15.07.2019 Views

Revista Dr Plinio 257

Agosto de 2019

Agosto de 2019

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

dinariamente parecidas com as de<br />

uma alma. Logo, é conhecendo as<br />

lutas internas de nossa própria alma<br />

e da dos outros que interpretamos<br />

bem os fatos históricos.<br />

Minha vida analisada e reanalisada<br />

à luz da batalha das<br />

tendências por mim travada, e<br />

transposta para a história dos<br />

povos, permitiu-me uma remontagem<br />

da minha experiência,<br />

formando princípios,<br />

dos quais deduzi uma teoria<br />

e com esta elaborei um livro.<br />

Neste sentido, esse livro<br />

constitui as minhas memórias,<br />

mas não só. É a minha previsão.<br />

Porque, como na luta das tendências,<br />

percebi, com a ajuda de<br />

Nossa Senhora, quais eram as regras<br />

do jogo, daqui por diante sei como<br />

esse jogo deve continuar. Sempre<br />

aprenderei algo de novo, porque<br />

as tendências são insondáveis, e não<br />

presumo esgotá-las. Qualquer alma<br />

humana tem um fundo incognoscível.<br />

Entretanto, é possível conhecer muita<br />

coisa e, por aí, saber o traçado do<br />

futuro. A previsão política é, em boa<br />

medida, a análise de como estão as<br />

tendências hoje e no que elas vão dar<br />

amanhã. Com isso, a previsão política<br />

é fecundada como a água fecunda<br />

a raiz de uma planta. Na raiz do pensamento<br />

previsor está o conhecimento<br />

das regras das tendências. Essa é a<br />

vantagem de conhecer as tendências.<br />

Entretanto, todas as coisas verdadeiramente<br />

muito elevadas são<br />

passíveis de serem exploradas. Por<br />

exemplo, a música. Quanta coisa<br />

magnífica se faz com ela, mas também<br />

quanta vilania! Todas as artes<br />

são assim. Ora, agir nas tendências é<br />

uma arte; logo, pode ser tomada para<br />

o melhor e para o pior.<br />

Onde está a dignidade disso?<br />

Quando se vive toda essa intensa vida<br />

das tendências, há determinados<br />

momentos em que o espírito se<br />

distancia desse jogo e faz a pergunta:<br />

“Mas, afinal, o que aqui é ver-<br />

<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> aos<br />

25 anos<br />

dade, o que é erro? O que é bem, o<br />

que é mal?” Passo, então, a fazer disso<br />

uma análise lógica, com argumentos,<br />

raciocínios, para saber como<br />

uma coisa se costura na outra. E faço,<br />

eu mesmo, a crítica do meu pensamento<br />

para verificar se ele enfrenta<br />

as objeções. Então, vemos surgir,<br />

à maneira de um píncaro de neve sobre<br />

uma montanha muito verde, a<br />

lógica fria, rutilante e, dentro da sua<br />

frialdade, espelhando melhor o Sol<br />

do que a relva nas encostas da montanha.<br />

E podemos formular a teoria.<br />

Um modo de ser<br />

eminentemente<br />

hierarquizante<br />

Por exemplo, eu tenho um modo<br />

de ser eminentemente hierarquizante.<br />

Não basta dizer que possuo esse<br />

modo de ser para provar que é justo<br />

que isso seja assim. Quem me dá<br />

o direito de ser assim? A ordem natural<br />

das coisas feita por Deus é assim?<br />

Se for, então é bom que eu seja<br />

assim. Do contrário, não é bom. Por-<br />

que a medida de todas as coisas de<br />

nenhum modo sou eu, que fui criado<br />

por Deus. A medida de todas as coisas<br />

é Ele. O que Ele ensinou a esse<br />

respeito? Por que Ele ensinou?<br />

Qual foi a intenção d’Ele?<br />

E aqui entraria a teoria esplendorosa,<br />

magnífica, de São<br />

Tomás que contraria o igualitarismo.<br />

Explica o Doutor<br />

Angélico que, ao criar seres<br />

que refletissem suas infinitas<br />

Arquivo <strong>Revista</strong><br />

perfeições, Deus não poderia<br />

fazer um único ser, porque<br />

qualquer criatura é tão insuficiente<br />

para realmente espelhá-Lo<br />

que ela seria caricata.<br />

Mas essas criaturas, por sua<br />

vez, para O refletir têm que ser diferentes<br />

umas das outras. Se Deus<br />

criasse dois seres iguais, Ele cometeria<br />

o erro que um gago pratica quando<br />

pronuncia duas sílabas inúteis: “Eu<br />

que-quero.” Porque na palavra humana<br />

cada sílaba tem um som. O resto é<br />

linguagem de criança, ou de uma pessoa<br />

que não tem a locução normal,<br />

bem construída. Então, por causa disso,<br />

Deus formou criaturas diferentes,<br />

e assim sendo, criou-as desiguais, pois<br />

não há seres diferentes sem que um<br />

seja superior ao outro em algum ponto.<br />

Logo, ou não haveria Criação, ou<br />

existiria hierarquia.<br />

Então, Gloria in excelsis Deo! (Lc<br />

2, 14). No fim, o cristal de rocha do<br />

raciocínio, em arestas tomistas definidas<br />

que rutilam ao Sol, é o encanto<br />

e a glória da montanha. Assim,<br />

nos entusiasmamos tanto com<br />

as tendências quanto com o raciocínio,<br />

e glorificamos a Deus que nos<br />

deu esta riqueza: sermos verdadeiros<br />

instrumentos de música de tendências<br />

e cristais reluzentes de raciocínio.<br />

v<br />

(Extraído de conferência de<br />

7/7/1979)<br />

1) Do francês: força de ataque.<br />

15

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!