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CORRER SEM VER:<br />
UM OLHAR SEM FRONTEIRAS<br />
Radar DV integra grupo formado por 26 pessoas com<br />
deficiência visual e 60 guias voluntários<br />
Fotos: divulgação<br />
O<br />
maratonista Sergio Luiz Negreiros Dias, o Serginho,<br />
corre há 38 anos, participou de duas<br />
paraolimpíadas, em 1984, em Los Angeles,<br />
e em 1988, em Seul, na Coreia do Sul, e já<br />
acumula mais de 26 maratonas. Nasceu com<br />
50% da visão e a foi perdendo ao longo da vida. Hoje com<br />
54 anos, possui apenas 10% de visão. Mas esse “detalhe”<br />
não o fez parar. A sua velocidade é de dar inveja a muito<br />
corredor que enxerga 100%. Ele faz 1 quilômetro em 4<br />
minutos e 30 segundos, sendo que já foi 3 minutos e 20<br />
segundos. Além de corredor, desde os 15 anos, acumula<br />
em seu currículo esportivo, 16 anos de futebol de salão<br />
com participação em dois torneios mundiais, sendo que, na<br />
Espanha conquistou com a sua equipe o 1.º lugar, no ano de<br />
1988.<br />
Alguns podem estranhar o fato de uma pessoa cega<br />
correr. A boa notícia é que isto é mais comum do que você<br />
imagina e eles estão aí, em todas as corridas de rua, para<br />
nos provar o quanto a atividade física faz parte da vida de<br />
muitos atletas nas suas mais diversas deficiências e performances,<br />
mostrando às pessoas que limite não existe para<br />
quem encara o fato de não enxergar, por exemplo, um<br />
empecilho. Em Curitiba existe até uma associação dedicada<br />
ao treinamento de pessoas com deficiência visual.<br />
É a Associação Desportiva Rede de Apoio ao Deficiente<br />
com Atividades Recreativas, mais conhecida como Radar<br />
DV Curitiba, sendo DV a abreviação de Deficiente Visual.<br />
Serginho além de fazer parte desta associação foi um dos<br />
fundadores junto com outros amigos com deficiência e sem<br />
deficiência visual.<br />
Trata-se de um grupo de amigos que se uniu no início<br />
de 2016 em torno da ideia de promover a inclusão social<br />
das pessoas com deficiência visual por meio do esporte<br />
em caminhadas e corridas de rua. Hoje o grupo é formado<br />
por 60 voluntários, que são os olhos das 26 pessoas com<br />
deficiência visual que compõem a equipe.<br />
O objetivo é o de promover a atividade física para esse<br />
público e trazê-los para o convívio social. Os encontros<br />
acontecem sempre aos sábados pela manhã, ao lado da<br />
Academia do Parque Barigui, e quando há as corridas de<br />
rua, geralmente no domingo pela manhã, lá está o Radar<br />
DV marcando a sua presença não só nas ruas como no pó-<br />
dio. Premiações são criadas especialmente para a categoria<br />
de maneira igualitária às outras categorias de faixas etárias.<br />
Paulo Guerra é um dos guias que esteve desde o início<br />
da fundação do Radar DV. Segundo ele, o esporte escolhido<br />
foi a corrida de rua por ser uma atividade democrática,<br />
de fácil acesso, baixo custo, bastante difundida e apoiada<br />
por muitas das Secretarias de Esporte Municipais, Estaduais<br />
e Federal entre outras organizações. Ele conta que a equipe<br />
é composta de paratletas iniciantes, intermediários e de alta<br />
performance, como ultramaratonista.<br />
Ao longo desses 4 anos, a Equipe Radar já participou de<br />
mais de 200 corridas. “Desde 2016, estivemos presentes em<br />
todas as edições da Corrida de São Silvestre, e meias maratonas<br />
do Rio, das Cataratas, de Toledo (PR), entre outras,<br />
bem como nas Maratonas de Curitiba e até fora do Brasil”,<br />
destaca Paulo Guerra, lembrando que em 2018, guiou a<br />
atleta Silvana, na Meia Maratona de Lisboa.<br />
Nosso propósito principal é motivar a participação<br />
das pessoas com deficiência visual a “abandonar o sofá”,<br />
proporcionando melhoria na qualidade de vida, fuga do<br />
sedentarismo e todos os seus males como depressão, obesidade,<br />
hipertensão, entre outros. “Queremos mostrar que<br />
as pessoas com deficiência são sim capazes e devem ser<br />
tratados com dignidade”, alerta Paulo Guerra. Com o tempo<br />
o grupo ficou conhecido e passou a receber a atenção de<br />
outros atletas, que agora os reconhecem e os motivam<br />
durante as provas.<br />
“Embora na equipe tenhamos atletas de alta performance,<br />
nosso alvo mesmo é atrair pessoas que gostam de correr<br />
e que estejam em busca de superações pessoais, aderindo<br />
ao mundo de caminhadas e corridas. Como guias, nosso<br />
papel é o incentivo e a motivação”, destaca. Segundo ele,<br />
muitas pessoas com deficiência visual que aproximam do<br />
nosso grupo, embora não acreditando que possam conseguir,<br />
fazem as primeiras iniciações com o acompanhamento<br />
dos guias e, em pouco tempo, estão vencendo os primeiros<br />
5 quilômetros. “Depois ninguém os seguram mais”, comemora<br />
o guia.<br />
Outro guia fundamental na equipe do Radar DV é<br />
Helcio Luiz Croseta. Ele conta que o papel de um guia de<br />
cegos em competições é vital. Guia há 4 anos, desde que<br />
começou a se dedicar ao projeto, Helcio leva essa missão<br />
JUlHO 2020 51