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Vejam, então, a podridão do Império<br />
Romano. Os romanos não conseguiram<br />
reter os bárbaros, São Pedro<br />
conseguiu. E a aparição do primeiro<br />
Papa, no ar, fez com que Átila gradualmente<br />
se retirasse da Itália e voltasse<br />
para a Panônia – a antiga Hungria<br />
–, e se afundou naquelas terras.<br />
...e não queriam que seus filhos<br />
estudassem, pois ficariam<br />
moles como os romanos<br />
Portanto era a hora de os bárbaros<br />
irem embora também. Mas nem se<br />
falou disso, pois eles estavam estabelecidos<br />
e abancados lá. Então o que<br />
fazer? Os governadores e os soldados<br />
romanos tiveram medo dos bárbaros<br />
e todos fugiram. Mas da Santa Sé<br />
veio uma ordem para todos os bispos<br />
e padres não abandonarem seus postos.<br />
Deveriam permanecer nos cargos<br />
e continuar a exercer seu ofício, tentando<br />
converter os bárbaros. É uma<br />
coisa extraordinária realmente.<br />
Resultou daí uma situação assim:<br />
muitos bárbaros eram tão bárbaros que<br />
eles não conseguiam dormir nas cidades<br />
romanas, porque diziam que sentiam<br />
falta de ar devido às casas que havia<br />
em volta. Aquelas casas tiravam o ar<br />
deles. Então iam para o mato ou o campo,<br />
durante a noite, para dormir; e pela<br />
manhã voltavam para fuxicar na cidade,<br />
o que eles achavam naturalmente<br />
interessante, agradável. De um lado.<br />
De outro lado, não queriam que<br />
os filhos deles estudassem, porque diziam<br />
que se o fizessem ficariam moles<br />
como os romanos. E que para ter<br />
meninos guerreiros, a fim de tocar a<br />
eterna guerra deles, o único jeito possível<br />
era que não estudassem. Eles<br />
queriam conservar a barbárie porque<br />
tinham horror à civilização; confundiam<br />
civilização com podridão. Não<br />
eram católicos, mas pagãos.<br />
Para terem ideia de como se foram<br />
espalhando pelo Império, eles entraram<br />
na França, cobriram essa nação,<br />
invadiram a Espanha, Portugal, transpuseram<br />
o Mediterrâneo, entraram<br />
pela África e cobriram quase todo o<br />
Norte desse continente.<br />
Foi, portanto, uma população<br />
imensa que se transmudou, mas que<br />
destruiu tudo na sua passagem. A<br />
administração romana se retirando,<br />
os bárbaros ficaram governando.<br />
Constantinopla e Alexandria<br />
Podem imaginar o que era governo<br />
de bárbaros. As estradas romanas<br />
eram as melhores do mundo. Começaram<br />
a cair, porque de estrada é preciso<br />
cuidar. Se não tem quem cuide, começa<br />
a nascer vegetação na estrada,<br />
acontece de tudo. Como esses bárbaros<br />
nem tinham ideia de como organizar<br />
a proteção de uma estrada, isso tudo<br />
ia se deteriorando. As pontes caiam,<br />
eles não consertavam. Ficavam aqueles<br />
abismos, não se podia transitar. Grupos<br />
de bandidos circulavam de um lado para<br />
outro, não havia polícia. Era o caos<br />
mais completo que pode haver.<br />
Para abreviar a narração, os romanos<br />
começaram a se casar com as bárbaras,<br />
os bárbaros com as romanas, e<br />
foi se formando uma sociedade composta<br />
de civilizados podres e bárbaros<br />
insuportáveis. Pairava sobre esse caos<br />
a bênção da Igreja, ensinando, batizando,<br />
distribuindo os sacramentos quanto<br />
podia, dando exemplos de virtude, suscitando<br />
Santos que, vivendo no meio<br />
deles, iam gradualmente amansando a<br />
barbárie e corrigindo a podridão.<br />
De toda esta história apareceu uma<br />
população mista, semibárbara, incomparavelmente<br />
mais atrasada do que o<br />
mundo oriental que tinha sua grande<br />
capital em Constantinopla – depois<br />
Bizâncio –, que era a sede do Império<br />
Romano do Oriente. Não confundir<br />
com o Império Romano do Ocidente,<br />
que tinha sede em Roma, às vezes em<br />
Milão, enfim, na península itálica.<br />
Constantinopla, lindíssima cidade<br />
do Estreito de Bósforo, com uma parte<br />
construída na Europa e outra na Ásia.<br />
E depois os povos da Ásia Menor, dos<br />
quais muitos eram ricos e altamente civilizados.<br />
Isto ia até o Egito. E a outra<br />
grande cidade oriental, não europeia,<br />
com civilização, portanto, oriental, influência<br />
grega muito forte, era Alexandria,<br />
no Egito. Eram as duas grandes cidades<br />
famosas no mundo inteiro. Para<br />
esse pessoal dos Bálcãs e do Sul do Mediterrâneo,<br />
prevalecia a ideia de que a<br />
Europa era uma caipirada. Tinham razão.<br />
Uns bárbaros, uns cafajestes, com<br />
os quais não havia grande coisa a fazer.<br />
Invasões dos maometanos<br />
e dos vikings<br />
No meio de tudo isso, com acontecimentos<br />
históricos que seria muito<br />
longo narrar, foi gradualmente<br />
aparecendo a nação que é a primeira<br />
da Europa contemporânea a nascer<br />
das mãos da Igreja, a França.<br />
Depois as outras nações foram se<br />
convertendo, a ação dos Santos, da<br />
Hierarquia, foi apaziguando esses povos,<br />
e se podia supor que as coisas relativamente<br />
começassem a melhorar,<br />
quando outras circunstâncias imprevistas<br />
vieram perturbar tudo isso. As<br />
circunstâncias foram tríplices.<br />
Em primeiro lugar, uma invasão<br />
maometana. Maomé – também é outra<br />
coisa interminável para se contar<br />
– fundou uma religião nova, segundo<br />
a qual Jesus Cristo era apenas um<br />
profeta. Dizia Maomé que existia<br />
um só Deus, Alá, e Jesus Cristo, mero<br />
profeta de Alá, não era Homem-<br />
-Deus unido hipostaticamente à Segunda<br />
Pessoa da Santíssima Trindade.<br />
Maomé estava animado por um<br />
ódio terrível aos católicos.<br />
Essa religião começou a atuar no<br />
Oriente Próximo, mas depois se estendeu<br />
pelo Egito e todo o Norte da África.<br />
Os maometanos destroçaram o que<br />
restava de romano católico e de bárbaro<br />
católico. Invadiram a Espanha e, de<br />
invasão em invasão, chegaram até o coração<br />
da França, em Poitiers.<br />
Mais ou menos ao mesmo tempo,<br />
uma parte dos bárbaros, que não tinha<br />
atravessado o Reno e o Danúbio,<br />
começaram a invadir de novo as<br />
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