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Filosofia a Experiência do Pensamento - Sílvio Gallo

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unidade V<br />

O conhecimento<br />

pendem das vivências pessoais de ambos e são o<br />

objeto construí<strong>do</strong> ou descoberto pelo sujeito <strong>do</strong><br />

conhe cimento. Diante de rosas amarelas, Luísa tem<br />

lembranças agradáveis; Antônio, porém, tem péssimas<br />

recordações. No entanto, a percepção de cores<br />

se realiza em nós não apenas segun<strong>do</strong> nossas vivências<br />

psicológicas individuais, mas também segun<strong>do</strong><br />

leis, normas, princípios de estruturação e organização<br />

que são os mesmos para to<strong>do</strong>s, na medida em<br />

que cada um de nós é um sujeito <strong>do</strong> conhecimento,<br />

mesmo que não tenhamos passa<strong>do</strong> à atitude reflexiva<br />

pela qual conhecemos que conhecemos.<br />

Da mesma maneira, os princípios de identidade e de<br />

não contradição exprimem a estrutura universal <strong>do</strong><br />

mo<strong>do</strong> de pensar <strong>do</strong> sujeito <strong>do</strong> conhecimento e são váli<strong>do</strong>s<br />

em to<strong>do</strong>s os tempos e lugares. O sujeito <strong>do</strong> conhecimento<br />

se ocupa com noções como as de espaço e<br />

tempo, causa e efeito, princípio e consequência, verdadeiro<br />

e falso, matéria e forma, signo e significação, entre<br />

outras, entendidas como condições universais e necessárias<br />

<strong>do</strong> conhecimento.<br />

Dimensão ética da consciência<br />

Além de sua dimensão epistemológica (sujeito <strong>do</strong><br />

conhecimento ou entendimento) e de sua dimensão<br />

psicológica (o eu das vivências individuais), a consciência<br />

possui também uma dimensão ética.<br />

Do ponto de vista ético e moral, a consciência é a<br />

capacidade livre e racional de escolher, deliberar e agir<br />

conforme valores, normas e regras que dizem respeito<br />

ao bem e ao mal, ao justo e ao injusto, à virtude e ao<br />

vício. É a pessoa, <strong>do</strong>tada de vontade livre e de responsabilidade,<br />

capaz de compreender e interpretar sua própria<br />

situação e condição, viver na companhia de outros<br />

segun<strong>do</strong> as normas e os valores morais defini<strong>do</strong>s por<br />

sua sociedade, agir ten<strong>do</strong> em vista fins escolhi<strong>do</strong>s<br />

por deliberação própria, comportar-se segun<strong>do</strong> o que<br />

julga o melhor para si e para os outros e, quan<strong>do</strong> necessário,<br />

contrapor-se e opor-se aos valores estabeleci<strong>do</strong>s<br />

em nome de outros considera<strong>do</strong>s mais adequa<strong>do</strong>s à liberdade<br />

e à responsabilidade. É a consciência de si<br />

como exercício racional e afetivo da liberdade e da responsabilidade,<br />

em vista da vida feliz e justa.<br />

A consciência moral pertence à esfera da vida privada,<br />

isto é, das relações interpessoais que transcorrem na<br />

família, nas amizades, no trabalho, na comunidade religiosa,<br />

na organização empresarial, etc.<br />

Vanderlei Almeida/Agência France-Presse<br />

Frente de busca de vítimas em Teresópolis durante as enchentes<br />

que afetaram a região serrana <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />

no início de 2011.<br />

Esfera política<br />

Além de nossa vida privada, participamos também<br />

da vida pública, isto é, da esfera política. Do ponto de<br />

vista político, a consciência é o cidadão, isto é, a consciência<br />

de si definida pela esfera pública <strong>do</strong>s direitos<br />

e deveres civis e sociais, das leis e <strong>do</strong> poder político.<br />

A consciência moral (a pessoa) e a consciência política<br />

(o cidadão) formam-se pelas relações entre as vivências<br />

<strong>do</strong> eu e os valores e as instituições de sua sociedade ou de<br />

sua cultura. São as maneiras pelas quais nos relacionamos<br />

com os outros por meio de comportamentos e de<br />

práticas determina<strong>do</strong>s pelos códigos morais e políticos.<br />

Esses códigos éticos e políticos dependem <strong>do</strong> mo<strong>do</strong><br />

como uma cultura e uma sociedade determinada definem<br />

o bem e o mal, o justo e o injusto, o legítimo e o ilegítimo,<br />

o legal e o ilegal, o priva<strong>do</strong> e o público.<br />

O eu é a consciência como uma vivência psíquica e<br />

uma experiência que se realiza na forma de comportamento;<br />

a pessoa é a consciência como agente moral; o<br />

cidadão é a consciência como agente político. A ação<br />

da pessoa e a <strong>do</strong> cidadão formam a práxis, palavra grega<br />

que significa ‘ação na qual o agente, o ato realiza<strong>do</strong><br />

por ele e a finalidade <strong>do</strong> ato são idênticos’.<br />

Sujeito, eu, pessoa e cidadão constituem a consciên cia<br />

como subjetividade ativa, capaz de estabelecer identidade<br />

consigo mesma, de ter conhecimento verdadeiro, de<br />

tomar decisões livres, de conhecer direitos e obrigações.

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