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Filosofia a Experiência do Pensamento - Sílvio Gallo

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ecebia das deusas ligadas à memória (a deusa Mnemosyne,<br />

mãe das musas, entidades que guiavam o<br />

poeta) uma iluminação ou uma revelação sobrenatural<br />

e, então, dizia aos homens quais eram as decisões<br />

<strong>do</strong>s deuses que eles deveriam obedecer.<br />

Agora, com a pólis, isto é, a cidade política, a palavra<br />

constitui-se como direito de cada cidadão emitir<br />

em público sua opinião, discuti-la com os outros,<br />

persuadi-los a tomar uma decisão proposta por ele.<br />

Desse mo<strong>do</strong>, surge o discurso político como palavra<br />

humana compartilhada, como diálogo, discussão e<br />

deliberação humana, isto é, como decisão racional e<br />

exposição <strong>do</strong>s motivos ou das razões para fazer ou<br />

não fazer alguma coisa.<br />

Com a política, valorizou-se o pensamento racional,<br />

crian<strong>do</strong> condições para que surgisse o discurso ou a<br />

palavra filosófica.<br />

3. A noção de discussão pública das opiniões e ideias,<br />

pois a política estimula um pensamento e um discurso<br />

públicos, ensina<strong>do</strong>s, transmiti<strong>do</strong>s, comunica<strong>do</strong>s e<br />

discuti<strong>do</strong>s, que não sejam formula<strong>do</strong>s por seitas secretas<br />

<strong>do</strong>s inicia<strong>do</strong>s em mistérios sagra<strong>do</strong>s. A ideia de<br />

um pensamento que to<strong>do</strong>s podem compreender,<br />

discutir e transmitir é fundamental para a filosofia.<br />

O lega<strong>do</strong> da filosofia grega para<br />

o Ocidente europeu<br />

A filosofia pode ser entendida como aspiração ao<br />

conhecimento racional, lógico, demonstrativo e sistemático:<br />

da realidade natural e humana; da origem e das<br />

causas da ordem <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e de suas transformações;<br />

da origem e das causas das ações humanas e <strong>do</strong> próprio<br />

pensamento. Trata-se de uma instituição cultural tipicamente<br />

grega que, por razões históricas e políticas,<br />

tornou-se o mo<strong>do</strong> de pensar e de se exprimir<br />

pre<strong>do</strong>minante da chamada cultura europeia ocidental,<br />

da qual, devi<strong>do</strong> à colonização europeia das Américas,<br />

também fazemos parte – ainda que de mo<strong>do</strong><br />

inferioriza<strong>do</strong> e coloniza<strong>do</strong>.<br />

Dizer que a filosofia é tipicamente grega não significa,<br />

evidentemente, que outros povos, como os chineses,<br />

os hindus, os japoneses, os árabes, os persas, os hebreus,<br />

as sociedades africanas ou as indígenas da<br />

América não possuam sabe<strong>do</strong>ria, pois possuíam e possuem.<br />

Também não quer dizer que to<strong>do</strong>s esses povos<br />

não tivessem desenvolvi<strong>do</strong> o pensamento e formas de<br />

conhecimento da natureza e <strong>do</strong>s seres humanos, pois<br />

desenvolveram e desenvolvem.<br />

Emmanuel Dunand/Agência France-Presse<br />

A origem da filosofia<br />

Assembleia Geral de 2012 na sede da Organização das Nações<br />

Unidas (ONU), em Nova York, Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, reunião anual<br />

em que to<strong>do</strong>s os países-membros são representa<strong>do</strong>s. A forma de<br />

organização de uma assembleia é inspirada nas ágoras da antiga<br />

Grécia, onde os gregos discutiam as questões importantes de seu<br />

tempo.<br />

Quan<strong>do</strong> se diz que a filosofia é grega, o que se quer<br />

dizer é que ela apresenta certas características e certas<br />

formas de pensar e de exprimir os pensamentos, estabelece<br />

certas concepções sobre o que sejam a realidade, a<br />

razão, a linguagem, a ação, as técnicas, completamente<br />

diferentes das formas de pensar de outras culturas.<br />

Quan<strong>do</strong> nos acercamos da filosofia nascente,<br />

podemos perceber os principais traços que definem a<br />

atividade filosófica na época de seu nascimento:<br />

E Tendência à racionalidade, pois os gregos foram os<br />

primeiros a definir o ser humano como animal racional,<br />

ou seja, foram os primeiros a considerar que o<br />

pensamento e a linguagem definem a razão, que o<br />

homem é um ser <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de razão e que a racionalidade<br />

é seu traço distintivo. Mesmo que a razão humana<br />

não possa conhecer tu<strong>do</strong>, tu<strong>do</strong> o que ela pode<br />

conhecer conhece plena e verdadeiramente, e ela é a<br />

condição de to<strong>do</strong> conhecimento verdadeiro. Por<br />

isso mesmo, a própria razão ou o próprio pensamento<br />

deve conhecer as leis, regras, princípios e normas<br />

de suas operações e de seu exercício correto.<br />

E Recusa de explicações preestabelecidas e, por isso<br />

mesmo, exigência de que para cada fato seja encontrada<br />

uma explicação racional e que para cada problema<br />

ou dificuldade sejam investigadas e encontradas<br />

as soluções que eles exigem.<br />

E Tendência à argumentação e ao debate para oferecer<br />

respostas conclusivas a questões, dificuldades e problemas,<br />

de mo<strong>do</strong> que nenhuma solução seja aceita se não<br />

houver si<strong>do</strong> demonstrada conforme os princípios e as<br />

regras <strong>do</strong> pensamento verdadeiro.<br />

35<br />

capítulo 3

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