Filosofia a Experiência do Pensamento - Sílvio Gallo
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
144<br />
unidade V<br />
O conhecimento<br />
pendem das vivências pessoais de ambos e são o<br />
objeto construí<strong>do</strong> ou descoberto pelo sujeito <strong>do</strong><br />
conhe cimento. Diante de rosas amarelas, Luísa tem<br />
lembranças agradáveis; Antônio, porém, tem péssimas<br />
recordações. No entanto, a percepção de cores<br />
se realiza em nós não apenas segun<strong>do</strong> nossas vivências<br />
psicológicas individuais, mas também segun<strong>do</strong><br />
leis, normas, princípios de estruturação e organização<br />
que são os mesmos para to<strong>do</strong>s, na medida em<br />
que cada um de nós é um sujeito <strong>do</strong> conhecimento,<br />
mesmo que não tenhamos passa<strong>do</strong> à atitude reflexiva<br />
pela qual conhecemos que conhecemos.<br />
Da mesma maneira, os princípios de identidade e de<br />
não contradição exprimem a estrutura universal <strong>do</strong><br />
mo<strong>do</strong> de pensar <strong>do</strong> sujeito <strong>do</strong> conhecimento e são váli<strong>do</strong>s<br />
em to<strong>do</strong>s os tempos e lugares. O sujeito <strong>do</strong> conhecimento<br />
se ocupa com noções como as de espaço e<br />
tempo, causa e efeito, princípio e consequência, verdadeiro<br />
e falso, matéria e forma, signo e significação, entre<br />
outras, entendidas como condições universais e necessárias<br />
<strong>do</strong> conhecimento.<br />
Dimensão ética da consciência<br />
Além de sua dimensão epistemológica (sujeito <strong>do</strong><br />
conhecimento ou entendimento) e de sua dimensão<br />
psicológica (o eu das vivências individuais), a consciência<br />
possui também uma dimensão ética.<br />
Do ponto de vista ético e moral, a consciência é a<br />
capacidade livre e racional de escolher, deliberar e agir<br />
conforme valores, normas e regras que dizem respeito<br />
ao bem e ao mal, ao justo e ao injusto, à virtude e ao<br />
vício. É a pessoa, <strong>do</strong>tada de vontade livre e de responsabilidade,<br />
capaz de compreender e interpretar sua própria<br />
situação e condição, viver na companhia de outros<br />
segun<strong>do</strong> as normas e os valores morais defini<strong>do</strong>s por<br />
sua sociedade, agir ten<strong>do</strong> em vista fins escolhi<strong>do</strong>s<br />
por deliberação própria, comportar-se segun<strong>do</strong> o que<br />
julga o melhor para si e para os outros e, quan<strong>do</strong> necessário,<br />
contrapor-se e opor-se aos valores estabeleci<strong>do</strong>s<br />
em nome de outros considera<strong>do</strong>s mais adequa<strong>do</strong>s à liberdade<br />
e à responsabilidade. É a consciência de si<br />
como exercício racional e afetivo da liberdade e da responsabilidade,<br />
em vista da vida feliz e justa.<br />
A consciência moral pertence à esfera da vida privada,<br />
isto é, das relações interpessoais que transcorrem na<br />
família, nas amizades, no trabalho, na comunidade religiosa,<br />
na organização empresarial, etc.<br />
Vanderlei Almeida/Agência France-Presse<br />
Frente de busca de vítimas em Teresópolis durante as enchentes<br />
que afetaram a região serrana <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro<br />
no início de 2011.<br />
Esfera política<br />
Além de nossa vida privada, participamos também<br />
da vida pública, isto é, da esfera política. Do ponto de<br />
vista político, a consciência é o cidadão, isto é, a consciência<br />
de si definida pela esfera pública <strong>do</strong>s direitos<br />
e deveres civis e sociais, das leis e <strong>do</strong> poder político.<br />
A consciência moral (a pessoa) e a consciência política<br />
(o cidadão) formam-se pelas relações entre as vivências<br />
<strong>do</strong> eu e os valores e as instituições de sua sociedade ou de<br />
sua cultura. São as maneiras pelas quais nos relacionamos<br />
com os outros por meio de comportamentos e de<br />
práticas determina<strong>do</strong>s pelos códigos morais e políticos.<br />
Esses códigos éticos e políticos dependem <strong>do</strong> mo<strong>do</strong><br />
como uma cultura e uma sociedade determinada definem<br />
o bem e o mal, o justo e o injusto, o legítimo e o ilegítimo,<br />
o legal e o ilegal, o priva<strong>do</strong> e o público.<br />
O eu é a consciência como uma vivência psíquica e<br />
uma experiência que se realiza na forma de comportamento;<br />
a pessoa é a consciência como agente moral; o<br />
cidadão é a consciência como agente político. A ação<br />
da pessoa e a <strong>do</strong> cidadão formam a práxis, palavra grega<br />
que significa ‘ação na qual o agente, o ato realiza<strong>do</strong><br />
por ele e a finalidade <strong>do</strong> ato são idênticos’.<br />
Sujeito, eu, pessoa e cidadão constituem a consciên cia<br />
como subjetividade ativa, capaz de estabelecer identidade<br />
consigo mesma, de ter conhecimento verdadeiro, de<br />
tomar decisões livres, de conhecer direitos e obrigações.