Coletânea Digital Cinema e Memória
O Projeto Cineclube nas Escolas promoveu uma coletânea de textos de Profissionais da Secretaria Municipal de Educação da Cidade do Rio de Janeiro. A coletânea trazem memórias afetivas surgidas através de filmes e telas de cinema.
O Projeto Cineclube nas Escolas promoveu uma coletânea de textos de Profissionais da Secretaria Municipal de Educação da Cidade do Rio de Janeiro.
A coletânea trazem memórias afetivas surgidas através de filmes e telas de cinema.
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Nome: Amanda Pereira da Silva Ribeiro.
Função: Professor do Ensino Fundamental
Unidade de Lotação: (06.22.201) CIEP Poeta Fernando Pessoa
Título do Filme: ... E o Vento Levou
Memória é algo curioso. Um aroma, um acorde, uma cor pode ter o poder mágico de nos
transportar a um mundo que, muitas vezes, flutua em meio às brumas do passado. Quando eu tinha uns
sete anos, ouvi uma música na televisão e tive uma sensação que, até aquele momento, era
desconhecida para mim: a garganta se apertou, os olhos marejaram e algo dentro de mim parecia que
estava se dissolvendo. Lembro ter-me escondido no banheiro para deixar correr aquela tímida lágrima
enquanto o coração voltava ao seu compasso normal. Era a primeira vez que eu ouvia o tema de “... E
o vento levou.”
Segundo Carl Jung, a humanidade possui uma herança psicológica que é compartilhada com
todos os membros da espécie e, desse modo, cada indivíduo tem acesso a uma memória desligada de
experiência. Talvez, o inconsciente coletivo de Jung explique o motivo pelo qual “...E o vento levou”
me emociona há mais de trinta anos: a lembrança de um tempo em que a guerra e a fome devastavam
uma terra próspera sustentada pela cruel escravidão, onde a vida humana estava abaixo dos valores
fraternos fundamentais.
Mas, possivelmente, essa conversa toda se resuma a algo muito mais simples e pessoal: minha
saudosa avó Jurema, mãe da minha mãe, era uma filha de imigrantes que havia provado na vida o lado
não muito doce da laranja. Começou a trabalhar cedo em fábricas e, como muitas moças do seu tempo
− ela era de 1933 − não teve oportunidade para ir à escola. Lia muito pouco, porém sabia calcular
muito bem e, em pouco tempo, casou-se, teve seus filhos. Cozinhava maravilhosamente, tanto que todo
Natal me aflora à mente o cheirinho de comida de vó. Mas e então? Onde o filme entra nessa história?
Meu filme favorito era também o filme favorito dela.
Não descobri isso logo, todavia eu conversava fácil com minha avó. A senhorazinha sentada
em sua poltrona me contava altas histórias de seus pais que vieram para o Brasil escondidos em um
navio. Falava-me de um namorado que teve, o qual ficou rico e era dono de um mercado; contava
como veio se casar com seu vizinho − meu vô − e de como os quatro filhos, levados como só, lhe
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