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Revista Dr Plinio 247

Outubro de 2018

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ta fotografia se me apresenta de um róseo muito delicado,<br />

mas não homogêneo; percebe-se a presença variada<br />

do róseo e do branco nas ogivas góticas, formando uma<br />

espécie de contraste.<br />

De si, o bonito seria, de acordo com a lei da gravidade,<br />

vermos o elemento mais pesado carregar o mais leve.<br />

Então, seria explicável que esse palácio fosse construído<br />

de tal maneira que essa espécie de caixotão – é um ultraje<br />

chamá-lo assim – deliciosamente róseo, ornado por<br />

três ogivas agradavelmente simétricas, pensativas, calmas,<br />

tranquilas e nobres, que parecem estar, elas mesmas,<br />

olhando o mar, contemplando-o com a familiaridade<br />

com a qual as grandes pessoas contemplam o lindo;<br />

pareceria normal, enfim, que esse caixotão estivesse<br />

na terra, e a parte mais leve, ou seja, as colunas desse<br />

andar imediatamente inferior, bem como a colunata que<br />

toca no chão, estivessem em cima.<br />

Dir-se-ia que esse edifício, construído assim como está,<br />

daria uma sensação de peso medonho, e que esse caixotão<br />

vai esmagar e quebrar, a qualquer momento, a colunata.<br />

Mas está calculada com tanta inteligência a distribuição<br />

dos corpos e dos volumes, que não se tem essa<br />

impressão. Pelo contrário, sente-se que essa colunata<br />

carrega sem esforço o caixotão, o qual, recusando-se de<br />

ficar na terra, é suportado por essas colunas magníficas,<br />

de maneira a permitir a circulação do ar por debaixo dele.<br />

A arte orna isso com essa primeira linha ogival muito<br />

bonita, e embaixo com aqueles outros arcos, ficando o<br />

palácio, por assim dizer, suspenso no ar.<br />

Chamo a atenção para o que há de bem pensado em<br />

cada detalhe dessa fachada. Ela ficaria monótona se não<br />

houvesse, bem no meio, aquela porta dando para um<br />

terraço. Mas se existisse ali mais uma ogiva o palácio se<br />

tornaria insuportável. Para aquela porta, aquele terraço<br />

tem exatamente o tamanho que deve ter para completar<br />

bem e levemente uma das maravilhas do universo,<br />

o Palácio dos Doges.<br />

Viagem que conduz ao<br />

Céu ou ao Inferno<br />

Imaginem-se sentados em gôndolas e seguindo<br />

na direção dessa praça que se abre mais para<br />

o fundo e tem uma torre. Percebe-se, pelas<br />

cúpulas, que para essa praça dá também uma<br />

igreja, e existe depois outro palácio. Mas há<br />

uma parte da praça que dá diretamente para o mar. É o<br />

desembarcadouro para as pessoas que descem, um cais.<br />

Há cais ao longo de toda essa colunata, a fim de facilitar<br />

ao máximo o deslocamento da população.<br />

Notem como existem ali duas colunas. Em uma delas<br />

há uma estátua de São Teodoro esmagando o dragão; na<br />

outra, o leão alado, emblema de Veneza. No intervalo entre<br />

as duas colunas havia um outro “cais” de um gênero<br />

muito diverso. Nele alguns homens empreendiam uma<br />

viagem perto da qual as nossas viagens contemporâneas<br />

são zero, e até mesmo os homens que foram à Lua não<br />

são nada em comparação com os que fazem essa viagem,<br />

porque é a viagem que conduz ao Céu ou ao Inferno...<br />

Ali eram executados, em troncos especialmente<br />

levados para a cerimônia, os condenados à morte.<br />

Lugar lindo, encantador, mas é um dos traços de Veneza.<br />

Ela é festiva, mas tem qualquer coisa no fundo<br />

de muito grave e até de um tanto melancólico, sem o<br />

qual Veneza seria uma banalidade.<br />

Gabriel K.<br />

Arquivo <strong>Revista</strong><br />

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