Coletânea Digital Cinema e Memória
O Projeto Cineclube nas Escolas promoveu uma coletânea de textos de Profissionais da Secretaria Municipal de Educação da Cidade do Rio de Janeiro. A coletânea trazem memórias afetivas surgidas através de filmes e telas de cinema.
O Projeto Cineclube nas Escolas promoveu uma coletânea de textos de Profissionais da Secretaria Municipal de Educação da Cidade do Rio de Janeiro.
A coletânea trazem memórias afetivas surgidas através de filmes e telas de cinema.
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Nome: Bruno Costa Guimarães.
Função: Professor do Ensino Fundamental
Unidade de Lotação: (03.12.002) Escola Municipal Alcide de Gasperi
Título do Filme: Blade Runner – O Caçador de Androides
Filmes são, tecnicamente, o resultado do sequenciamento rápido de fotografias e a ilusão de
movimento. Eles são, simbolicamente, muito mais do que isso. Desde o primeiro momento que
conseguimos capturar e reproduzir eventos, utilizamos esta tecnologia para contar histórias. Este é um
paradigma comum de nossa espécie: pinturas nas paredes, desenhos no solo arenoso, escrituras na
pedra, tinta no papel, etc. Somos contadores de histórias por natureza. Bons filmes nos fazem rir, chorar
e questionar, mas também nos fazem conectar, dialogar e compartilhar a experiência com outro. São
ao mesmo tempo uma experiência individual e coletiva.
Para essa redação eu escolhi falar do filme “Blade Runner: o caçador de androides”, não apenas
por ser um excelente filme em seu próprio mérito, mas por carregar um grande peso na minha relação
afetiva com meu pai. Crescer na década de 90 significava que você, o espectador, tinha que saber
quando o filme seria exibido na televisão e ligar no canal e na hora certa para não perder. Alguns filmes
ocupavam horários tardios demais para uma criança assistir, outros filmes nem chegavam à TV aberta
porque não geravam audiência suficiente. Esse é o caso de Blade Runner, filmado em 1982, um filme
já antigo na minha infância e que não conquistou espaço nas emissoras.
Eu vi o filme somente depois de adulto, mas já era um fã da obra do diretor Ridley Scott décadas
antes. Como isto é possível? Simples: meu pai. Sempre que ele vinha para o Rio de Janeiro nos finais
de semana, eu ansiava para ouvir suas histórias. Eu ficava em silêncio, atento aos detalhes das tramas
de filmes antigos que ele narrava. Foi dessa forma que eu fui transportado do banco de trás do seu
Santana para uma futurista e decadente Los Angeles, onde prédios enegrecidos pela fuligem de
chaminés industriais sombreavam a cidade, pirâmides opressoras de mega corporações e ruas sujas
com sinais de neon brotavam na minha imaginação com fascinação e, simultaneamente, desgosto.
Assim eu me envolvi no suspense noir de Rick Deckard, um detetive aposentado que é levado de volta
à ativa para caçar um grupo replicantes, humanos artificialmente produzidos para trabalho escravo que
se revoltaram contra seus mestres, a corporação Tyrell.
O filme é muito mais do que um típico thriller de detetives, é uma jornada que desafia e provoca
o espectador a questionar a natureza humana. “Mas replicantes são humanos?”, eu perguntei.
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