mundo

“Vocês estão bem?”, indagou o homem mais velho, se aproximando da parte de trás do veículo, cautelosamente de
João não respondeu. Desceu do cavalo, passando ao largo do dentes de sabe que se contorcia de dor, e se dirigiu ao
“Maypu precisa de ajuda. Temos que voltar a São Leopoldo”, disse João, agachado ao lado do animal, de costas para
“Temos que voltar para Porto Alegre, carregar nossas encomendas, e voltar para São Miguel”, argumentou o cocheiro.
muitos anos no continente, deixara crescer os cabelos e uma barba espessa, que agora começavam a embranquecer.
Mesmo após vinte e cinco anos na nova terra, seu sotaque lusiano não deixava dúvidas de que ele era um forasteiro. E
Percorrera as estradas da província de São Pedro e da Cisplatina pelos últimos dez anos, sempre perdendo seu alvo
algumas vezes por questão de minutos. Entretanto, não se frustrava, mesmo que seu mestre considerasse sua missão
uma total perda de tempo. Por causa disso, pediu a seu mestre que o liberasse de seus deveres, até que cumprisse
NOVA LITERATURA - AS FERAS DE UM MUNDO AO SUL
PÁGINA 21
CONTO
armas em punho.
“Eu estou”, disse o rapaz, o corpo tremendo, olhos arregalados. Aquela devia ser sua primeira viajem.
lobo caído, que gemia baixinho.
os dois missioneiros.”
O cocheiro mais velho se aproximou e examinou os ferimentos do lobo pampeano.
“O ferimento é muito profundo. Não há nada a fazer, a não ser abreviar a dor dele”, disse o cocheiro, secamente.
“Eu decido o que fazer”.
“Ele vai sangrar até morrer”, insistiu o homem.
“Não se for socorrido a tempo”
“Pois então, que voltem sozinhos ”, respondeu João.
“Você não será pago”.
“Eu não me importo”, Disse João, entre dentes.
***
O oriental se deslocava por entre as bancas do mercado do cais de Porto Alegre, chamando pouca atenção. Após
Com a pele bronzeada, em trajes de tropeiro, passaria por indígena. Porém, quando abria a boca, tudo mudava.
sempre seria.
sua meta. Voltaria a São Miguel com o herdeiro. Ou não voltaria.