Filosofia a Experiência do Pensamento - Sílvio Gallo
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Pode-se dizer que os gregos inventaram a política porque<br />
tomavam as decisões com base em discussões e<br />
debates públicos e as a<strong>do</strong>tavam ou revogavam por<br />
voto em assembleias públicas; porque estabeleceram<br />
instituições públicas (tribunais, assembleias, separação<br />
entre autoridade <strong>do</strong> chefe de família e autoridade pública,<br />
entre autoridade político-militar e autoridade<br />
religiosa); e, sobretu<strong>do</strong>, porque criaram a ideia da lei e<br />
da justiça como expressões da vontade coletiva pública,<br />
e não como imposição da vontade de um só ou de<br />
um grupo, em nome de divindades.<br />
4. Com relação ao pensamento: diante da herança recebida,<br />
os gregos inventaram a ideia ocidental da<br />
razão como um pensamento sistemático que segue<br />
regras, normas e leis universais.<br />
A origem da filosofia<br />
É assim, por exemplo, que o poeta Homero explica<br />
na Ilíada por que, em certas batalhas da Guerra de<br />
Troia, os troianos eram vitoriosos e, em outras, a vitória<br />
cabia aos gregos. Os deuses estavam dividi<strong>do</strong>s.<br />
A cada vez, o rei <strong>do</strong>s deuses, Zeus, aliava-se a um grupo<br />
e fazia um <strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s vencer uma batalha.<br />
A causa da guerra, aliás, foi uma rivalidade entre as<br />
deusas. Elas apareceram em sonho para o príncipe<br />
troiano Páris, oferecen<strong>do</strong>-lhe seus <strong>do</strong>ns, e ele escolheu<br />
a deusa <strong>do</strong> amor, Afrodite. As outras deusas,<br />
enciumadas, o fizeram raptar Helena, esposa <strong>do</strong><br />
general grego Menelau. Isso deu início à guerra entre<br />
os humanos.<br />
Album/akg-images/Latinstock<br />
31<br />
capítulo 3<br />
Mito e filosofia<br />
Os historia<strong>do</strong>res da filosofia indagam se ela nasceu<br />
realizan<strong>do</strong> uma transformação gradual <strong>do</strong>s mitos gregos<br />
ou produzin<strong>do</strong> uma ruptura radical com eles.<br />
Quem narra o mito? O poeta-rapso<strong>do</strong>. Quem é ele?<br />
Por que tem autoridade? Acredita-se que o poeta é<br />
um escolhi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s deuses, que lhe mostram os acontecimentos<br />
passa<strong>do</strong>s e permitem que ele veja a origem<br />
de to<strong>do</strong>s os seres e de todas as coisas para que possa<br />
transmiti-la aos ouvintes. Sua palavra – o mito – é sagrada<br />
e incontestável porque vem de uma revelação,<br />
uma concessão divina.<br />
Como o mito narra a origem <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e de tu<strong>do</strong> o<br />
que nele existe? De três maneiras principais:<br />
1. Encontran<strong>do</strong> o pai e a mãe das coisas e <strong>do</strong>s seres. Isto<br />
é, tu<strong>do</strong> o que existe decorre de relações sexuais entre<br />
forças divinas pessoais. Essas relações geram os titãs<br />
(filhos da primeira mãe e <strong>do</strong> primeiro pai e seus sucessores<br />
como governantes <strong>do</strong> Universo), os deuses (filhos<br />
de um <strong>do</strong>s titãs e seus sucessores), os heróis (filhos<br />
de um deus com uma humana ou de uma deusa com<br />
um humano), os humanos, os metais, as plantas, os<br />
animais, as qualidades (como quente e frio, claro e escuro,<br />
bom e mau, belo e feio, etc.).<br />
Trata-se, assim, de uma genealogia, isto é, de uma narrativa<br />
da geração <strong>do</strong>s seres, das coisas, das qualidades<br />
por outros seres, que são seus pais ou antepassa<strong>do</strong>s.<br />
2. Encontran<strong>do</strong> uma rivalidade ou uma aliança entre<br />
os deuses que faz surgir alguma coisa no mun<strong>do</strong>.<br />
Nesse caso, o mito narra ou uma guerra entre as<br />
forças divinas ou uma aliança entre elas para provocar<br />
alguma coisa no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s homens.<br />
Gaia, deusa responsável, para a mitologia grega, por povoar o<br />
mun<strong>do</strong>, entrega seu filho Erictônio aos cuida<strong>do</strong>s de Atena, em<br />
representação em vaso <strong>do</strong> século V a.C.<br />
3. Encontran<strong>do</strong> as recompensas ou castigos que os<br />
deuses dão a quem os obedece ou desobedece.<br />
Como o mito narra, por exemplo, o uso <strong>do</strong> fogo pelos<br />
homens, essencial para diferenciá-los <strong>do</strong>s animais?<br />
O mito conta que um titã, Prometeu, mais<br />
amigo <strong>do</strong>s homens <strong>do</strong> que <strong>do</strong>s deuses, roubou uma<br />
centelha de fogo e a trouxe de presente para os humanos.<br />
Prometeu foi castiga<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> amarra<strong>do</strong><br />
num roche<strong>do</strong> para que uma ave de rapina devorasse<br />
seu fíga<strong>do</strong> eternamente.<br />
E qual foi o castigo <strong>do</strong>s homens? Os deuses criaram a<br />
primeira mulher humana, Pan<strong>do</strong>ra, uma figura encanta<strong>do</strong>ra<br />
a quem foi entregue uma caixa que<br />
conteria coisas maravilhosas, mas que nunca deveria<br />
ser aberta. Pan<strong>do</strong>ra foi enviada aos humanos e, cheia<br />
de curiosidade e de vontade de dar-lhes as maravilhas,<br />
abriu a caixa. Dela saíram todas as desgraças,<br />
<strong>do</strong>enças, pestes, guerras e, sobretu<strong>do</strong>, a morte. Explica-se,<br />
assim, a origem <strong>do</strong>s males no mun<strong>do</strong>.