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Revista Dr Plinio 257

Agosto de 2019

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Dona Lucilia<br />

Arquivo <strong>Revista</strong><br />

lada, ou estridente, nada disso. Eram<br />

timbres que causavam a impressão de<br />

que a voz de um comentava a do outro.<br />

Tinha-se mais a impressão das<br />

várias notas de um mesmo teclado,<br />

do que propriamente aparelhos diferentes<br />

que estivessem tocando.<br />

A ocasião de a família estar junta<br />

era a hora das refeições, uns minutos<br />

antes e algum tempo depois. À<br />

mesa também surgiam, às vezes, temas<br />

muito elevados: política, discussão<br />

de religião; e quando o assunto<br />

era elevado, a conversa tendia ligeiramente<br />

para o discurso e a conferência.<br />

Quando o tema baixava, passava<br />

a ser completamente caseiro,<br />

mas sempre num vocabulário elevado.<br />

Ademais, com uma coisa que minha<br />

geração e as posteriores já não<br />

conheceram, que é a vida sem pressa.<br />

Aquele era um gênero de gente<br />

que não era arrastada, vagarosa, mas<br />

não fazia nada correndo.<br />

A não ser uma coisa: a hora de tomar<br />

o trem; a família sempre foi um<br />

pouco atrasada em horários. Então,<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> no ano de 1979<br />

havia “epopeias” contadas como fatos<br />

engraçados, de trens que um pegou<br />

de tal jeito à última hora, esses<br />

e aqueles episódios. Um tio que foi<br />

pegar um trem na Estação da Luz,<br />

a bilheteria estava fechada e não se<br />

passava mais. Ele viu que um elevador<br />

de carga ia levando coisas para<br />

baixo, guiado por um homem. Era<br />

proibido passageiro descer<br />

pelo elevador de carga.<br />

E ele estava longe e<br />

não alcançava o elevador.<br />

Então, deu um berro<br />

tão imponente, que o<br />

condutor parou instintivamente<br />

o elevador, e<br />

ele entrou sem dizer nada.<br />

O homem ficou tão<br />

tonto, que trouxe meu<br />

tio até embaixo e ele pegou<br />

o último vagão do<br />

trem. Era a única forma<br />

de pressa que tinha cidadania<br />

entre eles. O resto<br />

era devagar.<br />

Falar devagar, cada palavra<br />

pronunciada inteiramente<br />

e, durante a conversa,<br />

com um pouco de pausa.<br />

Quando o tema chegava<br />

a uma altura maior, ou<br />

uma parte mais enfática,<br />

falava-se mais devagar do<br />

Estação da Luz em 1900<br />

que mais depressa, e fazia-se fisionomia<br />

para o caso. De maneira que, por<br />

exemplo, um está contando uma conversa<br />

delicada que teve com alguém sobre<br />

tal coisa: “Bom… bom… você pode<br />

imaginar o meu apuro.”<br />

Gesto e pequena pausa, atitude<br />

para completar o ambiente. Depois<br />

a narração continuava. Despedida,<br />

ou saudação na entrada: calma. Ninguém<br />

entrava ou saía correndo. Todos<br />

os fatos da vida passados com<br />

densidade; ninguém era atado ou<br />

amarrado, nem do corre-corre. Havia<br />

um relógio de parede, na sala de<br />

jantar, que parecia ritmar a atmosfera<br />

da casa: “tem-tem-tem”.<br />

Tudo isso que estava muito em<br />

consonância com Dona Lucilia, ela<br />

havia levado a uma espécie de auge,<br />

ao seu ponto mais característico.<br />

Mas com a nota católica muito presente.<br />

Era a tradição católica, onde<br />

a piedade pessoal de alguém – no caso,<br />

mamãe – tinha posto a nota católica<br />

retonificada, reavivada pela ação<br />

dela.<br />

v<br />

(Extraído de conferência de<br />

7/7/1979)<br />

1) Do francês: Uma carta do Brasil para<br />

o senhor.<br />

José Rosael/Hélio Nobre/MP-USP (CC3.0)<br />

10

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