Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana Foto: Arquidiocese de Mariana
da Casa Setecentista de Mariana, que guarda a documentação judiciária do Termo de Mariana, e posteriormente, Comarca de Mariana e o Arquivo da Prefeitura de Mariana, que guarda a documentação administrativa municipal posterior a 1930. As riquezas desses acervos os tornam procurados por muitos pesquisadores brasileiros e brasilianistas, pois neles são encontrados as provas da existência de Mestre Athayde, Antonio Francisco Lisboa, o construtor Arouca etc. Sem esses documentos, como saberíamos que a população escrava era superior à população livre e que, embora a colonização fosse do europeu, a população era negra e mestiça? Como descobrir que o fausto da economia aurífera era falso? Como entender o processo de expansão da zona urbana da cidade? A cidade era melhor que hoje? Como reconhecer e se reconhecer na cultura de nossos antepassados! Desta forma, os arquivos são um tipo de instituição que guardam a memória da sociedade que o gerou.Os documentos são importantes porque são fontes de informação sobre a cultura, as relações sociais, econômicas, entre tantas outras possibilidades de pesquisa, tantas quantas nossa criatividade permitir. Os documentos, por tratarem de fatos e atos específicos de uma sociedade, pessoa, época, são únicos. Cada documento constitui uma unidade particular, mesmo que serial. Diferentemente dos livros de bibliotecas que são editados em maior quantidade de unidades. Quando deixamos um arquivo se perder, se deteriorar, queimar, jamais será substituído por completo, mesmo havendo cópias de segurança, simplesmente, por serem cópias. É como a queima das mais de 80.000 cobras do instituto Butantã, no ano de 2010. Muitas com mais de cem anos. A perda não foi calculada pelo número de cobras, mas pelo valor genético que elas representavam para a pesquisa no Brasil e no mundo. Assim são os arquivos, em especial os de Mariana, visto que guardam, não só informações sobre a cidade e seu povo, mas também de boa parte do Estado de Minas Gerais. Uma política de preservação da cultura de um povo e de seu patrimônio, não terá êxito se deixar de lado os arquivos. Um patrimônio edificado, não enseja em si valor apenas estético, mas dele nos interessa saber, também, quem o construiu, a técnica utilizada, os materiais, o valor financeiro, o tempo de execução, o seu significado para a comunidade etc. Muitas dessas informações terão de ser buscadas nos arquivos. Não existe arquivo morto. Um arquivo morre quando nós o matamos, por vontade, ou omissão. Assim disse um estudioso da arquivologia, em 1913, “o grau de civilidade de um povo se mede pela forma como cuidam de seus arquivos”. Disse isso, não por acreditar que é nobre cuidar das coisas antigas, por serem simplesmente antigas ou belas, mas por possuírem valor informativo de relevância para a cultura e a ciência. Ele não está preocupado em preservar o que ficou do passado como se fossem relíquias, exemplares de um tempo que não voltará. Não! Ele está preocupado também com o futuro. Os arquivos constituem um tipo de lugar tão importante quanto os museus. Preservá-los é necessário se queremos construir uma sociedade livre e democrática. Não há como edificar a liberdade e a democracia sem que todos tenham acesso à informação e ao conhecimento. Preceito tão importante que está definido na Constituição Brasileira, em seu artigo 5º, incisos XIV e XXXIII que tratam do acesso a informação e aos documentos públicos. Não há garantias de que os cidadãos tenham acesso à informação se os documentos não forem preservados ou estiverem inacessíveis. Cabe aos municípios a preservação da documentação pública municipal, é o que diz o parágrafo 2º, do artigo 216, da Constituição Federal. Entretanto, uma pesquisa recente, feita pelo Conselho Nacional de Arquivos concluiu que apenas um por cento dos municípios brasileiros possuem arquivos. Maria José Ferro de Souza e Maria Tereza Gonçalves Arquivo do Museu da Música - Foto Paulo Castanha 07