Revista Vol 02 web
PERSONALIDADE - José Pereira Arouca RELIGIOSIDADE - Semana Santa em Mariana CULTURA - O Legado de Roque Camello PATRIMÔNIO - Pedra Sabão
PERSONALIDADE - José Pereira Arouca
RELIGIOSIDADE - Semana Santa em Mariana
CULTURA - O Legado de Roque Camello
PATRIMÔNIO - Pedra Sabão
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15<br />
OTríduo Pascal corresponde aos três<br />
últimos dias da Semana Santa (que<br />
celebra os episódios narrados nos<br />
Evangelhos, entre a entrada triunfal de Jesus<br />
em Jerusalém e a Ressurreição de Cristo), e<br />
esses três dias (Quinta-feira, Sexta-feira e<br />
Sábado Santos) são, respectivamente, relacionados<br />
à Santa Ceia na quinta-feira - por isso<br />
denominada "Feria Quinta in Cœna Domini"<br />
(Quinta-Feira Santa na Ceia do Senhor) - a crucifixão<br />
na "Feria Sexta in Parasceve" (Sextafeira<br />
na Paixão) e o Sábado no enterro e Ressurreição<br />
de Cristo, preparando o Domingo de<br />
Páscoa ou da Ressurreição, que celebra intensamente<br />
o episódio máximo do cristianismo.<br />
Afora o Ofício de Trevas (Matinas e Laudes),<br />
geralmente celebrado na noite de quarta-feira,<br />
mas que pertence à liturgia da Quinta-feira Santa,<br />
a quinta-feira Santa inclui as seguintes celebrações,<br />
todas elas acompanhadas de repertório<br />
musical específico:<br />
1. Missa Comemorativa da Ceia do Senhor<br />
2. Bênção dos Santos Óleos<br />
3. Procissão de transladação do Santíssimo<br />
Sacramento<br />
4. Lava-pés (Mandato)<br />
Existe uma grande quantidade de obras escritas<br />
no Brasil para o Tríduo Pascal (entre elas as<br />
composições para a Quinta-feira Santa), assim<br />
como vários trabalhos em tela, entre eles a<br />
conhecida "A Última Ceia" do pintor marianense<br />
Manoel da Costa Ataíde, sua última obra,<br />
feita em 1828 para o Colégio do Caraça (Santa<br />
Bárbara - MG).<br />
Entre as inúmeras obras que existem no Museu<br />
da Música de Mariana para esta ocasião, apresentamos<br />
aqui esta composição anônima do<br />
século XVIII para o Gradual e Ofertório da<br />
Missa de Quinta-feira Santa.<br />
O que são os “Ofícios de Trevas”?<br />
Para responder esta questão, vamos relembrar<br />
as oito horas canônicas, celebradas principalmente<br />
em mosteiros e catedrais desde a Idade<br />
Média:<br />
00h00 - Matinas<br />
03h00 - Laudes<br />
06h00 - Prima<br />
09h00 - Tercia<br />
12h00 - Sexta<br />
15h00 - Nona<br />
18h00 - Vésperas<br />
21h00 - Completas<br />
No Tríduo Pascal (os três últimos dias da Quaresma<br />
e da Semana Santa: Quinta-feira Santa,<br />
Sexta-feira Santa e Sábado Santo ou de Alleluia),<br />
desde a Idade Média, as Matinas e Laudes<br />
foram abertas para a frequência publica e suas<br />
dimensões cresceram tanto a ponto dessas<br />
duas cerimônias fundirem-se em uma só, que<br />
passou a ser chamada de “Ofício de Trevas”.<br />
Mas por que “de Trevas”?<br />
O emprego da palavra “Trevas”, nesta dupla<br />
cerimônia, é alusivo ao episódio narrado no<br />
quinto Responsório das Matinas de Sexta-feira<br />
Santa - “Tenebræ factæ sunt, dum crucifixissent<br />
Jesum” (Fizeram-se as trevas quando crucificaram<br />
Jesus), extraído de Mateus 27, 45 - e também<br />
à escuridão que se produz na igreja ao<br />
serem apagadas as velas do candelabro, para<br />
simbolizar a escuridão (uma tempestade ou<br />
eclipse solar) que se abateu em Jerusalém da<br />
“hora sexta” (atualmente meio dia) à “hora<br />
nona” (hoje 15h00), quando Jesus foi crucificado<br />
(Mateus 27, 45; Marcos 16, 33; Lucas 23,<br />
44), além da dor pela sua morte e a fuga dos<br />
Apóstolos. Ao final de cada um dos Salmos<br />
(que são nove nas Matinas e cinco nas Laudes),<br />
o acólito apaga uma das velas, à exceção<br />
da superior (que representa Cristo), escondida<br />
atrás do altar após o canto do Benedictus. Terminada<br />
a Oração “Respice quæsumus, Domine”,<br />
a liturgia tridentina solicita que os assistentes<br />
produzam um forte ruído com os pés (destinado<br />
a simbolizar, segundo alguns, a ressurreição<br />
e, segundo outros, o sentimento pela morte<br />
de Jesus). Esta é a “rubrica”, ou seja, a instrução<br />
referente ao ruído que os fiéis são solicitados<br />
a produzir nas Laudes: “Terminada a Oração,<br />
deve-se produzir fragor e estrépito durante<br />
um certo de tempo; logo depois, a vela acesa<br />
será levada para baixo do Altar e então todos se<br />
levantam e, em silêncio, se vão”.<br />
O simbolismo do Ofício de Trevas foi uma das<br />
razões que motivou sua antecipação, já na<br />
Idade Média, da madrugada para a tarde anterior<br />
(além de facilitar o concurso dos fiéis), pois à<br />
extinção das velas correspondia também a<br />
extinção da luz solar, com o final das Laudes em<br />
plena noite. Por isso, o Ofício de Trevas da Quinta-feira<br />
Santa passou a ser cantado na tarde/noite<br />
de quarta-feira, ocorrendo o mesmo<br />
para os demais dias do Tríduo Pascal.