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dinariamente parecidas com as de<br />
uma alma. Logo, é conhecendo as<br />
lutas internas de nossa própria alma<br />
e da dos outros que interpretamos<br />
bem os fatos históricos.<br />
Minha vida analisada e reanalisada<br />
à luz da batalha das<br />
tendências por mim travada, e<br />
transposta para a história dos<br />
povos, permitiu-me uma remontagem<br />
da minha experiência,<br />
formando princípios,<br />
dos quais deduzi uma teoria<br />
e com esta elaborei um livro.<br />
Neste sentido, esse livro<br />
constitui as minhas memórias,<br />
mas não só. É a minha previsão.<br />
Porque, como na luta das tendências,<br />
percebi, com a ajuda de<br />
Nossa Senhora, quais eram as regras<br />
do jogo, daqui por diante sei como<br />
esse jogo deve continuar. Sempre<br />
aprenderei algo de novo, porque<br />
as tendências são insondáveis, e não<br />
presumo esgotá-las. Qualquer alma<br />
humana tem um fundo incognoscível.<br />
Entretanto, é possível conhecer muita<br />
coisa e, por aí, saber o traçado do<br />
futuro. A previsão política é, em boa<br />
medida, a análise de como estão as<br />
tendências hoje e no que elas vão dar<br />
amanhã. Com isso, a previsão política<br />
é fecundada como a água fecunda<br />
a raiz de uma planta. Na raiz do pensamento<br />
previsor está o conhecimento<br />
das regras das tendências. Essa é a<br />
vantagem de conhecer as tendências.<br />
Entretanto, todas as coisas verdadeiramente<br />
muito elevadas são<br />
passíveis de serem exploradas. Por<br />
exemplo, a música. Quanta coisa<br />
magnífica se faz com ela, mas também<br />
quanta vilania! Todas as artes<br />
são assim. Ora, agir nas tendências é<br />
uma arte; logo, pode ser tomada para<br />
o melhor e para o pior.<br />
Onde está a dignidade disso?<br />
Quando se vive toda essa intensa vida<br />
das tendências, há determinados<br />
momentos em que o espírito se<br />
distancia desse jogo e faz a pergunta:<br />
“Mas, afinal, o que aqui é ver-<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> aos<br />
25 anos<br />
dade, o que é erro? O que é bem, o<br />
que é mal?” Passo, então, a fazer disso<br />
uma análise lógica, com argumentos,<br />
raciocínios, para saber como<br />
uma coisa se costura na outra. E faço,<br />
eu mesmo, a crítica do meu pensamento<br />
para verificar se ele enfrenta<br />
as objeções. Então, vemos surgir,<br />
à maneira de um píncaro de neve sobre<br />
uma montanha muito verde, a<br />
lógica fria, rutilante e, dentro da sua<br />
frialdade, espelhando melhor o Sol<br />
do que a relva nas encostas da montanha.<br />
E podemos formular a teoria.<br />
Um modo de ser<br />
eminentemente<br />
hierarquizante<br />
Por exemplo, eu tenho um modo<br />
de ser eminentemente hierarquizante.<br />
Não basta dizer que possuo esse<br />
modo de ser para provar que é justo<br />
que isso seja assim. Quem me dá<br />
o direito de ser assim? A ordem natural<br />
das coisas feita por Deus é assim?<br />
Se for, então é bom que eu seja<br />
assim. Do contrário, não é bom. Por-<br />
que a medida de todas as coisas de<br />
nenhum modo sou eu, que fui criado<br />
por Deus. A medida de todas as coisas<br />
é Ele. O que Ele ensinou a esse<br />
respeito? Por que Ele ensinou?<br />
Qual foi a intenção d’Ele?<br />
E aqui entraria a teoria esplendorosa,<br />
magnífica, de São<br />
Tomás que contraria o igualitarismo.<br />
Explica o Doutor<br />
Angélico que, ao criar seres<br />
que refletissem suas infinitas<br />
Arquivo <strong>Revista</strong><br />
perfeições, Deus não poderia<br />
fazer um único ser, porque<br />
qualquer criatura é tão insuficiente<br />
para realmente espelhá-Lo<br />
que ela seria caricata.<br />
Mas essas criaturas, por sua<br />
vez, para O refletir têm que ser diferentes<br />
umas das outras. Se Deus<br />
criasse dois seres iguais, Ele cometeria<br />
o erro que um gago pratica quando<br />
pronuncia duas sílabas inúteis: “Eu<br />
que-quero.” Porque na palavra humana<br />
cada sílaba tem um som. O resto é<br />
linguagem de criança, ou de uma pessoa<br />
que não tem a locução normal,<br />
bem construída. Então, por causa disso,<br />
Deus formou criaturas diferentes,<br />
e assim sendo, criou-as desiguais, pois<br />
não há seres diferentes sem que um<br />
seja superior ao outro em algum ponto.<br />
Logo, ou não haveria Criação, ou<br />
existiria hierarquia.<br />
Então, Gloria in excelsis Deo! (Lc<br />
2, 14). No fim, o cristal de rocha do<br />
raciocínio, em arestas tomistas definidas<br />
que rutilam ao Sol, é o encanto<br />
e a glória da montanha. Assim,<br />
nos entusiasmamos tanto com<br />
as tendências quanto com o raciocínio,<br />
e glorificamos a Deus que nos<br />
deu esta riqueza: sermos verdadeiros<br />
instrumentos de música de tendências<br />
e cristais reluzentes de raciocínio.<br />
v<br />
(Extraído de conferência de<br />
7/7/1979)<br />
1) Do francês: força de ataque.<br />
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