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Filosofia a Experiência do Pensamento - Sílvio Gallo

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102<br />

A verdade<br />

unidade III<br />

Ignorância, incerteza<br />

e insegurança<br />

Ignorar é não saber alguma coisa. A ignorância pode<br />

ser tão profunda que nem sequer a percebemos. Em<br />

geral, o esta<strong>do</strong> de ignorância se mantém em nós enquanto<br />

as crenças e opiniões que possuímos se conservarem<br />

eficazes e úteis, de mo<strong>do</strong> que não temos nenhum<br />

motivo para duvidar delas.<br />

Diferente da ignorância, a incerteza é o momento<br />

em que descobrimos que somos ignorantes, que há<br />

falhas naquilo que nos servia de referência para pensar<br />

e agir. Na incerteza não sabemos o que pensar, o<br />

que dizer ou o que fazer em certas situações. Temos<br />

dúvidas, somos toma<strong>do</strong>s pela perplexidade e pela insegurança.<br />

Outras vezes, estamos confiantes e seguros, mas, de<br />

repente, vemos ou ouvimos alguma coisa que nos enche<br />

de espanto e de admiração. O espanto e a admiração,<br />

assim como a dúvida e a perplexidade, nos fazem<br />

querer sair <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de insegurança ou de encantamento,<br />

nos fazem perceber nossa ignorância e criam o<br />

desejo de superar a incerteza.<br />

Quan<strong>do</strong> isso acontece, estamos na disposição de espírito<br />

chamada busca da verdade.<br />

Desejo da verdade<br />

O desejo da verdade aparece muito ce<strong>do</strong> nos seres<br />

humanos e se manifesta como desejo de confiar nas<br />

coisas e nas pessoas. Ao mesmo tempo, nossa vida cotidiana<br />

é feita de pequenas e grandes decepções.<br />

Quan<strong>do</strong> uma criança ouve uma história, inventa<br />

uma brincadeira, joga ou vê um filme ou uma peça teatral,<br />

está sempre atenta para saber se “é de verdade ou<br />

de mentira”, está sempre atenta para a diferença entre<br />

brincar, jogar, fingir e faltar à confiança.<br />

Quan<strong>do</strong> uma criança brinca, joga e finge, está<br />

crian<strong>do</strong> outro mun<strong>do</strong>, mais rico e mais belo, mais<br />

cheio de possibilidades e invenções <strong>do</strong> que o mun<strong>do</strong><br />

onde vive. Mas sabe, mesmo que não formule explicitamente<br />

tal saber, que há uma diferença entre imaginação<br />

e percepção.<br />

Por isso mesmo, a criança é muito sensível à mentira<br />

<strong>do</strong>s adultos, pois a mentira é diferente <strong>do</strong> “de mentira”,<br />

isto é, a mentira é diferente da imaginação. A criança se<br />

sente magoada quan<strong>do</strong> o adulto lhe diz uma mentira,<br />

porque, ao fazê-lo, ele quebra a relação de confiança e a<br />

segurança infantil.<br />

Sofia Amundsen (interpretada por Silje Storstein), protagonista <strong>do</strong><br />

filme O mun<strong>do</strong> de Sofia (1999), de Erick Gustavson, que se baseou<br />

no livro homônimo <strong>do</strong> escritor Jostein Gaarder. A imaginação de<br />

Sofia, instigada por cartas filosóficas secretas, irá levá-la a uma<br />

odisseia pela história da filosofia.<br />

Quan<strong>do</strong> crianças, estamos sujeitos a duas decepções:<br />

a de que os seres, as coisas, os mun<strong>do</strong>s maravilhosos não<br />

existem “de verdade” e a de que os adultos podem nos<br />

enganar. Essa dupla decepção pode acarretar <strong>do</strong>is resulta<strong>do</strong>s<br />

opostos: ou a criança se recusa a sair <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

imaginário e sofre com a realidade como algo ruim e<br />

hostil a ela, ou, <strong>do</strong>lorosamente, aceita a distinção, mas<br />

também se torna atenta e desconfiada diante da palavra<br />

<strong>do</strong>s adultos. Nesse segun<strong>do</strong> caso, ela também se<br />

coloca na disposição da busca da verdade.<br />

Nessa busca, a criança pode desejar um mun<strong>do</strong> melhor<br />

e mais belo <strong>do</strong> que aquele em que vive e encontrar<br />

a verdade nas obras de arte, desejan<strong>do</strong> ser artista também.<br />

Ou pode desejar saber como e por que o mun<strong>do</strong><br />

em que vive é tal como é e se ele poderia ser diferente<br />

<strong>do</strong> que é. Nesse caso, são desperta<strong>do</strong>s nela o desejo de<br />

conhecimento intelectual e da ação transforma<strong>do</strong>ra.<br />

United Archives/KPA/DIOMEDIA

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