15.02.2019 Views

10 - Jornal Paraná Outubro 2018

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

OPINIÃO<br />

Será possível retomar o crescimento?<br />

A vitória do reformismo traria<br />

de volta certo crescimento,<br />

e relativamente rápido<br />

JOSÉ ROBERTO<br />

MENDONÇA DE BARROS (*)<br />

Todos que acompanham<br />

o nosso dia a dia sabem<br />

que as marcas<br />

deste ano estão sendo<br />

a surpresa e a incerteza. Conflitos<br />

comerciais que atravessam<br />

o globo, greve dos caminhoneiros<br />

e a enorme incerteza política<br />

acabaram por produzir uma<br />

redução nas perspectivas de<br />

crescimento.<br />

Abrimos o ano já com alguma<br />

desaceleração em relação a<br />

2017, mas os fatores acima<br />

mencionados levaram a uma<br />

piora no desempenho e nas<br />

projeções para o ano. Embora<br />

seja claramente positivo que a<br />

atividade tenha voltado a crescer<br />

após a greve, o crescimento<br />

do corrente exercício será modesto<br />

(1,5% no máximo).<br />

Assim, a pergunta central que se<br />

faz é se existe possibilidade de,<br />

findo o processo eleitoral, voltarmos<br />

a ter melhoras em 2019.<br />

Uma primeira parte da resposta<br />

é, para mim, muito<br />

clara: esta campanha caracteriza-se<br />

por um embate entre<br />

reformistas e populistas, sendo<br />

que a novidade deste ano é<br />

a emergência de um populismo<br />

rombudo de direita. Isso<br />

porque a eventual vitória de<br />

uma das propostas populistas<br />

irá produzir, inequivocamente,<br />

uma piora significativa nas<br />

principais variáveis econômicas.<br />

No curto prazo, no caso<br />

da esquerda, e um pouco mais<br />

adiante se for a direita.<br />

Entretanto, acredito que a vitória<br />

do reformismo poderá trazer<br />

de volta certo crescimento,<br />

e relativamente rápido. Analisemos<br />

por quê. Contados os<br />

votos, veremos uma rápida<br />

melhora nas expectativas e<br />

uma queda bastante forte na<br />

cotação do dólar frente ao real.<br />

Projetar essa variável é sempre<br />

uma tarefa inglória, mas<br />

não é exagero imaginar um<br />

número da ordem de R$ 3,60<br />

por dólar.<br />

É um exercício fútil imaginar<br />

que se possa arrecadar trilhões<br />

em pouco tempo. Ou falta<br />

experiência de como funciona<br />

o setor público.<br />

Com isso, os efeitos secundários<br />

da desvalorização cambial<br />

vão desaparecer, e a inflação irá<br />

se consolidar no patamar dos<br />

4%, que resultará na manutenção<br />

da Selic na faixa atual<br />

(6,5%) por alguns meses, pelo<br />

menos.<br />

Além disso, o alívio do resultado<br />

das eleições vai destravar vários<br />

gastos empresariais no curto<br />

prazo. Muita gente tem planos<br />

que dependem apenas do cenário<br />

político e que seriam postos<br />

em marcha. Não falo de grandes<br />

projetos (exceto no caso de petróleo),<br />

mas do lançamento de<br />

novos produtos, campanhas<br />

de marketing, maior expectativa<br />

de vendas para a temporada de<br />

Natal e outros.<br />

Por exemplo, a demanda de caminhões,<br />

que vinha crescendo<br />

desde o início do ano, se acelerou<br />

após a greve de maio, uma<br />

vez que muitas empresas decidiram<br />

remontar um departamento<br />

interno de transportes. A<br />

despeito disso, novas encomendas<br />

só estarão sendo atendidas<br />

a partir do ano que vem,<br />

porque as montadoras estão<br />

hesitando em adicionar um novo<br />

turno nas linhas de produção,<br />

algo que ocorreria nesta<br />

nova situação.<br />

Embora essa melhora não<br />

deva alterar substancialmente<br />

a projeção do crescimento<br />

para <strong>2018</strong>, o resultado é que<br />

viraremos o ano olhando para<br />

cima e não para baixo. Aí vem<br />

o jogo principal, o da agenda<br />

das reformas. Aqui está em<br />

questão o número de propostas<br />

e seu desenho. Em muitos<br />

casos, a estrutura dos projetos<br />

é bastante clara, como a<br />

criação do Imposto de Valor<br />

Adicionado (IVA) em substituição<br />

a IPI, ICMS, ISS, PIS e Cofins,<br />

ou a unificação dos regimes<br />

de aposentadoria e a elevação<br />

da idade mínima para<br />

requerer o benefício.<br />

Daí porque a grande dúvida é a<br />

chance de aprovação das reformas.<br />

A experiência desde o<br />

primeiro governo de Fernando<br />

Henrique Cardoso é que, se o<br />

Executivo se fixar em um número<br />

pequeno de projetos,<br />

mas intensamente defendidos<br />

pelo novo presidente, sua aprovação<br />

é possível, embora nunca<br />

seja simples. É a estratégia<br />

de “poucas e boas”. Se isso<br />

ocorrer como me parece possível,<br />

o caminho estará aberto<br />

para a retomada de um crescimento<br />

mais sustentável, embora<br />

ainda inferior ao necessário<br />

e possível para o Brasil.<br />

O STF considerou constitucional<br />

a terceirização, tanto de atividades<br />

meio, quanto de atividades<br />

fim, assim como já havia<br />

feito ao validar o término do imposto<br />

sindical. É mais um<br />

exemplo da resistência à mudança<br />

por parte de corporações<br />

e cartórios. Entretanto, nesse<br />

caso, as coisas estão caminhando<br />

bem e já é possível<br />

dizer que a Reforma Trabalhista<br />

tem contribuído de forma decisiva<br />

para a redução do conflito,<br />

em favor de negociações.<br />

Qualquer privatização bem<br />

feita demora muito. Participei<br />

de muitos processos, de 1993<br />

a 1998. E isso inclui a venda<br />

de imóveis públicos. É um<br />

exercício fútil imaginar que se<br />

possa arrecadar trilhões em<br />

pouco tempo. Ou falta experiência<br />

de como funciona o<br />

setor público.<br />

(*) Economista e sócio da MB<br />

Associados<br />

2<br />

<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!