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Clareira Flamejante - O Norte do Paraná antes e depois do advento da energia elétrica

No papel de empresa cidadã, a Romagnole presta um importante apoio à preservação da memória e dos valores de um povo. A obra foi lançada em 2007.

No papel de empresa cidadã, a Romagnole presta um importante apoio à preservação da memória e dos valores de um povo. A obra foi lançada em 2007.

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Prefácio

AA luz, segundo o ensinamento bíblico, foi obra realizada no

primeiro dia da criação divina. O Criador, ao separar a luz da

treva, chamou a primeira de dia e a segunda de noite. Embora

tenha um significado mais amplo, a citada imagem da luz remete, obviamente, ao

sol. Espontaneamente, os homens primitivos beneficiavam-se com o calor e a

luminosidade do sol. Não sabiam, porém, como canalizá-lo. O fogo foi a primeira

fonte natural de energia dominada pelo homem.[1] O impacto foi tão grande que a

cultura grega nos legou o mito de Prometeu, o titã que tomou o fogo dos deuses e

o entregou aos homens. Prometeu foi castigado pela ousadia, mas os homens

souberam usar o benefício recebido. “Fonte de todas as artes”, o fogo iluminava,

aquecia, servia para forjar equipamentos de trabalho, objetos diversos e armas.

Na contemporaneidade, o domínio da energia elétrica desempenhou um papel

equivalente no imaginário da humanidade, tal foi a revolução que propiciou na

tecnologia e no cotidiano da população. A energia elétrica tornou-se, acima de

tudo, sinônimo de progresso. No Brasil, sabe-se que o uso da energia elétrica data

dos tempos de D. Pedro II, no último quartel do século XIX. No Paraná, chegou

em 1890. Sua expansão para o interior foi lenta, embora muito desejada. E em

Maringá, como ocorreu essa história?

A pioneira Winifred Ethel Netto, que chegou a Maringá no final de 1947, relata

que sua família contou com luz elétrica desde o início. Mas era uma exceção.

Prevenidos, ela e seu marido, Odwaldo Bueno Netto, trouxeram um gerador, fios e

lâmpadas.[2] O fato de destacar que não viveram tal privação decorre da percepção

de que não era essa a situação geral, detalhada em abundantes registros. Ao se

mudar para Maringá, a pioneira Marianna Tait acusou: “não tinha luz, era lamparina,

só vi o pessoal tirando água”.[3]

Na obra do escritor J. F. Duque Estrada, há cenas reveladoras daquele final dos

anos 1940. No romance Isto é você, Maria, descreve o ambiente do Hotel Bom

Descanso: “a arrumação dos móveis, as cortinas com longos babados, toalhas e

lençóis muito limpos e um artístico lampião a querosene colocado sobre o

camiseiro”.[4] Menos prosaicas são as passagens do livro Terra crua, que tece cenas

com enormes toras de perobas semi-queimadas e com ruas e praças sem

iluminação. As noites, que nada tinham de atraentes, tornavam obrigatório o uso

de lanterna, medida de segurança para quem se aventurasse pelas ruas escuras e

desertas.[5] No início dos anos 1950, Maringá era a cidade mais iluminada de toda a

região, conforme a memória do advogado Edmundo Canto. Só que a claridade

vinha dos troncos queimados, que “ardiam em brasa durante dias e noites

seguidas”. Daí a iluminação noturna.[6]

Entre os migrantes que constituíram a população de nossa cidade, muitos vinham

de zonas rurais, mas não era desprezível o contingente, oriundo de centros urbanos

mais antigos, habituado ao uso da energia elétrica. Não espanta que essa fosse uma

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