You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
— Cada vez que eu leio, sinto alguma<br />
coisa que não tinha sentido<br />
anteriormente. Deixa a carta, que isso<br />
é comigo.<br />
Isso indica bem como são diversas<br />
as relações entre mãe e filho. O<br />
próprio do relacionamento do filho<br />
com a mãe é ser totalmente confiante.<br />
Nem lhe passa pela cabeça que<br />
ela não retribua inteiramente o afeto<br />
que se tem por ela. Mas a mãe para<br />
o filho não. Quando é uma boa mãe<br />
católica, ela não rateia nunca. Quer<br />
sentir a alegria da segurança, apalpar<br />
mais outra vez. A releitura da<br />
carta dava a ela essa tranquilidade.<br />
Arquivo <strong>Revista</strong><br />
Filha da Igreja Católica<br />
Apostólica Romana<br />
Quando eu era pequeno, frequentemente<br />
dava-se isto: estávamos<br />
brincando todos no jardim – meus<br />
primos, minha irmã, e eu pelo meio<br />
–, de repente eu sumia e a Fräulein<br />
começava a me procurar. Até<br />
que um dia ela disse: “Não adianta,<br />
quando o <strong>Plinio</strong> some, já se sabe…<br />
ele está com a mãe.”<br />
Eu pensava:<br />
“Mamãe tem outra substância,<br />
outro entretenimento, outro afeto,<br />
outra seriedade... Eu escapo dessa<br />
gente de qualquer modo, subo e vou<br />
dar uma prosinha com ela.”<br />
Podem imaginar como ela me recebia!<br />
E como era a prosinha: olhos<br />
nos olhos, coração no coração, a<br />
mais unida que se possa imaginar.<br />
Até a hora em que viessem me pegar<br />
e pôr no meio da criançada de<br />
novo, com a ideia de que criança<br />
brinca com criança e que não deve<br />
estar muito tempo com os mais velhos.<br />
Então, no meio da criançada<br />
eu brincava também. Mas de vez em<br />
quando me voltava à mente: “Mamãe<br />
deve estar em tal sala assim; se<br />
eu der uma corridinha agora e disser<br />
alguma coisa para ela, obtenho alguma<br />
coisa dela para mim.” Ora, essa<br />
atitude a inclinava a sentir-se unida a<br />
mim, é evidente. Isso desde pequeno<br />
até o último momento, com a graça<br />
de Nossa Senhora, foi assim.<br />
Dessa maneira, as minhas tendências<br />
afinaram, pela graça da Santíssima<br />
Virgem, com as dela. E o seu modo<br />
de ser pareceu-me o feitio natural,<br />
a posição ambiental exata que correspondia<br />
com certo lado do meu modo<br />
de ser que eu desejava que prevalecesse<br />
e vencesse. Portanto, para mim,<br />
aquilo não era apenas uma consonância,<br />
mas um programa de vida.<br />
Esse modo de ser de mamãe resultava<br />
das suas qualidades, da sua<br />
condição de filha da Igreja Católica<br />
Apostólica Romana, mas com o específico<br />
da geração e da família dela,<br />
acompanhado de uma carga de sobrenatural,<br />
infelizmente muito menos<br />
densa em outras pessoas. Entretanto,<br />
trazia uma marca de certa tradição<br />
católica, que o feitio da família<br />
dela indicava bem.<br />
<strong>Plinio</strong>, Ilka e Rosée<br />
Vocabulário elevado, timbres<br />
de voz agradáveis de ouvir<br />
O modo de ser geral na geração<br />
de Dona Lucilia e da mãe dela era,<br />
antes de tudo, muito cerimonioso,<br />
mas muito íntimo. Conversavam sobre<br />
coisas bastante simples com muita<br />
intimidade e naturalidade, mas o<br />
tempo inteiro com muitíssima cortesia.<br />
De maneira que, por exemplo,<br />
no meu tempo de criança, nunca<br />
presenciei uma briga entre os mais<br />
velhos. Sequer um levantar de voz,<br />
um gênero de resposta ácido, nunca<br />
vi isso. Pode ser que quando sozinhos<br />
tivessem algum atrito. Na minha<br />
presença nunca. A coisa corria<br />
num manso lago azul.<br />
Exprimiam-se muito bem, com<br />
um vocabulário bonito, não frequente<br />
em qualquer lugar, habitualmente<br />
com timbres de voz agradáveis de ouvir.<br />
Ninguém tinha voz muito anasa-<br />
9