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Revista VOi 179

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histórias<br />

O fim do mundo<br />

que conhecemos antes<br />

A<br />

bri os olhos com uma vinheta acinzentada<br />

a me provocar. A primeira imagem que vi.<br />

Em instantes já não estava dentro do carro e<br />

podia ver o tapete vermelho estendido em<br />

direção ao olho. Museu Oscar Niemeyer.<br />

Tem algo estranho. Algo diferente. Não sei ao certo o que<br />

é. Exposição: O fim do mundo que conhecemos antes. De<br />

arrepiar!<br />

A primeira seção compilava a história do telefone. A<br />

partir da geração 10 da Apple e de um audacioso Galaxy<br />

S10+. Tinha uma versão chamada Big Bang Galaxy - A<br />

Explicação da Origem do Mundo na Palma da Sua Mão<br />

S10.10.10++. Outro aparelho da Apple tinha só um código<br />

de barras minúsculo como uma agulha em palheiro em<br />

que quase não se enxergava os milhares de números<br />

entre 0 e 1. Espremi os olhos, mas só decifrei os primeiros<br />

zeros. Um negócio chato!<br />

Jurava que na Boca Maldita tinha um orelhão que<br />

funcionava com baratas fichas de metais baratos. Fiquei<br />

encasquetado com aquela cena. Teria inventado o T<br />

Grandão? Seria a minha mente brilhante a criadora do<br />

celular com flip? Ou teria sido o engenheiro mestre a<br />

desenvolver o clássico Ericsson dos anos 50?<br />

Segunda sala. Dois banquinhos de igual tamanho e<br />

cores diferentes. Dois objetos misteriosos.<br />

Pareciam fones de ouvido, mas<br />

não eram. Também não os apocalípticos<br />

fios de um eletroencefalograma,<br />

embora parecessem bastante. Um<br />

barulho ensurdecedor e no projetor<br />

que ilumina a parede cenas de duas<br />

pessoas sentadas naquela mesma sala.<br />

Luzes corriam em cabos que conectam<br />

seus capacetes. Uma conversa sem abrir<br />

a boca.<br />

Ah! Entendi!!! Estou em uma exposição<br />

do futuro. Aí entendi o que o<br />

Cazuza quis dizer com um museu de grandes novidades.<br />

Ou estou preso em um episódio dos Jetsons, só que sem<br />

a parte legal dos Jetsons. Ou estou tendo uma alucinação<br />

de tanto assistir Black Mirror. Sabia que depois da décima<br />

sétima vez era exagero!<br />

Corredor longo daqueles clássicos para fazer uma<br />

foto cult. Só que misturado com a menina da boneca do<br />

site Assustador.com. Saí correndo de medo e entrei na<br />

primeira porta. Tinham duas pessoas sentadas de frente<br />

uma para outra a uma distância de um metro. Um deles<br />

tinha uma máscara de cirurgião. Se olhavam fixamente até<br />

que um espirrou. As gotículas voando no ar e acertando a<br />

janela de vidro que os isolava. No letreiro: Coronavírus -<br />

testes. E eu tremia.<br />

Coloquei a mão no bolso à procura do celular. Não<br />

estava. Em nenhum dos quatro. Calças ou jaqueta. E a<br />

sensação de calor que imitava uma fogueira viva em meus<br />

pés. Sem mais nem menos, um solavanco. Um olhar com<br />

uma vinheta acinzentada nas bordas e um barulho de<br />

freio a ar. O vidro do biarticulado encharcado de saliva. O<br />

alívio de quem estava a sonhar.<br />

Foto: divulgação<br />

Por Henrique Rigo<br />

58<br />

OUTUBRO 2020<br />

revistavoi.com.br

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