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mundo

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“Vossa mercê viu um tropeiro de mais ou menos vinte e cinco anos de idade? Pelo que dizem, ele vive da escolta de<br />

“Há muitos tropeiros por aqui”, respondeu o dono da banca, um descendente de açorianos, alto, de cabelos pretos e<br />

“Tu por acaso o conheces, bugre?”, indagou um homem calvo, de meia-idade, que bebia numa mesa próxima. Usava<br />

O sargento não terminou a frase. Sua pistola, chutada pelo chinês, disparou para o alto, causando alvoroço entre os<br />

NOVA LITERATURA - AS FERAS DE UM MUNDO AO SUL<br />

PÁGINA 22<br />

CONTO<br />

A seu favor, ele tinha o fato de sua presa, nos últimos dois anos, ter se tornado descuidada, repetindo<br />

incessantemente o mesmo trajeto. Era uma questão de tempo até que finalmente o encontrasse.<br />

cargas que chegam das missões”.<br />

olhos azuis.<br />

“Esse tem fama de pelear bem. Luta sem armas, com as mãos e com os pés”, disse o oriental. “Também ouvi dizer<br />

que é acompanhado por um lobo pampeano”.<br />

o dólmã azul da guarda nacional e divisas de sargento.<br />

“Não sou um bugre”, respondeu o oriental, calmamente. “Sou chinês”.<br />

“Não foi o que te perguntei”, disse o sargento, sacando a pistola de pederneira”.<br />

“Digamos que eu o conheça. O que vossa mercê quer com ele? ” Indagou o oriental, sem se deixar intimidar pelo<br />

sargento de arma em punho.<br />

“Isso não é da sua conta. Apenas leve-me até ele e eu o deixarei ir”.<br />

“É muita bondade de sua parte. Mas devo recusar”, disse o oriental.<br />

“Pois que seja. Estás preso por desacato à autoridade do império do Brasil”. Ponha as mãos na cabeça, disse o<br />

sargento.<br />

Nesse momento, o oriental notou o enorme hematoma que cobria boa parte do lado direito do rosto do militar.<br />

“Ah. Entendo. Vossa mercê deve perdoá-lo. Ele é jovem e um tanto tolo. Eu mesmo me encarregarei de puni-lo,<br />

quando o encontrar. ” Replicou o oriental.<br />

“Isso é o que veremos. Tu vais me acompanhar até o arsenal da guarda, para averiguações”.<br />

“Lamento, mas não posso. Em outra ocasião, talvez”.<br />

“Vens comigo ou devo puxar o gat...”<br />

outros fregueses e derrubando pedaços do teto. Antes que o militar se recobrasse da surpresa, foi atingido por um

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