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Revista Cariocas Outubro Novembro 2020

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Coluna do

Doc Mariz

Um Anarquismo Saudável

Foto: Arquivo

Doc Mariz não é humano. Ele veio do Planeta Vulcan.

E como todo bom Vulcano, ele acredita na honestidade,

no bom caráter, na boa índole, na capacidade

da pessoa aprender a ser educado e a praticar o que

aprendeu.

Ele também acredita que o poder corrompe os indivíduos

e é contra qualquer forma de governo que não

seja a conscientização através dos próprios atos, uma

espécie de “anarquismo saudável”, como diriam os terráqueos.

Doc Mariz escreve livros de contos bem humorados na

língua portuguesa, pois poucos seres conseguiriam ler

na sua língua natal.

Atualmente, Doc está na sua quinta vida terrestre, algo

como 370 anos e continua escrevendo suas estórias. A

partir desta edição é colunista fixo da Revista Cariocas.

Se você tem uma boa estória para contar, envie uma

internet terrestre para ele: docmariz@globo.com

Crônica

Por Doc Mariz

Casa Grande e Sem Sala

“Minas Gerais é o estado mais religioso do país. Do

modo que os motoristas dirigem é um tal de: Valha-me

Deus! Jesus Amado! Minha Nossa Senhora!”

Seu Carlinhos, dono da vendinha, daquela minúscula

cidade no interior mineiro, já estava no quinto

casamento. Sujeito respeitável na cidade, apesar do

currículo pouco cristão, presidente do coral municipal,

ex-vereador mais votado na cidade, padrinho de

dezenas de crianças, mulherengo semiprofissional e

fofoqueiro mor. Seus casamentos acabavam quando

as fofoqueiras de plantão denunciavam suas puladas

de cerca. Cidade pequena, a fofoca corre rápido e a

esposa da vez não suportava e tornava-se ex-esposa.

Mas não havia quem não passasse na sua vendinha

para uma prosa, uma cachacinha, uma pitada no fumo

de fundo de quintal, um docinho de abóbora e uma

fofoquinha.

A especialidade das especialidades do seu Carlinhos

era conversar e colocar apelidos. Colocava apelidos em

todo mundo que passasse na sua vendinha. Ninguém

escapava.

- Bom dia Dona Margarida!

- Olha qui, seu Carlim! Scutei dizê que o sinhô anda me

chamano de “jardim botânico”! Qui istória é essa, sô!?

- Fofoca do povo, Dona Margarida. Fofoca do povo que

não tem o que fazer!

- Ah bom! Pois si fô pur conta da minha “poupança”

grande o sinhô vai si vê com o Antunes.

- E quem é esse tal de Antunes, Dona Margarida?

- Minha “peixeira”! Meu facão di capá porco! Inté mais,

seu Carlim!

Não havia na cidade quem não ganhasse apelido!

Se andasse curvado para frente era “vento a favor”.

Se andasse curvado para trás era “vento contra”.

Problema na perna curta era “ponto e vírgula”. Velho

metido a garotão com cabelo pintado de preto era “Fred

Flinstone”. Velho tarado era “promoção do Viagra”.

Velho feliz andando de mãos dadas com uma novinha

era “corno sorridente”. Moça baixinha e atrevida era

“formiga de óculos”. Moça bonita e brava era “onça

pintada”. Mulher negra e brava era “pantera no cio”.

Homem negro e careca era “lâmpada queimada”.

Gordo que falava demais era “kombi sem freio”. Moça

gostosuda com calça apertada era “capô de fusca”.

Velha faladeira na janela da própria casa era “Matraca

Trica”. Velha que andava devagar e usando bengala

era “Tartaruga Touchê”. Homem pinguço era “pudim de

cachaça”.

- Seu Carlim, vortei aqui pra pedi discurpa pro sinhô!

- O que foi agora, Dona Margarida? O que foi que eu

fiz?

- O sinhô num fez nada, mas eu que fiz.

- Fez o quê, Dona Margarida?

- Coloquei apelido nu sinhô: “mosca de padaria”. Voa,

voa, voa e não come nada! Hahaha! Inté mais, seu

Carlim. Fofoqueiro da boca grande!

REVISTA CARIOCAS - 39

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