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Filosofia a Experiência do Pensamento - Sílvio Gallo

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Pode-se dizer que os gregos inventaram a política porque<br />

tomavam as decisões com base em discussões e<br />

debates públicos e as a<strong>do</strong>tavam ou revogavam por<br />

voto em assembleias públicas; porque estabeleceram<br />

instituições públicas (tribunais, assembleias, separação<br />

entre autoridade <strong>do</strong> chefe de família e autoridade pública,<br />

entre autoridade político-militar e autoridade<br />

religiosa); e, sobretu<strong>do</strong>, porque criaram a ideia da lei e<br />

da justiça como expressões da vontade coletiva pública,<br />

e não como imposição da vontade de um só ou de<br />

um grupo, em nome de divindades.<br />

4. Com relação ao pensamento: diante da herança recebida,<br />

os gregos inventaram a ideia ocidental da<br />

razão como um pensamento sistemático que segue<br />

regras, normas e leis universais.<br />

A origem da filosofia<br />

É assim, por exemplo, que o poeta Homero explica<br />

na Ilíada por que, em certas batalhas da Guerra de<br />

Troia, os troianos eram vitoriosos e, em outras, a vitória<br />

cabia aos gregos. Os deuses estavam dividi<strong>do</strong>s.<br />

A cada vez, o rei <strong>do</strong>s deuses, Zeus, aliava-se a um grupo<br />

e fazia um <strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s vencer uma batalha.<br />

A causa da guerra, aliás, foi uma rivalidade entre as<br />

deusas. Elas apareceram em sonho para o príncipe<br />

troiano Páris, oferecen<strong>do</strong>-lhe seus <strong>do</strong>ns, e ele escolheu<br />

a deusa <strong>do</strong> amor, Afrodite. As outras deusas,<br />

enciumadas, o fizeram raptar Helena, esposa <strong>do</strong><br />

general grego Menelau. Isso deu início à guerra entre<br />

os humanos.<br />

Album/akg-images/Latinstock<br />

31<br />

capítulo 3<br />

Mito e filosofia<br />

Os historia<strong>do</strong>res da filosofia indagam se ela nasceu<br />

realizan<strong>do</strong> uma transformação gradual <strong>do</strong>s mitos gregos<br />

ou produzin<strong>do</strong> uma ruptura radical com eles.<br />

Quem narra o mito? O poeta-rapso<strong>do</strong>. Quem é ele?<br />

Por que tem autoridade? Acredita-se que o poeta é<br />

um escolhi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s deuses, que lhe mostram os acontecimentos<br />

passa<strong>do</strong>s e permitem que ele veja a origem<br />

de to<strong>do</strong>s os seres e de todas as coisas para que possa<br />

transmiti-la aos ouvintes. Sua palavra – o mito – é sagrada<br />

e incontestável porque vem de uma revelação,<br />

uma concessão divina.<br />

Como o mito narra a origem <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e de tu<strong>do</strong> o<br />

que nele existe? De três maneiras principais:<br />

1. Encontran<strong>do</strong> o pai e a mãe das coisas e <strong>do</strong>s seres. Isto<br />

é, tu<strong>do</strong> o que existe decorre de relações sexuais entre<br />

forças divinas pessoais. Essas relações geram os titãs<br />

(filhos da primeira mãe e <strong>do</strong> primeiro pai e seus sucessores<br />

como governantes <strong>do</strong> Universo), os deuses (filhos<br />

de um <strong>do</strong>s titãs e seus sucessores), os heróis (filhos<br />

de um deus com uma humana ou de uma deusa com<br />

um humano), os humanos, os metais, as plantas, os<br />

animais, as qualidades (como quente e frio, claro e escuro,<br />

bom e mau, belo e feio, etc.).<br />

Trata-se, assim, de uma genealogia, isto é, de uma narrativa<br />

da geração <strong>do</strong>s seres, das coisas, das qualidades<br />

por outros seres, que são seus pais ou antepassa<strong>do</strong>s.<br />

2. Encontran<strong>do</strong> uma rivalidade ou uma aliança entre<br />

os deuses que faz surgir alguma coisa no mun<strong>do</strong>.<br />

Nesse caso, o mito narra ou uma guerra entre as<br />

forças divinas ou uma aliança entre elas para provocar<br />

alguma coisa no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s homens.<br />

Gaia, deusa responsável, para a mitologia grega, por povoar o<br />

mun<strong>do</strong>, entrega seu filho Erictônio aos cuida<strong>do</strong>s de Atena, em<br />

representação em vaso <strong>do</strong> século V a.C.<br />

3. Encontran<strong>do</strong> as recompensas ou castigos que os<br />

deuses dão a quem os obedece ou desobedece.<br />

Como o mito narra, por exemplo, o uso <strong>do</strong> fogo pelos<br />

homens, essencial para diferenciá-los <strong>do</strong>s animais?<br />

O mito conta que um titã, Prometeu, mais<br />

amigo <strong>do</strong>s homens <strong>do</strong> que <strong>do</strong>s deuses, roubou uma<br />

centelha de fogo e a trouxe de presente para os humanos.<br />

Prometeu foi castiga<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> amarra<strong>do</strong><br />

num roche<strong>do</strong> para que uma ave de rapina devorasse<br />

seu fíga<strong>do</strong> eternamente.<br />

E qual foi o castigo <strong>do</strong>s homens? Os deuses criaram a<br />

primeira mulher humana, Pan<strong>do</strong>ra, uma figura encanta<strong>do</strong>ra<br />

a quem foi entregue uma caixa que<br />

conteria coisas maravilhosas, mas que nunca deveria<br />

ser aberta. Pan<strong>do</strong>ra foi enviada aos humanos e, cheia<br />

de curiosidade e de vontade de dar-lhes as maravilhas,<br />

abriu a caixa. Dela saíram todas as desgraças,<br />

<strong>do</strong>enças, pestes, guerras e, sobretu<strong>do</strong>, a morte. Explica-se,<br />

assim, a origem <strong>do</strong>s males no mun<strong>do</strong>.

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