexto, aqui apela-se igualmente ao papel das organizações regionais,<br />
quer sejam de âmbito político, económico, científico ou cultural. Temos de admitir<br />
que a SADC continua empenhada em garantir que os seus estados-membros<br />
priorizem, sempre, a promoção dos direitos dos homens e mulheres, por forma<br />
a que se possa fazer desta região um belo exemplo de convivência entre todas as<br />
crenças religiosas , na base do respeito e da igualdades entre todos os povos.<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 7
PÁGINA ABERTA<br />
ECONOMISTA E PROFESSORA UNIVERSITÁRIA<br />
LAURINDA HOYGAARD SOBRE A SITUAÇÃO DO PAÍS<br />
“A BOA<br />
GOVERNAÇÃO<br />
É DECISIVA PARA<br />
UM PAÍS”<br />
8 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
PÁGINA ABERTA<br />
A conceituada economista<br />
Laurinda Hoygaard analisa<br />
a situação económica do<br />
país, realçando a necessidade<br />
de uma governação<br />
mais inclusiva e participativa<br />
que tenha em conta<br />
as prioridades do país.<br />
Quanto à assistência que<br />
estamos a receber do<br />
Fundo Monetário Internacional<br />
considera positiva<br />
e necessária, frisando que<br />
vai aumentar a confiança<br />
na economia e promover o<br />
desenvolvimento<br />
Entrevista: Suzana Mendes<br />
Reportagem fotografica de: George Nsimba<br />
Figuras & Negócios<br />
(F&N): Como é que caracteriza<br />
o quadro económico<br />
de Angola neste<br />
momento?<br />
Laurinda Hoygaard<br />
(L.H.): Em primeiro lugar, para entrar<br />
nas questões de ordem económica<br />
é necessário traçar um quadro<br />
mais abrangente, que engloba também<br />
elementos de ordem política e<br />
social porque o elemento económico<br />
é muito determinado por estas outras<br />
esferas. Angola está num processo<br />
bonito, de muita esperança, de<br />
reencontro, onde, de maneira geral,<br />
os cidadãos angolanos têm grande<br />
confiança na forma como se está a<br />
dinamizar toda a estrutura económica<br />
e social e tirar o país de uma<br />
crise profunda na qual mergulhou ao<br />
longo de muitos anos, a criar novamente<br />
motivações e incentivos para<br />
começar a sair desta crise; uma crise<br />
sobre a qual não reflectimos o suficiente<br />
para ver como estava a acontecer<br />
em escalada de grande gravidade.<br />
No plano económico, o que<br />
acontece é reflexo do passado. O país<br />
realizou muitas vezes investimentos<br />
que obrigaram a recorrer a recursos<br />
externos, caiu num ciclo de endividamento<br />
(interno e externo) muito<br />
profundo, que está a condicionar de<br />
uma maneira muito drástica a reactivação<br />
da economia. Foram feitos investimentos<br />
muito caros que não foram<br />
os melhores, não se estimulou o<br />
emprego nacional, e, pelo contrário,<br />
fizeram-se investimentos condicionados<br />
à vinda de mão-de-obra associada<br />
aos empréstimos obtidos. Não<br />
se estimulou o emprego da juventude.<br />
De uma maneira geral, os investimentos<br />
foram feitos, sobretudo<br />
na área das infra-estruturas. Não se<br />
aproveitou a oportunidade, realizando<br />
investimentos triplamente negativos,<br />
muito caros, a preços incompatíveis<br />
com os padrões internacionais<br />
de investimento homólogo, sem criar<br />
emprego doméstico e sem formar a<br />
força de trabalho nacional. Angola<br />
foi aprofundando a sua dependência<br />
da extração de matérias-primas, sobretudo<br />
o petróleo. Viveu momentos<br />
de euforia que beneficiaram apenas<br />
os que estavam, de uma maneira geral,<br />
ligados à gestão destes recursos,<br />
mas na verdade deixou-se que o país<br />
caísse nesse desequilíbrio estrutural,<br />
as indústrias não estão assentes<br />
na matéria-prima nacional. Hoje,<br />
Angola depende da importação de<br />
bens e serviços na sua estrutura de<br />
consumo e na sua estrutura de investimento.<br />
Praticamente tudo o que<br />
consumimos e precisamos investir<br />
tem que ser adquirido ao exterior. A<br />
pintura que se pode fazer da economia<br />
do país é bastante negativa, mas<br />
ela é resultado de decisões e acções<br />
anteriores.<br />
Na verdade, há um esforço muito<br />
sério no sentido de se inverterem estes<br />
processos negativos. Iniciativas<br />
no plano normativo têm sido definidas,<br />
primeiro, no Plano de Desenvolvimento<br />
Nacional 2018/2022, que<br />
determina quais são as metas que<br />
o país tem que alcançar, a forma, os<br />
mecanismos, os instrumentos principais<br />
necessários para se atingirem<br />
os objectivos traçados. Aliás, o PDN<br />
define 83 projectos por objectivos,<br />
que facilitarão a gestão dos recursos<br />
e o cumprimento das metas. Temos<br />
este documento fundamental para<br />
orientar a vida do país e, em paralelo,<br />
estão a ser feitas mudanças no plano<br />
jurídico, institucional e inclusive<br />
no plano das políticas financeiras e<br />
económicas, no sentido de se colocar<br />
Angola nos trilhos da diversificação<br />
da economia e do progresso, o<br />
que só pode acontecer se as pessoas<br />
participarem das decisões, se forem<br />
integrantes activas e participativas<br />
nas decisões que forem tomadas em<br />
relação aos grandes projectos e programas<br />
a serem implementados.<br />
F&N: Como é possível explicar<br />
que Angola tenha registado um<br />
crescimento de dois dígitos e hoje<br />
esteja com uma taxa de crescimento<br />
tão baixa?<br />
L.H.: No mundo de hoje e sempre,<br />
a boa governação é decisiva<br />
o que implica usar os recursos de<br />
forma adequada, compatibilizando<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 9
PÁGINA ABERTA<br />
meios e objectivos. Sendo recursos<br />
nacionais, estes tinham que ser usados<br />
em benefício do país, tinham que<br />
ser estabelecidas prioridades e para<br />
isso há que se definir efectivamente<br />
como tudo deve ser feito, tendo em<br />
conta os recursos e os beneficiários.<br />
F&N: Quanto às autarquias tem<br />
sido fracturante o ponto sobre o<br />
modelo a adoptar e agora a questão<br />
do número de municípios a<br />
atingir. Como olha para esta questão?<br />
L.H.: Não sou especialista nesta<br />
matéria, mas para mim é fundamental<br />
destacar que as autarquias serão<br />
postas em prática agora, embora já<br />
se tivesse falado desta questão na<br />
governação anterior. Temos dois elementos<br />
positivos: a decisão de fazer<br />
a descentralização e a desconcentração<br />
das decisões, integrando o país<br />
no que toca às decisões sobre medidas<br />
económicas e sociais e, por outro<br />
lado, fazer de facto. Sobre o gradualismo<br />
há por aí discussões, sobretudo<br />
entre os juristas penso que se poderia<br />
fazer um processo gradual, mas<br />
não por escolha directa. Poderíamos<br />
encontrar um modelo onde os municípios<br />
escolhidos dependessem<br />
dos próprios munícipes. Poderiam<br />
elaborar-se critérios amplamente<br />
discutidos e que seriam a base para<br />
a tomada de decisão. Creio que o país<br />
deve ser inserido integralmente neste<br />
processo desde o topo à base; há<br />
sempre possibilidade de as pessoas<br />
participarem desde que as regras<br />
estejam definidas e sejam aplicadas<br />
através das instituições correspondentes.<br />
Porque um dos problemas<br />
centrais do nosso país é o problema<br />
da corrupção que só pode ser banido<br />
se forem dados sinais efectivos de inclusão<br />
sem previlegiar esta ou aquela<br />
organização ou cidadãos. Um dos<br />
problemas centrais do nosso país é a<br />
segregação territorial. Ao longo dos<br />
anos privilegiaram-se as cidades e<br />
depois criou-se um ciclo vicioso. As<br />
cidades desenvolvem-se e as pessoas<br />
do campo acabam por mudar para as<br />
cidades e cada vez mais é necessário<br />
criar estruturas para as cidades.<br />
É urgente e necessário reverter este<br />
processo. Efectivamente, há zonas<br />
do País que estão abandonadas. À<br />
medida que nos afastamos do litoral<br />
agrava-se o distanciamento entre os<br />
beneficiários dos recursos do País e<br />
aqueles que ficaram excluídos.<br />
“<br />
Um dos problemas<br />
centrais do nosso país é a<br />
segregação territorial. Ao<br />
longo dos anos privilegiaram-se<br />
as cidades e depois<br />
criou-se um ciclo vicioso,<br />
as cidades desenvolvem-<br />
-se e as pessoas do campo<br />
acabam por mudar para as<br />
cidades e cada vez mais é<br />
necessário criar estruturas<br />
para as cidades. É urgente<br />
e necessário reverter este<br />
processo. Efectivamente<br />
há zonas do País que estão<br />
abandonadas, à medida<br />
que nos afastamos do<br />
litoral agrava-se o distanciamento<br />
entre os beneficiários<br />
dos recursos do<br />
País e aqueles que ficaram<br />
excluídos<br />
“<br />
F&N: Recentemente foram divulgados<br />
dados sobre o desemprego.<br />
São preocupantes?<br />
L.H.: Os dados são extremamente<br />
preocupantes e creio que os mesmos<br />
não reflectem a realidade do fenómeno.<br />
Não sei se os dados reflectem<br />
as pessoas que estão no mercado informal.<br />
Suponho que não. Podemos<br />
ver em duas perspectivas, as pessoas<br />
do sector informal podem ser consideradas<br />
pessoas que estão empregadas,<br />
embora não da forma mais<br />
adequada mas alinhado com o que<br />
acontece com as jovens economias<br />
africanas. É sempre um emprego<br />
precário. Portanto, se as pessoas do<br />
sector informal foram consideradas<br />
como empregadas, então, a estes números<br />
tem que se acrescentar esta<br />
situação porque provavelmente temos<br />
números de desemprego muito<br />
mais elevados.<br />
F&N: O que é que é possível fazer,<br />
do ponto de vista económico,<br />
para absorver todas estas pessoas<br />
que estão desempregadas?<br />
L.H.: É preciso fazer investimento,<br />
criar atracção nas zonas do interior<br />
do país, por isso é que tem que<br />
se ter muito cuidado na forma como<br />
se vão implantar as autarquias. Muitos<br />
dos jovens que estão em Luanda<br />
certamente ficariam nas suas zonas<br />
de origem se tivessem melhores<br />
condições de vida lá; se houvesse<br />
escolas para os filhos, condições de<br />
emprego. Nestas zonas há muita actividade<br />
agrícola onde essa juventude<br />
é necessária, mas é preciso que<br />
haja possibilidade de mobilidade. O<br />
país tem que estar todo ligado, com<br />
boas estradas. As infra-estruturas,<br />
sobretudo ao nível das estradas,<br />
são determinantes. Tem que haver<br />
lojas, sistemas comercias em todo o<br />
país; os camponeses precisam de ter<br />
produtos industriais, não só os que<br />
precisam para o cultivo da terra mas<br />
outros. É preciso que tenham formas<br />
de escoamento dos seus produtos o<br />
que não se faz através de grandes entrepostos<br />
mas criando e estimulando<br />
redes comerciais no país inteiro.<br />
O Governo tem em curso uma acção<br />
muito importante de reavaliação de<br />
todo o equipamento que está espalhado<br />
pelo país, que está inutilizado,<br />
certamente que os inventários não<br />
estão disponíveis, o que significa um<br />
volume imenso de dinheiro que o<br />
país ou já consumiu ou está endividado<br />
por ter comprado todo este equipamento.<br />
Mesmo as estradas que<br />
foram feitas são de muito má qualidade,<br />
prédios que foram construídos<br />
e que estão totalmente desabitados,<br />
há uma subutilização gritante e chocante,<br />
que magoa qualquer pessoa<br />
que pode confrontar a miséria na<br />
qual muitas franjas da população vivem<br />
e a “leveza” com que muitos investimentos<br />
foram feitos sem terem<br />
10 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
PÁGINA ABERTA<br />
uma utilidade efectiva. Portanto, a<br />
inventariação de todos esses meios<br />
ao longo do país inteiro, têm que ser<br />
os administradores de cada zona a<br />
tomarem as iniciativas de fazer, com<br />
pessoas que, sendo responsáveis de<br />
órgãos administrativos, mesmo ao<br />
nível mais elementar, se preocupem<br />
com tudo o que está na sua zona,<br />
identifiquem, inventariem, e proponham<br />
soluções para utilização de<br />
maneira a servir as populações onde<br />
na minha opinião, a importância do<br />
trabalho.<br />
F&N: Outra questão que tem<br />
sido levantada, no plano económico<br />
é a questão da carga fiscal. Os<br />
empresários reclamam constantemente.<br />
L.H.: Creio que é muito pesado;<br />
o Estado quer compensar o défice<br />
de receitas públicas fazendo com<br />
que a sociedade pague os seus custos<br />
de funcionamento. Por um lado,<br />
o Estado continua muito pesado, é<br />
necessário fazer uma reavaliação da<br />
distribuição dos recursos humanos<br />
na administração pública, no país inteiro,<br />
por outro lado, os empresários<br />
estão descapitalizados porque eles<br />
próprios foram prejudicados porque<br />
o Estado usou as poupanças do País<br />
ao ir ao sector bancário pedir dinheiro<br />
emprestado, absorvendo as poupanças<br />
domésticas e as externas, o<br />
que agrava as dificuldades. O Estado<br />
recorreu à dívida pública interna retirando<br />
recursos que deveriam ser<br />
postos ao serviço do sector privado<br />
e que foram colocados ao serviço do<br />
sector público. Há uma concorrência<br />
por parte do Estado que é mais<br />
agravada porque o Estado não pagou<br />
as dívidas. Será certo, como disse a<br />
Secretária de Estado das Finanças,<br />
sobre este tema que muito da dívida<br />
não é efectiva, pois, como disse, 25%<br />
da dívida identificada não corresponde<br />
a serviços prestados e nem a<br />
bens fornecidos. Mas a não liquidaçao<br />
dos restantes 75% da dívida para<br />
com os empresários nacionais coloca-os<br />
numa situação difícil porque o<br />
Estado não pagou todas as dívidas,<br />
não actualiza os câmbios (estamos<br />
num processo de desvalorização da<br />
nossa moeda, que é necessário fazer,<br />
mas com graves consequências para<br />
a economia nacional) com efeitos no<br />
agravamento das dificuldades das<br />
empresas. A questão dos impostos,<br />
o sistema tributário tem que funcionar,<br />
mas talvez fosse necessário<br />
avaliar devidamente quais são as incidências,<br />
o impacto que isso cria em<br />
termos da incapacidade das empresas<br />
para realizarem os seus procesesses<br />
meios não utilizados se encontram.<br />
É muito importante também<br />
que se faça a reconstrução da indústria<br />
têxtil, mas não temos a matéria-<br />
-prima, no caso o algodão. Foi muito<br />
perniciosa essa separação que aconteceu<br />
muitas vezes entre os investimentos<br />
feitos e os fundamentos para<br />
sua eficaz utilização, pelo que agora<br />
é necessário reavaliar tudo isso. Está<br />
a ser feito um grande trabalho no<br />
domínio da tributação, no domínio<br />
dos seguros, no que toca às questões<br />
financeiras, dos empréstimos e isso<br />
vai relançar a economia. O apelo que<br />
está a ser feito, as políticas públicas<br />
definidas e as medidas que estão a<br />
tentar implantar para facilitar este<br />
timento e muitas questões a nível<br />
normativo, não apenas investimento<br />
físico mas também em capital humano,<br />
reforço e capacitação institucional.<br />
Poderíamos fazer mais, mas<br />
é preciso monitorar os resultados.<br />
O elemento central são as instituições<br />
que têm que funcionar. Neste<br />
aspecto estamos muito longe de uma<br />
eficácia mínima. Em primeiro lugar,<br />
tem que haver aumento da produtividade<br />
com base em muito rigor,<br />
assiduidade e pontualidade porque<br />
muitas vezes esquecemos que para<br />
além de exigirmos dos outros temos<br />
que trabalhar e fazer o que tem que<br />
ser feito. A título de exemplo, a questão<br />
da lei dos feriados sinalizou mal,<br />
investimento terão, penso eu, algum<br />
sucesso, embora persistam constrangimentos<br />
de base que, pouco a<br />
pouco, vão ser identificados e serão<br />
superados.<br />
F&N: Seria possível falar em<br />
aumento de investimento público<br />
no actual contexto?<br />
L.H.: Quando falei em infra-estrutura<br />
é responsabilidade do Governo.<br />
Trata-se de investimento público,<br />
a requalificação que implica inves-<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 11
PÁGINA ABERTA<br />
canal obrigatório para que as empresas<br />
que estão em condições económicas<br />
difíceis consigam responder<br />
positivamente, no imediato. Esta<br />
questão tem que ser analisada pelos<br />
especialistas, têm que ser feitos mais<br />
debates que envolvam as empresas,<br />
as grandes e as pequenas empresas.<br />
“<br />
Praticamente tudo o que<br />
consumimos (...) tem que<br />
ser adquirido ao exterior.<br />
A pintura que se pode<br />
fazer da economia do país<br />
é bastante negativa, mas<br />
ela é resultado de decisões<br />
e acções anteriores.<br />
Na verdade, há um esforço<br />
muito sério no sentido de<br />
se inverterem estes processos<br />
negativos<br />
“<br />
sos de trabalho, investirem e criarem<br />
mais postos de trabalho.<br />
F&N: E quanto ao IVA que também<br />
tem suscitado debate, estamos<br />
prontos?<br />
L.H.: Suponho que sim, embora<br />
seja necessário continuar a analisar<br />
os processos de organização das<br />
contabilidades das empresas, mas<br />
os especialistas dizem que isso não<br />
interfere. Não sou especialista nesta<br />
questão mas trata-se de substituir<br />
o imposto de consumo pelo IVA. No<br />
fundo quem vai responder melhor<br />
serão as empresas mais organizadas,<br />
que têm mais capacidade para continuar<br />
a investir. Não sei se o IVA vai<br />
realmente servir de incentivo e de<br />
F&N: A investigação é um dos<br />
elementos fundamentais para<br />
a compreensão dos fenómenos.<br />
Como é que tem avaliado este factor<br />
no que toca as questões económicas?<br />
L.H.: A questão da consultoria e<br />
da pesquisa é também um dos erros<br />
muito graves que foram cometidos<br />
no passado porque facilitamos a<br />
abertura de universidades, um assunto<br />
que merece muita reflexão (se<br />
efectivamente foi um bom caminho)<br />
mas não demos às instituições que<br />
criámos a oportunidade de evoluírem<br />
e se consolidarem não apenas<br />
como centros de transmissão de<br />
conhecimentos e de formação mas<br />
também como centros de investigação,<br />
o que implica a criação de laboratórios,<br />
centros de documentação.<br />
Também era necessário que o Estado<br />
recorresse às universidades para<br />
pedir estudos concretos e assim os<br />
grandes investimentos feitos tenham<br />
como base fundamentos científicos<br />
e técnicos, sendo que o Estado po-<br />
12 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
PÁGINA ABERTA<br />
deria recorrer também às empresas<br />
especializadas. O que aconteceu, dito<br />
por especialistas de empresas de fiscalização<br />
e auditoria, é que as decisões<br />
foram tomadas à revelia daqueles<br />
que tecnicamente dominavam os<br />
dossiers e têm elementos técnicos<br />
que poderiam levar a maior ponderação<br />
quanto à eficácia, qualidade,<br />
oportunidade e preço.<br />
F&N: Angola está a receber assistência<br />
do FMI que antes foi tão<br />
criticado...<br />
L.H.: Concordo em absoluto com<br />
esta decisão, não tenho dúvidas a<br />
respeito.<br />
F&N: É uma medida que peca<br />
por atraso?<br />
L.H.: É um processo, já tivemos o<br />
apoio do FMI e depois recuámos mas<br />
esta fase que o país enfrenta, para<br />
estimular a confiança dos cidadãos e<br />
dos investidores e, de uma maneira<br />
geral, dos cidadãos no crescimento<br />
e desenvolvimento do país, entendo<br />
que o FMI pode ter um papel preponderante,<br />
não apenas pelo empréstimo<br />
que é feito mas pela assistência<br />
técnica. Não apenas o FMI mas<br />
também o Banco Mundial e de uma<br />
maneira geral as instituições financeiras<br />
internacionais, incluindo as<br />
de Bretton Woods, que estão a emprestar<br />
dinheiro. Estas instituições<br />
demonstram que estão a acompanhar<br />
o modo de implementação dos<br />
programas económicos do governo,<br />
o que transmite confiança; um sinal<br />
não só para nós, mas também para<br />
os investidores estrangeiros que<br />
queiram vir para o país. Claro que há<br />
questões que têm que ser resolvidas.<br />
Volto a insistir na tónica institucional,<br />
toda a administração do país e a<br />
atitude das pessoas; temos que avaliar<br />
qual é a participação de cada um<br />
neste processo de reforma e restruturação<br />
nacional.<br />
F&N: Que perspectivas económicas<br />
para Angola até o final deste<br />
ano e o início do próximo?<br />
L.H.: As perspectivas continuam<br />
a não ser muito boas porque as políticas<br />
que estão a ser implementadas<br />
só terão efeitos com reacção positiva<br />
de todos os actores da sociedade<br />
e isso demora tempo. Mas acho que<br />
estamos no caminho certo e vamos<br />
ter bons resultados. Estão em curso<br />
operações para moralizar a sociedade<br />
e assim com carácter, com honestidade<br />
e vontade podemos mudar o<br />
quadro actual.<br />
F&N: Focou várias vezes ao<br />
longo da entrevista a questão da<br />
agricultura. É extremamente importante<br />
que haja um investimento<br />
neste sector?<br />
L.H.: Sem dúvidas, agora com<br />
uma política de concessão de subsídios<br />
para empregos para a juventude,<br />
não só subsídios internos, foram<br />
adjudicados, creio eu, 21 mil milhões<br />
de Kwanzas para o emprego dos jovens;<br />
tem que se discutir muito bem,<br />
tem que se avaliar muito bem como<br />
desenhar os programas onde estes<br />
valores serão aplicados assim como<br />
valores de investidores estrangeiros<br />
ou instituições estrangeiras como o<br />
Banco Mundial. É preciso que sejam<br />
desenhados programas específicos<br />
em harmonia com o Plano de Desenvolvimento<br />
Nacional e com os 83<br />
programas deste plano de desenvolvimento.<br />
Sobretudo, não podem ser<br />
decisões centrais apenas, tem que<br />
haver um processo decisório que engaje,<br />
inclua todos os que vão ser beneficiários<br />
e que têm que participar. O<br />
sentido patriótico tem que prevalecer.<br />
“<br />
Não sei se o IVA vai<br />
realmente servir de incentivo<br />
e de canal obrigatório<br />
para que as empresas que<br />
estão em condições económicas<br />
difíceis consigam<br />
responder positivamente,<br />
no imediato. Esta questão<br />
tem que ser analisada<br />
pelos especialistas, têm<br />
que ser feitos mais debates<br />
que envolvam as empresas,<br />
as grandes e as pequenas<br />
empresas<br />
“<br />
F&N: O mundo está mergulhado<br />
numa profunda crise económica<br />
que já dura anos. Vislumbra-se<br />
já uma saída deste problema?<br />
L.H.: A crise é muito grande<br />
e deve-se muito à forma como os<br />
bancos centrais têm actuado a nível<br />
do mundo inteiro. Para corrigir as<br />
formas de actuação será necessário<br />
reflectir nos níveis de consumo<br />
e de investimento. Tem que haver<br />
uma retracção na forma como os<br />
bancos se têm permitido alargar o<br />
endividamento que é imenso. Há<br />
que garantir concertação entre os<br />
diferentes actores públicos com o<br />
sector privado e as organizações da<br />
sociedade civil, até a nível das instituições<br />
financeiras mundiais, mas,<br />
naturalmente, é muito difícil uma<br />
decisão conjunta desta natureza<br />
porque cada um quer defender os<br />
seus interesses.<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 13
NOTAS DE IMPRENSA<br />
ALGUMAS JÁ REEMBOLSARAM, OUTRAS FORAM ARRESTADAS...<br />
GOVERNO OBRIGA EMPRESAS<br />
A PAGAR FINANCIAMENTOS<br />
A<br />
Procuradoria-Geral<br />
da República (PGR)<br />
angolana, através<br />
da Serviço Nacional<br />
de Recuperação de<br />
Activos, identificou<br />
sete empresas privadas criadas com<br />
financiamentos do Estado angolano,<br />
que até à presente data não foram<br />
ainda reembolsados, tendo sido<br />
determinado o arresto de três delas.<br />
Entre as empresas que tinham (ou<br />
tiveram) dívidas ao Estado angolano,<br />
estava a Lektron Capital, de Manuel<br />
Vicente, antigo vice-Presidente<br />
de Angola.<br />
A Lektron Capital e a Geni<br />
beneficiaram de financiamentos do<br />
Estado, através da Sonangol, para a<br />
aquisição de participações sociais<br />
no Banco Económico, antigo Banco<br />
Espírito Santo Angola (BESA), informa<br />
a PGR. O documento esclarece<br />
que a empresa Lektron já entregou<br />
de forma voluntária as participações<br />
sociais ao Estado, enquanto a Geni<br />
assumiu o compromisso de proceder<br />
ao pagamento da dívida que,<br />
caso não aconteça, será instaurado<br />
imediatamente pela PGR “o procedimento<br />
cautelar de arresto das<br />
referidas participações”.<br />
A Lektron Capital, empresa<br />
pertencente a Manuel Domingos<br />
Vicente, antigo vice-Presidente de<br />
TIRADAS DA IMPRENSA<br />
"A mercadoria é o núcleo econômico<br />
do sistema capitalista e, enquanto ela<br />
existir, seus efeitos se farão sentir na<br />
organização da produção e, conseqüentemente,<br />
na consciência".<br />
-Che Guevara<br />
Foto: Arquivo NET<br />
Angola e actualmente deputado à<br />
Assembleia Nacional, e Manuel Hélder<br />
Vieira Dias Júnior (“Kopelipa”),<br />
ex-ministro de Estado e chefe da<br />
Casa de Segurança do Presidente da<br />
República, beneficiou do montante<br />
de 125 milhões de dólares (110,7<br />
milhões de euros), igualmente para<br />
aquisição de ações no Banco Económico<br />
(antigo BESA).<br />
Já a Geni, empresa pertencente a<br />
Leopoldino Fragoso do Nascimento<br />
(“Dino”), consultor do ministro de<br />
Estado e chefe da Casa de Segurança<br />
do Presidente da República, no<br />
tempo do ex-Presidente angolano<br />
"Quando me desespero, lembro-me de<br />
que em toda a história a verdade e o<br />
amor sempre venceram. Houve tiranos<br />
e assassinos e, por um tempo, pareciam<br />
invencíveis mas, no final, sempre<br />
caíram. Pense nisso! Sempre".<br />
-Mahatma Ghandi<br />
José Eduardo dos Santos, celebrou<br />
um contrato em kwanzas equivalente<br />
a 53,2 milhões de dólares (47,1<br />
milhões de euros), dos quais pagou<br />
apenas 23,6 milhões de dólares (20,9<br />
milhões de euros), faltando cumprir<br />
29,5 milhões de dólares (26,1<br />
milhões de euros).<br />
A nota da PGR refere ainda as<br />
empresas Fábrica de Tecidos (Mahinajethu<br />
– Satc), localizada no Dondo,<br />
província do Cuanza Norte; a Fábrica<br />
Têxtil de Benguela (Alassola – África<br />
Têxtil) e a Nova Textang II, em<br />
Luanda, cujos beneficiários últimos<br />
são, entre outros, Joaquim Duarte da<br />
"Dizes contentar-te com pouco; é essa,<br />
na realidade, a suprema sabedoria<br />
mas eu fui sempre a grande revoltada<br />
e a grande ambiciosa que só quer a<br />
felicidade quando ela seja como um<br />
turbilhão que dê a vertigem e que<br />
deslumbre!".<br />
-Florbela Espanca<br />
14 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
NOTAS DE IMPRENSA<br />
Costa David, antigo diretor-geral da<br />
Sonangol, ministro da Indústria, das<br />
Finanças e da Geologia e Minas e<br />
atualmente deputado à Assembleia<br />
Nacional, além de Tambwe Mukaz,<br />
José Manuel Quintamba de Matos<br />
Cardoso, e sócios constantes dos<br />
pactos sociais.<br />
Segundo a PGR, através de uma<br />
linha de crédito do Japan Bank for<br />
International Cooperation, foram<br />
disponibilizados para a reactivação<br />
das antigas fábricas um total de<br />
1.011,2 milhões de dólares (895.966<br />
milhões de euros), financiamentos<br />
que estão a ser pagos pelo Estado<br />
angolano.<br />
Para a fábrica de Tecidos no<br />
Dondo e para a Fábrica Têxtil de<br />
Benguela, o Banco Angolano de<br />
Investimentos (BAI) concedeu uma<br />
linha de crédito, assegurada pela garantia<br />
soberana no Estado, de 12,9<br />
mil milhões de kwanzas (33,7 milhões<br />
de euros), “que nunca foram<br />
pagos por aquelas, estando o Estado<br />
a ser cobrado enquanto garante,<br />
tendo inclusive já sido descontado<br />
uma prestação”.<br />
A celebração de contratos<br />
de concessão para a exploração<br />
e gestão dessas unidades fabris<br />
foram autorizadas por Despachos<br />
Presidenciais de 2018, por meio de<br />
constituição de sociedades-veículo<br />
que serviriam para se efectivar o<br />
processo de transferência gradual<br />
dos direitos sobre os activos, à<br />
medida que os pagamentos fossem<br />
efectuados.(...)<br />
N.R. - Título da F&N<br />
In "Portal de Angola"<br />
"Podem ser encontrados aspectos<br />
positivos até nas situações negativas<br />
e é possível utilizar tudo isso como<br />
experiência para o futuro, seja como<br />
piloto, seja como homem".<br />
- Ayrton Senna<br />
BOCAS SOLTAS<br />
Nada previa que a entrada em vigor da implementação do IVA - Imposto<br />
sobre o Valor Acrescentado- fosse uma vez mais adiada, tal era a intransigência<br />
demonstrada pela Administração Geral Tributária (AGT)<br />
que tinha estabelecido no seu cronograma a data apertadíssima do<br />
mês de Julho. Agora, segundo um acordo alcançado entre o Governo e<br />
o Grupo Técnico Empresarial (GTE), fica assente que a implementação<br />
do IVA comece a ser feita a partir de Outubro próximo, embora esteja<br />
ainda tudo dependente de um novo calendário a ser assumido por<br />
aquele organismo do Estado. Entretanto, uma lição deve ser tirada no<br />
culminar deste processo: a sociedade deve ser sempre ouvida na tomada<br />
de decisões tão importantes para a vida económica da nação.Os<br />
cidadãos anónimos desta rubrica foram chamados a abordar aquilo a<br />
que muita gente qualificou de "vitória da democracia"...<br />
....................................................<br />
"Sem dúvidas que terá valido a pena que a classe empresarial organizada<br />
angolana tinha feito ouvir a sua voz. Pelo menos deu a entender que, doravante,<br />
poderá ter uma influência importante na própria gestão dos múltiplos<br />
problemas que o país enfrenta no domínio económico".<br />
....................................................<br />
"Isto dá para reflectir. Fez-se saber que o governo deve ouvir mais as pessoas.<br />
Se não o fizer, é sinal de que ainda estamos agarrados aos vícios do<br />
passado, que tanto mal fizeram ao país...Houve uma altura em que só faltava<br />
dizer às pessoas o que devem fazer para respirarem melhor...Agora não; o<br />
país está a mudar, sim senhor!".<br />
....................................................<br />
"O povo foi ouvido! Mas eles não estavam a ver que a maior parte das pessoas<br />
nem sequer sabia o que é isto de IVA?Mesmo em países mais organizados,<br />
a implementação de certos impostos tão especiais quanto os deste tipo,<br />
merece a aplicação de uma estratégia de comunicação didáctica muito mais<br />
prolongada e eficaz. Aqui não; queriam fazer as coisas às pressas e tudo leva<br />
a crer que as coisas podiam correr mal".<br />
....................................................<br />
" Não tinham como não ouvir o clamor dos empresários. Estes, coitados, a<br />
maior parte apanha de todos os lados.Principalnente os nacionais que não<br />
têm aonde cair mortos nesta fase desta crise que parece nunca mais acabar.<br />
Pelo menos quanto à implementação do IVA, acordaram e venceram um<br />
grande desafio".<br />
....................................................<br />
"Mesmo assim não concordo com o que se diz por aí. Outubro também é<br />
muito cedo. Para mim, este tal de IVA devia ser cobrado apenas numa situação<br />
em que Angola já estivesse mais folgada em termos financeiros.É muita<br />
carga para as grandes empresas do país, que, também elas, tardam em<br />
recuperar-se desta doença terrível que é a má gestão dos recursos públicos".<br />
....................................................<br />
"Estas coisas não devem ser impostas apenas por<br />
decreto. Todas as entidades envolvidas no processo de implementação<br />
do IVA deviam, desde o início, apelar ao bom senso, priorizando sempre<br />
o diálogo e a concertação entre todas as partes.Que este processo<br />
sirva de exemplo para as futuras acções do governo!"<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 15
NOTÍCIAS BREVES<br />
O PIIM, AS "FAZENDAS" PARA AS FAA<br />
E OS MILHÕES PARA O AEROPORTO<br />
O Programa Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) terá um período de implementação<br />
de 4 anos, poderá beneficiar até 1 milhão de famílias nas 18 províncias. Cada família receberá AOA<br />
5.000 (cerca de EUR 13 ) durante 12 meses, com uma segunda componente de inclusão produtiva e<br />
reforço do Sistema de Protecção Social.<br />
Citado pelo África Monitor, o projecto governamental deverá ter a aprovação do Banco Mundial,<br />
juntamente com um pacote financeiro de USD 1.500 milhões .<br />
Por outro lado, foi já aprovado o Plano Integrado de Comunicação sobre o Ajustamento dos Preços<br />
Fixados (água, combustíveis e electricidade), segundo decisão da Comissão Económica do Conselho<br />
de Ministros , para "esclarecer os cidadãos sobre o ajustamento efectuado no preço da água e o que<br />
se pretende fazer no preço da electricidade e dos combustíveis".<br />
APLICAÇÃO DO IVA SÓ EM OUTUBRO - O início da introdução do Imposto sobre o Valor Acrescentado<br />
(IVA) em Angola está marcado para 1 de Outubro próximo, segundo decisão da Comissão Económica.<br />
Por outro lado, 190 Empresas públicas, 32 das quais de referência nacional, serão privatizadas pelo<br />
Governo, através da Bolsa de Valores. Trata-se de outra decisão da Comissão Económica ocorrida<br />
no mês de Junho. Estão no pacote de privatizações, diversas empresas ligadas aos sectores agrícola,<br />
industrial, turístico, financeiro e mineiro e dos transportes e das telecomunicações<br />
Cerca de USD 2.000<br />
milhões é o montante<br />
disponibilizado<br />
pelo Fundo Soberano<br />
de Angola (FSDA) que<br />
deverá ser aplicado<br />
pelo Governo no Plano Integrado<br />
de Intervenção nos Municípios<br />
(PIIM), de acordo com o Presidente<br />
da República, João Lourenço.<br />
No PIIM estão inscritos projectos<br />
de"grande impacto", alguns dos<br />
quais já iniciados, mas que, por<br />
não terem sido contemplados nas<br />
linhas de financiamento externo,<br />
estão paralisados há anos.Quanto<br />
à verba do FDSA para o referido<br />
projecto, João Lourenço explicou<br />
que o seu enquadramento<br />
"significa dizer que este plano<br />
será executado sem o recurso a<br />
endividamento público".<br />
Note-se que o plano abrange<br />
os 164 municípios do país e<br />
prevê nomeadamente criação de<br />
4.000 salas de aulas, com 200<br />
equipamentos hospitalares, a<br />
asfaltagem,terraplanagem ou rea-<br />
Foto: George Nsimba<br />
bilitação de estradas, com prioridade<br />
para as secundárias e terciárias,<br />
que vão facilitar o escoamento da<br />
produção agrícola local. O África<br />
Monitor realça o facto de também<br />
estarem integrados no PIIM,<br />
lançado em Luanda pelo Presidente<br />
angolano, projectos no domínio da<br />
segurança pública, com a construção<br />
e apetrechamento de esquadras<br />
de polícia, da energia, das águas e<br />
do saneamento básico, bem como se<br />
prevê a construção de 36 complexos<br />
residenciais administrativos, estando<br />
igualmente prevista a edificação<br />
de oito infraestruturas para acomodar<br />
o funcionamento dos órgãos das<br />
autarquias locais, tendo em conta<br />
o processo preparatório em curso<br />
para a sua realização em 2020.<br />
16 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
NOTÍCIAS BREVES<br />
Dois projectos de desenvolvimento agropecuário resgatados<br />
em Outubro de 2018 a 5 empresas detidas pelo<br />
Fundo Soberano, segundo decreto do Presidente João<br />
Lourenço, serão entregues às Forças Armadas Angolanas<br />
(FAA), "cuja gestão profícua (das unidades) permitirá às<br />
Forças Armadas atingirem a auto-suficiência em alguns<br />
produtos agrícolas e de origem animal". Em causa estão o Projecto de<br />
Desenvolvimento Agro-pecuário do Manquete, na província do Cunene, e<br />
a Fazenda Agro-industrial de Camacupa, no Bié .<br />
Foto: Arquivo NET<br />
Foto: Arquivo NET<br />
Um acordo foi recentemente<br />
assinado<br />
em Luanda entre o<br />
ministro do Interior<br />
angolano, Ângelo Veiga<br />
Tavares, e a embaixadora<br />
dos EUA em Angola, Nina Maria Fite,<br />
para troca de informações com vista<br />
à prevenção,investigação e combate à<br />
criminalidade internacional. Segundo<br />
o ministro, o memorando vai permitir<br />
que Angola possa beneficiar da experiência<br />
dos EUA no domínio policial,<br />
nomeadamente “no tráfico ilícito de<br />
drogas, o tráfico de seres humanos,<br />
o terrorismo, sobretudo, onde os<br />
EUA têm uma vasta experiência, bem<br />
como o branqueamento de capitais<br />
e financiamento ao terrorismo" e<br />
assim "exercer uma acção mais firme<br />
e contar com um parceiro fundamental<br />
para cumprir os seus programas”<br />
nesse domínio,"particularmente no<br />
que concerne ao branqueamento<br />
de capitais e ao combate à<br />
corrupção".<br />
Foto: Arquivo NET<br />
Aeroporto "4 de Fevereiro"-<br />
O Governo<br />
angolano vai investir<br />
USD 300 milhões<br />
na remodelação e<br />
expansão do actual<br />
aeroporto internacional de Luanda<br />
, 4 de Fevereiro, revelou o ministro<br />
dos Transportes, Ricardo de Abreu,<br />
citado pela A.M. que destaca que as<br />
obras do projecto decorrerão num<br />
prazo de 18 a 24 meses a partir de<br />
2020. Elas contemplam o aumento<br />
do espaço do terminal, com realce<br />
para o espaço de “check-in”, acomodação<br />
dos passageiros, salas de<br />
espera, escritórios, área de estacionamento<br />
e melhoria do perímetro<br />
de segurança.<br />
Preve-se que a capacidade seja<br />
aumentada de 1,5 milhões passageiros/ano<br />
para 4 milhões .<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 17
PAÍS<br />
LANÇADO PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA<br />
PIIM VAI GASTAR USD 2,1 MIL<br />
MILHÕES EM PROJECTOS SOCIAIS<br />
PARA MAIS POBRES<br />
O Plano Integrado de Intervenção nos Municípios foi lançado pelo Presidente da República,<br />
João Lourenço, e ao que indicam as reacções dos cidadãos, foi bem acolhido e as<br />
razões para que assim acontecesse estão ligadas à implementação de vários projectos<br />
sociais de grande impacto no seio das comunidades mais pobres, sobretudo porque<br />
terá como sustento uma almofada financeira avaliada em 2,1 mil milhões de dólares,<br />
proveniente do Fundo Soberano.<br />
Para o Presidente da República,o Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM)<br />
representa um significativo passo em frente no processo de desconcentração e descentralização<br />
administrativas, assumido pelo Governo como um desafio incontornável da<br />
reforma do Estado<br />
Foto: Arquivo F&N<br />
18 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
PAÍS<br />
"Aos poucos vamos fazendo<br />
com que os municípios<br />
ocupem mais espaço<br />
na vida política, económica<br />
e social, tenham mais<br />
intervenção e sejam mais<br />
fortes. Várias medidas têm sido tomadas<br />
e implementadas de modo<br />
a alterar o nosso paradigma de<br />
governação, estimulando a uma<br />
maior participação da Administração<br />
Local e uma redução, na<br />
medida do recomendável, da intervenção<br />
da Administração Central<br />
do Estado", disse João Lourenço<br />
no acto de lançamento do Plano<br />
Integrado de Intervenção nos Municípios.<br />
João Gonçalves Lourenço acredita<br />
que "determinadas tarefas<br />
são melhor desenvolvidas quando<br />
realizadas por quem está mais<br />
próximo das populações e vive<br />
directamente os seus problemas".<br />
"Temos, portanto, que continuar o<br />
caminho iniciado e garantir a execução<br />
correcta das medidas que<br />
aprovámos", afirmou, garantindo<br />
que algumas dessas medidas começam<br />
aos poucos a ganhar forma,<br />
sendo disso exemplos, entre<br />
outros, o processo de reforço da<br />
desconcentração administrativa<br />
em curso e o início do processo<br />
de transferência de competências<br />
para os municípios.<br />
O Chefe de Estado alertou<br />
aos futuros gestores dos recursos<br />
alocados aos cento e sessenta e<br />
quatro municípios no sentido de<br />
trabalharem mais no processo de<br />
arrecadação de receitas municipais,<br />
explorando o enorme potencial<br />
que existe em todos os municípios,<br />
pois o aumento da receita,<br />
torna-se cada vez mais necessário<br />
para fazer face à crescente necessidade<br />
de despesa pública para se<br />
prestarem melhores serviços aos<br />
cidadãos.<br />
"Os municípios têm que fazer<br />
mais e não ficar só à espera da<br />
receita proveniente da Administração<br />
Central; devem promover<br />
o desenvolvimento local, prestar<br />
melhores serviços e criar condições<br />
para a atracção do investimento<br />
privado.Só assim alcançaremos<br />
o grande objectivo de fazer<br />
dos municípios o centro do desenvolvimento<br />
nacional", alertou o<br />
Chefe do Executivo angolano.<br />
“<br />
Este programa (...)<br />
abrange a totalidade dos<br />
164 municípios do país<br />
e comporta um conjunto<br />
vasto e diversificado de<br />
projectos, estando avaliado<br />
num valor em kwanzas<br />
equivalente a dois mil milhões<br />
de dólares, recursos<br />
do Fundo Soberano de Angola<br />
que, paradoxalmente,<br />
embora sendo propriedade<br />
do Estado Angolano,<br />
este não tinha o controlo<br />
dos mesmos(...)<br />
“<br />
João Lourenço disse que o Programa<br />
de Desenvolvimento Local<br />
e Combate à Pobreza, através do<br />
qual todos os municípios recebem<br />
mensalmente recursos financeiros<br />
que, embora escassos, "começa a<br />
dar outra vida às nossas comunidades",<br />
mas alertou que o referido<br />
plano precisa de ser permanentemente<br />
avaliado, ajustado e melhorado,<br />
realçando por outro lado<br />
a necessidade de se revitalizar<br />
as comissões de moradores para<br />
criar outros mecanismos de participação,<br />
"a fim de garantir uma<br />
gestão pública local mais participada,<br />
mais aberta e mais próxima<br />
do cidadão, que nos levará à efectiva<br />
descentralização administrativa<br />
através da criação das Autarquias<br />
Locais".<br />
Explicou que o PIIM "é um plano<br />
ambicioso, voltado para a resolução<br />
de problemas concretos<br />
e pensado da base para o topo".<br />
"Trata-se de um plano dos municípios,<br />
com prioridades definidas<br />
pelos municípios e que procura<br />
responder as necessidades específicas<br />
dos munícipes. Privilegia<br />
mais a Administração Local do que<br />
a Administração Central, representando<br />
uma mudança de paradigma<br />
não negligenciável se tivermos em<br />
conta que, do total de projectos previstos,<br />
cerca de 68% serão executados<br />
pelos órgãos da administração<br />
local porque assenta no princípio<br />
de “Acreditar mais, confiar mais nos<br />
municípios, dar mais vida aos municípios”,<br />
frisou o Chefe de Estado.<br />
" Este programa que hoje anunciamos<br />
abrange a totalidade dos<br />
164 municípios do país e comporta<br />
um conjunto vasto e diversificado<br />
de projectos, estando avaliado num<br />
valor em kwanzas equivalente a dois<br />
mil milhões de dólares, recursos do<br />
Fundo Soberano de Angola que, paradoxalmente,<br />
embora sendo propriedade<br />
do Estado Angolano, este<br />
não tinha o controlo dos mesmos<br />
mas que, felizmente, conseguimos<br />
recuperá-los recentemente. Isso<br />
significa dizer que este Plano será<br />
executado sem o recurso a endividamento<br />
público, para investir em sectores<br />
importantes da vida dos cidadãos,<br />
nomeadamente na educação,<br />
na saúde, nas infraestruturas administrativas,<br />
nas vias de comunicação<br />
secundárias e terciárias, na<br />
segurança pública, no saneamento<br />
básico, na energia, na água, entre<br />
outros domínios importantes para<br />
as comunidades", perspectivou<br />
João Lourenço na cerimónia oficial<br />
de lançamento do Plano Integrado<br />
de Intervenção nos Municípios .<br />
Entretanto, fez questão de<br />
ressaltar que as verbas "não são<br />
seguramente suficientes para resolver<br />
todos os problemas", mas,<br />
aconselhou aos gestores que "se<br />
forem bem aplicados para se fazer<br />
o que é certo e de modo correcto,<br />
vamos ter de certeza bons<br />
resultados".<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 19
PAÍS<br />
PR ALERTA AOS GESTORES DO PIIM:<br />
"RESISTAM À TENTAÇÃO<br />
DE ENVEREDAR POR PRÁTICAS<br />
INCORRECTAS"<br />
O Presidente da República pediu que os gestores do Plano Integrado de Intervenção<br />
nos Municípios não ignorem os princípios e as regras que regem o funcionamento da<br />
Administração Pública e que resistam à tentação de enveredar por práticas incorrectas<br />
que atentem contra os deveres de probidade, de transparência e de imparcialidade a<br />
que todos estamos sujeitos. Para si, o referido plano valerá pelos resultados positivos<br />
que vier a trazer para a vida dos cidadãos, dependendo não apenas dos recursos disponíveis<br />
mas sobretudo, do empenho, da criactividade e da vontade de todos<br />
"O sucesso deste Plano dependerá<br />
da nossa capacidade<br />
de coordenação<br />
institucional entre a Administração<br />
Central e a Administração<br />
Local, sendo<br />
que os Departamentos Ministeriais<br />
devem prestar todo o apoio técnico<br />
e metodológico aos órgãos da Administração<br />
Local. O sucesso do PIIM<br />
vai depender da nossa capacidade de<br />
planificação das acções e de monitorar<br />
a sua execução.Peço por isso a<br />
todos os que terão a responsabilidade<br />
directa de dar vida ao Plano que<br />
tenham sempre presente a necessidade<br />
de fazer bem o seu trabalho",<br />
afirmou João Lourenço, manifestando<br />
ao mesmo tempo a sua disponibilidade<br />
de incentivar todos os gestores<br />
dos órgãos da Administração<br />
Local "a envolverem os cidadãos no<br />
processo decisório e na execução<br />
das medidas, considerando-os como<br />
parte da solução dos seus próprios<br />
problemas".<br />
O Chefe do Executivo angolano<br />
destacou que a implementação do<br />
Plano Integrado de Intervenção nos<br />
Municípios é uma oportunidade<br />
para que o empresariado nacional<br />
concorra para as diferentes empreitadas,<br />
mas, disse, " vamos ser rigorosos<br />
pagando o preço justo prevenin-<br />
Foto: Arquivo F&N<br />
do a sobrefacturação; vamos também<br />
ser exigentes para com a fiscalização<br />
da qualidade das obras".<br />
Revelou que no âmbito do referido<br />
plano prevê-se a construção de raiz<br />
ou a conclusão de obras por concluir,<br />
de cerca de quatro mil salas de aulas<br />
para vários níveis de ensino e que no<br />
domínio da saúde, estão previstas a<br />
construção, reabilitação e apetrechamento<br />
de cerca de 200 equipamentos<br />
hospitalares de diferentes categorias<br />
em vários municípios.<br />
"As vias de comunicação são<br />
igualmente um domínio contemplado<br />
pelo PIIM, estando previstas a as-<br />
20 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
PAÍS<br />
faltagem ou terraplanagem de vias e<br />
a reabilitação de estradas, sobretudo<br />
de vias secundárias e terciárias, sendo<br />
importante que sejam privilegiadas<br />
vias que facilitem o escoamento<br />
da produção agrícola do campo,<br />
incentivando assim o aumento da<br />
produção, o aumento do emprego e<br />
o desenvolvimento local", destacou,<br />
acrescentando que outras acções<br />
não menos importantes serão desenvolvidas<br />
tanto no domínio da segurança<br />
pública, com a construção<br />
e apetrechamento de esquadras de<br />
polícia, como no domínio da energia,<br />
águas e saneamento básico.<br />
João Lourenço assegurou igualmente<br />
que estão ainda inscritos no<br />
PRIIM projectos de grande impacto,<br />
nomeadamente alguns que tendo<br />
iniciado, não foram contudo contemplados<br />
nas linhas de financiamento<br />
externo e por isso estão há anos paralisados."<br />
Questão abordada pelo Presidente<br />
no seu discurso inaugural do lançamento<br />
do PIIM foi a da mobilidade<br />
de quadros para certos municípios,<br />
sendo esclarecida de imediato, com a<br />
garantia de que o PIIM prevê a construção<br />
de 36 complexos residenciais<br />
administrativos que estarão disponíveis<br />
para os quadros com vínculo<br />
com a Administração Local e não residentes<br />
no respectivo município. Na<br />
altura, informou também que, neste<br />
âmbito, está prevista a construção<br />
de oito infraestruturas para acomodar<br />
o funcionamento dos órgãos das<br />
Autarquias Locais, tendo em conta o<br />
processo preparatório em curso.<br />
"Incentivo-os também a envolverem<br />
mais os Conselhos de Auscultação<br />
da Comunidade e as diferentes<br />
organizações da sociedade civil. Todos<br />
somos poucos para a imensidão<br />
do desafio que temos pela frente.<br />
Esta é também uma oportunidade<br />
de se incentivar o desenvolvimento<br />
local, atraindo empresas para os municípios<br />
e criando postos de trabalho<br />
para a nossa juventude; é ainda uma<br />
oportunidade para se promoverem<br />
soluções locais, adaptáveis à realidade<br />
de cada município", afirmou.<br />
NO FACEBOOK<br />
P.R. ABRE NOVA PÁGINA<br />
O Presidente da República lançou recentemente no<br />
Facebook uma nova página de conteúdos relacionados<br />
com a sua actividade e a vida pública do Palácio Presidencial.<br />
Segundo um comunicado da Presidência da<br />
República, a página, que se junta às plataformas que<br />
doravante complementarão as informações geradas à<br />
volta da figura do Chefe de Estado angolano "constitui<br />
um reforço do paradigma comunicacional entre o centro<br />
do poder político em Angola e a sociedade no geral"<br />
Sabe-se que a Página<br />
de João Lourenço tem<br />
já revelado publicação<br />
de imagens e textos,<br />
mostrando distintos<br />
momentos da sua agenda<br />
presidencial. Recorde-se que na<br />
publicação inaugural, que se registou<br />
recentemente, reportou-se<br />
a audiência que o Presidente da<br />
República concedeu à Presidente<br />
da empresa portuguesa de energia<br />
GALP, Paula Amorim.<br />
Um comunicado da Secretaria<br />
para os Assuntos de Comunicação<br />
Institucional e Imprensa do<br />
Presidente da República divulgado<br />
à propósito, revelou na altura em<br />
que a página tinha acabado de ser<br />
lançada, que ela "será uma porta<br />
aberta aos internautas que pretendam<br />
viver a par e passo a dinâmica<br />
da acção do Presidente João<br />
Lourenço, acedendo a informação<br />
relevante sobre os seus actos públicos,<br />
designadamente as audiências<br />
que concede, os decretos que<br />
exara, os discursos que profere, as<br />
visitas que efectua, entre muitas<br />
outras tarefas de Estado".<br />
Através do referido comunicado,<br />
soube-se igualmente que com a<br />
entrada em funcionamento da página<br />
"Presidência da República de<br />
Angola", saíram do ar as páginas<br />
pessoais do Presidente João Lourenço,<br />
que, doravante, "privilegiará<br />
, nos seus actos de comunicação,<br />
a plataforma Twitter, à semelhança<br />
do que acontece com um grande<br />
número de Chefes de Estado no<br />
mundo".<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 21
PAÍS<br />
ANGOLA TEM UM FINANCIAMENTO GLOBAL DE USD 3,7 MIL MILHÕES<br />
FMI<br />
CONCEDE MAIS<br />
USD 248 MILHÕES<br />
Fotos: Arquivo F&N<br />
A primeira tranche, no valor de mil milhões de dólares,<br />
foi concedida e confirmada em Luanda a 20 de Dezembro<br />
de 2018 pela Directora-geral do FMI, Christine Lagarde,<br />
mas, muito recentemente, o Fundo Monetário Internacional<br />
acabou por aprovar um novo financiamento no valor<br />
de 248 milhões dólares (219 milhões de Euros) para<br />
Angola, na sequência da conclusão da primeira avaliação<br />
do programa de apoio concedido ao país<br />
Segundo informações<br />
prestadas pela instituição,<br />
reactadas pelo Jornal<br />
Económico, em Luanda,<br />
com este novo financiamento,<br />
o montante total<br />
concedido a Angola ao abrigo do<br />
Programa de Financiamento Ampliado<br />
ascende aos 1.24 mil milhões de<br />
dólares (1.09 mil milhões de Euros).<br />
O Programa de Financiamento<br />
Ampliado foi aprovado a 7 de Dezembro<br />
de 2018 e prevê uma duração<br />
de três anos, permitindo o acesso<br />
a um financiamento global de 3.7 mil<br />
milhões de dólares (3.2 mil milhões<br />
de Euros) e a assistência técnica para<br />
apoiar o Programa de Estabilização<br />
22 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
PAÍS<br />
Macroeconómica e o Plano de Desenvolvimento<br />
Nacional 2018-2022.<br />
Entretanto, confirmou-se que o<br />
FMI considera esta primeira avaliação<br />
positiva, apesar de Angola apresentar<br />
ainda muitos desafios, tendo<br />
dado destaque ao facto de estar a<br />
viver um período de maior incerteza<br />
do preço de petróleo, condições<br />
financeiras externas mais restritivas<br />
e um crescimento económico<br />
global lento.<br />
O Fundo Monetário Internacional<br />
encorajou as autoridades angolanas<br />
a continuarem com as reformas,<br />
apostando na diversificação económica,<br />
bem como na estabilização<br />
do sistema financeiro. O FMI apoiou<br />
também os esforços de consolidação<br />
orçamental, isto é, a melhoria<br />
da qualidade da despesa, a redução<br />
dos subsídios a preço e de bens fixados<br />
e aplicação de medidas de<br />
diversificação da base das receitas<br />
não petrolíferas.<br />
O conselho de administração do<br />
FMI recomenda mais esforços para<br />
mitigar os riscos que se colocam<br />
à sustentabilidade da dívida, bem<br />
como acelerar a reestruturação das<br />
empresas públicas. Contudo, o FMI<br />
saudou o Executivo pelo esforço que<br />
tem desenvolvido para melhorar a<br />
gestão do risco de crédito nos bancos<br />
públicos bem como o seu sistema<br />
de governação.<br />
INE CONFIRMA INFLAÇÃO DE MAIS DE 17%<br />
PREÇOS AUMENTARAM NO PAÍS<br />
Os preços em Angola<br />
aumentaram 1,13%<br />
entre abril e maio, valor<br />
que coloca a inflação<br />
acumulada a 12 meses<br />
em 17,35%, atingindo o<br />
valor mais baixo desde<br />
janeiro de 2016. Segundo<br />
o Instituto Nacional de<br />
Estatística, o Índice de<br />
Preços no Consumidor<br />
(IPC), tendo como referência<br />
Luanda, registou<br />
uma variação de 1,13%<br />
entre abril e maio, cerca<br />
de 0,07 pontos percentuais<br />
superiores à registada<br />
entre Março e Abril<br />
De acordo com a<br />
Lusa, citada pelo<br />
Diário de Notícias,<br />
a variação homóloga<br />
atingiu 17,35%,<br />
registando um decréscimo<br />
de 3,30 pontos percentuais<br />
com relação à observada em<br />
igual período do ano anterior.<br />
Faz-se notar que a classe<br />
"Alimentação e Bebidas não<br />
Alcoólicas" foi a que mais contribuiu<br />
para a taxa de inflação do<br />
mês , com um aumento de 0,53<br />
pontos percentuais, seguida das<br />
classes "Mobiliário, Equipamento<br />
Doméstico e Manutenção" e "Bens<br />
e Serviços Diversos", ambos com<br />
0,11 pontos percentuais, "Saúde"<br />
e "Habitação, Água, Eletricidade e<br />
Combustíveis", com 0,09 pontos<br />
percentuais.<br />
Os bens e serviços que registaram<br />
as taxas mais elevadas<br />
pertencem às classes "Lazer,<br />
Recreação e Cultura", com 1,95%,<br />
"Saúde" (1,89%), "Mobiliário,<br />
Equipamento Doméstico e Manutenção"<br />
(1,45%) e "Hotéis, Cafés e<br />
Restaurantes" (1,29%).<br />
As províncias que registaram<br />
maior aumento foram a Huíla,<br />
com 1,38%, Cunene (1,36%),<br />
Malanje (1,34%), Lunda Sul e<br />
Cuanza Sul (ambos com 1,22%).<br />
As províncias com menor variação<br />
foram Benguela, com 0,85%, Uíge<br />
(0,88%), Namibe (0,93%), Bié<br />
(0,97%) e Zaire (1,01%), revela o<br />
Diário de Notícias.<br />
No Orçamento Geral do Estado<br />
(OGE) revisto para 2019, o executivo<br />
prevê uma taxa de inflação<br />
(a 12 meses) de 15%, tal como<br />
se previa do documento original,<br />
aprovado em 14 de dezembro de<br />
2018. Em 2016, a inflação em Angola<br />
(12 meses) chegou a 41,12%,<br />
em 2017 desceu para 23,67%, e<br />
fechou 2018 nos 18,60%.<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 23
POLÍTICA<br />
AOS NOVOS MEMBROS DO COMITÉ CENTRAL<br />
LÍDER DO MPLA APELA<br />
AO COMPROMISSO MORAL<br />
O MPLA realizou recentemente um congresso extraordinário (o VII na sua história)<br />
e com ele foi cumprido o seu objectivo principal: alargar a composição do Comité<br />
Central,e, com algumas surpresas, fizeram-se eleger 134 membros que passam a<br />
engrossar um órgão agora composto por 497 membros. O Presidente do partido, João<br />
Lourenço, deixou orientações claras , no sentido de se engajarem "no combate à corrupção<br />
e à impunidade" e ao processo de maior abertura democrática que se está a<br />
consolidar no país, onde os princípios como a liberdade de imprensa, de pensamento,<br />
de expressão e de manifestação devem ser respeitados<br />
Fotos: Arquivo F&N<br />
24 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
POLÍTICA<br />
Para si, os novos dirigentes<br />
não deverão<br />
esperar encontrar "regalias,<br />
facilidades e<br />
privilégios"."Ser membro<br />
do Comité Central<br />
exige mais trabalho, mais responsabilidade,<br />
melhor conduta social, que<br />
o Partido precisa de descobrir e de<br />
promover", alertou, congratulando-<br />
-se com o facto de o C.C. ter alcançado<br />
os 42% para o género e 61% para<br />
os jovens com idades até os 45 anos,<br />
sendo que 125 dos 134 novos membros<br />
terem formação superior.<br />
"Os eleitores votaram massivamente<br />
no MPLA, porque acreditaram<br />
que somos realmente capazes de<br />
começar a construir uma sociedade<br />
diferente, onde os que têm a responsabilidade<br />
de fazer respeitar a Constituição<br />
e a lei, sejam os primeiros a<br />
cumpri-la para que com seu exemplo<br />
eduquem toda a sociedade na necessidade<br />
do respeito pelo bem público,<br />
da necessidade de todos prestarem<br />
contas da forma como gerem o erário<br />
público que é propriedade de<br />
todos os contribuintes",lembrou o<br />
líder do partido.<br />
curso, que visam criar um verdadeiro<br />
Estado Democrático de Direito baseado<br />
no primado da lei, uma sociedade<br />
mais justa que dê às angolanas e<br />
aos angolanos, iguais oportunidades<br />
de inserção na sociedade e de sucesso<br />
na realização e concretização de<br />
seus sonhos".<br />
O 7º Congresso Extraordinário do<br />
MPLA, que decorreu em Luanda, sob<br />
o lema “MPLA e os Novos Desafios”,<br />
abordou dois grandes temas: o processo<br />
das primeiras eleições autárquicas<br />
do país, que estão previstas<br />
para 2020, e o alargamento do comité<br />
Central do partido.<br />
“<br />
Sejam os primeiros<br />
a cumprir (a Constituição)<br />
para que com seu exemplo<br />
eduquem toda a sociedade<br />
na necessidade do respeito<br />
pelo bem público, da necessidade<br />
de todos prestarem<br />
contas da forma como<br />
gerem o erário público que<br />
é propriedade de todos os<br />
contribuintes<br />
“<br />
João Lourenço recordou ainda<br />
que todo o processo de mudanças<br />
em curso no país "só pode ter sucesso<br />
se a Direcção do Partido for<br />
reforçada com camaradas realmente<br />
comprometidos com a causa das<br />
reformas políticas e económicas em<br />
BUREAU POLÍTICO DO MPLA<br />
NOVOS REFORÇOS<br />
Depois da votação dos<br />
497 membros do C.C.<br />
do MPLA, realizou-se<br />
uma reunião deste<br />
órgão para eleger 72<br />
membros do Bureau Político, no culminar<br />
da qual o até então Secretário<br />
para a Informação, Paulo Pombolo,<br />
conseguiu obter 427 dos 460 votos<br />
válidos, consagrando-se assim como<br />
o novo Secretário- Geral do MPLA .<br />
O anterior Secretário-Geral do<br />
MPLA, Boavida Neto , continua a ser<br />
membro do BP, onde também entraram<br />
jovens quadros do partido, tais<br />
como Vera Daves, actual Secretária<br />
de Estado do Orçamento e Tesouro, e<br />
o Governador Provincial de Luanda,<br />
Sérgio Luther Rescova. Destacável<br />
também foi a ascenção do jornalista,<br />
escritor e professor universitário Dr.<br />
Albino Carlos, eleito para exercer<br />
o cargo de Secretário do Bureau<br />
Político para a Informação.<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 25
FIGURA DO MÊS<br />
MÁRCIA FERRANDEZ<br />
UMA DANÇARINA<br />
COM ATITUDE NO MUNDO<br />
CRIATIVO DA MODA<br />
A dar cartas no mundo da<br />
moda angolana, a antiga<br />
dançarina Márcia Ferrandez<br />
aponta a formação<br />
como a melhor via para o<br />
perfecionismo. Em exclusivo<br />
a Figuras&Negócios,<br />
Márcia Ferrandez fala do<br />
seus dia-a-dia e dos seu<br />
projectos no mundo da<br />
moda no país<br />
Textos: Venceslau Mateus<br />
Figuras&Negócios<br />
(F&N) - Da dança para<br />
o mundo da moda.<br />
Sente-se, profissionalmente,<br />
uma criadora<br />
realizada?<br />
Márcia Ferrandez (M&F)- Os<br />
objectivos de hoje são diferentes dos<br />
de ontem. Não poderei dizer realizada,<br />
pois o ser humano enquanto vive<br />
nunca termina nada, quer sempre<br />
mais e mais. Profissionalmente, já<br />
realizei alguns sonhos.<br />
F&N - Quando e por que mergulhou<br />
no mundo da moda?<br />
M&F –Desde muito cedo que<br />
cultivo uma paixão por moda. Gostava<br />
de refazer as minhas roupas, e a<br />
paixão foi aumentando mais e mais<br />
quando me tornei bailarina, porque<br />
fazíamos as próprias roupas para os<br />
shows, e era com todo prazer. O meu<br />
pai ofereceu-me uma máquina de<br />
costura industrial, motivou-me mui-<br />
to, razão pela qual em 2016 decidi<br />
fazer a minha marca, e fazer aquilo<br />
que gosto, moda. Entrei para fazer a<br />
diferença. O difícil não é fazer, o difícil<br />
é ser diferente (....), pois, quando<br />
se faz algo, deve ser com diferença.<br />
Há muita gente que faz. A questão<br />
não é fazer, mas, sim, ser diferente.<br />
F&N - Quais são as características<br />
das suas colecções?<br />
M&F - Normalmente, tentamos<br />
expor cores jovens, vivas, expressivas<br />
que evoquem sentimentos alegres.<br />
Esse tem sido o DNA da Cincocores.<br />
F&N – Que análise faz das iniciativas<br />
que acontecem no país<br />
destinadas a promover os criadores<br />
e os seus produtos?<br />
M&F - O objectivo deveria ser diferenciar<br />
o nosso trabalho, para assim<br />
criar o nosso próprio estilo que<br />
crie tendência. Também é verdade<br />
que têm servido de alavanca para<br />
muitos jovens criadores. Portanto,<br />
são bem-vindas e devem continuar a<br />
ser promovidas para o bem da cultura<br />
angolana, em particular do mundo<br />
da moda angolana.<br />
F&N - Onde sente mais dificuldade<br />
para fazer o seu trabalho<br />
diariamente?<br />
M&F -A parte empresarial é a<br />
mais difícil, porque encontramos<br />
muitas travas e barreiras burocráticas<br />
desnecessárias. Para as empresas<br />
pequenas fica pesado.<br />
F&N - Um dos grandes handicaps<br />
dos criadores angolanos está<br />
relacionado com a matéria-prima.<br />
Em que mercados recorre para ter<br />
os seus cestos sempre cheios com<br />
material para trabalhar?<br />
M&F -Temos importado os tecidos<br />
e complementos da Espanha.<br />
F&N - Em função das dificuldades<br />
ligadas à matéria-prima, o<br />
mercado nacional também se recente<br />
com a falta de recursos humanos<br />
qualificados. Como supera<br />
este deficit para levar a cabo o seu<br />
trabalho e com a qualidade desejada?<br />
M&F -A base de paciência e formação.<br />
A formação é fundamental<br />
em qualquer segmento da sociedade.<br />
Dá as bases para que se possa levar<br />
em diante todo e qualquer projecto<br />
em carteira.<br />
F&N - Compensa o binómio<br />
preço/qualidade, tendo em conta<br />
o que gasta para produzir uma<br />
peça?<br />
M&F - Contrariamente ao que as<br />
pessoas possam pensar, os custos de<br />
produção em Angola são altos. Mas<br />
se quiser oferecer qualidade, no entanto,<br />
compensa.<br />
F&N - Que avaliação faz do<br />
mercado da moda em Angola?<br />
M&F - O mercado angolano está<br />
a crescer cada vez mais, apesar de algumas<br />
dificuldades, particularmente<br />
pela falta de uma indústria de apoio<br />
aos criadores, a fim de criarem e<br />
trabalharem ao mais alto nível. Mas<br />
também devo reconhecer que há um<br />
grupo muito grande, muitos criadores<br />
com vontade de fazer e que até<br />
têm possibilidade de actuar. A moda<br />
não é acordar e dizer que sou estilista<br />
ou criador. Acordámos, temos<br />
26 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
FIGURA DO MÊS<br />
Foto: Márcia Ferrandez<br />
de pensar, temos de montar um<br />
plano de trabalho e, acima de tudo,<br />
devo também realçar que o talento<br />
joga papel muito grande. Se alguém<br />
não sabe desenhar, não entende de<br />
moda, não tem um estudo feito sobre<br />
a matéria, fica complicado navegar<br />
nesta arte.<br />
É isso de que o mercado angolano<br />
precisa neste momento. Cada<br />
criador deve parar e pensar no que<br />
vai fazer de diferente, o que vai mostrar,<br />
visto que é aí onde as coisas não<br />
encaixam bem. Contudo, está-se a<br />
trabalhar e devem-se dar os parabéns<br />
às pessoas com vontade e motivação<br />
de fazer mais e melhor.<br />
“<br />
Desde muito cedo<br />
que cultivo uma paixão por<br />
moda. Gostava de refazer<br />
as minhas roupas, e a paixão<br />
foi aumentando mais<br />
e mais quando me tornei<br />
bailarina, porque fazíamos<br />
as próprias roupas para os<br />
shows, e era com todo prazer.<br />
O meu pai ofereceu-me<br />
uma máquina de costura<br />
industrial, motivou-me<br />
muito, razão pela qual em<br />
2016 decidi fazer a minha<br />
marca, e fazer aquilo que<br />
gosto, moda. Entrei para<br />
fazer a diferença<br />
“<br />
F&N - O que se produz no país,<br />
em termos de moda, tem a qualidade<br />
necessária e desejada para<br />
competir no mercado internacional?<br />
M&F -Tem sim. Temos actualmente<br />
criadores que são bastante<br />
apreciados fora do país. Com mais<br />
trabalho e mais investimentos podemos<br />
subir mais alto.<br />
F&N - Até que ponto a falta de<br />
uma escola de formação tem prejudicado<br />
o vosso trabalho?<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 27
FIGURA DO MÊS<br />
“LA ATITUDE”:<br />
A MAIS RECENTE MARCA<br />
Trata-se da colecção Primavera<br />
Verão 2019<br />
para o lançamento<br />
da sub-marca “LA<br />
ATITUDE” do Grupo<br />
Cincocores. É inspirada<br />
em celebrar singularidade e<br />
reflexão. Nesta temporada, a criadora<br />
olha para dentro; mergulha<br />
num extenso arquivo e criamos<br />
uma colecção de coisas que<br />
ama fazer. Nela, o público observa<br />
uma mistura de clássicos<br />
e elementos que são icónicos<br />
para a marca, acentuados por<br />
actualizações contemporâneas<br />
e alternativas.<br />
A história de cores<br />
primárias apresenta uma<br />
paleta de branco, ferrugem,<br />
caçadores verde, menta,<br />
tons de azul, rosa e bege,<br />
acentuados com tons de<br />
preto e marinho. Usamos<br />
o eterno favorito, 100%<br />
algodão genuíno, bem<br />
como luxuoso e ecoconsciente<br />
100% tênsil.<br />
Destaca também a renda<br />
espanhola, chiffon, Setin<br />
Leve, Selda Selvagem, variedade<br />
de Tuli, acessórios como<br />
Missangas e pedras cristalinas.<br />
As silhuetas nesta colecção<br />
variam de acessível a avant-<br />
-garde e são espontâneos e<br />
em camadas de uma forma<br />
que se sente complexo, mas<br />
com um acabamento mínimo que<br />
equilibra os adornos e elementos<br />
funcionais. Todos os looks são estilizados<br />
como correspondência total,<br />
define a cor e o tecido. Procura<br />
criar com a colecção um senso de<br />
familiaridade, injectado com a<br />
frescura e relevância do que está<br />
a acontecer globalmente nestes<br />
tempos emocionantes.<br />
Foto: Platina Line<br />
M&F - Muito, é um problema estrutural a resolver.<br />
F&N - Para se entrar no mundo da moda é<br />
assim tão necessária uma formação nesta vertente<br />
ou é dispensável, bastando, para tal, ser-se<br />
autodidacta?<br />
M&F -Fica mais simples tendo a formação para<br />
o efeito, mas nada é impossível.<br />
F&N - Para além do mundo da moda, quem é<br />
e como é a Márcia Ferrandez fora dos holofotes?<br />
M&F -Sou uma pessoa normal, sou mulher, sou<br />
mãe, sou esposa.<br />
F&N - Que projectos está a desenvolver fora<br />
do mundo da moda?<br />
M&F - A moda me absorve quase 100%, mas a<br />
minha outra paixão é a maquilhagem que o tenho<br />
feito devagarinho.<br />
PERFIL BIOGRÁFICO<br />
Márcia Ferrandez nasceu aos<br />
04 de Setembro de 1989,<br />
no município da Ingombota,<br />
em Luanda. É casada e<br />
mãe de um filho. Formada<br />
em Contabilidade Financeira<br />
pela Universidade Jean Piaget de Luanda-<br />
-Angola.<br />
Começou a carreira como bailarina e<br />
durante 15 anos trabalhou com vários artistas<br />
como Yuri da Cunha, Celma Ribas, Michelle<br />
Divoi, Armi Squad, Heavy C, Tatiana Durão,<br />
Yola Araújo, Dream Boy, Teenover, C4 Pedro,<br />
Big Nelo, entre outros. Foi durante três anos<br />
bailarina de palco do programa Jovemania da<br />
TPA 1. Márcia Ferrandez também fez parte<br />
do grupo de dança as Dádivas, com o qual<br />
apresentou-se em grandes palcos nacionais e<br />
internacionais.<br />
Em 2016, decidiu realizar um sonho de<br />
criança, o de se tornar estilista. Abandonou<br />
a dança e mergulhou no mundo da moda,<br />
lançando a marca Cincocores. Uma marca jovem<br />
e totalmente feminina.Em 2019, a agora<br />
estilista angolana decide ampliar o projecto<br />
e adiciona a Cincocores, uma submarca “La<br />
Atitude” que é uma marca<br />
também voltada para o<br />
feminino, mas com um<br />
padrão mais alto, elegante<br />
e clássico.<br />
28 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
MAHEZU<br />
Por: Carmo Neto<br />
LUGAR DO TEMPO<br />
Éramos finalistas da primeira oitava classe do Liceu Sagrada Esperança,aos catorze anos de<br />
idade,quando deixamos Malanje,sem pagamento de propinas,por conta do Ministério da<br />
Educação,pela primeira vez num avião que baloiçava,a rasgar o céu.Tinha o coração aos<br />
pulos.Amparávamos o passado a contar anedotas.Líamos o Jornal de Angola que naquele<br />
dia coincidentemente trazia uma reportagem sobre a vida de uma rainha europeia.Mas<br />
da nossa rainha Ginga sepultada no solo malangino,nem sequer o local conhecemos.Os<br />
jornais angolanos nunca visitaram o túmulo da rainha Ginga.<br />
Falávamos do professor de matemática de passo lento,fala mansa,do alto do púlpito arrastava<br />
os pés.Por cada prova numa turma apenas dois a cinco estudantes preenchiam notas positivas.Não o<br />
alcunhamos,uma excepção,porque seu nome já era cómico.Nunca descobrimos a razão dos serviços<br />
notariais se terem distraído tanto e deixaram acontecer!<br />
Enquanto o avião baloiçava enchíamos o espaço com sonoras gargalhadas até que o David com a<br />
costa da mão a reduzir a sonoridade do riso alertou-nos que iríamos aterrar.E aconteceu.Mais surpresos<br />
ficamos a caminho do local que nos alojaria.A cidade de Benguela surpreendia-nos.Parecia não ter<br />
sido visitado pela guerra,naquele ano de mil novecentos e setenta e oito.<br />
O céu azul de Benguela recordava-nos os dias de paraíso na lagoa bar,em Malanje, ou sentados,na<br />
escola preparatória Marques de Pombal.Pelas ruas da cidade sentíamos o acolhimento como em casa<br />
da tia Carolina,lá do bairro Ritondo,mãe de muitos filhos,gerados pelo seu ventre e dos outros que<br />
viviam debaixo das nuvens sem tecto.Tinha um coração do tamanho do mundo.Naquele tempo as mães<br />
eram tutoras de muitos filhos,dos seus e dos outros.Os bandos de pássaros aguçavam nossa imaginação<br />
com a fisga nas mãos.No interior do mini autocarro com à noite a crescer parecíamos engaiolados;<br />
característica do tempo das madrugadas cheias de sons proibidos,por causa do recolher obrigatório.<br />
Lençóis da cor do algodão,quartos de banho perfumados,cozinha com ementa.Fomos assim recebidos.Nosso<br />
colega João de mínimas falas tecia elogiosos comentários sobre o Instituto Normal de Educação<br />
do Lobito.De repente aquilo já não era um só a falar.Todos queriam opinar.Gerava-se um clima<br />
de alegria.Os colegas de Malanje apresentavam-se aos outros do Huambo,Benguela,Moxico e outras<br />
províncias.Um surto de risos ouvia-se espontaneamente no local.O director do instituto cedo percebeu<br />
que os colegas já faziam saltar os olhos sobre as meninas,quando encaminhou-nos para os quartos.<br />
Diferentes espaços da cidade do Lobito,a pastelaria Áurea era o nosso local de frequência,durante<br />
os primeiros meses,sentados logo à entrada.No início não falávamos pra ninguém.Depois que o Lau<br />
travou conhecimento com os clientes habituais da Pastelaria Áurea conheceu a Lola Kaloputu.Ai aquela<br />
gaja(ja),meu Deus!...Lobitanga da Kaponte ,nunca mais saiu de lá.E eu jamais esqueci Benguela,João do<br />
Moxico também, até um dia nos terem anunciado a morte do Briffel.<br />
Excepcional estudante, foi embora pra outro mundo.Decidimos viajar pra Luanda como estudantes<br />
internos do São José do Cluny com o guarda chuva do Ministério da Educação.Nada era subtraído dos<br />
bolsos dos nossos tutores.<br />
Lá conhecemos,algum tempo depois,um garboso comissário político em Luanda.Desenhava-nos no<br />
seu discurso a glória de sermos pilotos pra blindar a liberdade do ensino gratuito.Suas palavras desbravavam<br />
a vida como um lençol branco estendido sobre a cama.E a Eva não resistiu,mesmo com carnes<br />
quase a rasgarem suas roupas,de tão gorda que era,queria ingresso,pra aviação militar.<br />
Anos passados, numa manhã de sábado, eu e o Timóteo cruzamos o mesmo caminho diante do São<br />
José do Cluny.Falamos da malta toda.O sobrinho que lhe acompanhava admirado questionou: -Afinal<br />
aquele governador também esteve aqui no vosso tempo de estudante?<br />
Confirmamos a dúvida. Quis eu também saber do paradeiro da Xica,antiga namorada do Xavier?<br />
-Desde que o chefe roubou-lhe a namorada anda às apalpadelas pelas ruas da cidade.Ela está gorda.<br />
Corre às vezes na marginal,respondeu.<br />
- E o Sousa?<br />
-Depois de concluir o curso de medicina na Europa esteve cá.Foi embora.É director de uma clínica lá.<br />
Quando o tio falava, o sobrinho espiava o rosto, a tentar descobrir algum facto e perguntou se havia<br />
cumprido serviço militar obrigatório.Disse-lhe que sim.Insistente, quis saber se viajávamos fora do<br />
país.Eu e o Timóteo respondemos ao mesmo tempo:<br />
-Sim.Com seiscentos dólares!...<br />
O rapaz explodiu com gargalhadas.<br />
-Também sonhávamos,acrescentei. Um colega nosso quis ser astronauta.Faleceu durante o treino<br />
de voo num Mig . O SONHO TAMBÉM MORRE.O homem se fisgou com Mig/mãe também se evaporou/<br />
perdida na rosa-dos-ventos.<br />
MAHEZU,ngana!<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 29
SOCIEDADE<br />
Fotos: Arquivo F&N<br />
LUÍSA ROGÉRIO NA COMISSÃO EXECUTIVA<br />
DA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE JORNALISTAS<br />
ANGOLA COM VOTO<br />
IMPORTANTE NA FIJ<br />
O jornalismo angolano acaba de ganhar um importante assento no contexto da defesa<br />
da liberdade de imprensa mais global, com a eleição de uma das suas mais prestigiadas<br />
figuras a membro da Comissão Executiva da Federação Internacional de Jornalistas<br />
(FIJ), no decorrer do 30º Congresso que se realizou recentemente na Tunísia<br />
30 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
SOCIEDADE<br />
Trata-se de Luísa Rogério<br />
que junta-se a um<br />
grupo muito restrito de<br />
jornalistas (15) que, à<br />
escala mundial, estabelece<br />
e implementa, permanentemente,<br />
todas as estratégias<br />
relacionadas com a promoção da liberdade<br />
de imprensa, direitos humanos,<br />
direitos trabalhistas, democracia,<br />
combate à corrupção e à pobreza.<br />
Angola marca assim o seu espaço<br />
através de uma profissional que ao<br />
longo da sua carreira tem revelado<br />
excelentes predicados de natureza<br />
ética e moral. Dela, a classe jornalística<br />
pode esperar mais trabalho e uma<br />
boa representatividade na organização<br />
mundial que representa mais de<br />
500.000 jornalistas de cerca de 100<br />
países.<br />
É já conhecida a intensa trajectória<br />
de Luísa Rogério no movimento<br />
sindical angolano, especialmente no<br />
quadro da existência do Sindicato<br />
dos Jornalistas Angolanos (SJA), cuja<br />
direcção actual fez questão de homenageá-la<br />
publicamente, por ocasião de<br />
uma conquista que a todos angolanos<br />
deve orgulhar, inclusive ao próprio<br />
Presidente da República que, note-se,<br />
de imediato publicou uma mensagem<br />
na sua conta pessoal do Twitter, desejando<br />
êxitos nas novas funções da<br />
jornalista.<br />
Aliás, a eleição teve uma particularidade<br />
notável: é que é a primeira<br />
vez que um jornalista angolano integra<br />
a Comissão Executiva da FIJ, como<br />
titular. De acordo com uma nota de<br />
imprensa do Sindicato dos Jornalistas<br />
Angolanos, divulgada a propósito,<br />
"além de Angola, outros dois países de<br />
expressão portuguesa, Brasil e Portugal,<br />
elegeram igualmente representantes,<br />
sendo outro facto inédito na história<br />
da organização, fundada em 1906".<br />
"O Congresso de Túnis ficará também<br />
na história por assistir pela primeira<br />
vez a chegada de um africano<br />
ao cargo de presidente da FIJ, o marroquino<br />
Younes Mjahed, que durante<br />
longos anos exerceu a função de vice-<br />
-presidente da associação", revelou o<br />
comunicado do SJA.<br />
O QUE É A FIJ? - A Federação Internacional<br />
de Jornalistas (FIJ ou IFJ,<br />
na sigla em inglês) é uma federação<br />
mundial de sindicatos de jornalistas<br />
- actualmente, a maior do mundo. Foi<br />
fundada em 1926 e relançada duas<br />
vezes: em 1946 e 1952.<br />
“<br />
É já conhecida a intensa<br />
trajectória de Luísa Rogério<br />
no movimento sindical<br />
angolano, especialmente<br />
no quadro da existência<br />
do Sindicato dos Jornalistas<br />
Angolanos (SJA), cuja direcção<br />
fez questão de homenageá-la<br />
publicamente, por<br />
ocasião de uma conquista<br />
que a todos angolanos deve<br />
orgulhar, inclusive ao próprio<br />
Presidente da República<br />
que, note-se, de imediato<br />
publicou uma mensagem na<br />
sua conta pessoal do Twiter,<br />
desejando êxitos nas novas<br />
funções da jornalista<br />
“<br />
De acordo com a Wikipédia, na<br />
época da Guerra Fria (1945-1989),<br />
a FIJ era a entidade que defendia os<br />
interesses dos jornalistas de países<br />
capitalistas, contra a Organização<br />
Internacional dos Jornalistas, que<br />
abrigava os sindicatos de países socialistas.<br />
Com sede em Bruxelas,<br />
na Bélgica, a FIJ alega "não aderir a<br />
nenhum ponto de vista político específico"<br />
mas também declara ser "a<br />
organização que dá voz aos jornalistas".<br />
Faz-se notar que a adesão plena<br />
à FIJ é aberta apenas a sindicatos de<br />
jornalistas, mas outras entidades<br />
ligadas a jornalistas ou à liberdade<br />
de imprensa podem ser admitidas<br />
como membros associados.<br />
Importa salientar que, desde<br />
1994, a FIJ publica um relatório<br />
anual que documenta casos de assassinatos<br />
de jornalistas e funcionários<br />
de veículos de mídia. A entidade,<br />
revela-se no website, "usa a informação<br />
para fazer campanha por maior<br />
segurança para jornalistas, particularmente<br />
repórteres locais e freelancers,<br />
e equipas de apoio que carecem<br />
de recursos para se protegerem em<br />
zonas de conflito".<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 31
REPORTAGEM<br />
CABRAIS, O ALBERGUE POSSÍVEL PARA AS VÍTIMAS DAS CHEIAS EM BENGUELA<br />
DRAMA DA POBREZA<br />
VISTO DE UM CENTRO<br />
DE SAÚDE<br />
A região que recebeu os cerca de dois mil sinistrados daquela que é tida como a maior<br />
enxurrada das últimas décadas ganhou uma unidade sanitária, ainda que por equipar,<br />
mas as queixas face aos sinais de penúria suplantaram a festa. Quando várias famílias<br />
preferem regressar às antigas zonas, colocando as vidas em risco, parece tudo dito. Organizações<br />
internacionais, como a USAID e a ADPP, constataram o drama<br />
Texto e Fotos: João Marcos - Em Benguela<br />
32<br />
Figuras&Negócios - Nº 200 - MAIO 2019
REPORTAGEM<br />
Resultado da fusão de<br />
terrenos agrícolas,<br />
a localidade dos Cabrais,<br />
onde se encontram<br />
as vítimas das<br />
cheias de Março de<br />
2015 em Benguela, voltou a ser vista<br />
no mapa de Angola aquando da<br />
inauguração, recentemente, de um<br />
centro de saúde, num acto que descortinou<br />
dramas motivados pela falta<br />
de alimentos, electricidade, água e<br />
transporte.<br />
À chegada dos financiadores, a<br />
Agência Americana para o Desenvolvimento<br />
Internacional (USAID), Associação<br />
das Companhias Exploradoras<br />
de Petróleo de Angola (ACEP)<br />
e ADPP, ouviu-se um grito de satisfação<br />
pelos indicadores de melhorias<br />
na saúde, mas cedo se percebeu que<br />
este sentimento acabou diluído nas<br />
denúncias relativas a condições que<br />
forçam a fuga de famílias.<br />
Quem sobreviveu a enxurradas<br />
que provocaram cerca de 70 mortos,<br />
principalmente no Lobito, prefere,<br />
segundo relatos captados pela nossa<br />
reportagem, regressar às chamadas<br />
zonas de risco, de onde o Governo<br />
Provincial tenciona retirar centenas<br />
de famílias, prevendo que venham a<br />
ser construídas mil e setecentas casas<br />
sociais.<br />
Fixado em 350 há quatro anos,<br />
no calor da agitação própria de um<br />
complexo processo de mudança, o<br />
número de famílias sinistradas à espera<br />
de casas nos Cabrais, entre 50<br />
a 80 quilómetros do Lobito e Catumbela,<br />
está, portanto, a baixar.<br />
‘’Estamos mal, não há casas,<br />
muitos já não vivem aqui por causa<br />
do sofrimento’’, conta a jovem Silvina<br />
Cassinda, na primeira resposta<br />
às perguntas sobre o modo de vida<br />
numa região que ‘’não consegue esconder’’<br />
o espectro de abandono.<br />
As mães, prossegue Cassinda, vão<br />
às matas cortar pau para fazer carvão,<br />
muito por conta da falta de um<br />
mercado.<br />
‘’As tendas estão estragadas, continuamos<br />
a pedir que o Governo acabe<br />
as nossas casas. Muitos voltaram<br />
Representantes da ADPP, USAID e ACEP<br />
e o governador no local do drama<br />
“<br />
Quem sobreviveu a<br />
enxurradas que provocaram<br />
cerca de 70 mortos,<br />
principalmente no Lobito,<br />
prefere, segundo relatos<br />
captados pela nossa reportagem,<br />
regressar às chamadas<br />
zonas de risco, de onde<br />
o Governo Provincial tenciona<br />
retirar centenas de<br />
famílias, prevendo que venham<br />
a ser construídas mil<br />
e setecentas casas sociais<br />
“<br />
para as zonas de risco, também porque,<br />
às vezes, não há comida’’, lamenta,<br />
a escassos metros, outra senhora,<br />
Domingas Daniel.<br />
A estes relatos, junta-se o de<br />
Manuel Domingos, um cidadão que<br />
alerta para o perigo vigente numa<br />
área assolada já pela malária, doenças<br />
diarréicas agudas e respiratórias<br />
e a sarna. ‘’A minha tenda, por<br />
exemplo, está rota, as famílias estão<br />
a sofrer. Sem luz, sem mosquiteiros,<br />
há muita cobra perigosa. O Governo<br />
tem de ver o problema das nossas<br />
casas’’, solicita.<br />
Tempo de estratégias para o<br />
dia seguinte - Inaugurado o centro<br />
de saúde, a USAID, segundo Julie<br />
Nenon, olha já para os desafios do<br />
amanhã, que passarão pelo apetrechamento,<br />
a cargo, como definido,<br />
do Governo Provincial de Benguela.<br />
Daí que a representante da agência<br />
americana tivesse falado em fase<br />
número três, para a qual as autoridades<br />
locais terão de levar as mãos aos<br />
bolsos, sem que, no entanto, se exclua<br />
a contribuição dos seus parceiros.<br />
‘’Nada impede a participação de<br />
organizações não governamentais e<br />
do sector privado. Esta infra-estrutura<br />
precisa de algo mais’’, vinca Julie.<br />
Na sua intervenção, o governa-<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 33
REPORTAGEM<br />
dor provincial, Rui Falcão, destacou<br />
a importância do centro de saúde,<br />
momentos antes de ter garantido<br />
dias melhores para os sinistrados,<br />
a começar pela energia, agora que<br />
Benguela é abastecida já pelo sistema<br />
norte.<br />
‘’Já posso dizer que conseguimos<br />
recursos financeiros para o problema<br />
da água’’, anunciou o governante,<br />
sem ter feito qualquer referência à<br />
problemática das famílias ainda em<br />
tendas e obras por concluir, desprovidas<br />
de cobertura.<br />
A unidade sanitária, orçada em 1<br />
milhão de dólares americanos pode<br />
internar 25 pacientes, contando com<br />
dois blocos, para urgência e saúde<br />
reprodutiva.<br />
Do ‘’coração’’ da metrópole<br />
ao ponto da tragédia - Falar dos<br />
Cabrais, uma localidade administrativamente<br />
ligada à Catumbela, mas<br />
‘’presa’’ ao Lobito por força da geografia,<br />
é falar, se quisermos, das bases<br />
para o projecto metropolitano de<br />
Benguela, desenhado pelo anterior<br />
governador, Isaac dos Anjos.<br />
Funcionaria como ponto de partida<br />
para uma auto-estrada até à comuna<br />
do Dombe Grande (Baía Farta),<br />
passando por Benguela, numa extensão<br />
superior a 120 quilómetros.<br />
Os milhares de hectares disponíveis<br />
serviriam para unidades de<br />
“<br />
Já posso dizer que<br />
conseguimos recursos<br />
financeiros para o problema<br />
da água’’, anunciou o<br />
governante, sem ter feito<br />
qualquer referência à<br />
problemática das famílias<br />
ainda em tendas e obras<br />
por concluir, desprovidas<br />
de cobertura<br />
“<br />
produção industrial e empresas geradoras<br />
de postos de trabalho. Tudo,<br />
como agora se vê, desenhado em<br />
nome de um projecto de referência<br />
que, quatro anos depois, acaba longe<br />
da agenda do actual governador.<br />
Aliás, Rui Falcão chegou mesmo a<br />
afirmar, após a cerimónia de troca de<br />
pastas, que analisaria a viabilidade<br />
da iniciativa antes de qualquer passo<br />
rumo à materialização.<br />
Incógnita à parte, certo é que várias<br />
famílias optam por deixar o ‘’paraíso<br />
imaginário’’ para o regresso às<br />
antigas moradias, nas chamadas zonas<br />
de risco, afectadas pelas chuvas<br />
do passado mês de Março.<br />
Basta sublinhar que as mais de<br />
doze mortes e o rasto de destruição<br />
fizeram soar o alarme, tendo o Governo<br />
central, que deverá financiar<br />
as casas para os cidadãos que saírem<br />
destas zonas, enviado um batalhão<br />
de ministros, chefiado pelo vice-<br />
-presidente da República, Bornito de<br />
Sousa.<br />
Na localidade dos "Cabrais" os visitantes constataram a realidade carente da população<br />
34 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
MUNDO REAL<br />
Por: Suzana Mendes<br />
MUDANÇAS CLIMÁTICAS E<br />
OS DESAFIOS DO PRESENTE E DO FUTURO<br />
O<br />
efeito das mudanças climáticas é um grande desafio para o mundo actual pelas<br />
graves consequências no contexto actual e para as gerações futuras. Mudanças de<br />
temperatura, precipitação, nebulosidade e outros fenómenos climáticos preocupam<br />
uma vez que vêm se alterando em relação às médias históricas.<br />
Processos naturais e o impacto da acção do homem na natureza estão na base<br />
das mudanças climáticas. Diante do consenso da comunidade científica quanto<br />
ao aumento da temperatura na Terra, a ONU aprovou a Convenção Quadro sobre as Mudanças<br />
Climáticas Globais, subscrita pelos chefes de estado reunidos no Rio de Janeiro durante a Rio-92.<br />
Sete anos depois, em 1997, como a recomendação da Convenção para que os países desenvolvidos<br />
reduzissem as suas emissões não estava sendo cumprida, foi aprovado, dentro do seu marco jurídico,<br />
um novo instrumento – o Protocolo de Quioto, para estabelecer prazos e metas obrigatórias.<br />
No caso de Angola para além de outras preocupações ligadas as mudanças climáticas, temos a<br />
questão do impacto no Grande Ecossistema Marinho da Corrente de Benguela onde se registaram<br />
mudanças com realce para o aquecimento das águas superficiais do mar nas fronteiras norte e sul<br />
do sistema nas últimas décadas, também houve indicações durante o mesmo período de resfriamento<br />
nas áreas costeiras ao longo das costas oeste e sul da África do Sul, que podem ser resultado<br />
de aumentos nos ventos que geram ressurgência como se pode ler no documento do projecto<br />
de “Aumento da Resiliência às mudanças climáticas<br />
no Sistema de Pescas da Corrente de Benguela”,<br />
que está a ser implementado pela Convenção da<br />
Corrente de Benguela.<br />
As mudanças climáticas têm impacto negativo<br />
para as comunidades de pescadores que trabalham<br />
na referida zona sendo que uma das preocupações<br />
mais relatadas é a diminuição dos índices de captura<br />
do pescado, uma situação que afecta a renda<br />
das famílias que vivem da pesca.<br />
Devido a esta questão é necessário que sejam<br />
tomadas medidas para dar resposta ao impacto<br />
das mudanças climáticas. O projecto “Aumento da<br />
Resiliência às mudanças climáticas no Sistema de<br />
Pescas da Corrente de Benguela”, que está a ser<br />
implementado pela BCC com o apoio de Angola,<br />
Namíbia e África do Sul e com o suporte do Fundo Global para o Ambiente e a Organização das<br />
Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) é uma importante iniciativa neste sentido.<br />
O objectivo desta iniciativa é construir resiliência e reduzir a vulnerabilidade às alterações climáticas<br />
dos sectores de pesca marinha e maricultura no Grande Ecossistema Marinho da Corrente<br />
de Benguela através da implementação de estratégias de adaptação para garantir a segurança<br />
alimentar e de subsistência.<br />
Iniciativas como estas são importantes por permitirem dar resposta a um problema concreto.<br />
O ecossistema da Corrente de Benguela pela sua riqueza e extensão é de grande importância daí<br />
que os três países que partilham este ecossistema (Angola, Namíbia e África do Sul) se tenham<br />
unido para garantir a protecção das espécies e apoiar também as comunidades que vivem nesta<br />
zona.<br />
É importante abordar estas questões ligadas as mudanças climáticas na Corrente de Benguela<br />
pois é preciso aumentar a consciencialização a nível local, nacional e regional sobre a importância<br />
de abordagens multissectoriais para adaptação e aumento da resiliência aos impactos climáticos,<br />
com enfoque especial na pesca e a aquicultura. O envolvimento das comunidades das zonas<br />
costeiras neste processo garante que todo o trabalho tenha em conta a perspectiva daqueles que<br />
lidam diariamente com o problema das mudanças climáticas.<br />
Ao mesmo tempo é importante que sejam feitas pesquisas para se acompanhar o impacto das<br />
mudanças climáticas na região e como as populações estão a responder a esta realidade que preocupa<br />
cada vez mais não apenas os governos mas a sociedade em geral.<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 35
36 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 37
FIGURAS DE CÁ<br />
AUGUSTO TOMÁS<br />
HORA DA VERDADE<br />
Fotos: Arquivo Figuras & Negócios<br />
O antigo ministro dos Transportes, Augusto Tomás, que começou<br />
a ser interrogado pelo Tribunal Supremo (TS), disse, durante uma<br />
sessão de julgamento, que foi detido sem saber porquê e que só está<br />
a ser julgado por ter desmantelado redes de mafiosos no Aeroporto e<br />
no Porto de Luanda.<br />
"As pessoas aqui apanhavam os aviões e saiam do País sem respeitar<br />
as regras e eu pus fim a isso. Foi necessário tomar medidas bastantes<br />
duras, e é lógico, deixei cair 12 companhias aéreas de ministros e<br />
generais", disse Augusto Tomás, acrescentando que está a ser julgado<br />
por existirem outros contornos devido às suas decisões enquanto<br />
titular de um cargo no aparelho do Estado.<br />
"Foi necessário também, nessa altura, tomar medidas para reverter<br />
as situações anormais que havia no Aeroporto de Luanda e impedir<br />
que algumas pessoas fossem com as suas viaturas até aos aviões",<br />
afirmou ainda o ex-governante que, citado pelo Novo Jornal, acrescentou<br />
que "Havia um congestionamento portuário de cerca de 90<br />
navios encalhados no porto de Luanda, com despesas diárias de 25<br />
mil dólares, despesas essas avaliadas em mais de 2,5 mil milhões<br />
dólares anuais, dinheiro que não se revertia para a população".<br />
SALÚ GONÇALVES<br />
"OU É... OU NÃO É!..."<br />
Todos os dias úteis, ele entra-nos pela casa<br />
adentro e revela-nos dados sobre o nosso<br />
quotidiano, sob todas as formas e feitios.Salú<br />
Gonçalves é, sem dúvidas, o "homem televisão"<br />
do momento, que espelha, através de<br />
um trabalho de equipa, o rigor da informação<br />
transmitida com verdade.<br />
Por isso, está hoje na boca do mundo e<br />
vai-se transformando numa figura pública<br />
proeminente, devido ao seu talento puro<br />
de comunicador nato, aliás com méritos já<br />
reconhecidos na nossa praça. Ele reforça a<br />
sua credibilidade profissional, agora pela TV<br />
Zimbo, no programa "Fala Angola", provavelmente<br />
o que mais tem audiência no país das<br />
Tv's. A receita é eficaz: o programa surgiu<br />
em boa hora para defender os interesses dos<br />
mais carenciados. Há que seguir-lhe o exemplo,<br />
sim senhor!<br />
38 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
FIGURAS DE CÁ<br />
JOSÉ PATROCÍNIO<br />
CIDADANIA EXEMPLAR<br />
O activista José Patrocínio partiu para a eternidade,mas<br />
nunca é demais relembrar os seus feitos, pois marcou<br />
uma existência recheada de bons exemplos de<br />
cidadania.A Handeka refere-se a ele como "uma alma<br />
perfeitamente alinhada com os ideais que defendemos<br />
e que o fazia de forma magistral, dando voz àqueles<br />
que não a tinham". "O "Zetó" é indubitavelmente um<br />
exemplo e uma referência incontornável para todos que<br />
se preocupam e lutam por Angola. Um espírito livre,<br />
um ser humano vertical, generoso, dócil e inflexível<br />
com as injustiças que testemunhava ao seu redor"- são<br />
palavras ditas em nome de uma das muitas organizações<br />
sociais que certamente irão seguir os exemplos<br />
deixados por aquele que "dedicou toda a sua vida a<br />
semear amor, tolerância, concórdia e reconciliação e os<br />
valores que tragicamente se perderam e hoje se fala em<br />
resgatar".<br />
CAROLINA CERQUEIRA<br />
TAREFA COMPLICADA<br />
Carolina Cerqueira deixou o Ministério da Cultura,<br />
onde esteve bastante activa nos últimos tempos,<br />
sobretudo devido às acções que deverão ser implementadas<br />
no quadro da ascensão de Mbanza Kongo<br />
a Património Mundial da Humanidade, acabou por<br />
assumir muito recentemente o cargo de Ministra de<br />
Estado da Acção Social.<br />
Pelos vistos, aquela que foi uma das vozes mais<br />
brilhantes da rádio no país, mas que abraçou também<br />
com destaque a política, irá certamente ocupar-se<br />
de um pelouro bastante complicado, pois fá-lo numa<br />
altura em que o país se encontra a lutar com enormes<br />
dificuldades para sair rapidamente da crise económica<br />
e financeira. Carolina Cerqueira tem em mãos uma<br />
"pasta" que tentará a assegurar para que não se torne<br />
mais carente de recursos, pois, apesar do OGE de<br />
2019 a ter reforçado com mais uns milhões, todavia,<br />
principalmente neste momento de apertos, as migalhas<br />
nunca chegam para distribuir, com equilíbrio, por<br />
todos os cidadãos carenciados. Boa sorte!<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 39
FIGURAS DE CÁ<br />
NSOKI<br />
NO TOP DOS<br />
MAIS INFLUENTES<br />
A cantora angolana Nsoki consta da lista dos "100<br />
Jovens Africanos mais influentes com menos de 40<br />
anos" na categoria de Mídia e Cultura, distinção<br />
feita pela organização americana MIPAD.<br />
Segundo a agência angolana de notícias, a lista<br />
anual de distinção consagra 100 jovens africanos<br />
e afro-descendentes que têm tido contribuições<br />
positivas em quatro categorias (Política e Governação;<br />
Negócios e Empresariado; Religião e<br />
Humanitária e Mídia e Cultura).<br />
A distinção da MIPAD (Most Influential People of<br />
African Descent), em português "Pessoas Mais<br />
Influentes de Origem Africana", e enquadra-se na<br />
década internacional para pessoas africanas ou de<br />
descendência africana, proclamada pela Assembleia<br />
Geral das Nações Unidas pela resolução<br />
68/337 a ser observada de 2015-2024, salienta a<br />
Angop.<br />
MARIA DA PIEDADE DE JESUS<br />
GARANTIA DECONTINUIDADE<br />
A nova ministra da Cultura, Maria da Piedade de Jesus, vai dar continuidade<br />
aos projectos em diversas vertentes já estabelecidos no sector.Para já,<br />
estabeleceu como tarefas prioritárias do seu pelouro a continuidade dos<br />
trabalhos para a inscrição e classificação do Cuito Cuanavale, Tchitundo<br />
Hulo e o Corredor do Cuanza para Património Cultural Mundial,<br />
sem perder de vista a necessidade de acelerar o cumprimento das<br />
estratégias delineadas para que o mundo conheça melhor a cidade<br />
histórica de MBanza Congo, outro património universal.<br />
Note-se que o corredor do Kwanza é detentor de um vasto conjunto<br />
de riquezas patrimoniais e Tchitundo Hulo é um morro<br />
granítico situado no município de Virei, na província do Namibe,<br />
conhecido pelas pinturas rupestres da Pré-História existentes<br />
em Angola. Maria de Piedade de Jesus também pretende trabalhar<br />
com o Ministério do Ambiente para a inscrição na lista<br />
indicativa, do sítio do Okavango, que considera ser um misto<br />
natural cultural.<br />
40 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
FIGURAS DE CÁ<br />
GENERAL ZÉ MARIA<br />
PRESO EM CASA<br />
O Supremo Tribunal Militar (STM) angolano<br />
aplicou recentemente a medida de coação pessoal<br />
de prisão domiciliar ao ex-chefe do Serviço de<br />
Inteligência e Segurança Militar (SISM), general<br />
António José Maria. De acordo com o site "Africa<br />
21", "o general José Maria deverá aguardar nesta<br />
condição os ulteriores trâmites do processo", e<br />
refere, citando uma nota do Supremo Tribunal<br />
Militar (STM), que José Maria estará indiciado<br />
como autor do extravio de documentos, aparelhos<br />
ou objectos com informações de carácter militar e<br />
insubordinação.<br />
Soube-se igualmente que o antigo chefe do SISM<br />
incorre em ilícitos previstos e puníveis nos termos<br />
dos artigos 42 número 01 e 17 número 01, ambos<br />
da Lei 04/94, de 28 de Janeiro (Lei dos Crimes<br />
Militares).<br />
HÉLDER MARTINS<br />
ÚLTIMO APITO<br />
Depois de uma excelente exibição no CAN do<br />
Egipto, o árbitro internacional angolano Hélder<br />
Martins poderá abandonar o apito muito brevemente,<br />
depois de ter feito uma carreira de mais<br />
de vinte anos nos estádios de futebol quer em<br />
Angola como em várias partes do mundo.<br />
Antes de ter deixado Luanda com destino ao<br />
Egipto, para representar Angola na mais alta<br />
roda do futebol africano, Hélder Martins manifestou<br />
o seu desagrado pelo facto de não ter<br />
sido apoiado inúmeras vezes para que pudesse<br />
prestigiar a arbitragem nacional nas ocasiões<br />
em que foi convidado a apitar. Revelou que em<br />
várias ocasiões foi capaz de elevar o bom nome<br />
do país, graças ao seu empenho pessoal,quer no<br />
tratamento de vistos de viagens, como pagando,<br />
inclusive, as despesas do seu próprio bolso.<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 41
CULTURA<br />
COMEMOROU 25 ANOS DE CARREIRA NO KWANZA SUL<br />
YURI DA CUNHA<br />
REGRESSA ÀS ORIGENS<br />
O cantor angolano Yuri da<br />
Cunha realizou, na cidade<br />
do Waku Kungo, município<br />
da Cela, província do Cuanza<br />
Sul, um show alusivo aos 25<br />
anos da sua carreira artística.<br />
O Waku Kungo foi escolhido<br />
por ser o local onde<br />
tem as suas “raízes”, apesar<br />
de ter nascido na cidade do<br />
Sumbe e crescido em Luanda.<br />
O espectáculo contou<br />
com as participações de Justino<br />
Handanga, Cabo Snoop,<br />
o moçambicano Twenty<br />
FIngers, entre outros artistas<br />
Foto: Arquivo F&N<br />
Vencedor de vários troféus<br />
nacionais e internacionais,<br />
o músico ganhou<br />
já o prémio Rádio Luanda<br />
2008, na categoria<br />
“Kianda do Sucesso”, pela<br />
quantidade de shows realizados ao<br />
longo do ano e valorização da cultura<br />
nacional.<br />
Em 2004, com a música “Makumba”,<br />
venceu o Top Rádio Luanda. Em<br />
2009, participou numa tournée de Eros<br />
Ramazzotti, por diversos países europeus.<br />
Em 2010 colocou no mercado o<br />
disco “Kuma Kua Kié”. Venceu Top dos<br />
Mais Queridos por duas ocasiões, em<br />
2009 e 2015.<br />
Yuri da Cunha, que começou a carreira<br />
como cantor infantil, é detentor<br />
ainda do troféu de Melhor Artista da<br />
África Austral, uma distinção da AFRIM-<br />
MA.Cantor e compositor, Yuri da Cunha,<br />
conta com quatro álbuns “É tudo amor”<br />
(1999), “Eu” (2005), “Kuma Kua Kié”<br />
(2009) e “O Intérprete” (2015).<br />
42 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
CULTURA<br />
Fotos: Arquivo de Augusta Conchiglia<br />
"DA GUERRILHA AOS PRIMEIROS<br />
ANOS DA INDEPENDÊNCIA"<br />
AUGUSTA CONCHIGLIA<br />
LANÇA OBRA HISTÓRICA<br />
Uma obra fotográfica intitulada "Da guerrilha aos primeiros<br />
anos da independência", da fotógrafa Augusta<br />
Conchiglia, que mergulha na epopeia de libertação<br />
africana foi lançada, em Luanda, com o apoio da Fundação<br />
António Agostinho Neto<br />
A<br />
obra fotográfica aborda<br />
a trajectória de Agostinho<br />
Neto, seus companheiros<br />
de armas e sua<br />
família durante os anos<br />
da luta de libertação nacional.<br />
No livro faz parte da fotoreportagem<br />
realizada em 1968, no leste<br />
do país, na terceira região político-<br />
-militar, onde se desencadeou a<br />
maior parte da luta armada contra<br />
o colonialismo português.<br />
A obra, produzida pela Fundação<br />
António Agostinho Neto, foi<br />
revisada por Irene Neto, enquanto<br />
a tradução dos textos esteve a cargo<br />
de Carla Nunes, Irene Neto, Felícia<br />
de São Vicente, com a coordenação<br />
editorial de Maria Eugénia Neto.<br />
Augusta Conchiglia nasceu na<br />
região de Milão, Itália, estudou<br />
ciências sociais, fotografia e cinema,<br />
foi consultora da União Europeia<br />
para África Austral e participou nos<br />
centros de estudos africanos na<br />
Nigéria e na África do Sul.<br />
PENELAS SANTANA<br />
APRESENTA OBRA LITERÁRIA<br />
“A IGNORÂNCIA<br />
DOS INTELECTUAIS”<br />
A obra “A ignorância dos<br />
Intelectuais e a Coragem<br />
Ensurdecedora do Cidadão<br />
João Manuel Gonçalves Lourenço”,<br />
da autoria de Penelas<br />
Santana, foi apresentada<br />
em Malanje. No livro, o autor<br />
aborda, em 340 páginas,<br />
as medidas que têm sido<br />
tomadas pelo Presidente da<br />
República de Angola, João<br />
Lourenço, com acto de coragem<br />
abre esperança para o<br />
nascimento do estado novo<br />
A<br />
obra faz uma análise<br />
sobre a actual situação<br />
política, económica<br />
e social do país, para<br />
além de outras questões<br />
registadas sob a<br />
liderança de João Lourenço, como as<br />
exonerações e nomeações registadas<br />
no xadrez político nacional.<br />
António da Rocha Penelas Santana<br />
nasceu a 1 de Julho de 1981 em<br />
Ndalatando, província do Cuanza<br />
Norte. É autor de 10 obras, com<br />
destaque para “Crónicas da nossa<br />
gente”, “Dikwata mortes na sanzala”,<br />
“Quando o adultério é sinónimo de<br />
amor”, “o mundo não desaba quando<br />
termina uma relação”, “Algumas razões<br />
que fazem o MPLA e dos Santos<br />
ganharem eleições volume I e II”,<br />
“Como conquistar ou reconquistar a<br />
pessoa que você ama”.<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 43
CULTURA<br />
RODRIGO FRANÇA, CIENTISTA SOCIAL, DESCOBRE AS SUAS ORIGENS, 41 ANOS DEPOIS<br />
PRECISO CONHECER O BENIN<br />
"É DIA DE<br />
COMEMORAR!"<br />
• Cientista Social recebeu, no passado dia 13 de<br />
Maio, o resultado de teste que analisa ancestralidade:<br />
"Estou emocionado. Finalmente conheço<br />
a minha raiz". Rodrigo França conta que o plano,<br />
agora, é visitar o Benin ainda no segundo semestre<br />
do ano: "Eu preciso", afirma.<br />
O que, para grande parte das pessoas brancas, é<br />
algo quase que natural, para a maior parcela da<br />
população brasileira (54%, segundo o IBGE) é<br />
uma conquista. Saber onde nasceram os avós,<br />
bisavós e tataravós é uma informação ainda<br />
distante para muitos negros, que, por causa da<br />
escravidão, tiveram o seu passado apagado —<br />
documentos destruídos, parentes separados e<br />
história oral perdida. E é por isso que — quando<br />
se lembra o dia da assinatura da Lei Áurea,<br />
data celebrada pela historiografia oficial e<br />
momento de reflexão para o movimento negro<br />
—, o cientista social e professor Rodrigo França,<br />
ex-participante do Big Brother Brasil 19<br />
(BBB), ficou tão emocionado.<br />
Em entrevista exclusiva ao GLOBO,<br />
Rodrigo destaca a importância<br />
de conhecer a própria origem<br />
e ressalta que, para<br />
quem não carrega esse<br />
enigma — a esmagadora<br />
maioria dos brancos —,<br />
é fundamental ter consciência<br />
de que isso é um<br />
tipo de privilégio<br />
Por: Clarissa Clains - Brasil<br />
Fotos: Arquivo NET<br />
44 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
CULTURA<br />
Você pegou hoje o resultado<br />
do exame<br />
para identificar de<br />
onde vieram seus antepassados.<br />
Qual foi<br />
o resultado?<br />
Benin. E é uma região que a<br />
gente conhece muito pouco. Eu fico<br />
triste de saber tão pouco sobre esse<br />
lugar. As escolas contam como se o<br />
continente africano fosse um país só.<br />
Você tinha algum indício, algum<br />
chute, de que sua família vinha de lá?<br />
Não. Eu lembro, agora, que há<br />
muitos anos um estudioso me disse<br />
que, pelos meus traços, pelo meu<br />
olho puxado, eu poderia ser de Benin.<br />
Mas eu não tinha ideia.<br />
Como você fez esse teste?<br />
Eu fiz dentro de uma pesquisa da<br />
UFRJ. Nela, é possível identificar de<br />
qual região nos originamos de maneira<br />
predominante. Não consigo ver<br />
o percentual, nem o quanto se deve<br />
ao lado materno ou paterno, mas<br />
tenho como saber que, maioritariamente,<br />
minha família veio de Benin.<br />
O teste era a primeira fase da<br />
pesquisa e envolveu cerca de 600<br />
pessoas. Todas voluntárias, e o exame<br />
foi gratuito. Agora, só 19 dessas<br />
pessoas vão participar da segunda<br />
fase, porque só essas veem de países<br />
que são o objecto de estudo da pesquisa.<br />
Quem quiser ainda tem como<br />
participar desse estudo e fazer a<br />
análise de DNA?<br />
Não, a pesquisadora que está à<br />
frente me disse que agora acabou a<br />
verba para a pesquisa e não vai dar<br />
para continuar. Ela disse que até gostaria<br />
de chamar outras pessoas da<br />
minha família, para fazer uma análise<br />
mais completa. Mas não tem mais<br />
verba.<br />
Quando o teste foi realizado?<br />
Uma semana antes do confinamento<br />
para o BBB. Cheguei até a comentar<br />
sobre esse assunto dentro da<br />
casa. O resultado saiu, inclusive, enquanto<br />
eu ainda estava no programa.<br />
Mas só hoje eu consegui buscar.<br />
E é uma data simbólica, 13 de<br />
maio, o dia da abolição da escravidão<br />
no Brasil.<br />
Sim, é uma data simbólica, que a<br />
gente não comemora. É uma data de<br />
reflexão. Não tem como comemorar.<br />
Passamos por um processo histórico<br />
de apagar esse lado perverso, que foi<br />
a escravidão, como se ela não tivesse<br />
existido. A gente hoje estampa estatísticas<br />
de discriminação, de homicídio<br />
todos os dias. Não houve e não há<br />
um projeto de Estado que considere<br />
negros em paridade com brancos. A<br />
população negra nem sequer sabe<br />
o seu real nome, por ter sido rebatizada<br />
em outros países. E qualquer<br />
nomenclatura relacionada à cultura<br />
africana acabou sendo renomeada<br />
para assumir uma identidade cristã.<br />
“<br />
A população negra<br />
nem sequer sabe o seu real<br />
nome, por ter sido rebaptizada<br />
em outros países.<br />
E qualquer nomenclatura<br />
relacionada à cultura africana<br />
acabou sendo renomeada<br />
para assumir uma<br />
identidade cristã<br />
“<br />
O que você sentiu quando recebeu<br />
o resultado do teste nas<br />
mãos?<br />
Estou até agora emocionado... E<br />
é tão simbólico hoje... É muito triste<br />
você não saber a sua raiz. E é muito<br />
triste o porquê de a gente não saber.<br />
Eu sinto um misto de alegria<br />
e tristeza. Porque é emocionante,<br />
depois de 41 anos, finalmente saber<br />
minha ancestralidade. Mas, ao<br />
mesmo tempo, quem é que sabe?<br />
Quem tem como fazer uma análise<br />
de DNA?<br />
Você tinha há muito tempo<br />
vontade de fazer essa análise?<br />
Eu sempre tive curiosidade,<br />
sempre quis saber. É um exame<br />
caro. Eu já tinha pesquisado e vi<br />
que custaria de R$ 2 mil a R$ 4 mil.<br />
Você tem planos de visitar<br />
Benin?<br />
Ainda este ano. Eu vou dar meu<br />
jeito. Ainda no segundo semestre,<br />
vou a Benin. Eu preciso. Quero ir<br />
com a minha mãe.<br />
Na sua opinião, esse conhecimento<br />
sobre a ancestralidade<br />
muda a percepção que se tem da<br />
própria identidade?<br />
Sim, vai ter até comemoração na<br />
minha família, porque hoje a gente<br />
tem certeza (sobre a ancestralidade).<br />
Hoje temos algo concreto, é dia<br />
de comemorar. A gente sabe o nosso<br />
ponto de partida. Quando eu era<br />
criança, ouvia colegas de classe dizendo<br />
que o avô era italiano, português...<br />
e eu não tinha o que dizer. Eu<br />
não fazia ideia. Agora, dá uma sensação<br />
de orgulho, de honra. Eu sinto<br />
que preciso entender essa cultura,<br />
preciso conhecer Benin e seu povo.<br />
Eu quero hoje ser um porta-voz da<br />
cultura africana.<br />
E para os outros, especialmente<br />
para brancos, que costumam saber<br />
de onde os avós, bisavós vieram, é<br />
importante ter essa percepção também,<br />
não é? De que isso não é algo<br />
natural, dado. Que, para muitos, saber<br />
isso não é automático.<br />
É muito importante a gente ter<br />
consciência dos nossos privilégios,<br />
sejam eles quais forem. Eu tenho<br />
consciência de que sou privilegiado<br />
academicamente, financeiramente.<br />
E isso faz com que eu olhe<br />
para os outros não com ar superior,<br />
mas com entendimento. Quem sabe<br />
da sua ancestralidade tem que ter<br />
consciência disso, de que isso é um<br />
privilégio.<br />
Ajuda a desenvolver empatia<br />
também...<br />
Exacto, empatia. Quando a gente<br />
não tem essa consciência, a gente<br />
desenvolve um conceito supostamente<br />
meritocrático de que o outro<br />
não faz porque não quer, de que<br />
é bobagem querer saber de onde<br />
veio, que minorias sociais reclamam<br />
muito... Como a gente vai desenvolver<br />
autoestima se não se sabe nem<br />
minimamente a origem da família,<br />
a história familiar? Por que uns sa-<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 45
CULTURA<br />
bem sua ancestralidade desde que<br />
nascem, e outros deveriam simplesmente<br />
aceitar não saber?<br />
E em que pé está o processo<br />
sobre intolerância religiosa contra<br />
a Paula, do BBB?<br />
Não foi um processo que eu<br />
movi, e sim uma denúncia popular.<br />
A delegacia esperou a minha saída<br />
do programa para me ouvir, como<br />
vítima. O processo está em segredo<br />
de Justiça.<br />
“<br />
Quando eu era<br />
criança, ouvia colegas de<br />
classe dizendo que o avô<br />
era italiano, português...<br />
Agora, dá uma sensação<br />
de orgulho, de honra. Preciso<br />
entender essa cultura,<br />
preciso conhecer Benin<br />
e seu povo. Eu quero hoje<br />
ser um porta-voz da cultura<br />
africana<br />
“<br />
Eu sabia que existia o antagonismo<br />
lá dentro, mas eu não tinha a menor<br />
noção de tudo o que era dito de<br />
maneira velada. Mesmo se não houvesse<br />
a denúncia popular, eu teria<br />
denunciado depois de sair do BBB.<br />
A gente não pode legitimar um crime.<br />
Porque, senão, as pessoas continuam<br />
reproduzindo o crime como se fosse<br />
algo natural. A liberdade de expressão<br />
tem que ser exercida desde que o conteúdo<br />
seja lícito. É um compromisso<br />
que eu tenho com a população que segue<br />
religiões de matriz africana.<br />
Depois que você saiu do BBB,<br />
teve gente que te falou que se sentiu<br />
inspirado ou representado por você?<br />
A maioria dos que me abordam.<br />
Realmente houve um grande incômodo<br />
aqui fora (com os episódios<br />
caracterizados como intolerância religiosa<br />
na denúncia). O que eu mais<br />
ouço é gente que fala "eu estou contigo".<br />
In Jornal O Globo.<br />
46 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 47
ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />
IMPLEMENTAÇÃO DO IMPOSTO DE VALOR ACRESCENTADO (I.V.A.)<br />
QUEM PAGA,<br />
COMO, QUANDO<br />
E PORQUÊ?<br />
48 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />
Os objectivos do sistema<br />
tributário continuam a ser<br />
os enunciados pelos clássicos<br />
da teoria económica<br />
- em que a administração<br />
deve garantir a equidade<br />
e a justiça distributiva, de<br />
forma a criar uma sociedade<br />
mais justa, fomentando<br />
a actividade económica.<br />
Este corolário deve ser<br />
hoje perseguido, respeitando<br />
princípios de eficiência<br />
e eficácia da administração<br />
pública, que por<br />
via do design de políticas,<br />
programas e instrumentos<br />
de gestão, deve garantir o<br />
maior resultado em termos<br />
qualitativos e quantitativos,<br />
com o menor custo<br />
para o contribuinte<br />
Por: Juliana Evangelista Ferraz *<br />
Fotos: Arquivo NET<br />
Esta afirmação espelha o<br />
desafio que os governos<br />
têm hoje no tocante à<br />
política tributária. Num<br />
ambiente de complexidade<br />
económica como<br />
o que vivemos, uma alteração na<br />
forma como se colecta os impostos<br />
pode ter um impacto significativo na<br />
economia.<br />
As contribuições fiscais implicam<br />
que cidadãos e os agentes económicos<br />
tenham que prescindir de uma<br />
parte do seu rendimento para pagar<br />
impostos, o que lhes retira de certa<br />
forma o poder de compra e a capacidade<br />
de investir.<br />
“<br />
A implementação do<br />
IVA prevê a isenção para<br />
produtos da cesta básica,<br />
combustíveis e medicamentos.Para<br />
o regime<br />
geral, o IVA será aplicado<br />
numa primeira fase, com<br />
carácter obrigatório, sos<br />
grandes contribuintes,<br />
totalizando 421 empresas,<br />
com destaque para os sectores<br />
petrolífero, bancos<br />
comerciais e operadores<br />
de telefonia, e às importações<br />
de bens<br />
“<br />
Recentemente foi aprovado a<br />
Lei 7/19 de 24 de Abril, que aprova<br />
o código do Imposto sobre o Valor<br />
Acrescentado (IVA) e revoga o regulamento<br />
do imposto de consumo<br />
republicado pelo Decreto Legislativo<br />
Presidencial, nº3-A/14 de 21 de<br />
Outubro, e demais legislação que<br />
contrarie o disposto na presente lei,<br />
assim como o imposto de selo previsto<br />
na verba nº15 da tabela a que<br />
se refere o Decreto Legislativo Presidencial<br />
nº3/14 de 21 de Outubro,<br />
que aprova a revisão e Republicação<br />
do Código do Imposto de Selo.<br />
O Executivo propõe a aplicação<br />
de uma taxa única de 14% na introdução<br />
do Imposto sobre o Valor<br />
Acrescentado (IVA) inicialmente<br />
previsto para Julho de 2019. No entanto,<br />
este processo foi adiado para o<br />
2º semestre de 2019. A implementação<br />
do IVA prevê a isenção para produtos<br />
da cesta básica, combustíveis e<br />
medicamentos.<br />
Para o regime geral, o IVA será<br />
aplicado numa primeira fase, com<br />
carácter obrigatório, aos grandes<br />
contribuintes, totalizando 421 empresas,<br />
com destaque para os sectores<br />
petrolífero, bancos comerciais e<br />
operadores de telefonia, e às importações<br />
de bens.<br />
Os referidos contribuintes podem<br />
aderir ao cumprimento das<br />
disposições do Código do IVA, a partir<br />
da data da sua entrada em vigor,<br />
mediante verificação cumulativa<br />
de requisitos previstos no Código<br />
do IVA, nomeadamente: Devem ter<br />
contabilidade organizada e cadastro<br />
actualizado no sistema do registo<br />
geral de contribuintes;Existência de<br />
meios adequados para a emissão de<br />
facturas através de sistemas de processamento<br />
de dados, (Software);<br />
Existência de meios adequados para<br />
a submissão, por transmissão electrónica<br />
de dados, das declarações<br />
fiscais, bem como os elementos da<br />
sua facturação e contabilidade;Não<br />
possuírem dívida fiscal e aduaneira.<br />
Os contribuintes do regime transitório<br />
enquadram-se os sujeitos passivos<br />
cadastrados nas outras repartições<br />
fiscais, com volume de negócios<br />
igual ou superior a 250.000,00 USD)<br />
ou o equivalente em kwanzas).<br />
Neste regime, o apuramento e<br />
pagamento do imposto incide sobre<br />
a metade da taxa do IVA, sobre o volume<br />
de negócios efectivamente recebido<br />
dos 3 meses anteriores, com<br />
excepção das operações isentas e<br />
sobre as aquisições de serviços efectivamente<br />
pagos a prestadores não<br />
residentes.<br />
A dedução do IVA incide até ao<br />
limite de 4% do IVA suportado nas<br />
aquisições de bens e serviços que<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 49
ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />
Os produtos da cesta básica estão isentos do IVA<br />
constem do mapa de fornecedores, sendo que o pagamento<br />
do imposto é efectuado de forma trimestral.<br />
Para o regime da não sujeição, são considerados<br />
sujeitos passivos do imposto as empresas que não tenham<br />
atingido, nos 12 meses anteriores, um volume<br />
de negócios ou operações de importação igual ou superior<br />
em Kwanzas ao equivalente a USD 250.000,00<br />
à excepção dos sujeitos passivos não residentes. Para<br />
estas empresas, não há liquidação de<br />
IVA nas operações activas (facturação)<br />
e sem dedução do IVA incorrido<br />
nas operações passivas (mas pode<br />
abater à colecta 10% do IVA suportado<br />
(sujeito à declaração de fornecedores).<br />
* Fonte: OCPCA.<br />
50 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
ECONOMIA & NEGÓCIOS<br />
UM DESAFIO DA INTEGRAÇÃO REGIONAL<br />
AS (DES)VANTAGENS<br />
DA CHEGADA DO I.V.A.<br />
Angola é o único membro<br />
da SADC que ainda não<br />
implementou o IVA. Ao definir<br />
a taxa única de 14%<br />
do IVA, fixado pelo Executivo,<br />
para a tributação<br />
da despesa, o país põe em<br />
prática o acordo ratificado<br />
a nível da região, segundo<br />
o qual não se pode definir,<br />
no Código do IVA, uma taxa<br />
inferior a 10%.<br />
Com a introdução deste<br />
imposto teremos as seguintes<br />
vantagens:<br />
Por: Juliana Evangelista Ferraz<br />
Fotos: Arquivo NET<br />
1• Impedimento da<br />
dupla tributação;<br />
2<br />
• Será implementada<br />
uma taxa que se<br />
aplica apenas ao valor<br />
acrescentado em cada<br />
fase do processo, incidindo sobre<br />
as mercadorias, serviços e importações;<br />
3<br />
• Redução da evasão fiscal: Um<br />
dos objectivos da implementação<br />
do IVA em Angola é o combate<br />
à evasão e fraude fiscal. Com base<br />
nisto, o contributo do IVA para este<br />
objectivo virá da emissão de documentos<br />
por parte dos operadores<br />
económicos;<br />
4<br />
• Maior transparência das actividades<br />
económicas: Na medida<br />
que o agente económico seja o<br />
vendedor ou prestador de serviços,<br />
tem a obrigatoriedade de inserir o<br />
valor do IVA na factura ou documento<br />
equivalente. A AGT conseguirá<br />
acompanhar o valor do IVA pago,<br />
ou algum incumprimento fiscal por<br />
parte das empresas;<br />
5.Alargamento da base fiscal,na<br />
medida em que as empresas registadas<br />
para efeitos fiscais, nomeadamente<br />
os grandes contribuintes, entrarão<br />
obrigatoriamente no regime,<br />
estando obrigados de forma mensal<br />
a entrega da declaração periódica<br />
do IVA e respectivo pagamento.<br />
Relativamente às desvantagens,<br />
a taxa de imposto de IVA varia de<br />
país para país. Por exemplo: existem<br />
países em que as taxas variam em<br />
função da natureza do produto ou<br />
serviço a incidir sobre o IVA, com<br />
a denominação de taxa normal, intermédia<br />
e reduzida. No nosso caso<br />
em concreto, nas situações em que<br />
deveriam ser aplicadas taxas reduzidas,<br />
aplicar-se-á a taxa de 14%.<br />
A tendência internacional<br />
relativamente ao sistema tributário<br />
apela aos estados que reformem a<br />
máquina fiscal, de forma a eliminar<br />
os constrangimentos que se observam<br />
a nível das trocas comerciais,<br />
investimento e desenvolvimento<br />
económico, e possam por esta via<br />
implementar políticas públicas<br />
que primem pelo desenvolvimento<br />
sustentado.<br />
Portanto, as recomendações do<br />
Fundo Monetário Internacional e<br />
outras organizações como a Organização<br />
para a Cooperação e Desenvolvimento<br />
Económico (OCDE), em<br />
matéria de reforma fiscal, apontam<br />
no sentido dos estados primarem<br />
pelo reforço institucional de forma<br />
a criar um sistema fiscal justo e<br />
moderno.<br />
A (OCDE) destaca que as<br />
economias africanas, “não devem<br />
concentrar-se exclusivamente no<br />
aumento dos impostos, mas, alargar<br />
a base fiscal a outros contribuintes<br />
ou sectores de actividade que estão<br />
à margem da administração fiscal<br />
e que por motivos de equidade e<br />
justiça devem contribuir.<br />
A OCDE acrescenta que em<br />
grande parte das economias da África<br />
subsariana existem ineficiências<br />
da máquina fiscal, que decorrem<br />
de certos aspectos que devem ser<br />
eliminados dos sistemas como as<br />
inúmeras subvenções artificiais que<br />
existem nas pautas fiscais e que de<br />
acordo com o parecer dos especialistas<br />
da OCDE, deviam ser rapidamente<br />
eliminados por causarem distorções<br />
graves ao desenvolvimento<br />
económico e geração de emprego.<br />
A problemática da execução fiscal<br />
envolve uma plêiade de factores<br />
relacionados, na medida em que<br />
o estado precisa de recursos para<br />
expandir e melhorar os serviços<br />
e prestações sociais e é por via da<br />
contribuição dos cidadãos e empresas<br />
que arrecadará receitas para por<br />
em acção o seu plano.<br />
Os remédios para o problema<br />
fiscal africano mais do que o aumento<br />
das taxas de impostos, exigem<br />
a supressão /redução de taxas, o<br />
alargamento da base tributária, e o<br />
reforço da cultura de cumprimento<br />
fiscal, pois, existem grandes franjas<br />
de contribuintes à margem dos<br />
sistemas fiscais que devem ser incluídos<br />
na arrecadação de receitas.<br />
Esta inclusão permitirá o aumento<br />
da receita fiscal e redução das taxas<br />
de impostos causando um melhor<br />
ambiente fiscal para famílias e empresas.<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 51
ÁFRICA<br />
Fotos: Arquivo F&N<br />
TENTATIVA DE GOLPE DE ESTADO NA GUINÉ EQUATORIAL<br />
ADVOGADO CONTRA<br />
"DECISÃO ARBITRÁRIA"<br />
DAS AUTORIDADES<br />
O advogado e activista dos direitos humanos, o equato-guineense Ponciano Mbomio<br />
Nvó, classificou recentemente de "arbitrária" a decisão da justiça da Guiné Equatorial<br />
que condenou mais de 130 pessoas acusadas de envolvimento numa tentativa de golpe<br />
de Estado no país. "Em princípio, para aplicar uma pena, há que saber se a pessoa visada<br />
é responsável ou não. As penas foram aplicadas de uma maneira arbitrária", disse o<br />
advogado à Lusa, por telefone<br />
52 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
ÁFRICA<br />
"O número de pessoas que<br />
conheciam o tema do golpe<br />
de Estado não era o número<br />
de pessoas que se acusou e<br />
penalizou. Havia um número<br />
reduzido de pessoas que<br />
conheciam o caso e se consideravam<br />
como culpadas", explicou Ponciano<br />
Mbomio Nvó.<br />
Mais de 130 pessoas acusadas de<br />
envolvimento numa tentativa de golpe<br />
de Estado na Guiné Equatorial, em Dezembro<br />
de 2017, foram condenadas<br />
a penas entre os três e os 96 anos de<br />
prisão. O advogado referiu ainda que<br />
há situações em que "duas ou três<br />
pessoas que nunca se viram na vida"<br />
foram condenadas pelo mesmo delito.<br />
"Para que tu e eu cometamos um<br />
delito, primeiro temos de nos sentar<br />
e falar, e chegar a um acordo para<br />
cometer o delito. Estamos a assistir<br />
a um caso em que pessoas que nunca<br />
se viram antes foram acusadas do<br />
mesmo delito", afirmou.<br />
neense "não autoriza que se condene<br />
uma pessoa ausente no processo ou<br />
que não tenha sido ouvida".<br />
O advogado e activista dos direitos<br />
humanos na altura assinalou também<br />
a chegada de uma missão da Comuni-<br />
“<br />
Em Janeiro de 2018,<br />
as autoridades de Malabo<br />
afirmaram que tinham<br />
conseguido evitar um golpe<br />
de Estado organizado por<br />
um grupo de mercenários<br />
estrangeiros que quis atacar<br />
o Presidente, Teodoro<br />
Obiang Nguema, na véspera<br />
de Natal do ano anterior,<br />
quando o chefe de Estado<br />
estava no seu palácio em<br />
Koete Mongomo<br />
“<br />
Sobre o impacto que esta decisão<br />
pode ter no futuro, Ponciano Mbomio<br />
Nvó admitiu que "as famílias estão<br />
destruídas e destroçadas". "É uma<br />
decisão que não cria um ambiente<br />
favorável para o país. É melhor que<br />
quando se culpa uma pessoa, esta seja<br />
culpada do delito de que foi acusada.<br />
Mas quando te detêm e te colocam na<br />
prisão e depois te condenam (...) por<br />
um delito que não cometeste, cria um<br />
ambiente desconfortável para o país e<br />
para as famílias", concluiu.<br />
A decisão anunciada no passado<br />
dia 7 de Junho representa o final de<br />
um processo que decorria desde 22<br />
de Março. Em Janeiro de 2018, as autoridades<br />
de Malabo afirmaram que<br />
tinham conseguido evitar um golpe<br />
de Estado organizado por um grupo<br />
de mercenários estrangeiros que quis<br />
atacar o Presidente, Teodoro Obiang<br />
Nguema, na véspera de Natal do ano<br />
anterior, quando o chefe de Estado<br />
estava no seu palácio em Koete Mon-<br />
Advogado<br />
Ponciano Mbomio Nvó<br />
Teodoro Obiang Nguema,<br />
Presidente da Guiné Equatorial<br />
desde 1979<br />
Ponciano Mbomio Nvó considerou<br />
que a justiça da Guiné<br />
Equatorial não actuou "conforme<br />
a lei"."Primeiro, Advogado equato-<br />
-guineense critica sentenças , disse,<br />
acrescentando que a lei equato-guidade<br />
dos Países de Língua Portuguesa<br />
(CPLP) à capital do país, Malabo. "Convinha<br />
que esta missão verifique (...) se<br />
a imagem da Guiné pode ser lavada<br />
depois da aplicação de penas a condenados<br />
inocentes", apontou.<br />
gomo, a cerca de 50 quilómetros da<br />
fronteira com o Gabão. Três dias depois,<br />
a 27 de Dezembro, cerca de 30<br />
homens armados foram detidos pela<br />
polícia camaronesa na fronteira entre<br />
os dois estados.<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 53
ÁFRICA<br />
EXILADO EM PARIS<br />
OPOSITOR DE TEODORO NGUEMA<br />
CONDENADO A<br />
60 ANOS DE PRISÃO<br />
• Salomon Abeso diz ser acusado de "financiar a<br />
oposição, mercenários" e de "tentar assassinar o Presidente".<br />
O opositor equato-guineense<br />
Salomon Abeso,<br />
condenado a 60 anos e<br />
quatro meses de prisão<br />
por uma tentativa de<br />
golpe de Estado contra o<br />
Presidente da Guiné Equatorial,<br />
afirmou que "não<br />
existe justiça" no seu país<br />
e rejeitou as acusações.<br />
"Na Guiné Equatorial não<br />
existe justiça. A justiça é<br />
o ditador Teodoro Obiang<br />
Nguema. Desde que tomou<br />
o poder em 03 de Agosto<br />
de 1979, nunca houve<br />
justiça nesse país", disse<br />
o opositor, membro da<br />
Coligação Restauradora de<br />
um Estado Democrático<br />
(CORED), à agência Lusa,<br />
numa conversa telefónica<br />
a partir de Paris, onde se<br />
sedia o partido<br />
Fotos: Arquivo F&N<br />
O<br />
opositor, exilado em<br />
Londres há 18 anos,<br />
recebeu as notícias<br />
da sentença de "um<br />
julgamento falso" com<br />
"muita dor". Salomon<br />
Abeso defende que o julgamento não<br />
decorreu de forma conforme com a<br />
justiça da Guiné Equatorial, uma vez<br />
que muitos dos condenados não foram<br />
presentes a tribunal.<br />
"Só fomos informados de termos<br />
sido acusados de um dos delitos no<br />
início de 2018 (...). Em todo o jul-<br />
54 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
ÁFRICA<br />
Palácio da Justiça da Guiné Equatorial<br />
“<br />
Todas essas acusações<br />
são falsas e infundadas.<br />
A única coisa que<br />
queremos é que o Governo<br />
aceite a convocatória que<br />
lhe enviámos em Genebra<br />
para negociar um roteiro<br />
para organizar um Governo<br />
de transição nacional<br />
em que participem todos<br />
os líderes políticos da Guiné<br />
Equatorial<br />
“<br />
gamento, em mais de dois meses e<br />
meio, não mencionaram o meu nome<br />
em qualquer dia. Não só o meu, a<br />
maioria dos opositores exilados que<br />
foram condenados não tiveram o seu<br />
nome mencionado [anteriormente]",<br />
referiu Salomon Abeso a partir de<br />
Paris, onde se encontra.<br />
"Não nos terem apresentado a<br />
julgamento, foi o primeiro erro, porque<br />
não nos podem julgar na nossa<br />
ausência", explicou, garantindo que<br />
está "à procura de uma forma para<br />
denunciar a situação" junto de países<br />
e organizações "a nível ocidental".<br />
De acordo com o membro da oposição,<br />
esta situação faz parte de uma<br />
manobra do Governo para "eliminar<br />
toda a oposição da Guiné Equatorial".<br />
Salomon Abeso diz ser acusado<br />
de "financiar a oposição e de financiar<br />
mercenários" e, portanto, de<br />
"tentar assassinar o Presidente".<br />
O julgamento que terminou na<br />
passada sexta-feira, dia 31 de maio,<br />
sentenciou mais de 130 pessoas acusadas<br />
de envolvimento numa tentativa<br />
de golpe de Estado na Guiné<br />
Equatorial a penas entre os três e os<br />
96 anos de prisão.<br />
Os processos recuavam a janeiro<br />
de 2018, quando as autoridades<br />
equato-guineenses afirmaram ter<br />
conseguido impedir um golpe de<br />
Estado organizado por um grupo de<br />
mercenários estrangeiros que pretendia<br />
atacar o Presidente, Teodoro<br />
Obiang Nguema, na véspera de natal<br />
do ano anterior.<br />
Três dias depois, a 27 de dezembro,<br />
cerca de 30 homens armados<br />
foram detidos pela polícia camaronesa<br />
na fronteira entre os Camarões<br />
e a Guiné Equatorial, tendo as autoridades<br />
equato-guineenses procedido<br />
a várias detenções no país e<br />
emitido mandados de captura contra<br />
cidadãos que vivem no estrangeiro e<br />
contra outros cidadãos estrangeiros.<br />
Salomon Abeso negou "categoricamente"<br />
as acusações de que foi<br />
alvo, referindo que são "falsas e infundadas"<br />
e que apenas pretende<br />
que o Governo do país aceite negociar<br />
um governo de transição nacional<br />
transversal a todos os líderes políticos<br />
do país.<br />
"Nego-as categoricamente. Todas<br />
essas acusações são falsas e infundadas.<br />
A única coisa que queremos é<br />
que o Governo aceite a convocatória<br />
que lhe enviámos em Genebra para<br />
negociar um roteiro para organizar<br />
um Governo de transição nacional<br />
em que participem todos os líderes<br />
políticos da Guiné Equatorial",<br />
afirmou, sublinhando que pretende<br />
a assistência das Nações Unidas,<br />
União Europeia, União Africana e<br />
nações com influência naquele país,<br />
"como França, Portugal, Inglaterra,<br />
Espanha e Estados Unidos" nestas<br />
negociações. "Tanto eu como o bloco<br />
[a CORED], em nome de toda a oposição,<br />
rejeitamos categoricamente as<br />
condenações de que fomos alvo na<br />
Guiné Equatorial", concluiu.<br />
Salomon Abeso diz ter sido já<br />
condenado à morte pela justiça<br />
equato-guineense em 2002, por um<br />
alegado envolvimento no planeamento<br />
de golpe de Estado encabeçado<br />
por opositores como o seu tio,<br />
Felipe Ondo Obiang. Nessa ocasião,<br />
Abeso, que era diretor financeiro de<br />
uma petrolífera, fora também acusado<br />
de financiar o movimento.<br />
A Guiné Equatorial tem tido uma<br />
história turbulenta de golpes e tentativas<br />
de golpes desde a sua independência<br />
da Espanha, em 1968. O Governo<br />
de Teodoro Obiang Nguema, que celebrou<br />
77 anos, 39 dos quais no poder,<br />
é regularmente acusado de violações<br />
dos direitos humanos pelos seus opositores<br />
e organizações internacionais.<br />
A Guiné Equatorial é, desde julho<br />
de 2014, membro da Comunidade<br />
de Países de Língua Portuguesa, que<br />
integra ainda Angola, Brasil, Cabo<br />
Verde, Guiné-Bissau, Moçambique,<br />
Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.<br />
(JYO // JH).<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 55
ÁFRICA<br />
GUINÉ EQUATORIAL<br />
CONFISCADA COLECÇÃO<br />
DE CARROS DE LUXO<br />
DO FILHO DO PRESIDENTE<br />
• Os Bugatti, Lamborghini, Koenigsegg e<br />
McLaren foram apreendidos. Vão a leilão. Na Suíça...<br />
O vice-presidente da Guiné<br />
Equatorial, Teodoro<br />
Nguema Obiang Mangue<br />
tem uma forte paixão por<br />
carros de luxo – e mansões<br />
onde estacioná-los –, com<br />
ênfase para os superdesportivos.<br />
Sucede que os<br />
seus superdesportivos já<br />
não são dele, tendo sido<br />
confiscados pela justiça e<br />
muitos vendidos<br />
Fotos: Arquivo NET<br />
Muitas vezes criticado<br />
pelo uso<br />
indevido de fundos<br />
estatais, tendo<br />
já possuído<br />
uma mansão em<br />
França avaliada em 100 milhões<br />
de euros, o vice-presidente viu a<br />
sua colecção de carros ser confiscada<br />
por duas vezes, em 2012<br />
e em 2016, segundo a GTspirit. O<br />
primeiro lote de veículos, apreendido<br />
há sete anos, foi rapidamente<br />
leiloado pelas autoridades francesas,<br />
preparando-se agora os suíços<br />
para fazer o mesmo ao lote de 25<br />
modelos apreendido em 2016.<br />
Não há ainda muitos dados sobre<br />
o leilão, apenas que será organizado<br />
pela Bonhams ainda em<br />
56 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
ÁFRICA<br />
2019 e decorrerá no Bonmont Golf<br />
& Country Club, um elegante castelo<br />
nas margens do lago Genebra,<br />
na Suíça.<br />
As estrelas do lote de superdesportivos<br />
são um Bugatti Veyron,<br />
um Lamborghini Veneno, um Koenigsegg<br />
One:1 e um McLaren P1,<br />
cada um deles a valer cerca de 4,5<br />
milhões de euros, de acordo com<br />
a organização. Mas há outros desportivos<br />
menos exuberantes que<br />
faziam parte dos brinquedos do vice-presidente,<br />
com destaque para<br />
três modelos da Ferrari, nomeadamente<br />
Enzo, LaFerrari e F12 tdf,<br />
além de um Aston Martin One-77.<br />
Num país frequentemente envolvido<br />
em acusações de fraude,<br />
corrupção e abusos, por parte de<br />
organizações dos direitos humanos,<br />
Obiang Mangue tem o seu lugar<br />
de vice-presidente garantido,<br />
entre outros motivos porque foi<br />
nomeado pelo seu pai e presidente,<br />
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo.<br />
O futuro presidente da Guiné<br />
Equatorial, quando seu pai abdicar,<br />
estudou durante anos num colégio<br />
privado em França, mas acabou<br />
por se formar em apenas cinco meses<br />
numa universidade em Malibu,<br />
conhecida estância balnear na Califórnia.<br />
(Alfredo Lavrador | Observador).<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 57
MUNDO<br />
BRASIL<br />
O BNDES E<br />
O RISCO DE EXTINÇÃO<br />
Na primeira quinzena do mês de Junho, a maior parte dos analistas políticos e os próprios<br />
actores da cena política pareciam bastante preocupados em decifrar o “modus<br />
operandi” do governo Bolsonaro. Afinal, não era prá menos! Ao longo de poucos dias, o<br />
capitão havia exonerado 3 generais que ele mesmo tinha nomeado para cargos estratégicos<br />
no primeiro escalão da Esplanada.<br />
Foram afastados o Ministro da Secretaria de Governo, General Carlos Alberto dos Santos<br />
Cruz, o Presidente da FUNAI, General Franklimberg Freitas e o Presidente da Empresa<br />
de Correios, General Juarez de Paula Cunha. Para cada acto de demissão foram apresentados<br />
argumentos relativos a algum tipo de incompatibilidade com a orientação geral<br />
emanada do Palácio do Planalto<br />
Por: Paulo Kliass * / Fotos: Arquivo NET<br />
Santos Cruz não estaria<br />
disposto a atender às demandas<br />
do círculo mais<br />
próximo aos filhos de Bolsonaro<br />
e do autoproclamado<br />
guru Olavo de Carvalho.<br />
No caso da FUNAI, o problema<br />
estaria na pressão dos ruralistas, que<br />
não confiavam na disposição do general<br />
em atender às suas demandas nas<br />
disputas com as nações indígenas. O<br />
general Juarez teria sido demitido da<br />
ECT por suas declarações públicas<br />
contrárias à privatização da empresa<br />
pertencente à União.<br />
No entanto, o que pouca gente imaginava<br />
é que o chefe do governo iria<br />
ampliar ainda mais o grau de descontentamento<br />
com relação ao seu modo<br />
de organizar a tropa e operar mudanças...<br />
Em um conversa rápida com<br />
58 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
MUNDO<br />
jornalistas, ele praticamente demitiu<br />
o Presidente do BNDES, por meio de<br />
um recado ríspido direcionado a Joaquim<br />
Levy. A surpresa vem daqueles<br />
que avaliam as dificuldades enfrentadas<br />
pelo governo e da necessidade<br />
de ampliar o seu suporte político no<br />
seio dos representantes do sistema<br />
financeiro.<br />
Tirar Levy para extinguir o BN-<br />
DES - Mas não foi assim, não. Não<br />
teve muita conversa. Bolsonaro foi<br />
duro e directo, passando por cima da<br />
hierarquia, uma vez que Levy havia<br />
sido sugerido para o cargo por Paulo<br />
Guedes, seu superior na própria estrutura<br />
do Ministério da Economia.<br />
A desculpa esfarrapada para tal acto<br />
foi a nomeação por Levy de um ex-<br />
-assessor da presidência do banco<br />
ainda na gestão do PT. Outros lembram<br />
ainda as dificuldades encontradas<br />
para abrir a tal da “caixa preta”<br />
dos empréstimos do banco, com a<br />
intenção explícita de promover uma<br />
devassa persecutória nas gestões anteriores.<br />
Ora, essas razões não se sustentam<br />
de pé. O próprio Joaquim Levy,<br />
apesar de seu perfil conservador, é<br />
um oriundo das administrações petistas.<br />
Foi aproveitado lá trás ainda<br />
por Palocci, em 2003, que nomeou<br />
o antigo colaborador das gestões<br />
tucanas para o estratégico cargo<br />
da Secretaria do Tesouro Nacional.<br />
Antes de Levy ser nomeado por Dilma<br />
para o Ministério da Fazenda<br />
no estelionato eleitoral de 2015, o<br />
economista havia também ocupado<br />
cargos no FMI e no Banco Mundial<br />
representando o governo brasileiro.<br />
Nessas condições, fica difícil atribuir<br />
à nomeação de um assessor a razão<br />
para sua demissão.<br />
Lembremos que Levy tem uma<br />
passagem muito fácil no interior do<br />
financismo, em razão da extensa ficha<br />
de bons serviços prestados à nata da<br />
elite. Essa identidade de interesses<br />
deu-se nos momentos em que o ocupante<br />
de cargos públicos formulava<br />
políticas governamentais que agradavam<br />
plenamente aos desejos da<br />
banca. Ou então em períodos que o<br />
próprio Levy actuava como dirigente<br />
do capital privado. Aliás, foi na condição<br />
de indicado pelo Bradesco que<br />
ele chegou ao Ministério no segundo<br />
mandato de Dilma.<br />
“(…) “Como liberais,<br />
somos contrários a empresas<br />
estatais. Com excepção<br />
do Banco Central, bancos<br />
públicos deveriam ser<br />
privatizados e o BNDES extinto.<br />
A Petrobras também<br />
deveria ser privatizada<br />
“<br />
Assim, imagina-se que demitir<br />
Levy é comprar dificuldades, ao menos<br />
momentâneas, com o povo da<br />
finança. Por que haveria Bolsonaro<br />
avançado esse sinal, em momento tão<br />
crucial para o avanço da proposta da<br />
Reforma da Previdência no interior<br />
da Câmara dos Deputados? É bem<br />
provável que o enredo teatral todo<br />
tenha sido articulado com o próprio<br />
Paulo Guedes, que também passou<br />
a apresentar nos últimos tempos<br />
algum desconforto com Levy no comando<br />
do BNDES.<br />
BNDES incomoda privados - Uma<br />
das dificuldades refere-se à exigência<br />
de que ele promovesse a devolução<br />
para os cofres do Tesouro Nacional<br />
de valores próximos a R$ 130 bilhões.<br />
Essa é a soma que o governo federal<br />
havia transferido ao banco, para que<br />
o mesmo pudesse desenvolver suas<br />
actividades de financiamento do desenvolvimento<br />
e de empréstimos de<br />
longo prazo a juros subsidiados. Assim,<br />
não faz sentido essa devolução<br />
que impacta de forma perigosa e negativa<br />
o património do BNDES.<br />
A bem da verdade, essa estratégia<br />
não faz “sentido” para aqueles que<br />
consideramos essencial que o Estado<br />
brasileiro conte com uma agência<br />
robusta para dar conta das tarefas<br />
de fomento do desenvolvimento. O<br />
problema é que Paulo Guedes tem<br />
uma visão totalmente oposta. Para o<br />
monetarista conservador, que nunca<br />
havia ocupado um cargo público até<br />
então, a principal tarefa é aquela associada<br />
à demolição.<br />
Ele não se cansa de deixar isso clara<br />
quando fala em privatizar todas as<br />
empresas estatais ou quando remete<br />
ao projeto de eliminação do modelo<br />
de previdência social pública.<br />
Ocorre que pouca gente atentou<br />
para uma declaração sua a respeito<br />
do próprio BNDES. Não nos esqueçamos<br />
jamais de que Guedes é oriundo<br />
do sistema financeiro, onde passou<br />
boa parte de sua vida profissional.<br />
Assim, além do viés “natural” do rentismo<br />
parasitário, ele vê nos bancos<br />
públicos um enorme obstáculo à ampliação<br />
dos negócios e das margens<br />
de lucro do capital financeiro privado.<br />
(...)<br />
*Em Berlim | Correio do<br />
Brasil/*Paulo Kliass é doutor em<br />
economia e membro da carreira de<br />
Especialistas em Políticas Públicas<br />
e Gestão Governamental do governo<br />
federal.<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 59
MUNDO<br />
UM DOCUMENTÁRIO ARRASADOR<br />
IMPEACHMENT,<br />
LULA E BOLSONARO<br />
Assistir desperta os sentimentos<br />
mais ambíguos, uma<br />
imensa vergonha do Brasil,<br />
dos deputados que votaram<br />
pelo impeachment, da tibieza<br />
do Supremo Tribunal Federal,<br />
do papel indecente da<br />
mídia no período.“El Odio”,<br />
um documentário arrasador,<br />
de Andrés Sal-lari, sobre o<br />
longo processo do impeachment<br />
de Dilma Rousseff, a<br />
prisão de Lula e a eleição de<br />
Bolsonaro<br />
Por: Luis Nassif / Jornal GGN / em Pátria<br />
Latina / Fotos: Arquivo NET<br />
Assistir desperta os<br />
sentimentos mais ambíguos,<br />
uma imensa<br />
vergonha do Brasil,<br />
dos deputados que<br />
votaram pelo impeachment,<br />
da tibieza do Supremo Tribunal<br />
Federal, do papel indecente da<br />
mídia no período.<br />
A visão de animais urrando na<br />
Câmara, enquanto votavam pelo impeachment,<br />
o ar solene dos apresentadores<br />
do Jornal Nacional, transformando<br />
a pantomima do Power Point<br />
em denúncia escandalosa, todos<br />
esses pontos, quando reunidos em<br />
um documentário, traçam um quadro<br />
dantesco. E, no contraponto, o<br />
martírio de Lula. Sim, conseguiram<br />
erigir Lula ao panteão dos grandes<br />
mártires do século 20, para desgosto<br />
de Fernando Henrique Cardoso, que<br />
passará à história como o Salieri de<br />
folhetim.<br />
Conseguiram o botim do momento,<br />
o poder. Com ele, o desmonte de<br />
qualquer forma de regulação, ambiental,<br />
social, controle de armas, de<br />
velocidade no trânsito. Tudo isso em<br />
nome de uma bandeira empunhada<br />
por um juiz que actuava politicamente.<br />
À medida em que os factos vão<br />
sendo, finalmente, assimilados pela<br />
opinião pública, avalia-se a dimensão<br />
do estrago que a operação causou ao<br />
país. Nos próximos meses, essa conta<br />
será cobrada duramente de seus<br />
principais estimuladores.<br />
60 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
MUNDO<br />
GUERRA COMERCIAL DECLARADA<br />
A CHINA NÃO É INIMIGO...<br />
Depois de os Estados Unidos terem posto um fim às tréguas da actual guerra ao anunciarem<br />
a imposição de tarifas sobre produtos importados, a 11ª sessão de diálogo entre os<br />
dois países terminou sem qualquer sucesso. E, no passado dia 1 de Junho, a China decidiu<br />
também impor tarifas sobre produtos importados dos Estados Unidos como resposta,<br />
deixando a situação entre os dois países num estado ainda mais extremo. Esta mudança<br />
na relação tem gerado graves consequências, primeiramente a nível económico<br />
Por: David Chan * / Opinião / Fotos: Arquivo NET<br />
É<br />
cada vez mais evidente<br />
o nível de alto risco e<br />
imprevisibilidade que<br />
os mercados de capital<br />
carregam. É por isso<br />
também interessante<br />
ler um recente artigo publicado pela<br />
CNN com o título "A China não é a<br />
raiz dos nossos problemas financeiros,<br />
mas sim a ganância empresarial".<br />
E essa é a verdade, a China não<br />
é nenhum inimigo, é apenas um país<br />
que, através da educação, comércio<br />
internacional, investimento em<br />
infraestruturas e tecnologias, está<br />
a tentar melhorar a qualidade de<br />
vida da população. Está a fazer o que<br />
qualquer outro país com historial de<br />
pobreza, ou que já esteve um pouco<br />
atrás de outras potências, faria. Porém<br />
estas tentativas de impedir o<br />
desenvolvimento da China, executadas<br />
pelo Governo de Trump poderão<br />
ser desastrosas para os EUA e para o<br />
resto do mundo.<br />
O artigo salienta que, ao longo de<br />
vários anos, as relações comerciais<br />
sino-americanas têm sido mutuamente<br />
benéficas, todavia, devido ao<br />
aumento da eficiência da produção<br />
e baixos custos de mão-de-obra chinesa,<br />
a China representa um rival<br />
impossível de bater para alguns produtores<br />
americanos, algo comum na<br />
competição de mercado. Em vez de<br />
culpar a China, os EUA deveriam aumentar<br />
os impostos sobre as empresas<br />
americanas que lucram com esta<br />
situação, e utilizar esses fundos para<br />
ajudar algumas famílias, criar novas<br />
infraestruturas e novos empregos. É<br />
preciso reconhecer que a China sofreu<br />
algumas adversidades políticas<br />
e económicas durante muito tempo,<br />
estando agora a tentar recuperar<br />
o tempo perdido. No espaço de 40<br />
anos a economia chinesa cresceu a<br />
alta velocidade, mas os resultados de<br />
mais de um século de pobreza e crise<br />
ainda estão presentes. Os líderes<br />
chineses querem apenas melhorar o<br />
país, e por isso não estão mais dispostos<br />
a vergar-se perante os EUA ou<br />
outras nações do ocidente.<br />
A China é neste momento a segunda<br />
maior economia do mundo,<br />
porém ainda está num processo de<br />
recuperação da pobreza anterior. No<br />
ano de 1980, o PIB chinês per capita<br />
era apenas 2,5 por cento do norte-<br />
-americano, e agora em 2018 subiu<br />
para 15,3 por cento. A estratégia de<br />
desenvolvimento da China é semelhante<br />
à que países como o Japão,<br />
Coreia do Sul e Singapura experien-<br />
ciaram anteriormente. De uma perspectiva<br />
económica, o que a China está<br />
a fazer não difere em nada do que outros<br />
países fizeram no passado.<br />
* Editor Senior/ Publicado em Plataforma.<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 61
MUNDO<br />
BREXIT<br />
VAI SER<br />
MESMO A DOER<br />
A evolução dos acontecimentos<br />
faz temer o pior<br />
para a questão do Brexit.<br />
Os 27 países ainda parceiros<br />
do Reino Unido<br />
não abrandam as posições,<br />
mas a monarquia<br />
insular tem agora um<br />
primeiro-ministro que<br />
quer a saída e não poupa<br />
afirmações de confronto.<br />
A resolução está marcada<br />
para 31 de Outubro e não<br />
é crível que a data seja<br />
novamente adiada<br />
Texto: João Barbosa / Fotos: Arquivo NET<br />
Boris Johnson, o favorito para ganhar a eleição interna no partido<br />
Conservador para suceder à primeira-Ministra britânica, Theresa May<br />
Boris Johnson, antigo<br />
presidente da Área Metropolitana<br />
de Londres,<br />
é agora o provável primeiro-Ministro<br />
e líder<br />
do Partido Conservador<br />
– no condicional, porque à hora de fecho<br />
desta edição era ainda a hipótese<br />
mais do que esperada. Partiu favorito<br />
e foi ganhando balanço, nas várias rondas<br />
das eleições partidárias, afastando<br />
adversários e até colhendo apoio de<br />
desistentes.<br />
Louro e de penteado esvoaçante<br />
– o que levou a comentários de comparação<br />
com Donald Trump – afirma<br />
que o Reino Unido não vai pagar por<br />
sair da UE. Essa é uma exigência dos<br />
parceiros e que – embora discordando<br />
dos valores pedidos, sobretudo, por<br />
França – Theresa May assumiu aceitar.<br />
O que vem aí é um divórcio litigioso.<br />
Vive-se a incerteza criada por não se<br />
alcançar qualquer acordo. Na verdade,<br />
ninguém sabe as consequências reais<br />
para o Reino Unido, UE e para o mundo.<br />
Coincidente é que vai haver problemas.<br />
Há quem diga «furacão».<br />
Aparentemente, ninguém deseja ao<br />
restabelecimento duma fronteira efectiva<br />
entre a República da Irlanda e o<br />
Ulster, parte do Reino Unido. Seria mau<br />
para a economia das duas partes, mas<br />
as exigências dos 27 são incompatíveis<br />
com as dos britânicos.<br />
O Mercado Único pressupõe a livre<br />
circulação de bens, capitais, serviços e<br />
pessoas. O problema está neste último<br />
ponto – leia-se trabalhadores. A questão<br />
laboral foi central no discurso dos<br />
defensores do Brexit. O Reino Unido<br />
pretende continuar a beneficiar deste<br />
acordo, mas não quer a componente<br />
humana. Contudo, isso é obrigatório<br />
para os ainda parceiros.<br />
É aqui que reside o problema da<br />
fronteira. Ninguém quer portões na<br />
Irlanda, mas isso não pode permitir ao<br />
Reino Unido contornar a questão do<br />
respeito pelos quatro pilares do Mercado<br />
Único. As cancelas estariam abertas<br />
para livre circulação de bens, capitais e<br />
serviços, mas as pessoas poderiam ser<br />
barradas à entrada.<br />
A possibilidade de contornar a<br />
questão da circulação de pessoas é<br />
possível. Para isso, os 27 exigem o pagamento<br />
pela excepção – o valor não<br />
está definido e a «indemnização» pela<br />
saída não respeita apenas a este ponto.<br />
62 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
MUNDO<br />
Boris Johnson garante que não vai pagar,<br />
mas não aceita o encerramento da<br />
fronteira irlandesa.<br />
Alguns dos ainda parceiros revelaram<br />
planos de como tencionam agir<br />
no caso de não haver acordo. Os países<br />
podem travar, nas suas fronteiras,<br />
viajantes em trânsito, antecipando a<br />
recusa das autoridades do destino –<br />
o que poupa trabalho e reduz custos.<br />
Esse controlo precoce irá deixar de<br />
acontecer. França foi clara ao dizer que<br />
não impossibilitará de seguir viagem<br />
quem pretenda chegar ao Reino Unido<br />
– seja qual for o meio de transporte.<br />
Theresa May saiu de cena – literalmente<br />
em lágrimas –, derrotada sucessivamente<br />
no Parlamento e no seu<br />
próprio partido. Pode dizer-se que,<br />
parcialmente, foi responsável por isso.<br />
Embora apoiante da manutenção do<br />
país na UE, esteve discreta na campanha<br />
para o referendo, esperando que<br />
os britânicos escolhessem ficar, mas<br />
houvesse uma minoria que assustasse<br />
os parceiros.<br />
A primeira-ministra deposta tentou<br />
ter opositores à manutenção no seu<br />
Governo, como Boris Johnson, mas não<br />
resultou. A maior algazarra foi desse<br />
seu secretário de Estado dos Assuntos<br />
Exteriores, que deixou o cargo em Julho<br />
de 2018 e que agora lhe sucede.<br />
As questões da Escócia e do Ulster<br />
- A Escócia votou pela manutenção<br />
do país na UE e pode ser o maior problema<br />
político interno de Boris Johnson,<br />
que o Partido Nacionalista Escocês<br />
acusa de ser racista. Em 2014, os<br />
escoceses escolheram ficar no Reino<br />
Unido. O Brexit traz de volta o debate<br />
sobre a independência do Norte da<br />
Grã-Bretanha.<br />
Uma parte do problema da Irlanda<br />
do Norte é o Partido Democrático<br />
Unionista, altamente conservador e<br />
nacionalista, e que sustenta, no Parlamento<br />
britânico, o Governo do Partido<br />
Conservador. A situação é delicada,<br />
uma vez que esta força contesta o<br />
acordo de paz, entre a República da<br />
Irlanda e da Irlanda do Norte, e o referendo<br />
que o aprovou, em 1998.<br />
A economia é outra das dores de<br />
cabeça do sucessor de Theresa May.<br />
As previsões económicas não são animadoras.<br />
Instituições financeiras ponderam<br />
a saída. Esperam-se efeitos no<br />
turismo. A indústria deverá recuar. O<br />
país estremece e a cotação da conservadora<br />
libra será desestabilizada.<br />
Trump com Johnson - Em visita<br />
ao Reino Unido – entre 3 e 5 de Junho<br />
–, Donald Trump não escondeu de que<br />
lado está, assumindo uma indelicadeza<br />
diplomática ímpar, imiscuindo-se<br />
na política interna. Permitiu-se manifestar<br />
o seu apoio à saída sem acordo<br />
e sem pagar.<br />
“<br />
Theresa May saiu de<br />
cena – literalmente em lágrimas<br />
–, derrotada sucessivamente<br />
no Parlamento<br />
e no seu próprio partido.<br />
Pode dizer-se que, parcialmente,<br />
foi responsável<br />
por isso<br />
“<br />
Foi a situação mais grave, mas não<br />
a única deselegância, durante a visita,<br />
incluindo com a rainha Isabel II e a<br />
família real. Aliás, chegou a ser insultuoso<br />
com o actual edil da Área Metropolitana<br />
de Londres, o muçulmano Sadiq<br />
Kahn – o trabalhista que, em 2016,<br />
derrotou Boris Johnson, anterior res-<br />
ponsável do cargo.<br />
O presidente dos Estados Unidos<br />
continua sem poupar os adjectivos positivos<br />
às suas ideias. Donald Trump<br />
prometeu um acordo fenomenal, nas<br />
suas próprias palavras, entre o seu<br />
país e o Reino Unido. Mostrou-se ao<br />
lado de Boris Johnson – o que até seria<br />
aceitável, se já fosse o chefe do Governo.<br />
Donald Trump não mostrou só<br />
apoio a Boris Johnson. Reuniu-se e<br />
manifestou grande simpatia por Nigel<br />
Farage, o rosto mais mediático dos<br />
defensores da saída da UE. Populista,<br />
extremista, anti-europeu e xenófobo,<br />
o líder do Partido do Brexit foi apelidado<br />
«bom rapaz», pelo presidente<br />
norte-americano, que defendeu que<br />
deveria estar presente nas negociações<br />
com os 27.<br />
Alargamento adiado - Com o<br />
problema do primeiro abandono do<br />
bloco, os países da UE são obrigados a<br />
repensar o alargamento do espaço comunitário.<br />
As negociações para a adesão<br />
da Albânia e da Macedónia foram<br />
adiadas para Outubro.<br />
Há quem critique a data, por ser<br />
prematura. O Brexit deverá acontecer<br />
até ao final de Outubro e o alargamento<br />
terá de ser debatido ainda sem que<br />
o problema maior da UE esteja resolvido.<br />
Aliás, com o separatista ainda no<br />
bloco.<br />
Em Maio, a Comissão Europeia recomendou<br />
ao Conselho Europeu o início<br />
das conversações para a admissão<br />
desses dois países balcânicos. França e<br />
Holanda mostram-se pouco receptivas<br />
a entradas. Porém, o bloco está dividido<br />
quase a meio.<br />
A lista de candidatos à admissão é<br />
mais vasta e composta por quatro países<br />
dos Balcãs e vítimas de guerra na<br />
passada década de 90: Bósnia-Herzegovina,<br />
Kosovo, Montenegro e Sérvia.<br />
Há ainda a Turquia, a eterna candidata,<br />
recusada sistematicamente devido<br />
questão do Norte de Chipre – que a<br />
opõe à Grécia e ao Chipre independente<br />
– e por problemas de respeito pelos<br />
Direitos Humanos e cujo regime, de<br />
Recep Erdogan, só fecha portas.<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 63
MUNDO<br />
ITALIANOS AGUARDAM CASTIGOS DA U.E.<br />
ITÁLIA TENTA EVITAR<br />
PROCEDIMENTO<br />
POR DÉFICE EXCESSIVO<br />
Itália é o novo problema da União Europeia. As dificuldades económicas eram conhecidas,<br />
mas agora o país está em risco de penalizações, devido à sua dívida. A situação de<br />
Itália é considerada como a maior ameaça à Eurozona, sendo comparável a um Brexit<br />
sem acordo – considera o Fundo Monetário Internacional<br />
Texto: João Barbosa / Fotos: Arquivo NET<br />
64 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
MUNDO<br />
A<br />
dimensão económica<br />
e populacional não é a<br />
de Portugal ou da Grécia,<br />
mas poderá ser o<br />
primeiro dos grandes<br />
estados a conhecer<br />
castigos do bloco. O ministro italiano<br />
das Finanças tenta evitar as sanções<br />
e garante a vontade de cumprir a<br />
meta do défice orçamental. Giovanni<br />
Tria diz que vão ser cortadas despesas,<br />
preferencialmente à subida das<br />
taxas dos impostos.<br />
A desaceleração da economia<br />
transalpina, em 2018, tramou as<br />
contas. Agora, Itália promete redução<br />
da despesa, incluindo em matéria<br />
social. Para 2020, Giovanni Tria<br />
promete um défice de 2,1% do produto<br />
interno bruto.<br />
As garantias de Giovanni Tria<br />
aconteceram em Londres, numa reunião<br />
com vários responsáveis de instituições<br />
financeiras e banqueiros, a<br />
19 de Junho. Porém, dias antes, a 14,<br />
na reunião do Eurogrupo, o ministro<br />
italiano tinha garantido que Itália<br />
não precisa de medidas para baixar<br />
a sua dívida.<br />
Os parceiros do Euro querem que<br />
Itália cumpra as regras, sob pena do<br />
sistema tremer mais e criar mais<br />
impactos na economia do bloco. Os<br />
governantes tentam travar a vontade<br />
da Comissão Europeia em abrir um<br />
procedimento por défice excessivo –<br />
proposta apresentada a 5 de Junho.<br />
Porém, não abdicam do esforço que<br />
o país terá de realizar.<br />
O executivo de Bruxelas admite<br />
mesmo que a dívida italiana pode<br />
agravar-se. Em 2018 situou-se em<br />
132,2% do PIB. As previsões da Comissão<br />
estabelecem 133,7%, neste<br />
ano, e 135,5, para 2020. O limite situa-se<br />
em 60%. Sinal desse caminho<br />
negativo foi o agravamento em Abril,<br />
atingindo 2,373 biliões de euros.<br />
Entre os conselhos, a Comissão<br />
recomenda acções que actuem face<br />
a fuga ao fisco, no combate à corrupção<br />
e para a resolução do crédito<br />
malparado.<br />
Por seu turno, o primeiro-ministro<br />
italiano garante o cumprimento<br />
das regras, mas pretende a alteração<br />
de alguns aspectos. Giuseppe Conte<br />
pretende a criação de novos mecanismos<br />
para a estabilidade e o crescimento,<br />
além de mexidas na partilha<br />
dos riscos.<br />
O FMI prevê que, em caso de se<br />
confirmarem os piores receios na<br />
UE, a Zona Euro viva um período<br />
considerável com fraco crescimento<br />
e fraca taxa de inflação.<br />
Inflação não dispara - O comportamento<br />
da inflação na Zona Euro<br />
continua a desiludir. Devido à progressão<br />
abaixo do objectivo de 2%,<br />
o Banco Central Europeu prepara-se<br />
para apresentar incentivos ao crescimento<br />
económico. Os dois dos medicamentos<br />
são antigos: cortes nas taxas<br />
de juro e voltar a comprar dívida.<br />
Sergio Mattarella, Presidente da Itália<br />
O FMI prevê que a Zona Euro<br />
apresente um maior crescimento no<br />
final deste ano mas, caso os riscos se<br />
materializem, o fundo conta com um<br />
período prolongado de baixo crescimento<br />
e baixa inflação.<br />
A Markit, agência de informação<br />
económica e financeira, revelou previsões<br />
sobre a União Europeia, relativa<br />
a Maio. Embora positivas, não<br />
são completamente animadoras. As<br />
economias da Alemanha e de França<br />
mostraram-se positivas. Mas Itália<br />
está em recessão ligeira. As previsões<br />
apontam para um crescimento<br />
débil da Zona Euro, em 2019.<br />
Os elementos apurados indicam<br />
que, no primeiro trimestre, a economia<br />
europeia cresceu 0,2%. Uma desaceleração<br />
face aos três meses anteriores,<br />
que registaram uma subida<br />
de 0,4%. Todavia, a agência assume<br />
que ainda não tem a totalidade dos<br />
dados de Junho.<br />
Os dados oficiais apontam para<br />
uma melhoria da economia da União<br />
Europeia. O Eurostat anunciou uma<br />
progressão do PIB em 0,4%, nos primeiros<br />
três meses em comparação<br />
com o trimestre anterior. Em comparação<br />
com o período de Janeiro<br />
a Março de 2018, a taxa melhorou<br />
1,5%. Na Zona Euro, a progressão foi<br />
de 0,4%, em cadeia, e de 1,2%, em<br />
período homólogo.<br />
Portugal está acima da média dos<br />
seus parceiros de moeda. Em cadeia,<br />
a economia melhorou 0,5% e, em<br />
termos homólogos, 1,8%. Esta foi a<br />
quarta vez consecutiva que consegue<br />
melhor desempenho.<br />
Outra notícia negativa pode vir<br />
da Alemanha. O Deutsche Bank prepara-se<br />
para uma grande reestruturação,<br />
devido a activos tóxicos calculados<br />
em cerca de 50 mil milhões de<br />
euros, representado perto de 14%<br />
das contas da instituição.<br />
O The Financial Times adianta<br />
que a constituição dum «banco mau»<br />
pode ser a solução a apresentar, a<br />
quando da divulgação dos resultados<br />
do primeiro semestre, que deverá<br />
acontecer a 24 de Julho.<br />
Esta é uma possível consequência<br />
pelo falhanço da fusão com o<br />
Commerzbank, que criaria o terceiro<br />
maior banco da União Europeia. Os<br />
problemas do Deutsche Bank têm<br />
um impacto real, uma vez que é o<br />
terceiro maior da Zona Euro, o sétimo<br />
da UE e 14º do mundo, segundo<br />
a agência Bloomberg.<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 65
DESPORTO<br />
SEM DINHEIRO A TEMPO E COM PREPARAÇÃO INEFICAZ<br />
PALANCAS FORAM AO EGIPTO<br />
PARA CHEGAR ÀS MEIAS FINAIS<br />
Angola, representada pela sua selecção nacional de futebol, Palancas Negras, foi com<br />
parcos recursos financeiros para participar na Taça de África das Nações. Depois de os<br />
Palancas Negras lograrem o apuramento à fase final e de o presidente da Federação Angolana<br />
de Futebol, Artur Almeida, ter assistido ao sorteio , foi recebido , já em Luanda,<br />
pelo Presidente da República<br />
Textos: António Félix / Fotos: Arquivo F&N<br />
Foram reveladas certas<br />
garantias e as condições<br />
financeiras para os compromissos<br />
das selecções<br />
nacionais, entre elas os<br />
Palancas Negras que,<br />
nesta edição organizada pelo Egipto,<br />
almejaram pela primeira vez às meias<br />
finais - superando os quartos de final<br />
de 2018, no Ghana. O certo é que os<br />
Palancas Negras até à partida do estágio<br />
em Portugal, viajaram sem apoio<br />
financeiro do Estado. O presidente<br />
da Federação Angolana de Futebol<br />
esclareceu, à data, que a viagem se<br />
consumou devido a um empréstimo<br />
que a instituição a que preside fez<br />
jundo de entidades bancárias não reveladas<br />
por si. Esta informação deu-a<br />
já, publicamente, a partir de Lisboa<br />
onde, por falta de suporte financeiro,<br />
os Palancas Negras, confrontaram-se<br />
com a falta de "cachet" para convidar<br />
e testar com outras selecções, sendo<br />
que a única que aceitou um "amigável"<br />
foi a da Guiné Bissau.<br />
Agregado este facto, os jogadores<br />
dos Palancas Negras exigiram atempados<br />
pagamentos das ajudas diárias;<br />
situação que levou Artur Almeida a<br />
regressar a Luanda, onde, numa altura<br />
em que a selecção já tinha saído de<br />
Lisboa para o Cairo, ouviu a ministra<br />
da Juventude e Desportos, Ana Paula<br />
Sacramento Neto, a confirmar a entrega<br />
da verba, sem apontar números.<br />
Na ocasião, o ministro das Finanças,<br />
Archer Mangueira, falando para a<br />
Rádio 5, em Luanda, chamou atenção<br />
para a necessidade de os orçamentos<br />
para competições de vulto, como<br />
a Taça de África das Nações, serem<br />
apresentados pela federação um ano<br />
antes do "ano desportivo", direccionados<br />
ao Ministério da Juventude e<br />
Desportos e deste ao Conselho de Ministros,<br />
a fim de constarem do Orçamento<br />
Geral do Estado.<br />
Na falta de confirmação oficial, se<br />
assim se procedeu, fica-se por saber<br />
se a federação falhou ou se, tendo<br />
cumprido, houve cortes. Sobram, assim,<br />
dúvidas se oficialmente a verba<br />
pública cedida corresponde ou não ao<br />
que o presidente da federação, Artur<br />
Almeida, projectou para a preparação<br />
e participação da selecção para maior<br />
torneio futebolístico africano.<br />
Artur de Almeida e Silva estimara,<br />
uma semana antes do anúncio da ministra,<br />
que seriam necessários entre<br />
600 e 700 milhões de Kwanzas para<br />
boa actuação dos Palancas.<br />
66 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
DESPORTO<br />
PRIMEIRO DE AGOSTO REAFIRMA FAVORITISMO<br />
GIRABOLA ARRANCA<br />
A 15 DE AGOSTO<br />
• Ferrovia do Huambo quer Kz 50 milhões para participar<br />
Está decidido que a próxima<br />
edição do Girabola<br />
- como é designado o<br />
campeonato de futebol<br />
da 1ª divisão em Angola<br />
- comece a 15 de Agosto,<br />
segundo o sorteio, realizado na sede<br />
da Federação Angolana de Futebol<br />
(FAF).<br />
O cartaz da 1ª jornada oferece os<br />
jogos entre o Desportivo da Huíla-<br />
-Bravos do Maquis; Sagrada Esperança-Interclube;<br />
Sporting de Cabinda-<br />
Recreativo do Libolo; Ferroviário do<br />
Huambo-Cuando Cubango FC; 1º de<br />
Maio-Académica do Lobito; Benfica<br />
do Lubango- Petro de Luanda e Progresso<br />
do Sambizanga-1º de Agosto.<br />
As ausências de vulto da prova<br />
são as do Atlético Aviação ASA, que<br />
entrou na prova em 1979, mas pontualmente<br />
despromovida este ano,<br />
assim como o Kabuscorp do Palanca,<br />
este devido ao castigo imposto pela<br />
FIFA por não ter pago a tempo os 500<br />
mil dólares contratuais que devia ao<br />
ex-internacional brasileiro Rivaldo.<br />
O 1º de Agosto, campeão em título,<br />
ambiciona repetir a proeza, na<br />
próxima época, sem conhecer, outra<br />
vez, derrota alguma, segundo reacção<br />
do técnico -adjunto Ivo Traça.<br />
"Gostaríamos de bater o mesmo recorde<br />
para irmos buscar o penta",<br />
disse .<br />
O Petro de Luanda, depois de dez<br />
anos sem conquistar o Girabola, está<br />
focado em voltar a erguer o troféu ,<br />
tendo apostado em dois reforços<br />
já confirmados. O central congolês<br />
democrático do Vita Club, Yanick<br />
Kibangala, e o avançado ruandês Jackes,<br />
do Gor Mahia do Quénia.<br />
Entretanto, sem que o campeonato<br />
desse o pontapé de saída, o Ferrovia<br />
do Huambo, que ascendeu pela<br />
primeira vez ao Girabola, já reclamou<br />
que necessita de mais de 50 milhões<br />
de kwanzas para suportar as despesas<br />
da sua participação, segundo o<br />
seu presidente de direcção, Adriano<br />
Marques Catito.<br />
Em termos competitivos, disse<br />
que a formação conta, até ao momento,<br />
com a equipa base que disputou o<br />
Zonal de Apuramento, mas que poderá<br />
ser reforçada por jogadores das<br />
camadas jovens e de outros clubes,<br />
sondados aquando da realização do<br />
nacional de Sub-20.<br />
15 ANOS DEPOIS<br />
UM ANGOLANO NA NBA<br />
O<br />
poste angolano<br />
Bruno Fernando<br />
fez jús, em nome<br />
pessoal e ao de<br />
Angola, ao velho<br />
adágio "água mole<br />
bate tanto em pedra dura até que<br />
fura". Entra para a NBA - National<br />
Basketball Association - depois de<br />
muitas tentativas falhadas pelos<br />
seus compatriotas desde 2004.<br />
Nascido em Luanda há 20<br />
anos, onde se iniciou nas escolas<br />
do 1º de Agosto e, depois, fazendo<br />
carreira universitária nos<br />
Estados Unidos em Maryland, foi<br />
o quarto jogador a ser eleito na<br />
segunda ronda do draft e, assim,<br />
vai tornar-se o primeiro angolano<br />
a jogar na competição, ao ser escolhido<br />
pelos Philadelphia 76'ers.<br />
Mas apesar de ter sido<br />
escolhido pelos Sixers, o poste<br />
de 2,08 metros deverá jogar em<br />
2019/2020 nos Atlanta Hawks,<br />
que, como conjunto de Filadélfia,<br />
pertence à Conferência Este, devido<br />
a uma das muitas trocas de<br />
jogadores na noite do draft.<br />
Na época 2018/19, a segunda<br />
ao serviço da Universidade de<br />
Maryland, Bruno Fernando, que<br />
começou a jogar basquetebol<br />
nos angolanos do 1.º de Agosto e<br />
rumou aos Estados Unidos com<br />
16 anos, conseguiu médias de<br />
13,6 pontos, 10,6 ressaltos e 1,9<br />
desarmes de lançamento.<br />
Cinco angolanos falharam,<br />
anteriormente, entrada na NBA,<br />
tida como maior liga de basquetebol<br />
do mundo. Trata-se Gerson<br />
Monteiro, que em 2004 tentou<br />
pelos San Antonio Spurs, Victor<br />
Muzadi (Dallas Mavericks/2005),<br />
Olímpio Cipriano (Detroit<br />
Pistons/2007), Yanick Moreira<br />
(Torento Raptors/2016) e Carlos<br />
Morais pelos Toronto Raptors, em<br />
2013.<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 67
DESPORTO<br />
BRUNO FERNANDO E A ENTRADA NA NBA<br />
A EXPLICAÇÃO<br />
OPORTUNA DE LUÍS COSTA<br />
Com a devida autoridade<br />
que se lhe confere como<br />
uma dos mais prestigiados<br />
jornalistas desportivos<br />
angolanos, Luís Costa,<br />
hoje radicado nos Estados<br />
Unidos da América, apresentou , num<br />
rico post publicado no facebook, uma<br />
peça onde recorda, de forma brilhante,<br />
o percurso trilhado por vários basquetebolistas<br />
angolanos, até se atingir este<br />
importante feito de Bruno Fernando,<br />
que acaba de entrar neste mundo fantástico<br />
que é a NBA. Ele explica por quê,<br />
as vantagens financeiras que o jovem<br />
teraá Eis o texto:<br />
REVISITANDO O DRAFT DA NBA-<br />
"Quem tomar as Summers Leagues (Ligas<br />
de Verão) como referências para dizer<br />
que alguém já está na NBA, então tem<br />
que concluir que Bruno Fernando não é<br />
o primeiro a fazê-lo. Em 2007 Olímpio<br />
Cipriano fez as Summers Leagues pelos<br />
Detroit Pistons mas foi cortado.<br />
Três anos antes, (2004) Gerson<br />
Monteiro, na altura com 31 anos, tinha<br />
conseguido chegar mais longe:<br />
fez a pré-temporada pelos San Antonio<br />
Spurs. Foi cortado uma semana antes<br />
do arranque oficial da Liga, justamente<br />
quando as equipas são obrigadas a<br />
declarar os plantéis para a temporada.<br />
Em 2013, aos 27 anos de idade,<br />
Carlos Morais também teve a mesma<br />
sorte. Fez a liga de verão, mas foi cortado.<br />
Morais vinha sendo observado desde<br />
2002, por Ujiri Masai o qual durante<br />
muitos anos foi olheiro de equipas da<br />
NBA. Foi pela mão dele, nessa altura<br />
(2013) já como VP para as operações<br />
de basquetebol dos Raptors, que CM<br />
fez a liga de verão desse ano.<br />
O draft basicamente garante à equipa<br />
que escolher um jogador direitos sobre<br />
o mesmo. [Arvidas Sabonis foi selecionado<br />
pelos Portland Trail Blazers em<br />
1986. Apenas juntou-se à NBA em 1995<br />
e teve que o fazer pela porta desta equipa<br />
a qual detinha os direitos sobre ele).<br />
O draft é meio caminho andado,<br />
pois de outra forma seria um desperdício<br />
para as equipas, já que o draft é uma<br />
montra única. Ao contrário dos outros<br />
três angolanos, Bruno tem a seu favor,<br />
vários anos de basquetebol americano.<br />
(ensino médio e universidade.)<br />
Seja como for ir ao draft não é<br />
uma garantia. Espero ardentemente<br />
que Bruno Fernando se mantenha nos<br />
Hawks e que isso dê mais exposição ao<br />
basquetebol angolano, hoje por hoje<br />
muito mal . O meu passado de jornalis-<br />
ta desportivo leva-me ao seguinte: os<br />
três angolanos que precederam Bruno<br />
Fernando tinham contra si, o facto de<br />
que nos anos em que se fizeram à NBA,<br />
havia muitos bases e extremos “baixos”<br />
a concorrerem para as mesmas posições.<br />
(Os americanos eram mais altos e<br />
mais novos do que os angolanos).<br />
O draft da última quinta-feira tem<br />
uma particularidade:<br />
No primeiro round, (de 1 a 30) apenas<br />
foram selecionados três “postes” de<br />
raíz. (Atlanta Hawks -Nr 8) , Indiana Pacers<br />
Nr 18 e Brooklyn Nets Nr 27).<br />
O jogador selecionado pelos Atlanta<br />
Hawks, Jaxson Hayes foi transferido na<br />
mesma noite para os Pelicans de New<br />
Orleans. Não me perguntem porque o<br />
fizeram mas uma das razões na perspectiva<br />
dos Pelicans podem ser os três<br />
cêntimos de diferença entre os dois. Os<br />
Hawks poderão ter outra perspectiva :<br />
Jaxson Hayes, 2.11 cm, 99 kg, (10 pontos,<br />
5 ressaltos e 0.3 assistes por jogo)<br />
na última temporada no colégio, escolhido<br />
na posição Nr 8, ficaria sempre<br />
mais caro do que qualquer jogador escolhido<br />
no segundo round que é o caso<br />
de Bruno Fernando (2.08 cm , 108 kg),<br />
12 pontos, 8.7 ressaltos e 1.4 assistes<br />
por jogo.<br />
A tabela salarial para rookies (caloiros)<br />
fixada pelo contrato colectivo de<br />
trabalho, reserva ao jogador seleccionado<br />
na posição Número 8 o seguinte:<br />
Primeira época $ 4,046,500<br />
Segunda época $4,248,800<br />
Terceira época $4,451,100<br />
Na quarta época o clube tem a opção<br />
de renovar ou declinar o contrato.<br />
Se renovar o jogador terá direito a um<br />
incremento salarial de 27.2% (Fonte<br />
Real GM).<br />
No segundo contrato, o qual tem a<br />
duração de cinco anos, o direito de renovar<br />
ou declinar o contrato aplicado<br />
ao fim do quarto ano, reverte para os<br />
jogadores.<br />
Escolhido no segundo round (posição<br />
34) Bruno Fernando habilita-se<br />
a um contrato de 800mil/900 mil ano.<br />
Um estudo da NBC Sports revela que<br />
nos dois últimos anos, 22 dos 30 jogadores<br />
seleccionados no segundo round receberam<br />
contratos de dois anos, a uma<br />
média 815 mil dólares por ano. Vou torcer<br />
para que Bruno Fernando, cuja equipa<br />
universitária jogava a meia hora da<br />
minha casa, chegue lá, faça a transição<br />
para a liga mais importante do mundo e<br />
que pelo meio faça algum dinheiro para<br />
ele. Boa sorte Bruno". (Luís Costa).<br />
68 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
FIGURAS<br />
António Félix<br />
felito344@yahoo.com.br<br />
DE JOGO<br />
HÁ "PROGRESSO"<br />
DA ERA PAIXÃO JÚNIOR?<br />
Se o Progresso do Sambizanga<br />
não superar a sua<br />
crise financeira, a ponto<br />
de quase ver na indigência<br />
jovens promessas<br />
como o Buchinho, hoje<br />
atirado à sua sorte, este clube pode,<br />
conforme vejo e anoto, ter o mesmo<br />
destino que o ASA ou mesmo<br />
o Kabuscorp do Palanca, o que, a<br />
acontecer, será triste, muito triste<br />
mesmo, porque não foi este o "pano<br />
de fundo" dos seus fundadores a 17<br />
de Novembro de 1975 (em breve<br />
completa 44 anos).<br />
Espera-se que assim não aconteça,<br />
porque deseja-se ainda um<br />
Progresso Associação Sambizanga<br />
para longo tempo, por forma a resgatar<br />
a vontade um dia defendida pelos<br />
seus fundadores, quando decidiram<br />
fundir a Juventude Unida do Bairro<br />
Alfredo e, assim, aglutiná-lo para o<br />
desenvolvimento do futebol.<br />
Já basta sentir e lembrar que é<br />
desde Maio de 1977 que a equipa<br />
ainda se ressente com os efeitos da<br />
ressaca do "27"; um marco que, em<br />
boa verdade, está também na base,<br />
dali até aqui...das gritantes dificuldades<br />
financeiras, intrigas de foro bairrista,<br />
incompatíveis com os tempos<br />
que correm e com os modos de gestão<br />
moderna que, diga-se, alguns bons<br />
dirigentes procuraram introduzir,<br />
como é o caso - sem desprimor para<br />
os restantes - do actual, Paixão Júnior.<br />
Deixa-me lembrar de novo que,<br />
antes dele, por lá já passaram dirigentes<br />
como Alves Baptista "Nito<br />
Alves", Rui de Jesus, Brito Sozinho,<br />
Beto Van-Dúnem, Lopo do Nascimento,<br />
Eduardo Veloso, Fiel Didi, Simão<br />
Paulo, Nelo Victor, Daniel Simas e<br />
Galvão Branco.<br />
O Progresso de hoje - é o que dizem<br />
os sócios e adeptos que desejam<br />
o seu sucesso - tem de voltar a ter<br />
craques inolvidáveis como os que já<br />
teve,e citam exemplos de Praia, Santinho,<br />
Manuel, Bonito, Lelé, Salviano,<br />
Chiminha, Luís Cão, Ginguma, Kiferro,<br />
Augusto Pedro, Santo António,<br />
Mirrage, Sorcié e Vata, Janguelito,<br />
Cacharamba, Zico e Pedro Mantorras.<br />
Deve voltar a destilar futebol<br />
alegre e vistoso como nos tempos em<br />
que bateu o pé e vergou a Académica<br />
do Ambrizete, Sporting do Musserra,<br />
Benfica do Kinzau e mais tarde o 1º<br />
de Agosto, TAAG, Mambrôa, Chela, FC<br />
do Uíge entre outros.<br />
Se foi a primeira equipa do continente<br />
africano a jogar no mítico estádio<br />
do Maracaná, durante um estágio<br />
efectuado no Brasil, tem de voltar à<br />
sua fama e espalhar o perfume do<br />
seu futebol nas frentes internacionais<br />
em que vier a estar engajada, ter<br />
muitos títulos e não apenas a Taça de<br />
Angola conquistada em 1996.<br />
Para mim - continuo a dizer<br />
isto - de 2009 para 2010 "interesses<br />
superiores" travaram a equipa, mas,<br />
depois também alinhei na fanfarra<br />
das gentes do mítico bairro Sambizanga<br />
e arredores, que morre de<br />
amores pela sua popular equipa de<br />
futebol. Agora resta-lhes este Progresso<br />
que hoje quase soçobra na era<br />
Paixão Júnior sem os apoios do outro<br />
tempo. 4<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 69
SAÚDE & BEM-ESTAR<br />
MAIS UMA ESPERANÇA PARA VEGETARIANOS QUE PRECISAM DE SUPLEMENTAÇÃO<br />
VITAMINA B12 EM PLANTAS:<br />
O FIM DE<br />
UM PESADELO?<br />
Quem nunca ouviu falar que vegetarianos têm deficiência de vitamina B12? Por muito<br />
tempo a mídia divulgou que a ausência de B12 (conhecida como cobalamina) é o pesadelo<br />
de toda pessoa que escolhe não ingerir produtos animais. A B12 é única entre as vitaminas<br />
porque é produzida somente por certas bactérias e, portanto, precisa passar por uma longa<br />
jornada até chegar a organismos multicelulares mais complexos como os animais, de onde,<br />
enfim, os carnívoros conseguem adquirir a quantidade necessária dessa vitamina<br />
Textos: Everton Fernando Alves * / Fotos: Arquivo F&N<br />
70 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
SAÚDE & BEM-ESTAR<br />
É<br />
facto, portanto, que<br />
a principal fonte de<br />
B12 se encontra em<br />
alimentos derivados<br />
de animais. Segundo a<br />
organização norte-americana<br />
Food and Nutrition Board,<br />
a dose diária de vitamina B12<br />
necessária para o organismo é de<br />
2,4 µg (microgramas) para adultos,<br />
1,2 µg para crianças de até oito anos<br />
e 2,8 µg para gestantes e mães que<br />
amamentam.<br />
No entanto, o que a mídia popular<br />
não divulga é que nem todos os<br />
vegetarianos terão necessariamente<br />
falta de vitamina B12 no organismo.<br />
Estudos mostram que 40% dos vegetarianos<br />
nunca terão deficiência<br />
nenhuma da vitamina. Mais curioso<br />
ainda é o facto de que comer produtos<br />
animais não garante que os carnívoros<br />
não tenham deficiência de<br />
vitamina B12. Como sabemos disso?<br />
Pesquisa mostrou que 40% dos indivíduos<br />
que ingerem carne também<br />
apresentam carência de B12.<br />
Mas qual é a função da vitamina<br />
B12? Essa vitamina é hidrossolúvel<br />
e ajuda a manter o metabolismo e a<br />
função do sistema nervoso central.<br />
Ela também reduz o risco de<br />
quebras cromossômicas levando a<br />
danos no DNA e é benéfica para os<br />
músculos. Esse nutriente participa<br />
da formação, integridade e maturação<br />
das células vermelhas do<br />
sangue, prevenindo especialmente a<br />
anemia megaloblástica. A vitamina<br />
B12 também tem sido recomendada<br />
para idosos, pois estudos apontam<br />
que ela previne a degeneração do<br />
cérebro.<br />
Mas, então, quais são os sintomas<br />
da falta dessa vitamina? “Sua<br />
falta pode afectar a memória e a<br />
concentração, gerar formigamentos<br />
nas pernas e nas mãos e desencadear<br />
até anemia”, afirma Andréa Pereira,<br />
médica nutróloga do Hospital Israelita<br />
Albert Einstein, em São Paulo.<br />
Ao contrário da crença popular,<br />
existem raros casos diagnosticados<br />
de vegetarianos estritos com déficit<br />
de B12. Isso porque há mecanismos<br />
complexos e maravilhosos no<br />
organismo humano de reaproveitamento<br />
e manutenção da quantidade<br />
anteriormente absorvida dessa<br />
vitamina. Especialmente por conta<br />
de uma circulação entero-hepática<br />
(entre o intestino e o fígado) muito<br />
eficiente que recupera grande parte<br />
da vitamina B12 excretada na bílis.<br />
Isso sugere que, para sua manutenção<br />
corporal, são mais importantes<br />
as questões ligadas ao metabolismo<br />
humano do que à quantidade<br />
ingerida.<br />
Para quem é ovolactovegetariano,<br />
ou seja, aqueles que além de vegetais<br />
também ingerem ovos e derivados<br />
do leite, a preocupação é menor ainda.<br />
Isso porque ovos e leite possuem<br />
B12, embora estudos apontem que<br />
menos de 9% da B12 consumida do<br />
ovo é aproveitada pelos humanos.<br />
Plantas cultivadas absorvem B12<br />
Por muito tempo também se afirmou<br />
categoricamente que as plantas<br />
não sintetizam nem armazenam vitamina<br />
B12 e que essa vitamina existe<br />
somente nos vegetais, se eles forem<br />
contaminados por bactérias que a<br />
produzam. Esse é mais um mito que<br />
cai por terra diante das evidências<br />
científicas actuais.<br />
Um estudo recentemente<br />
publicado na revista Cell Chemical<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 71
SAÚDE & BEM-ESTAR<br />
Biology divulgou uma descoberta<br />
surpreendente de como o teor<br />
vitamínico de algumas plantas pode<br />
ser melhorado para tornar mais<br />
completas as dietas ovolactovegetarianas<br />
e vegetarianas estritas. A<br />
equipe de pesquisa, liderada pelo<br />
professor Martin Warren, da Escola<br />
de Biociências da Universidade<br />
Kent (Reino Unido), provou que os<br />
Algas marinhas, como fonte de B12<br />
agriões comuns podem, de facto,<br />
absorver B12.<br />
Que notícia fantástica, não é?<br />
Para os cientistas, a quantidade de<br />
B12 absorvida pelo agrião depende<br />
da quantidade presente no meio de<br />
crescimento. Após sete dias de crescimento,<br />
as folhas das plantas foram<br />
removidas, lavadas e analisadas.<br />
Utilizando uma técnica a partir de<br />
moléculas fluorescentes de B12, os<br />
pesquisadores observaram o caminho<br />
que a B12 percorre desde que<br />
as mudas a absorvem do meio de<br />
crescimento até à armazenagem em<br />
suas folhas, fornecendo evidências<br />
definitivas de que algumas plantas<br />
podem absorver e transportar B12.<br />
Mas esse não foi o único estudo<br />
nessa direcção. Uma pesquisa realizada<br />
na Suíça já havia adicionado<br />
quantidades de análogo de B12 (cianocobalamina)<br />
ao solo de plantas de<br />
soja. Os pesquisadores observaram<br />
que 12-34% da B12 foram absorvidos<br />
pelas plantas. 66-87% da vitamina<br />
absorvida permaneceram nas<br />
raízes e o restante foi transportado<br />
para outras partes, principalmente<br />
as folhas.<br />
Outro estudo analisou como<br />
“<br />
A vitamina B12<br />
reduz o risco de quebras<br />
cromossômicas levando a<br />
danos no DNA e é benéfica<br />
para os músculos. Participa<br />
da formação, integridade<br />
e maturação das células<br />
vermelhas do sangue,<br />
prevenindo especialmente<br />
a anemia megaloblástica<br />
e tem sido recomendada<br />
para idosos, pois estudos<br />
apontam que ela previne a<br />
degeneração do cérebro<br />
“<br />
os níveis de B12 nas plantas (soja,<br />
grãos de cevada e espinafre) eram<br />
afectados pela adição de esterco de<br />
vaca ao solo. Ao medir o análogo de<br />
B12 nas amostras das plantas e de<br />
ambos os solos fertilizados organicamente,<br />
o autor do estudo concluiu<br />
que a absorção de B12 pelas plantas<br />
do solo, especialmente do solo adubado<br />
com esterco, poderia fornecer<br />
B12 para os humanos, e pode ser<br />
por isso que alguns veganos, que<br />
não suplementam B12, não desenvolvem<br />
deficiência dessa vitamina.<br />
Mas não para por aí. Pesquisa<br />
realizada em 2013 testou se a alface<br />
de crescimento hidropônico absorveria<br />
a vitamina B12 se ela fosse<br />
injectada no meio do cultivo. Os<br />
resultados mostraram que bastante<br />
B12 tinha sido absorvida e que duas<br />
folhas de alface poderiam conter 2,4<br />
µg de B12.<br />
Algas marinhas como fonte de<br />
B12 - Na sociedade em que vivemos,<br />
para prevenir a deficiência de<br />
vitamina B12 em populações que<br />
alguns grupos consideram de alto<br />
risco, como os vegetarianos, é necessário<br />
identificar, então, alimentos<br />
derivados de produtos naturais que<br />
contenham altos níveis de vitamina<br />
B12. E foi exactamente isso que<br />
fez uma equipe de cientistas cujos<br />
resultados foram publicados na<br />
revista Nutrients.<br />
Esse estudo identificou uma<br />
quantidade substancial (133,8<br />
g/100 g de peso seco) de vitamina<br />
B12 em pia roxo seca (nori). Nori,<br />
embora tecnicamente não seja uma<br />
planta, é uma espécie de folha feita a<br />
partir de algas marinhas amplamente<br />
utilizada em pratos da culinária<br />
japonesa. Uma pesquisa analisou o<br />
perfil nutricional de seis filhos veganos,<br />
com idades entre 4 e 10 anos,<br />
que consumiam dietas veganas<br />
incluindo arroz integral e pia roxo<br />
seco (nori), e sugeriu que o consumo<br />
de nori pode impedir a deficiência<br />
de B12 em crianças veganas.<br />
O laver roxo seco, outra espécie<br />
de alga marinha, também con-<br />
72 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
SAÚDE & BEM-ESTAR<br />
COM NÍVEIS ELEVADOS DE VITAMINA B12<br />
OUTRAS FONTES NATURAIS<br />
Níveis elevados de vitamina B12 foram detectados<br />
também no cogumelo seco shiitake, espécie Lentinula<br />
edodes (1,3–12,7 μg/100 g de peso seco) utilizada em<br />
vários pratos vegetarianos. Outras fontes não animais<br />
incluem ainda a spirulina (cianobactéria), o capim<br />
seco e a cevada<br />
Vitamina B12<br />
Complexo B 60 cápsulas Vegetais<br />
tém altos níveis de B12 (cerca de<br />
51,7g/100g seco). Aliás, metade de<br />
todas as espécies de algas absolutamente<br />
requer vitamina B12 para<br />
seu crescimento. Mas a microalga<br />
Chlorella também se destaca devido<br />
aos seus altos índices de B12.<br />
Uma pesquisa publicada em<br />
2010 na Current Gerontology and<br />
Geriatrics Research mostrou que os<br />
centenários coreanos que praticamente<br />
não comiam produtos animais<br />
tinham níveis normais de B12.<br />
Os pesquisadores mediram o<br />
conteúdo de B12 em alimentos<br />
consumidos por esses centenários<br />
e descobriram que muitos dos alimentos<br />
fermentados (como o kimchi<br />
caseiro), consumidos em quase todas<br />
as suas refeições, e algas continham<br />
análogos activos da vitamina B12.<br />
A conclusão é que os centenários<br />
estavam recebendo cerca de 30%<br />
(quantidade significante) de vitamina<br />
B12 de alimentos vegetais.<br />
* Mestre em Imunogenética pela UEM<br />
(In Revista Vida e Saúde).<br />
Além disso, estudos<br />
têm demonstrado<br />
que o Lactobacillus<br />
reuteri produz a<br />
B12 e que essa B12<br />
é equivalente à<br />
cianocobalamina. Num estudo realizado<br />
no Egipto, crianças em idade<br />
escolar foram alimentadas com<br />
iogurte fermentado apenas com<br />
Lactobaccillus acidophilus – duas<br />
xícaras por dia. Após 42 dias, seu<br />
índice de B12 foi comparado ao<br />
de crianças que receberam iogurte<br />
comercialmente preparado.<br />
Outro estudo analisou a alimentação<br />
de quatro veganos que<br />
incluía alimentos crus veganos e<br />
suplemento probiótico contendo<br />
Lactobacillus acidolphilus e outras<br />
espécies de Lactobacillus. Após três<br />
meses, os níveis de ácido metilmalônico<br />
(indicador de deficiência de<br />
vitamina B12) urinário de três dos<br />
quatro sujeitos diminuíram, embora<br />
não para níveis normais.<br />
Para a Sociedade Vegetariana<br />
Brasileira, a vitamina B12 é o “único<br />
nutriente que um vegetariano<br />
pode precisar suplementar mesmo<br />
com uma dieta bem planejada”.<br />
Por outro lado, como vimos nesta<br />
matéria, isso não quer dizer que<br />
um vegetariano necessariamente<br />
terá a deficiência.<br />
O meio de cultivo com B12 e<br />
sua absorção pelas plantas representa<br />
uma alternativa promissora<br />
para a resolução de problemas<br />
da comunidade vegetariana. No<br />
entanto, é importante aguardar novos<br />
resultados a fim de comprovar<br />
a eficácia dessas novas técnicas de<br />
cultivo para somente, então, depender<br />
de alimentos orgânicos como<br />
fonte exclusiva de vitamina B12.<br />
É importante fazer um acompanhamento<br />
periódico com um<br />
nutricionista ou médico especializado,<br />
a fim de rastrear eventuais<br />
deficiências dessa vitamina. Em<br />
casos comprovados, ainda tem sido<br />
recomendado que os vegetarianos<br />
tomem suplementos alimentares<br />
de vitamina B12 e/ou consumam<br />
alimentos enriquecidos com a vitamina,<br />
como leites vegetais, alguns<br />
produtos de soja e alguns cereais<br />
matinais.<br />
Lactobacillus acidophilus - bactéria<br />
'amigável' probiótico - converte a lactose<br />
em ácido lático, produz leite acidófilo<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 73
MODA & BELEZA<br />
FEBRE DA CAÇA DE TALENTOS AUMENTA<br />
O SEGREDO DO<br />
COMÉRCIO DAS<br />
SUPERMODELOS<br />
Tradicionalmente, as passarelas têm passado por ondas.<br />
Já lá vai o tempo em que os rostos mais procuradas eram<br />
as russas, brasileiras, holandesas ou nórdicas, constituindo<br />
uma proporção considerável nas pistas<br />
Texto: Crisa Santos / Fotos: www.pinterest.com<br />
Operando calmamente<br />
sob o radar,<br />
existe uma rede<br />
de ‘agências Mãe<br />
“em toda a África e<br />
Ásia extremamente<br />
ocupadas com o caça de talentos<br />
para a "próxima supermodelo", fazendo<br />
uma fortuna em comissões<br />
, enquanto impulsionadoras da diversidade<br />
nas capitais da moda.<br />
A mais recente onda de talentos<br />
da Nigéria, Sudão do Sul e Angola<br />
surgiu como resultado do desenvolvimento<br />
da rede entre agências-mãe<br />
e batedores, como<br />
Tamborin, que viajam para<br />
cidades e aldeias remotas<br />
em busca da próxima<br />
“It”-girl”.<br />
A diversidade nas pistas pode<br />
agora finalmente estar a equilibrar,<br />
mas muitas das agências-mães respeitáveis<br />
de hoje foram estabelecidas<br />
ao longo de uma década, a caçar<br />
talentos para as indústrias da moda<br />
locais e internacionais .<br />
No entanto, algumas agências-<br />
-mães têm modelos de má gestão.<br />
Outras podem ser francamente abusivas<br />
. Devido à má regulamentação<br />
em alguns países em desenvolvimento,<br />
envolver-se em comportamento<br />
anti-ético , incluindo o envio de talentos<br />
menores vulneráveis para um<br />
mercado estrangeiro sem um tutor<br />
ou acompanhante, não é incomum.<br />
Antes de assinar com uma agência<br />
capitais da moda, os modelos são<br />
enviados para testes nas pistas dos<br />
seus mercados domésticos, ou para a<br />
Ásia, onde as oportunidades comerciais<br />
são maiores.<br />
Espanha também se tornou um<br />
bom local para enviar modelos porque<br />
empresas como a Inditex recentemente<br />
começaram a usar modelos<br />
negras na Zara, e é um grande mercado<br />
para ganhar dinheiro e desenvolver<br />
talento.<br />
No entanto, ser um modelo edito-<br />
74 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
MODA & BELEZA<br />
rial de topo ou passarela não é garantia necessária<br />
de ser um ganhador de topo. Uma modelo que não<br />
é famosa, mas está a fazer catálogos pode fazer US<br />
$ 250.000 por ano, mas alguém em cada passarela<br />
pode ganhar US $ 10.000 por ano.<br />
O objectivo principal do agente é ter o máximo<br />
possível de books, mas para isso precisa de ter<br />
melhores modelos . A fim de fazer isso, os agentes<br />
muitas vezes trocam as modelos ou colocam a modelo<br />
numa agência em troca de alguém melhor. É o<br />
exercício de dinheiro.<br />
Contudo, para os poucos afortunados, as oportunidades<br />
podem ser mesmo maiores do que a<br />
fama e as fortunas pessoais. Os batedores ou caça<br />
talentos e as agências mães estão cientes de que<br />
identificar uma rapariga numa aldeia empobrecida<br />
e transformá-la numa "It-girl" pode trazer benefícios<br />
económicos modestos, mas significativos, de<br />
volta ao país natal da modelo. Frequentemente, há<br />
ponto de interesse nas modelos desse país e o apetite<br />
da indústria, de forma global para musas dessa<br />
parte do mundo, aumenta frequentemente.<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 75
FIGURAS DE LÁ<br />
FRADIQUE DE MENEZES<br />
"TROVOADA É FASCISTA"<br />
Patrice Trovoada é “um fascista que deve ser combatido”.<br />
Garantiu o ex-Presidente da República Fradique<br />
de Menezes, após várias horas de interpelação pela<br />
Comissão Parlamentar de Inquérito(CPI), que está a<br />
investigar o Golpe de Estado de 2003, à luz das acusações<br />
feitas em 2017 pelo operacional Peter Lopes,<br />
membro do antigo batalhão sul-africano “Búfalo”.<br />
De acordo com a "Página Global" , o operacional, que<br />
era amigo muito próximo do ex-Primeiro Ministro<br />
Patrice Trovoada, e activista político do partido de<br />
Patrice Trovoada, publicou um vídeo no ano 2017,<br />
anunciando que o ex-primeiro ministro foi o financiador<br />
do Golpe de Estado de 2003.(...) Fradique de Menezes<br />
garantiu à imprensa que ele era o único alvo,<br />
do Golpe de Estado de 2003. «Enquanto Presidente<br />
da Republica naquela altura, temos todos que reconhecer<br />
que esse golpe de Estado foi contra mim, era<br />
para suprimir este indivíduo que estava a incomodar<br />
muita gente», reforçou.<br />
DILMA ROUSSEFF<br />
LULA, LIBERDADE JÁ!<br />
A ex-Presidente brasileira Dilma Rousseff, voltou a pedir a libertação<br />
imediata do antigo chefe de Estado, Lula da Silva, por ter ,<br />
uma vez mais, constatado que houve falta de rigor e imparcialidade<br />
no processo movido contra o seu aliado de sempre. Em causa,<br />
agora, estão as mensagens trocadas entre o Juiz Moro e alguns<br />
procuradores. "As únicas provas dessa história são as evidências"<br />
apanhadas em flagrante "nas conversas reveladas agora, de que<br />
os procuradores fariam o que fosse preciso, independentemente<br />
da lei e do devido processo legal, para apoiar uma condenação, e<br />
de que para atingir este objectivo foram comandados pelo juiz<br />
[Sergio Moro], de maneira ilícita", afirmou recentemente Dilma<br />
Rousseff em comunicado.<br />
De se recordar que Sergio Moro, ministro da Justiça e da<br />
Segurança Pública no Governo liderado por Jair Bolsonaro, foi<br />
neste mês de Junho citado numa série de reportagens sobre a<br />
operação Lava Jato do 'site' The Intercept. Segundo o Intercept,<br />
conversas privadas revelam que o ex-juiz Sergio Moro<br />
sugeriu ao procurador e responsável pelas investigações da<br />
Lava Jato, Deltan Dallagnol, que alterasse a ordem das fases<br />
da operação, deu conselhos, indicou caminhos de investigação<br />
e deu orientações, isto é, teria ajudado a acusação, o que viola<br />
a legislação brasileira.<br />
76 Figuras&Negócios - Nº 200 - MAIO 2019
FIGURAS DE LÁ<br />
JOSÉ MÁRIO VAZ /<br />
DOMINGOS SIMÕES PEREIRA<br />
"GUERRA" PALACIANA<br />
Fez correr toneladas de tinta a nomeação definitiva<br />
de um nome para exercer o cargo de Primeiro<br />
Ministro na Guiné Bissau. Pelo menos até dia 20 de<br />
Junho nada estava decidido, uma vez que o Presidente<br />
guineense, José Mário Vaz, recusou o nome de<br />
Domingos Simões Pereira, líder do Partido Africano<br />
para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC),<br />
para exercer a chefia do governo.<br />
Em declarações à Lusa, Domingos Simões Pereira disse<br />
ter recebido na altura duas cartas do Presidente<br />
da Guiné-Bissau, uma a recusar o nome apresentado<br />
com "base em competências constitucionais que não<br />
especifica" e outra a pedir ao PAIGC para indicar outro<br />
nome. Domingos Simões Pereira afirmou também<br />
que o partido esteve reunido para analisar o conteúdo<br />
da carta e só depois anunciará uma decisão.<br />
De recordar que as eleições legislativas na Guiné-<br />
-Bissau realizaram-se a 10 de Março, mas o Presidente,<br />
José Mário Vaz, só recentemente começou a<br />
ouvir os partidos para indigitar o primeiro-ministro e<br />
consequente nomeação do Governo.<br />
JUAN GUAIDÓ<br />
"CHEFE DA MÁFIA" ?<br />
O procurador-geral venezuelano, Tarek William Saab, afirmou<br />
que o líder da oposição Juan Guaidó está directamente envolvido<br />
na má administração da verba destinada aos desertores<br />
venezuelanos na cidade fronteiriça colombiana de Cúcuta. No<br />
passado dia 18 de Junho, a procuradoria deu início à abertura<br />
do processo investigatório sobre os recentes relatos de corrupção<br />
entre os membros do partido político de Guaidó, encarregado<br />
de cuidar dos desertores venezuelanos.<br />
"O ministério iniciou uma investigação criminal com base em<br />
evidências tornadas públicas pela mídia internacional e pelas<br />
autoridades nacionais sobre a corrupção na utilização do dinheiro<br />
alocado para ajudar os venezuelanos na Colômbia", disse Saab<br />
em colectiva de imprensa, citado pela Página Global.Soube-se que<br />
este assunto envolve um alegado esquema tornado público depois<br />
que hotéis na cidade fronteiriça de Cúcuta começaram a despejar<br />
desertores por contas não pagas que, às vezes, chegavam a US$ 20<br />
mil (R$ 77 mil).<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 77
FIGURAS DE LÁ<br />
JEAN ZIEGLER<br />
DEMOCRACIA ESGOTADA<br />
Jean Ziegler é uma ave rara na cena política<br />
suíça, encarnando há quase meio século a figura<br />
do intelectual público de projecção global. Seu<br />
activismo político e actuação internacional,<br />
como relator especial da ONU, rendeu-lhe uma<br />
extensa gama de inimigos, não só entre os bancos,<br />
empresários e lideranças conservadoras,<br />
mas até mesmo no campo mais progressista.<br />
Mas Ziegler continua um observador activo, e<br />
nota que os cidadãos das grandes democracias<br />
vivem um “desespero silencioso e secreto”.<br />
É assim que o sociólogo Jamil Chade descreve<br />
Jean Ziegler, que, para si" não perde a esperança<br />
e insiste que a resposta à actual crise europeia<br />
está no fortalecimento de uma sociedade civil<br />
planetária. Aliás, já se sabe que para Ziegler,<br />
os acontecimentos nos últimos anos e a impotência<br />
do sistema político em dar respostas<br />
mostram que a “democracia representativa está<br />
esgotada”.<br />
JAIR BOLSONARO<br />
APOIOS ENFRAQUECIDOS<br />
"Independentemente do seu sucesso, a manifestação<br />
(registada recentemente no Brasil) é uma<br />
demonstração de fracasso do governo. Bolsonaro<br />
assumiu com uma boa base de apoio no Congresso<br />
e apoio popular, mas conseguiu destruir<br />
tudo isso em poucos meses", dá conta o Intercept<br />
Brasil.Para o seu colunista, José Maria, a manifestaçãoterá<br />
sido convocada logo após dois episódios<br />
que fragilizaram ainda mais o presidente. O<br />
primeiro, revela, foi o avanço das investigações<br />
do caso Queiroz, mostrando que a lama na qual<br />
Flávio Bolsonaro está atolado é maior do que se<br />
supunha.<br />
O segundo episódio, afirma-se no artigo, foi uma<br />
carta escrita por um filiado do Novo e compartilhada<br />
por Bolsonaro, em que classifica o país<br />
como “ingovernável fora de conchavos” e coloca o<br />
presidente como "um anjo indefeso cercado por<br />
ratos".<br />
78 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019
RECADO<br />
SOCIAL<br />
Carlos Miranda<br />
carlosimparcial@gmail.com.<br />
UM CONGRESSO "CHATO" E INDIGESTO<br />
O<br />
número de delegados ao VII<br />
Congresso Extraordinário do<br />
MPLA não terá sido insólito, mas<br />
a sua qualidade representativa,<br />
académica fundamentalmente,<br />
foi notável e de longe superior<br />
às que foram registadas até agora. Neste<br />
conclave,pela primeira vez sentiu-se o peso do<br />
novo líder nas escolhas e opções. A si, foram<br />
entregues numa bandeja de prata todos os louros<br />
conquistados antes, durante e depois de se<br />
ter colocado na mesa a necessidade urgente de<br />
se ampliar o Comité Central do partido.<br />
No ar, ficou clara a ideia de que chegou a<br />
hora de muitos "kotas arrumarem as bicuatas e<br />
irem pra casa", como bastas vezes se ouviu nos<br />
corredores do Centro de Convenções de Belas.<br />
Assim mesmo: sem curvas.E terá sido também<br />
aí que muitos dos mais velhos colocaram as<br />
contas em dia...Do passado, do presente e dum<br />
futuro que já parece incerto.<br />
Esteve mais do que evidente que não houve<br />
reticência alguma em se aumentar o número<br />
de membros do Comité Central:pouco importava<br />
se fossem mais cem ou duzentos os que<br />
entravam, pois os que lá estavam , permaneceriam<br />
sem ser beliscados, apesar de alguns,<br />
fartos destas mudanças bruscas, preferiram<br />
faltar à reunião magna do "seu" partido, a fim<br />
de traçar o seu destino, com juízo: cuidar dos<br />
netos e das posses materiais adquiridas ,sobretudo<br />
em nome do partido/estado/governante,<br />
ao longo de mais de quarenta anos.<br />
Pois é. Este congresso extraoridário foi uma<br />
"seca" para muitos da chamada "velha guarda"<br />
ou "núcleo duro e casmurro". Assistir, mais<br />
uma vez, a um "triste " espectáculo de putos foi<br />
um facto político difícil de engolir pelos velhos<br />
"maquisardes", ainda por cima numa manhã<br />
friorenta, muito susceptível de se contrair uma<br />
crise reumática ou respiratória aguda...<br />
Ainda assim, viu-se na sala pejada de gente<br />
jovem proveniente de todas as origens tribais<br />
e credos religiosos, vários "pesos pesados" da<br />
história antiga do MPLA. Com coragem mais<br />
do que revolucionária, lá estiveram desde o<br />
princípio até ao fim dum encontro "chato, atrevido<br />
e muito barulhento" em certos momentos<br />
de delírios juvenis.Momentos que nada tinha a<br />
ver com os seus territórios e faixas etárias...<br />
Para alguns, o VII Congresso Extraordinário<br />
foi mesmo uma realização "inoportuna" e<br />
sem qualquer interesse político que vincasse,<br />
uma vez mais, o facto de que só devia ser do<br />
Comité Central partido quem viesse de trás,<br />
dos tempos em que devia ser do partido quem<br />
merecesse e não quem quisesse. E de repente,<br />
muitas caras novas, jovens com atitude, muito<br />
bem formados, grande parte dos quais no estrangeiro<br />
e alguns até "pescados" de partidos<br />
políticos adversários.<br />
Este facto preencheu a alma de alguns<br />
kotas mais radicais de forma mais negativa<br />
que se possa imaginar. E vontade de<br />
"derraparem" daquele congresso não lhes<br />
faltou,nomeadamente nos momentos em que,<br />
desafiantes, alguns jovens tentavam propor algumas<br />
"selfies"...Que chatice!!! Todavia, certas<br />
deserções foram notadas e justificadas.É que<br />
já nem todos conseguem aguentar duas horas<br />
seguidas sentados , sem sentir uma vontade<br />
enorme de cumprir rigorosamente com os<br />
mandamentos fisiológicos da ordem em idades<br />
sensíveis à tantas intempéries que a vida longa<br />
continua a obrigar.<br />
Soube-se que alguns dos mais velhos já<br />
não puderam estar presentes na derradeira<br />
sessão de encerramento,ocorrida no pavilhão<br />
multiusos; um verdadeiro martírio para quem<br />
não se aconselha a ouvir e sentir tanta amplificação<br />
sonora. Os que se arriscaram a ouvir o<br />
que não deviam, arrependeram-se certamente,<br />
mas pelo menos lá foram vistos pelo chefe,<br />
fazendo-se saber que estão com ele, apesar dos<br />
pesares. Bom este "apesar dos pesares" é que<br />
muitos não querem ainda dizer o que de facto<br />
será, mas pode-se arriscar: tudo na vida tem<br />
um fim e o fim , para muitos, terá chegado com<br />
a realização do VII Congresso Extraordinário<br />
do partido.<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 79
80 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019