Filosofia a Experiência do Pensamento - Sílvio Gallo
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
RMN-Grand Palais (Musée du Louvre)/Les frères Chuzeville/Other Images<br />
Perío<strong>do</strong> helenístico<br />
Trata-se <strong>do</strong> último perío<strong>do</strong> da filosofia antiga, quan<strong>do</strong><br />
a pólis grega desaparece como centro político e deixa de<br />
ser a referência principal <strong>do</strong>s filósofos, uma vez que a<br />
Grécia se encontra sob o poderio de outros impérios,<br />
particularmente o Macedônico e o Romano. Os filósofos<br />
dizem, agora, que o mun<strong>do</strong> é sua cidade e que eles são<br />
cidadãos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Como, em grego, mun<strong>do</strong> se diz cosmos,<br />
esse perío<strong>do</strong> é chama<strong>do</strong> o da filosofia cosmopolita.<br />
Essa época da filosofia é constituída por grandes sistemas<br />
ou <strong>do</strong>utrinas que buscam entender a realidade<br />
como um to<strong>do</strong> articula<strong>do</strong> e entrelaça<strong>do</strong> forma<strong>do</strong> pelas<br />
coisas da natureza, os seres humanos, pelas relações entre<br />
estes e destes com a divindade. Esta estabelece e<br />
conserva a ordem universal. Pre<strong>do</strong>minam preocupações<br />
com a física, a ética e a teologia.<br />
Datam desse perío<strong>do</strong> quatro grandes sistemas que influenciaram<br />
o pensamento cristão, em formação nessa<br />
época: estoicismo, epicurismo, ceticismo e neoplatonismo.<br />
A amplidão <strong>do</strong> Império Romano, a presença crescente<br />
de religiões orientais no Império, as relações comerciais<br />
e culturais entre Ocidente e Oriente fizeram<br />
aumentar os contatos <strong>do</strong>s filósofos helenistas com a<br />
sabe<strong>do</strong>ria oriental. Podemos falar numa orientalização<br />
da filosofia, sobretu<strong>do</strong> com a aparição de aspectos místicos<br />
e religiosos no pensamento e na ação.<br />
Alexandre com lança<br />
(séc. IV a.C.), miniatura<br />
de escultura realizada<br />
por lísipo, um <strong>do</strong>s<br />
retratistas oficiais de<br />
Alexandre, o Grande,<br />
rei da Macedônia.<br />
Em seu reina<strong>do</strong>, os<br />
filósofos deixam de<br />
ter a pólis grega como<br />
referência principal e<br />
tomam contato com<br />
as contribuições <strong>do</strong><br />
pensamento de<br />
outros povos.<br />
Perío<strong>do</strong>s e campos de investigação da filosofia grega<br />
Os campos <strong>do</strong> conhecimento<br />
filosófico<br />
Devemos a Aristóteles a primeira grande classificação<br />
<strong>do</strong>s campos da atividade filosófica ao distinguir e<br />
classificar to<strong>do</strong>s os saberes humanos (cuja totalidade é<br />
a filosofia). O critério por ele a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> é a distinção entre<br />
ação e contemplação. Isto é, Aristóteles diferencia os<br />
saberes ou ciências que constituem a filosofia conforme<br />
seus objetos e finalidades – atividades produtivas,<br />
éticas e políticas ou puramente intelectuais, interessadas<br />
exclusivamente no conhecimento.<br />
Vejamos, pois, a classificação aristotélica <strong>do</strong>s campos<br />
<strong>do</strong> saber:<br />
E Ciências produtivas: ciências que estudam as práticas<br />
produtivas ou as técnicas, isto é, as ações humanas<br />
que visam à produção de um objeto, de uma<br />
obra. São elas: arquitetura, economia, medicina, pintura,<br />
escultura, poesia, teatro, oratória, arte da guerra,<br />
da caça, da navegação, etc. Em suma, são objeto<br />
das ciências produtivas todas as atividades humanas<br />
técnicas e artísticas que resultam num produto ou<br />
numa obra distintos <strong>do</strong> produtor.<br />
E Ciências práticas: ciências que estudam as práticas<br />
humanas que têm seu fim nelas mesmas. Em outras<br />
palavras, aquelas em que a finalidade da ação é ela<br />
mesma, e não há distinção entre o agente e o ato que<br />
ele realiza. São elas: ética, em que a vontade guiada<br />
pela razão leva à ação conforme as virtudes morais<br />
(coragem, generosidade, fidelidade, lealdade, clemência,<br />
prudência, amizade, justiça, modéstia, honradez,<br />
etc.), ten<strong>do</strong> como finalidade o bem <strong>do</strong> indivíduo; e<br />
política, em que a ação racional voluntária tem<br />
como fim o bem da comunidade ou o bem comum.<br />
E Ciências teoréticas ou contemplativas: são aquelas<br />
que estudam coisas que existem independentemente<br />
<strong>do</strong>s homens e de suas ações e que, não ten<strong>do</strong><br />
si<strong>do</strong> feitas pelos homens, podem apenas ser contempladas<br />
por eles. O que são as coisas que existem por si<br />
ética e política<br />
Para os gregos da época clássica, a política é<br />
superior à ética, pois a verdadeira liberdade, sem a<br />
qual não pode haver vida virtuosa, só é conseguida<br />
na pólis. Por isso, a finalidade da política é a<br />
vida justa, a vida boa e bela, a vida livre, da qual<br />
depende a atividade ética ou moral <strong>do</strong>s indivíduos.<br />
theória<br />
Em grego, ‘contemplação da verdade’.<br />
47<br />
capítulo 4