F&N #201
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PÁGINA ABERTA<br />
A conceituada economista<br />
Laurinda Hoygaard analisa<br />
a situação económica do<br />
país, realçando a necessidade<br />
de uma governação<br />
mais inclusiva e participativa<br />
que tenha em conta<br />
as prioridades do país.<br />
Quanto à assistência que<br />
estamos a receber do<br />
Fundo Monetário Internacional<br />
considera positiva<br />
e necessária, frisando que<br />
vai aumentar a confiança<br />
na economia e promover o<br />
desenvolvimento<br />
Entrevista: Suzana Mendes<br />
Reportagem fotografica de: George Nsimba<br />
Figuras & Negócios<br />
(F&N): Como é que caracteriza<br />
o quadro económico<br />
de Angola neste<br />
momento?<br />
Laurinda Hoygaard<br />
(L.H.): Em primeiro lugar, para entrar<br />
nas questões de ordem económica<br />
é necessário traçar um quadro<br />
mais abrangente, que engloba também<br />
elementos de ordem política e<br />
social porque o elemento económico<br />
é muito determinado por estas outras<br />
esferas. Angola está num processo<br />
bonito, de muita esperança, de<br />
reencontro, onde, de maneira geral,<br />
os cidadãos angolanos têm grande<br />
confiança na forma como se está a<br />
dinamizar toda a estrutura económica<br />
e social e tirar o país de uma<br />
crise profunda na qual mergulhou ao<br />
longo de muitos anos, a criar novamente<br />
motivações e incentivos para<br />
começar a sair desta crise; uma crise<br />
sobre a qual não reflectimos o suficiente<br />
para ver como estava a acontecer<br />
em escalada de grande gravidade.<br />
No plano económico, o que<br />
acontece é reflexo do passado. O país<br />
realizou muitas vezes investimentos<br />
que obrigaram a recorrer a recursos<br />
externos, caiu num ciclo de endividamento<br />
(interno e externo) muito<br />
profundo, que está a condicionar de<br />
uma maneira muito drástica a reactivação<br />
da economia. Foram feitos investimentos<br />
muito caros que não foram<br />
os melhores, não se estimulou o<br />
emprego nacional, e, pelo contrário,<br />
fizeram-se investimentos condicionados<br />
à vinda de mão-de-obra associada<br />
aos empréstimos obtidos. Não<br />
se estimulou o emprego da juventude.<br />
De uma maneira geral, os investimentos<br />
foram feitos, sobretudo<br />
na área das infra-estruturas. Não se<br />
aproveitou a oportunidade, realizando<br />
investimentos triplamente negativos,<br />
muito caros, a preços incompatíveis<br />
com os padrões internacionais<br />
de investimento homólogo, sem criar<br />
emprego doméstico e sem formar a<br />
força de trabalho nacional. Angola<br />
foi aprofundando a sua dependência<br />
da extração de matérias-primas, sobretudo<br />
o petróleo. Viveu momentos<br />
de euforia que beneficiaram apenas<br />
os que estavam, de uma maneira geral,<br />
ligados à gestão destes recursos,<br />
mas na verdade deixou-se que o país<br />
caísse nesse desequilíbrio estrutural,<br />
as indústrias não estão assentes<br />
na matéria-prima nacional. Hoje,<br />
Angola depende da importação de<br />
bens e serviços na sua estrutura de<br />
consumo e na sua estrutura de investimento.<br />
Praticamente tudo o que<br />
consumimos e precisamos investir<br />
tem que ser adquirido ao exterior. A<br />
pintura que se pode fazer da economia<br />
do país é bastante negativa, mas<br />
ela é resultado de decisões e acções<br />
anteriores.<br />
Na verdade, há um esforço muito<br />
sério no sentido de se inverterem estes<br />
processos negativos. Iniciativas<br />
no plano normativo têm sido definidas,<br />
primeiro, no Plano de Desenvolvimento<br />
Nacional 2018/2022, que<br />
determina quais são as metas que<br />
o país tem que alcançar, a forma, os<br />
mecanismos, os instrumentos principais<br />
necessários para se atingirem<br />
os objectivos traçados. Aliás, o PDN<br />
define 83 projectos por objectivos,<br />
que facilitarão a gestão dos recursos<br />
e o cumprimento das metas. Temos<br />
este documento fundamental para<br />
orientar a vida do país e, em paralelo,<br />
estão a ser feitas mudanças no plano<br />
jurídico, institucional e inclusive<br />
no plano das políticas financeiras e<br />
económicas, no sentido de se colocar<br />
Angola nos trilhos da diversificação<br />
da economia e do progresso, o<br />
que só pode acontecer se as pessoas<br />
participarem das decisões, se forem<br />
integrantes activas e participativas<br />
nas decisões que forem tomadas em<br />
relação aos grandes projectos e programas<br />
a serem implementados.<br />
F&N: Como é possível explicar<br />
que Angola tenha registado um<br />
crescimento de dois dígitos e hoje<br />
esteja com uma taxa de crescimento<br />
tão baixa?<br />
L.H.: No mundo de hoje e sempre,<br />
a boa governação é decisiva<br />
o que implica usar os recursos de<br />
forma adequada, compatibilizando<br />
Figuras&Negócios - Nº 201 - JUNHO 2019 9