Coletânea Digital Cinema e Memória
O Projeto Cineclube nas Escolas promoveu uma coletânea de textos de Profissionais da Secretaria Municipal de Educação da Cidade do Rio de Janeiro. A coletânea trazem memórias afetivas surgidas através de filmes e telas de cinema.
O Projeto Cineclube nas Escolas promoveu uma coletânea de textos de Profissionais da Secretaria Municipal de Educação da Cidade do Rio de Janeiro.
A coletânea trazem memórias afetivas surgidas através de filmes e telas de cinema.
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Nome: Suely Alvarenga da Silva Bastos.
Função: Professor I - Matemática
Unidade de Lotação: (06.22.019) Escola Municipal Emílio Carlos
Título do Filme: Cinderelo Trapalhão (1979)
Lily-Dedé com Lu casaria
Eu morava no 46. Marcávamos todos na porta lá de casa, porque era o Seu Fernando, meu pai,
que ia nos levar pra passear. Também ia o meu irmão Nando, que desde pequeno me chamava de Dedé
– porque não sabia falar Suely! Lembro da Nete, da Rosa, mas essa não sei se ia sempre não. Faz muito
tempo e a memória falha. Tinha as duas Fátimas, uma branquinha-branquinha e outra pretinhapretinha.
E tinha o Luiz Antonio, que morava no 42. Meu vizinho de muro.
Saíamos da Travessa João de Matos, no bairro de Quintino Bocaiúva, seguíamos pela antiga
Avenida Suburbana até o início da Padre Nóbrega, que era onde ficava o cinema Bruni Piedade (com
galeria e tudo!). Cinema de rua na minha infância era uma das maiores diversões. Tinha sala para tudo
que é lado da cidade. E Seu Fernando só levava a gente por dois motivos: porque os filmes eram
lançados nas nossas férias e porque tinha preço popular, mão de vaca que só ele. Nem lembro se ele
pagava de todo mundo...
Todos os filmes dos Trapalhões que estreavam, a gente estava lá. Eles eram a galera favorita
da minha galera. E de muita gente, porque as salas ficavam lotadas, o que era ótimo pra eu sempre
sentar do lado do Luiz Antonio sem meu pai perceber. Quando apagava a luz, era como se pulássemos
o muro. O menino do 42 vinha se chegando com o dedo mindinho na minha mão e ficávamos de mãos
dadas rindo das palhaçadas do Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Milhões de espectadores no Brasil
olhavam para as telas e ninguém assistia ao começo da minha primeira paixão atrapalhada.
Eram paródias anuais, e a gente lá: em 1972, “Ali Babá e os 40 ladrões” e Luiz nem beijo me
roubava. Em 73, “Aladim e a Lâmpada Maravilhosa” e eu só tinha o desejo do filme não acabar. Vai
ver por isso lançaram outro filme no mesmo ano: “Robin Hood”. Veio a “Ilha do Tesouro”, o “Planeta
dos Macacos” e dentro das “Minas do Rei Salomão” a gente ainda namorava escondido. Em janeiro
de 78, com os “Trapalhões na Guerra dos Planetas”, estava lá o Luiz vencendo o Seu Fernando na lábia
pra poder me namorar. Os Trapalhões não tinham concorrência. O Luiz também não, esse Cinderelo
Trapalhão.
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