Revista ComTempo, edição nº 2 - de novembro de 2018 a janeiro de 2019
Sua revista digital com jeitinho de impressa.
Sua revista digital com jeitinho de impressa.
- No tags were found...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
LEI<br />
Cárcere privado, cinco dias <strong>de</strong> negociação,<br />
gran<strong>de</strong> repercussão nacional e internacional<br />
e exploração midiática. Assim po<strong>de</strong><br />
ser <strong>de</strong>finido um dos casos mais emblemáticos<br />
<strong>de</strong> repercussão nacional e internacional:<br />
o ‘Caso Eloá’, da então adolescente <strong>de</strong><br />
15 anos Eloá Pimentel, assassinada pelo exnamorado<br />
Lin<strong>de</strong>mberg Alves.<br />
O caso, por motivação <strong>de</strong> gênero e<br />
que po<strong>de</strong>ria ser configurado como feminicídio,<br />
completou uma década em outubro <strong>de</strong>ste<br />
ano, mas anos antes, já era <strong>de</strong>finido como<br />
base para o projeto que resultou no Trabalho<br />
<strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso (TCC) ‘O Feminicídio<br />
no Brasil e as Consequências da Cultura Machista’,<br />
da estudante do 5º ano <strong>de</strong> Direito no<br />
Imesb, em Bebedouro, Graziela Rodrigues,<br />
24.<br />
“Antes mesmo entrar na faculda<strong>de</strong>, o<br />
tema violência contra a mulher mexia muito<br />
comigo. E o caso <strong>de</strong> Eloá, especificamente,<br />
sempre pensei em trazer como tema para minha<br />
conclusão do curso, como uma forma <strong>de</strong><br />
homenageá-la e homenagear tantas outras<br />
meninas e mulheres que foram vítimas <strong>de</strong> crimes<br />
como esse”, diz Graziela, que também<br />
tinha 15 anos quando Eloá foi assassinada,<br />
lembrando-se da repercussão do caso. “A mídia<br />
ganhou muito sobre o caso <strong>de</strong> Eloá. Todos<br />
sabiam no que po<strong>de</strong>ria resultar, mas ninguém<br />
se importava, pois era a vida <strong>de</strong> uma menina<br />
que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> morta, virou santa. Mas Eloá<br />
não queria ser santa, ela queria viver”, enfatiza<br />
a estudante.<br />
“A Lei do Feminicídio é necessária,<br />
principalmente pela socieda<strong>de</strong> machista que<br />
vivemos, que nos mata por sermos mulheres<br />
a cada dia mais, e agora tem sido mais<br />
pautado na mídia, o que não ocorria até ano<br />
passado”, fazendo referência a casos como o<br />
da advogada Tatiana Spitzner, assassinada e<br />
jogada da sacada <strong>de</strong> seu prédio, pelo esposo<br />
Luís Felipe Mainvailer. O crime aconteceu<br />
em julho <strong>de</strong>ste ano, em Guarapuava (PR), e<br />
levantou muitas discussões sobre feminicídio<br />
no Brasil.<br />
A estudante analisa que mesmo com<br />
a Lei sancionada, juízes <strong>de</strong> muitas comarcas<br />
DO<br />
insistiam em não consi<strong>de</strong>rar assassinatos<br />
<strong>de</strong> mulheres por motivação <strong>de</strong> gênero como<br />
feminicídio. “A mídia começou a dar muita<br />
visibilida<strong>de</strong> a casos <strong>de</strong> feminicídio, principalmente<br />
após a morte da advogada”, explica<br />
Rodrigues.<br />
“Até alguns anos, mortes <strong>de</strong> mulheres<br />
eram tidas como ‘crime <strong>de</strong> paixão’ ou ‘crime<br />
passional’, e muitos homens foram absolvidos<br />
<strong>de</strong>sta forma. Um caso muito famoso é <strong>de</strong><br />
Doca Street (Raul Fernando do Amaral Street),<br />
que assassinou a socialite Ângela Maria<br />
Fernan<strong>de</strong>s Diniz. Eles tinham um casamento<br />
aberto, mas ele tinham muito ciúme, a matou<br />
e ainda colocou toda a culpa nela e está livre<br />
e solto até hoje.<br />
A estudante ainda analisa a relação<br />
direta entre casos <strong>de</strong> feminicídio e históricos<br />
<strong>de</strong> relacionamentos abusivos, ou seja,<br />
quando o companheiro da vítima já dava sinais,<br />
até mesmo “sutis”, <strong>de</strong> violência: “Muitas<br />
vezes a mulher não consegue sair daquele<br />
relacionamento, por conta dos filhos,<br />
por <strong>de</strong>pendência emocional, financeira... E o<br />
feminicídio é realmente a ponta do iceberg,<br />
porque uma pessoa que começa gritando<br />
com uma mulher também po<strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong><br />
esfaqueá-la”<br />
FE<br />
MI<br />
NI<br />
CÍ<br />
DIO