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F&N #201

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PÁGINA ABERTA<br />

meios e objectivos. Sendo recursos<br />

nacionais, estes tinham que ser usados<br />

em benefício do país, tinham que<br />

ser estabelecidas prioridades e para<br />

isso há que se definir efectivamente<br />

como tudo deve ser feito, tendo em<br />

conta os recursos e os beneficiários.<br />

F&N: Quanto às autarquias tem<br />

sido fracturante o ponto sobre o<br />

modelo a adoptar e agora a questão<br />

do número de municípios a<br />

atingir. Como olha para esta questão?<br />

L.H.: Não sou especialista nesta<br />

matéria, mas para mim é fundamental<br />

destacar que as autarquias serão<br />

postas em prática agora, embora já<br />

se tivesse falado desta questão na<br />

governação anterior. Temos dois elementos<br />

positivos: a decisão de fazer<br />

a descentralização e a desconcentração<br />

das decisões, integrando o país<br />

no que toca às decisões sobre medidas<br />

económicas e sociais e, por outro<br />

lado, fazer de facto. Sobre o gradualismo<br />

há por aí discussões, sobretudo<br />

entre os juristas penso que se poderia<br />

fazer um processo gradual, mas<br />

não por escolha directa. Poderíamos<br />

encontrar um modelo onde os municípios<br />

escolhidos dependessem<br />

dos próprios munícipes. Poderiam<br />

elaborar-se critérios amplamente<br />

discutidos e que seriam a base para<br />

a tomada de decisão. Creio que o país<br />

deve ser inserido integralmente neste<br />

processo desde o topo à base; há<br />

sempre possibilidade de as pessoas<br />

participarem desde que as regras<br />

estejam definidas e sejam aplicadas<br />

através das instituições correspondentes.<br />

Porque um dos problemas<br />

centrais do nosso país é o problema<br />

da corrupção que só pode ser banido<br />

se forem dados sinais efectivos de inclusão<br />

sem previlegiar esta ou aquela<br />

organização ou cidadãos. Um dos<br />

problemas centrais do nosso país é a<br />

segregação territorial. Ao longo dos<br />

anos privilegiaram-se as cidades e<br />

depois criou-se um ciclo vicioso. As<br />

cidades desenvolvem-se e as pessoas<br />

do campo acabam por mudar para as<br />

cidades e cada vez mais é necessário<br />

criar estruturas para as cidades.<br />

É urgente e necessário reverter este<br />

processo. Efectivamente, há zonas<br />

do País que estão abandonadas. À<br />

medida que nos afastamos do litoral<br />

agrava-se o distanciamento entre os<br />

beneficiários dos recursos do País e<br />

aqueles que ficaram excluídos.<br />

“<br />

Um dos problemas<br />

centrais do nosso país é a<br />

segregação territorial. Ao<br />

longo dos anos privilegiaram-se<br />

as cidades e depois<br />

criou-se um ciclo vicioso,<br />

as cidades desenvolvem-<br />

-se e as pessoas do campo<br />

acabam por mudar para as<br />

cidades e cada vez mais é<br />

necessário criar estruturas<br />

para as cidades. É urgente<br />

e necessário reverter este<br />

processo. Efectivamente<br />

há zonas do País que estão<br />

abandonadas, à medida<br />

que nos afastamos do<br />

litoral agrava-se o distanciamento<br />

entre os beneficiários<br />

dos recursos do<br />

País e aqueles que ficaram<br />

excluídos<br />

“<br />

F&N: Recentemente foram divulgados<br />

dados sobre o desemprego.<br />

São preocupantes?<br />

L.H.: Os dados são extremamente<br />

preocupantes e creio que os mesmos<br />

não reflectem a realidade do fenómeno.<br />

Não sei se os dados reflectem<br />

as pessoas que estão no mercado informal.<br />

Suponho que não. Podemos<br />

ver em duas perspectivas, as pessoas<br />

do sector informal podem ser consideradas<br />

pessoas que estão empregadas,<br />

embora não da forma mais<br />

adequada mas alinhado com o que<br />

acontece com as jovens economias<br />

africanas. É sempre um emprego<br />

precário. Portanto, se as pessoas do<br />

sector informal foram consideradas<br />

como empregadas, então, a estes números<br />

tem que se acrescentar esta<br />

situação porque provavelmente temos<br />

números de desemprego muito<br />

mais elevados.<br />

F&N: O que é que é possível fazer,<br />

do ponto de vista económico,<br />

para absorver todas estas pessoas<br />

que estão desempregadas?<br />

L.H.: É preciso fazer investimento,<br />

criar atracção nas zonas do interior<br />

do país, por isso é que tem que<br />

se ter muito cuidado na forma como<br />

se vão implantar as autarquias. Muitos<br />

dos jovens que estão em Luanda<br />

certamente ficariam nas suas zonas<br />

de origem se tivessem melhores<br />

condições de vida lá; se houvesse<br />

escolas para os filhos, condições de<br />

emprego. Nestas zonas há muita actividade<br />

agrícola onde essa juventude<br />

é necessária, mas é preciso que<br />

haja possibilidade de mobilidade. O<br />

país tem que estar todo ligado, com<br />

boas estradas. As infra-estruturas,<br />

sobretudo ao nível das estradas,<br />

são determinantes. Tem que haver<br />

lojas, sistemas comercias em todo o<br />

país; os camponeses precisam de ter<br />

produtos industriais, não só os que<br />

precisam para o cultivo da terra mas<br />

outros. É preciso que tenham formas<br />

de escoamento dos seus produtos o<br />

que não se faz através de grandes entrepostos<br />

mas criando e estimulando<br />

redes comerciais no país inteiro.<br />

O Governo tem em curso uma acção<br />

muito importante de reavaliação de<br />

todo o equipamento que está espalhado<br />

pelo país, que está inutilizado,<br />

certamente que os inventários não<br />

estão disponíveis, o que significa um<br />

volume imenso de dinheiro que o<br />

país ou já consumiu ou está endividado<br />

por ter comprado todo este equipamento.<br />

Mesmo as estradas que<br />

foram feitas são de muito má qualidade,<br />

prédios que foram construídos<br />

e que estão totalmente desabitados,<br />

há uma subutilização gritante e chocante,<br />

que magoa qualquer pessoa<br />

que pode confrontar a miséria na<br />

qual muitas franjas da população vivem<br />

e a “leveza” com que muitos investimentos<br />

foram feitos sem terem<br />

10 Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019

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