Clareira Flamejante - O Norte do Paraná antes e depois do advento da energia elétrica
No papel de empresa cidadã, a Romagnole presta um importante apoio à preservação da memória e dos valores de um povo. A obra foi lançada em 2007.
No papel de empresa cidadã, a Romagnole presta um importante apoio à preservação da memória e dos valores de um povo. A obra foi lançada em 2007.
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Anúncio da
Wilson, fabricante
de enxadas, em
jornais e revistas
córrego próximo. Nos dias seguintes a família plantava feijão, milho, hortaliças e
melhorava a casa, reforçando as paredes com madeira de palmito e preparando um
telhado a base de cascas de árvores. Mesas, bancos e camas se faziam com tocos e
paus recolhidos à volta, de onde vinha também a lenha para cozinhar. A criação era
arranjada em precários viveiros e, dessa forma, a vida prosseguia.
Por mais que imaginassem dominar a floresta, era a
floresta que os vigiava com superioridade, a olhos
atentos, botando medo.
Aquela gente corajosa dava uma risada triste quando
se lembrava das regalias que deixara para trás: o
comércio, o povo na rua iluminada, os botecos, a missa
aos domingos, a convivência com os parentes, as festas
da comunidade. No mato, só se pensava em trabalhar,
derrubar árvores, plantar, colher. Todo mundo parecia
bicho, com unhas e mãos sempre encardidas e vestes
surradas que iam sendo remendadas até não dar mais.
Soavam ainda, na memória, as últimas frases ouvidas
antes de partir, acompanhadas de muita risada: “Paraná
é só fama, quando não é poeira é lama”. Ou então: “Vai
pro Paraná, vai virar 'pé vermeio'”.
“Pé vermeio”. Muitas vezes em plena labuta, quando
todos se distraíam, era preciso voltar correndo para casa
e espantar os macacos que entravam por qualquer fresta,
causando estragos. “Sai daqui seus lazarento”. E tome
bala. Os animais da floresta, abundantes, eram caçados
sem piedade. Porcos-do-mato, veados, pacas, capivaras
e até tatus sucumbiam diante do estrondo da espingarda.
Alguns paravam nas panelas. O palmito, tão
útil e em quantidade, era também um acompanhamento
comum no dia-a-dia, assim como frutas e peixes.
Quando caía a noite, ninguém conseguia ficar acordado por muito tempo: os “pé
vermeio” estavam sempre cansados demais e não era para menos. Depois do banho
na bacia, com água fervida, eles se reuniam para comer. Seria muito luxo se alguém,
em casa, tivesse um pouco de cachaça para amaciar o estômago antes da bóia. A
“mardita” tinha que vir de longe e era artigo disputado, só conseguido por encomenda.
Não havia nada melhor que um gole pra aliviar o cansaço do dia.
Já pensando no amanhã, os homens pitavam pensativos, com a brasa brilhando
nos olhos. Dormiam abraçados às suas mulheres, sob mosquiteiros, a salvo dos
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