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<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> comenta...<br />
Mas isso mesmo não basta. É preciso<br />
dar com alegria. Quem dá com<br />
tristeza, tendo pena de si mesmo,<br />
não deu nada.<br />
Por exemplo, alguém toma a resolução<br />
de fazer a Deus um pequeno<br />
sacrifício: abster-se de seu melhor<br />
travesseiro, uma vez na semana. Digamos<br />
todas as sextas-feiras, tomando<br />
em consideração que Nosso Senhor<br />
morreu numa sexta-feira por<br />
nós, na Cruz. A pessoa deve privar-<br />
-se disso com alegria, porque encontrou<br />
o modo de tirar melhor proveito<br />
do seu travesseiro, que não é dormir<br />
usando-o, mas dá-lo a Deus, a<br />
Maria Santíssima.<br />
Então a pessoa reza: “Meu Senhor,<br />
dou-Vos graças por terdes<br />
morrido por mim na Cruz, e me concedido<br />
um travesseiro que sacrifico<br />
hoje por Vós.” E afirma isto com<br />
o coração alegre por ter encontrado<br />
com que retribuir a Deus e a Nossa<br />
Senhora a imensidade do que fizeram<br />
por ela. Há uma frase da Escritura<br />
que diz: “Deus ama quem dá<br />
com alegria” (2Cor 9, 7).<br />
Quem dá com pena de si não<br />
pertence à estirpe dos heróis<br />
A lepra é uma doença terrível,<br />
que cobre o homem de feridas, úlceras,<br />
pústulas; depois vão caindo pedaços<br />
dos dedos, do nariz, das orelhas,<br />
o homem vai apodrecendo inteiro.<br />
No fim da doença, ele é uma<br />
podridão ambulante.<br />
Pensem em Balduíno IV andando<br />
no meio dos outros homens e notando<br />
que ele é objeto do nojo e do<br />
horror geral. Percebe que os outros<br />
olham para ele procurando disfarçar,<br />
mas tendo asco. Na véspera daquele<br />
dia ele ainda tinha nariz, naquela<br />
noite o nariz caiu, ou uma orelha,<br />
ou um dedo, e assim ele vai apodrecendo.<br />
Ponha-se cada um neste papel:<br />
apresento-me para os outros, tendo<br />
perdido o nariz na noite anterior...<br />
As pessoas, por amabilidade, fingem<br />
não perceber e perguntam como<br />
passei a noite, mas interiormente<br />
pensam, rachados de dor: “O que<br />
aconteceu nesta noite com ele?”<br />
Entretanto, diante de Balduíno<br />
IV, que na véspera de uma batalha<br />
perde o nariz, está o corcel. O<br />
Rei leproso monta a cavalo, ele todo<br />
é uma chaga e cada vez que o cavalo<br />
salta seu corpo inteiro dói. A dor<br />
aumenta e se renova à medida que o<br />
corcel apressa a velocidade, e a cada<br />
vez em que Balduíno ergue o braço<br />
para desferir um golpe com a espada.<br />
Haveria dois modos de Balduíno<br />
partir para a batalha. Um seria: “Ai,<br />
meu Deus, então Vós quereis deste<br />
vosso pobre filho Balduíno mais<br />
este horror?” E na hora do combate:<br />
“Vós desferis contra ele um golpe<br />
que se os maometanos desfechassem<br />
seria cruel! Durante esta noite,<br />
Senhor, pelas mãos da lepra, Vós me<br />
arrancastes o nariz e desfigurastes a<br />
minha face, abrindo mais uma fonte<br />
de dor em meu rosto. E Vós ainda<br />
quereis que eu combata! Ai que<br />
dor, que sofrimento! Senhor, eu me<br />
resigno vagarosamente, para que tudo<br />
doa o menos possível: ponho um<br />
pé no estribo, vou dar o salto para ci-<br />
J.P. Braido<br />
Cruzeiro de pedra - Escorial, Espanha<br />
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