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Filosofia a Experiência do Pensamento - Sílvio Gallo

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A origem da filosofia<br />

33<br />

A filosofia, ao contrário, não admite contradições,<br />

fabulação e coisas incompreensíveis, mas exige que a<br />

explicação seja coerente, lógica e racional. Além disso,<br />

a autoridade da explicação não vem da pessoa <strong>do</strong><br />

filósofo, mas da razão, que é a mesma em to<strong>do</strong>s os<br />

seres humanos.<br />

Zé Carlos Barretta/Folhapress<br />

capítulo 3<br />

Condições históricas para<br />

o surgimento da filosofia<br />

Podemos apontar como principais condições históricas<br />

para o surgimento da filosofia na Grécia:<br />

E as viagens marítimas, que permitiram aos gregos<br />

descobrir que os locais que os mitos diziam habita<strong>do</strong>s<br />

por deuses, titãs e heróis eram, na verdade, habita<strong>do</strong>s<br />

por outros seres humanos, e que nas regiões <strong>do</strong>s<br />

mares que os mitos diziam ser habitadas por monstros<br />

e seres fabulosos não havia nenhum <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is.<br />

Cena de montagem da ópera A valquíria, no Teatro Municipal de<br />

São Paulo, em 2011. Composta pelo alemão Richard Wagner, a obra<br />

se baseia na mitologia nórdica. Nos mitos, rivalidades, alianças e<br />

relações familiares explicam a origem das coisas.<br />

Cosmos<br />

Para os estoicos, de fato, a estrutura <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, ou, se você preferir, a ordem cósmica,<br />

não é apenas uma organização magnífica, mas também uma ordem análoga à de um<br />

ser vivo. O mun<strong>do</strong> material, o Universo to<strong>do</strong>, é, no fun<strong>do</strong>, como um gigantesco animal<br />

<strong>do</strong> qual cada elemento – cada órgão – seria admiravelmente concebi<strong>do</strong> e agencia<strong>do</strong> em<br />

harmonia com o conjunto.<br />

[...] É essa ordem, esse cosmos como tal, essa estrutura ordenada <strong>do</strong> Universo to<strong>do</strong><br />

que os gregos chamam de “divino” (theion), e não, como para os judeus ou os cristãos,<br />

um Ser exterior ao Universo, que existiria antes dele e que o teria cria<strong>do</strong>.<br />

É, pois, esse divino [...] que os estoicos nos convidam a contemplar (theorein) com a<br />

ajuda de to<strong>do</strong>s os meios apropria<strong>do</strong>s – por exemplo, estudan<strong>do</strong> ciências específicas, a<br />

Física, a Astronomia ou a Biologia e, além disso, multiplican<strong>do</strong> as observações que nos<br />

mostram como o Universo to<strong>do</strong> (e não apenas esta ou aquela parte) é “bem-feito”: o<br />

movimento regular <strong>do</strong>s planetas, a estrutura <strong>do</strong> menor organismo vivo, <strong>do</strong> mais ínfimo<br />

inseto, provam ao observa<strong>do</strong>r atento, àquele que pratica inteligentemente a “teoria”,<br />

como a ideia de cosmos, de ordem justa e bela, descreve de maneira adequada a realidade<br />

que nos cerca, desde que saibamos contemplá-la como convém.<br />

Pode-se, portanto, dizer que a estrutura <strong>do</strong> Universo não é apenas “divina”, perfeita, mas<br />

também “racional”, de acor<strong>do</strong> com o que os gregos chamam de lógos (termo que dará em<br />

francês [como em português] a palavra lógica e que designa justamente essa ordenação admirável<br />

das coisas). É por isso, aliás, que nossa razão vai se revelar capaz, justamente no<br />

exercício da theoria, de compreendê-la e decifrá-la [...].<br />

diálogos<br />

filosóficos<br />

FERRY, Luc. Aprender<br />

a viver: filosofia<br />

para os novos tempos.<br />

Tradução de Vera Lucia<br />

<strong>do</strong>s Reis. Rio de Janeiro:<br />

Objetiva, 2007.<br />

p. 38-40.<br />

SPL/Latinstock<br />

estoicismo<br />

Doutrina fundada por Zenão de Cício (335-264 a.C.), postula que a<br />

imperturbabilidade, a ausência de paixão, a rigidez de princípios morais e a<br />

resignação diante <strong>do</strong> sofrimento são as marcas fundamentais <strong>do</strong> homem sábio, o<br />

único apto a experimentar a verdadeira felicidade.<br />

Zenão de Cício, filósofo<br />

grego e funda<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

estoicismo, em ilustração<br />

inglesa <strong>do</strong> século XVII.

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