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Filosofia a Experiência do Pensamento - Sílvio Gallo

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RMN-Grand Palais (Musée du Louvre)/Les frères Chuzeville/Other Images<br />

Perío<strong>do</strong> helenístico<br />

Trata-se <strong>do</strong> último perío<strong>do</strong> da filosofia antiga, quan<strong>do</strong><br />

a pólis grega desaparece como centro político e deixa de<br />

ser a referência principal <strong>do</strong>s filósofos, uma vez que a<br />

Grécia se encontra sob o poderio de outros impérios,<br />

particularmente o Macedônico e o Romano. Os filósofos<br />

dizem, agora, que o mun<strong>do</strong> é sua cidade e que eles são<br />

cidadãos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Como, em grego, mun<strong>do</strong> se diz cosmos,<br />

esse perío<strong>do</strong> é chama<strong>do</strong> o da filosofia cosmopolita.<br />

Essa época da filosofia é constituída por grandes sistemas<br />

ou <strong>do</strong>utrinas que buscam entender a realidade<br />

como um to<strong>do</strong> articula<strong>do</strong> e entrelaça<strong>do</strong> forma<strong>do</strong> pelas<br />

coisas da natureza, os seres humanos, pelas relações entre<br />

estes e destes com a divindade. Esta estabelece e<br />

conserva a ordem universal. Pre<strong>do</strong>minam preocupações<br />

com a física, a ética e a teologia.<br />

Datam desse perío<strong>do</strong> quatro grandes sistemas que influenciaram<br />

o pensamento cristão, em formação nessa<br />

época: estoicismo, epicurismo, ceticismo e neoplatonismo.<br />

A amplidão <strong>do</strong> Império Romano, a presença crescente<br />

de religiões orientais no Império, as relações comerciais<br />

e culturais entre Ocidente e Oriente fizeram<br />

aumentar os contatos <strong>do</strong>s filósofos helenistas com a<br />

sabe<strong>do</strong>ria oriental. Podemos falar numa orientalização<br />

da filosofia, sobretu<strong>do</strong> com a aparição de aspectos místicos<br />

e religiosos no pensamento e na ação.<br />

Alexandre com lança<br />

(séc. IV a.C.), miniatura<br />

de escultura realizada<br />

por lísipo, um <strong>do</strong>s<br />

retratistas oficiais de<br />

Alexandre, o Grande,<br />

rei da Macedônia.<br />

Em seu reina<strong>do</strong>, os<br />

filósofos deixam de<br />

ter a pólis grega como<br />

referência principal e<br />

tomam contato com<br />

as contribuições <strong>do</strong><br />

pensamento de<br />

outros povos.<br />

Perío<strong>do</strong>s e campos de investigação da filosofia grega<br />

Os campos <strong>do</strong> conhecimento<br />

filosófico<br />

Devemos a Aristóteles a primeira grande classificação<br />

<strong>do</strong>s campos da atividade filosófica ao distinguir e<br />

classificar to<strong>do</strong>s os saberes humanos (cuja totalidade é<br />

a filosofia). O critério por ele a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> é a distinção entre<br />

ação e contemplação. Isto é, Aristóteles diferencia os<br />

saberes ou ciências que constituem a filosofia conforme<br />

seus objetos e finalidades – atividades produtivas,<br />

éticas e políticas ou puramente intelectuais, interessadas<br />

exclusivamente no conhecimento.<br />

Vejamos, pois, a classificação aristotélica <strong>do</strong>s campos<br />

<strong>do</strong> saber:<br />

E Ciências produtivas: ciências que estudam as práticas<br />

produtivas ou as técnicas, isto é, as ações humanas<br />

que visam à produção de um objeto, de uma<br />

obra. São elas: arquitetura, economia, medicina, pintura,<br />

escultura, poesia, teatro, oratória, arte da guerra,<br />

da caça, da navegação, etc. Em suma, são objeto<br />

das ciências produtivas todas as atividades humanas<br />

técnicas e artísticas que resultam num produto ou<br />

numa obra distintos <strong>do</strong> produtor.<br />

E Ciências práticas: ciências que estudam as práticas<br />

humanas que têm seu fim nelas mesmas. Em outras<br />

palavras, aquelas em que a finalidade da ação é ela<br />

mesma, e não há distinção entre o agente e o ato que<br />

ele realiza. São elas: ética, em que a vontade guiada<br />

pela razão leva à ação conforme as virtudes morais<br />

(coragem, generosidade, fidelidade, lealdade, clemência,<br />

prudência, amizade, justiça, modéstia, honradez,<br />

etc.), ten<strong>do</strong> como finalidade o bem <strong>do</strong> indivíduo; e<br />

política, em que a ação racional voluntária tem<br />

como fim o bem da comunidade ou o bem comum.<br />

E Ciências teoréticas ou contemplativas: são aquelas<br />

que estudam coisas que existem independentemente<br />

<strong>do</strong>s homens e de suas ações e que, não ten<strong>do</strong><br />

si<strong>do</strong> feitas pelos homens, podem apenas ser contempladas<br />

por eles. O que são as coisas que existem por si<br />

ética e política<br />

Para os gregos da época clássica, a política é<br />

superior à ética, pois a verdadeira liberdade, sem a<br />

qual não pode haver vida virtuosa, só é conseguida<br />

na pólis. Por isso, a finalidade da política é a<br />

vida justa, a vida boa e bela, a vida livre, da qual<br />

depende a atividade ética ou moral <strong>do</strong>s indivíduos.<br />

theória<br />

Em grego, ‘contemplação da verdade’.<br />

47<br />

capítulo 4

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