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Revista Outubro 2018

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da Casa Setecentista de Mariana, que guarda<br />

a documentação judiciária do Termo de<br />

Mariana, e posteriormente, Comarca de<br />

Mariana e o Arquivo da Prefeitura de Mariana,<br />

que guarda a documentação administrativa<br />

municipal posterior a 1930.<br />

As riquezas desses acervos os tornam procurados<br />

por muitos pesquisadores brasileiros<br />

e brasilianistas, pois neles são encontrados<br />

as provas da existência de Mestre<br />

Athayde, Antonio Francisco Lisboa, o construtor<br />

Arouca etc. Sem esses documentos,<br />

como saberíamos que a população escrava<br />

era superior à população livre e que, embora<br />

a colonização fosse do europeu, a população<br />

era negra e mestiça? Como descobrir<br />

que o fausto da economia aurífera era falso?<br />

Como entender o processo de expansão<br />

da zona urbana da cidade? A cidade era<br />

melhor que hoje? Como reconhecer e se<br />

reconhecer na cultura de nossos antepassados!<br />

Desta forma, os arquivos são um tipo de<br />

instituição que guardam a memória da sociedade<br />

que o gerou.Os documentos são<br />

importantes porque são fontes de informação<br />

sobre a cultura, as relações sociais,<br />

econômicas, entre tantas outras possibilidades<br />

de pesquisa, tantas quantas nossa<br />

criatividade permitir. Os documentos, por<br />

tratarem de fatos e atos específicos de uma<br />

sociedade, pessoa, época, são únicos.<br />

Cada documento constitui uma unidade<br />

particular, mesmo que serial. Diferentemente<br />

dos livros de bibliotecas que são editados<br />

em maior quantidade de unidades. Quando<br />

deixamos um arquivo se perder, se deteriorar,<br />

queimar, jamais será substituído por<br />

completo, mesmo havendo cópias de segurança,<br />

simplesmente, por serem cópias. É<br />

como a queima das mais de 80.000 cobras<br />

do instituto Butantã, no ano de 2010. Muitas<br />

com mais de cem anos. A perda não foi calculada<br />

pelo número de cobras, mas pelo<br />

valor genético que elas representavam para<br />

a pesquisa no Brasil e no mundo. Assim são<br />

os arquivos, em especial os de Mariana,<br />

visto que guardam, não só informações<br />

sobre a cidade e seu povo, mas também de<br />

boa parte do Estado de Minas Gerais.<br />

Uma política de preservação da cultura de<br />

um povo e de seu patrimônio, não terá êxito<br />

se deixar de lado os arquivos. Um patrimônio<br />

edificado, não enseja em si valor apenas<br />

estético, mas dele nos interessa saber, também,<br />

quem o construiu, a técnica utilizada,<br />

os materiais, o valor financeiro, o tempo de<br />

execução, o seu significado para a comunidade<br />

etc. Muitas dessas informações terão<br />

de ser buscadas nos arquivos.<br />

Não existe arquivo morto. Um arquivo morre<br />

quando nós o matamos, por vontade, ou<br />

omissão. Assim disse um estudioso da<br />

arquivologia, em 1913, “o grau de civilidade<br />

de um povo se mede pela forma como cuidam<br />

de seus arquivos”. Disse isso, não por<br />

acreditar que é nobre cuidar das coisas antigas,<br />

por serem simplesmente antigas ou<br />

belas, mas por possuírem valor informativo<br />

de relevância para a cultura e a ciência. Ele<br />

não está preocupado em preservar o que<br />

ficou do passado como se fossem relíquias,<br />

exemplares de um tempo que não voltará.<br />

Não! Ele está preocupado também com o<br />

futuro.<br />

Os arquivos constituem um tipo de lugar tão<br />

importante quanto os museus. Preservá-los<br />

é necessário se queremos construir uma<br />

sociedade livre e democrática. Não há<br />

como edificar a liberdade e a democracia<br />

sem que todos tenham acesso à informação<br />

e ao conhecimento. Preceito tão importante<br />

que está definido na Constituição Brasileira,<br />

em seu artigo 5º, incisos XIV e XXXIII que<br />

tratam do acesso a informação e aos documentos<br />

públicos. Não há garantias de que<br />

os cidadãos tenham acesso à informação<br />

se os documentos não forem preservados<br />

ou estiverem inacessíveis. Cabe aos municípios<br />

a preservação da documentação<br />

pública municipal, é o que diz o parágrafo<br />

2º, do artigo 216, da Constituição Federal.<br />

Entretanto, uma pesquisa recente, feita<br />

pelo Conselho Nacional de Arquivos concluiu<br />

que apenas um por cento dos municípios<br />

brasileiros possuem arquivos.<br />

Maria José Ferro de Souza e Maria Tereza Gonçalves<br />

Arquivo do Museu da Música - Foto Paulo Castanha<br />

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