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Revista Outubro 2018

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Universalizar acervo e<br />

visibilizar às experiências<br />

negras nos territórios de<br />

mineração (Mariana, MG)<br />

O Núcleo de Pesquisa em História Econômica<br />

e Demográfica do Cedeplar da Universidade<br />

Federal de Minas Gerais associou-se à<br />

Vanderbilt University com o objetivo de preservação<br />

da documentação histórica sobre<br />

africanos e seus descendentes que habitaram<br />

o território de Minas Gerais, no interior do<br />

Brasil.<br />

Minas Gerais possuiu uma das maiores<br />

populações negras do país ao longo do século<br />

XVIII e XIX, na condição de escravizados e<br />

também de libertos e negros livres. O impacto<br />

da descoberta de metais preciosos no interior<br />

do Brasil, a partir do final do século XVII,<br />

atingiu a sociedade portuguesa e grandes<br />

parcelas do continente africano. Foi da chamada<br />

África Negra que veio o maior número<br />

de moradores para a nova região de mineração<br />

de ouro e diamante do passado brasileiro.<br />

Esta nova sociedade, em terras de garimpo,<br />

marcou-se pela diversidade étnica, pela<br />

presença de milhares de trabalhadores<br />

africanos e seus descendentes em situação<br />

de escravização e também de liberdade.<br />

Contudo, ainda, há poucos estudos que<br />

exploram as histórias de vida dessa significativa<br />

parcela da população de Minas Gerais.<br />

Inicialmente, o projeto tem como foco disponibilizar<br />

o precioso acervo dos livros de testamentos<br />

do território da primeira capital e<br />

cidade de Minas Gerais, Mariana. O acervo<br />

objeto da pesquisa-ação é um dos mais ricos<br />

corpos documentais sobre a experiência<br />

negra no passado colonial e imperial da região<br />

mineira. Como é de conhecimento dos especialistas<br />

em História do Negro no Brasil, a<br />

documentação sobre esses atores sociais<br />

muitas vezes foi produzida de maneira indireta,<br />

o que torna, ainda mais importante os<br />

testamentos produzidos por mulheres e<br />

homens negros relatando suas últimas vontades.<br />

Revelam, dessa maneira, hábitos, cultura<br />

material, parentesco e inserção social dessa<br />

parcela da população.<br />

Festa de Nossa Senhora do Rosário em Padre Viegas - Mariana - Mg - 2017.<br />

15<br />

A série de Livros de Testamentos de Mariana<br />

integram o precioso acervo do Arquivo<br />

Histórico da Casa Setecentista de Mariana,<br />

instituição pertencente ao Instituto do<br />

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional<br />

(IPHAN). Mariana surgiu no final do século<br />

XVII na corrida do ouro e tornou-se a primeira<br />

povoação mineira com sede administrativa<br />

instalada pela Coroa Portuguesa em 1711.<br />

Acolheu os primeiros governadores que<br />

habitaram o território e a partir de 1745 tornouse<br />

a capital eclesiástica de Minas Gerais.<br />

O projeto tem por objetivo dar visibilidade às<br />

experiências negras do passado que marcaram<br />

a realidade de extenso território de Minas<br />

Gerais. Por exemplo, em 1781, a africana<br />

Francisca da Conceição revelou como, pelo<br />

seu trabalho e indústria, conseguiu conquistar<br />

a liberdade após ser escravizada e enviada da<br />

Costa da Mina para o Brasil. Posteriormente,<br />

se instalou no então Arraial de Bento<br />

Rodrigues, em Mariana, no qual se tornou<br />

proprietária de uma estalagem que também<br />

era um pequeno comércio. No seu testamento,<br />

registrou que comprava produtos da cidade<br />

do Rio de Janeiro para abastecer seu pequeno<br />

empório/hospedaria. Para cuidar de seus<br />

negócios, contava com os trabalhadores<br />

Sebastião, Damião e Matheus Angola, além<br />

de Felizarda e Maria Mina - todos africanos<br />

como sua senhora. Sua casa, como muitas<br />

outras, era uma pequena África no coração de<br />

Minas Gerais. Francisca da Conceição tornou-se<br />

destacada devota de São Benedito<br />

ocupando os cargos de juíza e Rainha. Ela<br />

desejou que sua última morada fosse a tumba<br />

de São Benedito na Capela de São Bento do<br />

Arraial de Bento Rodrigues. Outro africano,<br />

que passou a se registrar como Inácio<br />

Fagundes, morador na sede da Vila do Carmo<br />

(atual Mariana), deixou a escravidão após<br />

comprar a sua liberdade por elevada soma.<br />

No seu testamento, escrito em 1732, registrou<br />

que além de ser chefe do seu domicílio, era<br />

proprietário de parte de uma mina de ouro na<br />

vizinha localidade de Vila Rica.

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