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Gestão Hospitalar N.º 22 2020

Editorial | Eduardo Sá Ferreira Assembleia da República | O impacto da pandemia na democracia Pandemia nos Açores | A resposta da Região Autónoma dos Açores Médicos Dentistas | Médicos dentistas com competências de gestão Assistentes Sociais | A intervenção do serviço social em contexto hospitalar: visão e desafios no contexto atual Técnicos auxiliares de saúde | Valorizar a formação e a progressão das categorias Biólogos | Hora do reconhecimento de todos os profissionais de saúde A realidade no Hospital de Ovar pós cerca sanitária ao concelho Respostas sociais integradas em tempo de pandemia Saúde Militar | O apoio militar de emergência Investigação e cooperação no espaço lusófono e a pandemia Homenagem a Eduardo Sá Ferreira, um tímido atuante por António Correia de Campos Homenagem a Eduardo Sá Ferreira, homem amável, perspicaz e resiliente por José Menezes Correia Homenagem a Eduardo Sá Ferreira, uma vida plena Homenagem a Eduardo Sá Ferreira, pessoa afável e gestor competente por António Marques de Lima Homenagem a Eduardo Sá Ferreira: sabendo o que sei hoje, escolhia de novo ser Administrador Hospitalar Saúde pública e conhecimento: um elenco fundamental no futuro da governação clínica Risco de Covid-19 em profissionais de saúde Direito Biomédico Reflexões éticas e normativas a propósito do artigo “direitos humanos e mortes evitáveis” Diplomacia da saúde na era Covid-19 Doenças crónicas e Covid-19 Covid-19 e doenças cérebro cardiovasculares Prémio Healthcare Excelence Prémio vai reconhecer as melhores práticas no combate à Pandemia Prémio Healthcare Excelence Huddle Meeting: a sustentabilidade da melhoria contínua

Editorial | Eduardo Sá Ferreira
Assembleia da República | O impacto da pandemia na democracia
Pandemia nos Açores | A resposta da Região Autónoma dos Açores
Médicos Dentistas | Médicos dentistas com competências de gestão
Assistentes Sociais | A intervenção do serviço social em contexto hospitalar: visão e desafios no contexto atual
Técnicos auxiliares de saúde | Valorizar a formação e a progressão das categorias
Biólogos | Hora do reconhecimento de todos os profissionais de saúde
A realidade no Hospital de Ovar pós cerca sanitária ao concelho
Respostas sociais integradas em tempo de pandemia
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Homenagem a Eduardo Sá Ferreira: sabendo o que sei hoje, escolhia de novo ser Administrador Hospitalar
Saúde pública e conhecimento: um elenco fundamental no futuro da governação clínica
Risco de Covid-19 em profissionais de saúde Direito Biomédico Reflexões éticas e normativas a propósito do artigo “direitos humanos e mortes evitáveis”
Diplomacia da saúde na era Covid-19 Doenças crónicas e Covid-19 Covid-19 e doenças cérebro cardiovasculares
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GH Assembleia da República<br />

O IMPACTO DA PANDEMIA<br />

NA DEMOCRACIA<br />

Maria Antónia de Almeida Santos<br />

Presidente da CP Saúde<br />

As pandemias, ao longo da história, têm<br />

tido inegavelmente um denominador<br />

comum: o facto de serem todas elas<br />

algo que surge de uma forma abrupta,<br />

pela perturbação inesperada que traz<br />

à vida em si mesma e pelas alterações a que obriga a<br />

nível dos comportamentos e das formas de estar quotidianas.<br />

A atual pandemia radicalizou, porém, esta noção<br />

de “abrupto”. A essa radicalização não pode ser alheia a<br />

assimetria, na corrente pandemia, na reação (em todas<br />

as valências da palavra) dos vários países, comunidades<br />

e agregados políticos que constituem o conjunto das nações<br />

do mundo.<br />

Chega a ser até paradoxal. Dada a facilidade comunicacional<br />

ao dispor de todos nós atualmente, como foi possível<br />

que o vírus entrasse em modo pandémico de forma<br />

tão rápida? Desde já, pela inabilidade e pela incapacidade<br />

de articulação institucional à escala global. Habituado às<br />

progressivas descobertas científicas e médicas e até a uma<br />

confiança amplamente alicerçada na conquista tecnológica,<br />

o mundo viu-se, de forma súbita, confrontado com<br />

algo potencialmente letal, mesmo tendo tido, na maioria<br />

dos casos (sobretudo no ocidente) antecipadamente notícia<br />

do mesmo. Hoje, para perceber a noção de “abrupto”<br />

aplicada à pandemia, é preciso acentuar-lhe não só a<br />

dimensão do “desconhecido” do ponto de vista científico<br />

e médico-terapêutico, mas também a de algo que foi desvalorizado<br />

por incapacidade de coordenação global. A<br />

facilidade da mobilidade global, a par da vulnerabilidade<br />

social, acabou por revelar-se o maior móbil inicial da transmissão<br />

do vírus.<br />

A produção de conhecimento acerca da pandemia tem<br />

sido abundante e transversal a todas as áreas. Esta é a<br />

pandemia em que a humanidade se encontra num estádio,<br />

mais do que nunca, propício à reflexão. Nessa<br />

mesma reflexão, há dois conceitos que se destacam: o<br />

de “crise” e o de “oportunidade”. Não como sinónimos<br />

ou como antónimos, ou sequer polos, mas mais como<br />

pontos sequenciais. O primeiro como ponto de partida,<br />

pela descrição que faz da situação e daquilo que lhe deu<br />

origem. O segundo, pelas propostas orientadas sobretudo<br />

para a mudança e para um ponto de chegada em que<br />

estaremos não só melhor, do ponto de vista da saúde<br />

e da vida, mas melhores enquanto civilização, enquanto<br />

seres humanos e enquanto sociedade democrática.<br />

O primeiro passo da ciência em relação ao vírus que enfrentamos<br />

foi a sua identificação e catalogação. Covid-19<br />

foi o nome atribuído pela Organização Mundial da Saúde<br />

à doença provocada pelo novo coronavírus SARS-<br />

-CoV-2, passível de causar uma infeção respiratória grave,<br />

como a pneumonia. Foi identificado pela primeira vez em<br />

humanos, no final de 2019. Muito mais haverá para dizer,<br />

do ponto de vista virológico, clínico, científico e não só.<br />

Mas gostaria de realçar a expressão “catástrofe natural”,<br />

que ouvi pela primeira vez aplicada à Covid-19, ao ex-<br />

-presidente da Federal Reserve norte-americana que liderou<br />

antes e depois da crise financeira de 2008, em declarações<br />

à CNBC, em março do corrente ano. Mais recentemente,<br />

também o virologista alemão Christian Drosten,<br />

cientista de referência e assessor do governo alemão para<br />

os temas da Covid-19, se socorreu da mesma expressão,<br />

numa entrevista para a Cimeira Mundial da Saúde (CMS).<br />

Considero a expressão particularmente bem-sucedida<br />

por mais do que um motivo. Primeiro, porque ao referirse<br />

a uma “catástrofe”, projeta a importância da resposta<br />

sistémica e da responsabilidade conjunta que lhe é inerente.<br />

Segundo, porque enfatiza o facto óbvio de os vírus<br />

existirem, de facto, na natureza e de serem, também eles,<br />

um circunstancialismo da própria vida. Em suma, anula a<br />

vontade de culpar que tem sido manifestada por muitos<br />

responsáveis políticos nesta questão.<br />

Mas não só. Entender a Covid-19 como uma catástrofe<br />

natural é também realçar o seu caráter de processo disruptivo<br />

entre o ambiente natural e o sistema social. Obviamente,<br />

não é o mesmo que as catástrofes naturais que<br />

há séculos assolam o planeta, como os sismos, a erupção<br />

de vulcões, furacões ou cheias. Um pouco à semelhança<br />

das alterações climáticas, sendo distinta de todas as<br />

primeiras, partilha com elas um denominador comum: o<br />

facto de verem a sua intensidade e frequência ampliadas<br />

pela intervenção humana. O conhecimento sobre o vírus<br />

e a sua origem que a comunidade científica tem até<br />

agora, corrobora este facto. No caso em concreto da Covid-19,<br />

essa intervenção humana deu-se na cadeia ambiental,<br />

com as decorrentes perturbações na cadeia alimentar<br />

e na qualidade da mesma.<br />

Há também outro facto pertinente (também ele com uma<br />

particularidade) ao reconhecimento do caráter de catástrofe<br />

natural da Covid-19. É certo que nesta pandemia<br />

(tal como em outras), a vulnerabilidade das diferentes<br />

sociedades depende do grau de desenvolvimento das<br />

mesmas, sobretudo a nível das respostas estruturais profiláticas<br />

e da terapêutica. Tivemos um ótimo exemplo<br />

disso a propósito da aquisição de materiais de proteção<br />

individual em contexto global. No entanto, a invulnerabilidade<br />

já não é uma certeza nos países desenvolvidos e<br />

caracterizados por elevada riqueza e elevada capacidade<br />

tecnológica e financeira.<br />

Não era possível tentar perceber os efeitos da pandemia<br />

sem esta breve introdução. Importante, também, é delinear<br />

minimamente o conceito de saúde a que se recorre<br />

e qual a relação do mesmo com a democracia. Não<br />

sendo a intenção deste artigo, de todo, uma definição<br />

conceptual, opto por realçar aquilo que nesta matéria a<br />

pandemia veio evidenciar. Logo à partida, enfatizou que o<br />

universo da saúde é bem mais do que a mera inexistência<br />

de uma doença. É o resultado de uma conjugação de<br />

fatores que condiciona o nosso bem-estar, em toda a sua<br />

integralidade. Tivemos uma perceção nítida disto mesmo,<br />

no confinamento e a propósito das perturbações que<br />

este trouxe a nível da economia e a nível familiar e psico-comportamental.<br />

Se maiores índices de pobreza, desigualdade,<br />

desemprego e desânimo geral vão originar estados<br />

de saúde da população que se vão revelar a curto<br />

ou médio prazo e que vão ser prejudiciais, as perspetivas<br />

de saúde pública não podem permanecer alheias a esse<br />

facto e têm de incorporar essa mesma realidade na delineação<br />

do conceito de saúde.<br />

Quando falamos da relação entre saúde e democracia,<br />

é impossível desvalorizar o conceito de sustentabilidade<br />

democrática. Quando falamos de sustentabilidade, pensamos<br />

em sustentabilidade económica, social ou ambiental<br />

e sempre do ponto de vista que implica a gestão de um<br />

ou mais recursos que temos por finitos. No entanto, raramente<br />

falamos na sustentabilidade democrática de uma<br />

determinada sociedade. Talvez isso se deva à dificuldade<br />

em mensurar aquilo que seria uma “sustentabilidade democrática”.<br />

Como fazê-lo, então?<br />

Uma das formas inequívocas de fazê-lo é observar a relação<br />

entre a democracia e a saúde pública. A história ensina-nos<br />

que é a democracia o regime que consagra o direito<br />

à saúde numa Constituição, o único que verdadeiramente<br />

a concretiza como fundamental, se pensarmos<br />

que sem saúde não se vive ou, vive-se mal. Temos como<br />

exemplo a criação do nosso Serviço Nacional de Saúde<br />

(SNS) ou até o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro,<br />

criado na década de oitenta do século passado, em pleno<br />

processo de redemocratização do Brasil. O nosso SNS<br />

permitiu-nos que os resultados em saúde em Portugal se<br />

comparem, em todos os índices, aos dos países mais desenvolvidos.<br />

É inegável a conclusão de que as instituições<br />

e as práticas democráticas influenciam o desenvolvimento<br />

humano em várias valências, incluindo o bem-estar e }<br />

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