Revista ComTempo, edição nº 2 - de novembro de 2018 a janeiro de 2019
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O<br />
número <strong>de</strong>veria ser zero. Mas, 65,9%<br />
das crianças <strong>de</strong> 0 a 3 anos estão sem<br />
matrículas na escolas e creches. O<br />
Anuário Brasileiro <strong>de</strong> Educação <strong>2018</strong>,<br />
que tem como referência dados <strong>de</strong> 2015 e 2016,<br />
revela que apenas 34,1% das crianças <strong>de</strong>sta faixa<br />
etária estão regularmente matriculadas nas<br />
escolas <strong>de</strong> todo o Brasil.<br />
A meta do Plano Nacional <strong>de</strong> Educação<br />
era atingir, pelo menos, 50% das crianças, mas<br />
esta realida<strong>de</strong> está distante. Observa-se no levantamento<br />
que em 17 anos a taxa <strong>de</strong> alunos<br />
frequentando a escola melhorou 142%, já que<br />
em 2001, o número <strong>de</strong> alunos nas unida<strong>de</strong>s educacionais<br />
era <strong>de</strong> 13,8%.<br />
Quando refere-se a Pré-escola, com<br />
crianças <strong>de</strong> 4 e 5 anos, o Anuário mostra resultados<br />
mais positivos. São 93% das crianças <strong>de</strong>sta<br />
faixa etária com acesso à educação. A a<strong>de</strong>são<br />
também aumentou, tendo em vista que em 2001,<br />
66,4% <strong>de</strong>stes estudantes estavam <strong>de</strong>ntro das<br />
salas <strong>de</strong> aula.<br />
No entanto, dar educação às crianças é<br />
um <strong>de</strong>safio aos municípios brasileiros. O estudo<br />
revela também, a taxa <strong>de</strong> crianças que estão nas<br />
escolas por cada região do país.<br />
Entre crianças <strong>de</strong> 0 a 3 anos, a região<br />
Sul é a que mais aten<strong>de</strong>, são 40,9% <strong>de</strong>ste público<br />
<strong>de</strong>ntro das escolas. Em segundo lugar está<br />
o Su<strong>de</strong>ste com 40,4%. Em terceiro, o Nor<strong>de</strong>ste<br />
com 30,6%. O Centro Oeste vem em seguida,<br />
trazendo <strong>de</strong>ntro das escolas 26,9% das crianças<br />
<strong>de</strong>sta faixa etária. Por último, a região Norte é a<br />
que menos oferece possibilida<strong>de</strong>s para crianças<br />
na educação infantil, são apenas 18,3% que estão<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> escolar.<br />
Apesar das regiões terem quantida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> populações diferentes, observa-se que nenhuma,<br />
em sua proporção, consegue dar educação<br />
a pelo menos meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas crianças.<br />
Já quando os números rementem-se<br />
aos alunos <strong>de</strong> 4 e 5 anos, os dados por regiões<br />
são mais satisfatórios, assim como o acumulado<br />
<strong>de</strong> todo o país já citado anteriormente. Nesta<br />
faixa etária, o último lugar continua com a região<br />
Norte, que oferece educação infantil a 86,9% das<br />
crianças. O Centro Oeste também permanece<br />
como penúltimo, totalizando 88,6%. O terceiro<br />
lugar nesta faixa etária está com o Sul (90,4%),<br />
sendo antecedido pelo Su<strong>de</strong>ste com 94,5% e, o<br />
primeiro lugar, está com o Nor<strong>de</strong>ste, que coloca<br />
<strong>de</strong>ntro da pré-escola, 95,6% das crianças <strong>de</strong>sta<br />
região.<br />
Ainda assim, é possível analisar que<br />
muitas crianças continuam fora das escolas.<br />
Resultado disso é refletido quando os dados<br />
mostram a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> matrículas no ensino<br />
fundamental e médio.<br />
O Anuário revela que em 2017, 75,9%<br />
dos jovens <strong>de</strong> 16 anos concluíram o ensino fundamental.<br />
Já no ensino médio, quando a ida<strong>de</strong><br />
está entre 15 e 17 anos, 67,5% estão <strong>de</strong>ntro das<br />
escolas. No entanto, o quadro é grave. Os indicadores<br />
revelam que 2 milhões <strong>de</strong> jovens entre 15<br />
e 17 anos ainda nem começaram a cursar o ensino<br />
fundamental e outros 903,1 mil não estudam<br />
e não concluíram o ensino médio.<br />
Apesar dos números não serem os esperados<br />
para um país <strong>de</strong> primeiro mundo, notase<br />
que ano após ano, a taxa <strong>de</strong> matrícula nas escolas,<br />
em todas as faixa etárias vêm subindo. No<br />
entanto, não há motivos para comemorar, tendo<br />
em vista os déficits apresentados.<br />
Por isso, a <strong>ComTempo</strong> entrevistou duas<br />
especialistas em educação infantil. Ana Paula<br />
Salazar, psicopedagoga, professora <strong>de</strong> educação<br />
infantil e <strong>de</strong> Sala <strong>de</strong> Recursos (Deficiência Intelectual),<br />
na Secretaria da Educação do Estado<br />
<strong>de</strong> São Paulo e que atualmente aten<strong>de</strong> crianças,<br />
jovens e adultos com dificulda<strong>de</strong>s escolares em<br />
Jaboticabal-SP. E Mariana Galves, psicopedagoga<br />
clínica, alfabetizadora <strong>de</strong> turma do 1º ano do<br />
ensino fundamental e tutora em graduação <strong>de</strong><br />
Pedagogia, além <strong>de</strong> realizar atendimentos psicopedagógicos<br />
clínicos em Ribeirão Preto.<br />
Durante a entrevista, as duas profissionais<br />
opinaram sobre o atual cenário educacional<br />
do Brasil, analisaram a importância da participação<br />
da família na vida escolar das crianças, além<br />
<strong>de</strong> respon<strong>de</strong>rem questões que envolvem, <strong>de</strong> certa<br />
forma, as discussões sobre escola x opinião<br />
e os malefícios da aproximação, cada vez mais<br />
constante das crianças, com a tecnologia.<br />
<strong>ComTempo</strong>: Qual o principal <strong>de</strong>safio da educação infantil pública e privada no Brasil?<br />
Ana Paula: Com o trabalho que <strong>de</strong>senvolvo, vejo que a educação Infantil, tanto no setor público, quanto<br />
no privado, enfrenta <strong>de</strong>safios. O que preocupa, é o fato da re<strong>de</strong> pública não ter estrutura necessária para<br />
esta importante etapa da criança. Já na privada, percebo muitos pais, que por pagarem, terceirizam a<br />
educação que <strong>de</strong>veria acontecer em casa à instituição. Há também o <strong>de</strong>spreparo profissional, mas na<br />
particular tal fato é “mascarado”, o que fica mais explícito na re<strong>de</strong> pública.<br />
Mariana: Existem dois momentos na educação infantil: Creche (0 a 3 anos) e Pré-escola (4 e 5 anos),<br />
sendo a última, etapa obrigatória.<br />
Infelizmente, o acesso à re<strong>de</strong> pública é um gran<strong>de</strong> problema no país. Um ponto importante, é<br />
a questão da infraestrutura, nessa fase, as crianças precisam <strong>de</strong> espaço para explorar e <strong>de</strong>scobrir o<br />
mundo através dos sentidos, sendo assim, é <strong>de</strong>sejável que o espaço físico da escola conte com parques<br />
<strong>de</strong> areia, brinquedos, laboratórios, quadras esportivas, salas <strong>de</strong> arte, bibliotecas, entre outros. Materiais<br />
diversificados como: brinquedos apropriados para a faixa etária, materiais artísticos, livros paradidáticos,<br />
materiais pedagógicos, também são essenciais para o ambiente escolar. Além disso, a valorização dos<br />
profissionais da educação, bem como o investimento na formação continuada, são pontos extremamente<br />
relevantes na garantia <strong>de</strong> uma educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.<br />
Tanto na escola pública, como na privada, há <strong>de</strong>safio latente em compreen<strong>de</strong>r as características<br />
e peculiarida<strong>de</strong>s do aluno da Educação Infantil. Este <strong>de</strong>ve ser visto como um ser humano completo e<br />
complexo e não apenas como um adulto em miniatura. É indispensável o entendimento <strong>de</strong> que a infância<br />
é uma fase primordial no <strong>de</strong>senvolvimento do sujeito e como tal merece uma atenção especial.<br />
<strong>ComTempo</strong>: A educação é o principal meio para formar um cidadão. Como implantar<br />
uma educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> logo no ensino primário? Qual <strong>de</strong>ve ser a priorida<strong>de</strong><br />
das escolas?<br />
Ana Paula: O papel da escola é transmitir e socializar conhecimentos que <strong>de</strong>verão influenciar principalmente<br />
na formação intelectual da criança. Porém, atualmente, não é o que acontece <strong>de</strong>vido à gestão<br />
governamental que não incentiva o ensino <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> nas escolas, já que muitas são assistencialistas.<br />
Vale ressaltar que a função <strong>de</strong> formar cidadão não se <strong>de</strong>lega somente à escola e sim à família, responsável<br />
por educar e transmitir valores éticos e morais para se viver em socieda<strong>de</strong>. Hoje, acredito que a<br />
priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser o <strong>de</strong>senvolvimento a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> cada criança, <strong>de</strong> acordo com sua faixa etária.<br />
Mariana: É importante a existência <strong>de</strong> Políticas Públicas <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> que promovam o <strong>de</strong>bate nas<br />
mais diversas esferas educacionais, proporcionando uma unida<strong>de</strong> entre Educação Infantil, Ensino Fundamental<br />
e Ensino Médio. Para que isso ocorra, é preciso ter políticos responsáveis e engajados pela<br />
causa da Educação. A qualificação <strong>de</strong> gestores e professores também é fator relevante nesse processo<br />
<strong>de</strong> melhoria da qualida<strong>de</strong> do ensino. Dessa forma, com as <strong>de</strong>vidas mudanças e parcerias estabelecidas<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o âmbito político até o âmbito educacional, é possível obter avanços nos níveis <strong>de</strong> ensino e apren-