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Jornal Paraná Junho 2021

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OPINIÃO<br />

Uma transformação radical na<br />

matriz energética global está por vir<br />

Se não se apressar, Brasil perderá chance de tirar milhões da pobreza<br />

Por Décio Oddone (*)<br />

AAIE (Agência Internacional<br />

de Energia) divulgou<br />

um cenário sobre<br />

como chegar a um total<br />

líquido de zero emissões de dióxido<br />

de carbono em 2050, prérequisito<br />

para atingir a meta<br />

estabelecida no Acordo de Paris<br />

de limitar o aquecimento global a<br />

1,5°C acima da temperatura global<br />

média de antes da revolução<br />

industrial.<br />

O relatório define medidas para<br />

transformar a economia global.<br />

Nenhuma nova mina de carvão<br />

seria requerida. A demanda por<br />

petróleo jamais retornaria aos níveis<br />

de 2019 e declinaria para 24<br />

milhões de barris por dia em<br />

2050. O consumo de gás natural<br />

seria 55% menor que em 2020. A<br />

quase totalidade dos carros e caminhões<br />

seria movida por eletricidade<br />

ou célula de combustível.<br />

Não seria preciso explorar novas<br />

jazidas e não haveria necessidade<br />

de novos projetos de óleo e<br />

gás, além dos que já tiveram o<br />

desenvolvimento aprovado. Nem<br />

de novas plantas de liquefação<br />

de gás.<br />

Os combustíveis limpos teriam<br />

um rápido crescimento, mas deixariam<br />

de ser usados em veículos<br />

leves. Seriam empregados<br />

nos transportes pesados, navegação<br />

e aviação.<br />

O crescimento da oferta de biocombustíveis<br />

viria do aproveitamento<br />

de resíduos e materiais<br />

não adequados à produção de<br />

alimentos. Plantas de etanol seriam<br />

adaptadas para capturar<br />

carbono ou usar celulose. A demanda<br />

de eletricidade cresceria<br />

rapidamente, como a geração<br />

por renováveis. A precificação<br />

do carbono seria adotada.<br />

Tudo isso impactaria no preço<br />

do petróleo, que cairia para<br />

cerca de US$ 35 por barril em<br />

2030 e US$ 25 em 2050. Governos<br />

teriam de reduzir ou eliminar<br />

impostos para manter os níveis<br />

de produção. Novos projetos seriam<br />

evitados para não haver reflexos<br />

nos preços. A rápida eletrificação<br />

da frota diminuiria a<br />

demanda por gasolina e diesel.<br />

Com queda de 85% na carga, refinarias<br />

seriam fechadas ou convertidas<br />

para petroquímica ou<br />

produção de biocombustíveis.<br />

Os investimentos em energia<br />

limpa seriam enormes. Além<br />

disso, seria necessário eliminar<br />

emissões e capturar carbono da<br />

atmosfera.<br />

Governos deveriam acelerar o<br />

planejamento do uso de resíduos,<br />

o desenvolvimento de<br />

biocombustíveis líquidos, biogás,<br />

biometano, amônia e hidrocarbonetos<br />

sintéticos que<br />

não emitem CO 2 . Também da<br />

indústria do hidrogênio e da<br />

transformação do setor elétrico,<br />

com o crescimento da<br />

geração hidroelétrica e do uso<br />

de baterias para armazenar a<br />

energia produzida pelas fontes<br />

renováveis e intermitentes.<br />

Plantas de etanol seriam<br />

adaptadas para capturar<br />

carbono ou usar celulose<br />

As dificuldades seriam enormes,<br />

mas surgiriam oportunidades<br />

para crescimento da economia e<br />

criação de empregos. Os países<br />

ricos alcançariam esse objetivo<br />

antes dos em desenvolvimento.<br />

As regiões produtoras de petróleo<br />

e gás enfrentariam desafios.<br />

Os trabalhadores em projetos de<br />

combustíveis fósseis seriam treinados<br />

para desempenhar novas<br />

funções.<br />

Esse cenário surpreendeu o<br />

mundo da energia. E é altamente<br />

improvável. No entanto, como as<br />

posições da AIE são consideradas<br />

na formulação de políticas<br />

energéticas de países e empresas,<br />

tem um simbolismo importante.<br />

As mudanças elencadas nesse<br />

relatório indicam que uma transformação<br />

radical na matriz energética<br />

global está por vir e servem<br />

de mais um alerta. O Brasil<br />

não é o único país com potencial<br />

para produção de petróleo ou<br />

energias renováveis, mas não<br />

consegue aprovar medidas, em<br />

discussão há anos, para aprimorar<br />

o ambiente de negócios.<br />

Nesse novo mundo que se avizinha<br />

as disputas por investimentos<br />

capazes de gerar riqueza,<br />

arrecadação e empregos<br />

serão mais acirradas. Se não se<br />

apressar, o país perderá mais<br />

uma chance de usar os seus recursos<br />

para tirar milhões de pessoas<br />

da pobreza<br />

(*) Décio Oddone, engenheiro,<br />

é diretor-presidente da Enauta<br />

S.A. Publicado originalmente<br />

na Folha de S.Paulo<br />

2<br />

<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>


SAFRA <strong>2021</strong>/22<br />

Chuvas trazem alívio<br />

Ritmo mais lento de colheita tem como causa o menor<br />

desenvolvimento dos canaviais por conta da estiagem<br />

Oretorno das chuvas<br />

nas últimas semanas<br />

foi bem vindo pelos<br />

canaviais e trouxe alívio<br />

aos produtores de cana-deaçúcar<br />

em toda região produtora<br />

no <strong>Paraná</strong>. Devido às<br />

suas características, a cultura<br />

tem uma alta capacidade de<br />

resposta e tende a recuperar<br />

parte de seu potencial produtivo<br />

desde que as chuvas continuem,<br />

associadas a temperaturas<br />

mais altas e tempo de<br />

luminosidade maior, afirma o<br />

presidente da Alcopar, Miguel<br />

Tranin.<br />

O que preocupa, ressalta, é<br />

que, a partir de julho, a tendência<br />

no Estado é de clima mais<br />

seco e frio, característico no<br />

período, com o agravante de<br />

os modelos climáticos sinalizam<br />

este ano chuvas abaixo da<br />

normalidade, devido a configuração<br />

do fenômeno climático<br />

La Niña.<br />

Tranin comenta que o início da<br />

safra foi em ritmo bastante<br />

acelerado. Na segunda quinzena<br />

de março e na primeira de<br />

abril, o volume de cana esmagado<br />

superou os números registrados<br />

nos períodos equivalentes<br />

nos últimos anos e o<br />

indicativo é de que seria uma<br />

safra rápida, entretanto, na segunda<br />

quinzena de abril e na<br />

primeira e segunda quinzenas<br />

de maio, a moagem de canade-açúcar<br />

na região produtora<br />

do <strong>Paraná</strong> foi cerca de 10%<br />

menor, em média, do que nas<br />

duas últimas safras, considerando<br />

o mesmo período.<br />

O ritmo mais lento da moagem<br />

se justifica por conta do menor<br />

desenvolvimento dos canaviais<br />

devido às recorrentes estiagens<br />

nesta safra. As indústrias<br />

diminuíram o ritmo de colheita<br />

para evitar colher cana fora do<br />

seu estágio ideal de desenvolvimento.<br />

Na última quinzena,<br />

além deste fator, a retomada da<br />

chuva deu uma segurada no<br />

ritmo de colheita.<br />

A moagem de cana realizada<br />

pelas unidades produtoras no<br />

Estado, no acumulado da safra<br />

<strong>2021</strong>/22, foi de 8,857 milhões<br />

de toneladas, uma redução de<br />

1% comparando com as 8,945<br />

milhões de toneladas de cana<br />

esmagadas no mesmo período<br />

do ano safra 2020/21. A produção<br />

de açúcar totalizou<br />

643,6 mil toneladas e a de etanol<br />

314,910 milhões de litros<br />

sendo 124,581 milhões de litros<br />

de anidro e 190,329 milhões<br />

de litros de hidratado.<br />

No contraponto ao baixo rendimento<br />

agrícola, o desenvolvimento<br />

industrial tem sido muito<br />

bom. A quantidade de Açúcares<br />

Totais Recuperáveis<br />

(ATR) por tonelada de cana,<br />

também no acumulado da safra<br />

<strong>2021</strong>/22 ficou 4,6% acima<br />

do valor observado na safra<br />

2020/21, totalizando 137,13<br />

kg de ATR/t de cana, contra<br />

131,08 kg ATR observados na<br />

safra passada.<br />

Devido aos repetidos períodos<br />

de estiagem que danificaram<br />

os canaviais afetando a cultura<br />

no principal período de crescimento<br />

da cana na região Centro-Sul<br />

do país para a safra<br />

<strong>2021</strong>/22, o que reduziu o potencial<br />

produtivo, o presidente<br />

da Alcopar disse que a entidade<br />

já pensa em rever a estimativa<br />

de safra de 34,8 milhões<br />

de toneladas de cana<br />

para algo em torno de 30 a 31<br />

milhões de toneladas, cerca de<br />

10% ou mais de quebra da<br />

safra no <strong>Paraná</strong>, reduzindo a<br />

produção de açúcar e etanol<br />

na mesma proporção.<br />

<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong> 3


2º DIA DE CAMPO<br />

UDT Cana <strong>Paraná</strong> trouxe<br />

avanços e inovações<br />

Evento foi totalmente on line, com as empresas parceiras mostrando novos<br />

tratamentos e protocolos de defensivos, fertilizantes e variedades<br />

AUnidade de Difusão<br />

Tecnológica – UDT<br />

Cana <strong>Paraná</strong>, área<br />

agrícola de pesquisa<br />

e extensão em cana-de-açúcar,<br />

apresentou seu 2º Dia de<br />

Campo, que nesta edição foi<br />

realizado no formato online,<br />

por conta da pandemia provocada<br />

pelo novo coronavírus. A<br />

UDT Cana <strong>Paraná</strong>, está localizada<br />

na estrada Cristo Rei s/n,<br />

em Paranavaí, no noroeste do<br />

Estado.<br />

A área é uma vitrine regional de<br />

difusão tecnológica de conhecimento<br />

e inovação no manejo<br />

da cultura da cana-de-açúcar,<br />

contendo aproximadamente<br />

12,5 hectares de ensaios instalados.<br />

O objetivo é desenvolver<br />

pesquisas, testar e validar<br />

novas tecnologias, além de<br />

promover a difusão entre os<br />

profissionais das usinas e destilarias<br />

do <strong>Paraná</strong>. São conduzidos<br />

também ensaios em<br />

parcelas demonstrativas de<br />

empresas parceiras, mostrando<br />

novos tratamentos e protocolos<br />

de defensivos, fertilizantes<br />

e variedades.<br />

O projeto é do ITAM, Instituto<br />

de Tecnologia Agropecuária de<br />

Maringá, ligado a UEM, é desenvolvido<br />

em parceria com<br />

Alcopar e conta com o apoio<br />

de empresas como a Syngenta,<br />

Bayer, UPL, FMC, CTC,<br />

IAC, Froya Chemical Solutions,<br />

Evento foi totalmente online e todos os cuidados de distânciamento foram mantidos durante as gravações<br />

4<br />

<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>


LAM Agroscience, Ubyfol,<br />

Ihara, Fertbras, Euroforte,<br />

Follyfertil, Celleron e Sanovita.<br />

A unidade era coordenada pelo<br />

professor doutor Anderson<br />

Gualberto, do departamento de<br />

Agronomia da Universidade<br />

Estadual de Maringá (UEM),<br />

falecido no ano passado por<br />

complicações da Covid-19.<br />

Em 2020, após a instalação de<br />

todos os campos de demonstração<br />

das empresas parceiras<br />

da UDT Cana <strong>Paraná</strong>, a pandemia<br />

alterou toda a rotina de trabalho,<br />

impossibilitando a realização<br />

do segundo dia de<br />

campo presencial. Por isso,<br />

este ano, a equipe organizadora<br />

do evento optou pela<br />

forma virtual para levar as informações<br />

que estavam disponíveis<br />

nos diversos campos<br />

demonstrativos que foram implantados<br />

em 2020.<br />

possibilidade de controle biológico,<br />

principalmente de nematoide,<br />

e para a reconstrução<br />

da parte biológica dos solos<br />

degradados e com baixo potencial<br />

produtivo.<br />

Todas as tecnologias apresentadas<br />

no 2º dia de Campo da<br />

UDT- Cana <strong>Paraná</strong> estão disponíveis<br />

em plataforma online<br />

versátil (udt.cana.com.br) que<br />

permite o amplo acesso aos<br />

conteúdos.<br />

O trabalho na UDT Cana <strong>Paraná</strong><br />

teve início em setembro<br />

de 2018 e o primeiro dia de<br />

campo na unidade foi em novembro<br />

de 2019.<br />

No evento, por meio da parceria<br />

com empresas comprometidas<br />

com o desenvolvimento<br />

sustentável da cana-de-açúcar,<br />

foi possível conhecer as novidades<br />

que as maiores empresas<br />

do setor de cana-deaçúcar<br />

têm para o manejo da<br />

cultura. Cada um dos parceiros<br />

preparou um conteúdo dinâmico<br />

e repleto de dados<br />

específico para a região, mostrando<br />

os avanços e inovações<br />

aplicados em todas as<br />

etapas de desenvolvimento da<br />

cultura.<br />

Com a participação dos parceiros<br />

CTC e IAC, foram apresentadas<br />

as variedades de<br />

cana-de-açúcar, com destaque<br />

para os materiais indicados<br />

para os ambientes restritos do<br />

arenito. Foram mostrados novos<br />

conceitos na área de nutrição<br />

da cana-de-açúcar, com<br />

emprego de fertilizantes foliares<br />

em diferentes épocas e<br />

com objetivos bastante específicos,<br />

além de avanços no<br />

controle de pragas, doenças e<br />

plantas daninhas, com diferentes<br />

princípios ativos e diferentes<br />

dinâmicas de controle. Foi<br />

dado destaque ainda para a<br />

<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong> 5


UM ANO<br />

RenovaBio, umas das<br />

políticas ambientais mais<br />

consistentes do Brasil<br />

Programa tem potencial para estimular que a energia elétrica produzida a<br />

partir da biomassa da cana atenda a 100% do consumo residencial no país<br />

ORenovaBio, programa<br />

de estímulo à produção<br />

de biocombustíveis,<br />

completou em<br />

abril um ano de operação e já<br />

desponta como uma das políticas<br />

ambientais mais promissoras<br />

do país, com potencial para<br />

aumentar em cerca de 50% a<br />

produção de álcool combustível<br />

no Brasil e ainda gerar 100% de<br />

toda energia elétrica doméstica<br />

consumida no mercado nacional<br />

a partir da biomassa da cana.<br />

“Desde o Proálcool (Programa<br />

Nacional do Álcool), criado em<br />

1975, não tínhamos um programa<br />

que incentivasse de forma<br />

tão intensa e consistente a<br />

mudança da matriz energética<br />

utilizada na mobilidade no país”,<br />

afirma Luiz Augusto Horta Nogueira,<br />

professor de Sistemas<br />

Energéticos da Universidade Federal<br />

de Itajubá (Unifei) e pesquisador<br />

associado do Núcleo<br />

Interdisciplinar de Planejamento<br />

Energético (NIPE) da Unicamp.<br />

“Mas”, frisa ele, “com um importante<br />

diferencial: o Renova-<br />

Bio não implica em renúncia<br />

fiscal e se sustenta sobre as regras<br />

do mercado.”<br />

Para Nogueira, com o Renova-<br />

Bio, o país pode alcançar, em<br />

até dez anos, a neutralidade de<br />

carbono no setor de produção<br />

de energia, depois de já ter conquistado<br />

a transição energética<br />

na área de mobilidade em função<br />

da adoção em larga escala<br />

do etanol. “Seremos neutros em<br />

carbono também na geração de<br />

energia”, comemora. O professor<br />

chama a atenção para o fato<br />

de que o país tem registrado<br />

crescimento de produção de<br />

energia renovável em diversas<br />

matrizes. “E, com o RenovaBio,<br />

temos incentivo à produção de<br />

biocombustíveis e à geração de<br />

energia elétrica a partir de biomassa”,<br />

acrescenta.<br />

Seu otimismo é compartilhado<br />

por Glaucia Mendes Souza,<br />

professora titular do Departamento<br />

de Bioquímica da Universidade<br />

de São Paulo (USP) e<br />

coordenadora do Programa de<br />

Bioenergia (Bioen) da Fundação<br />

de Amparo à Pesquisa do Estado<br />

de São Paulo (Fapesp).<br />

“Temos projeções que indicam<br />

que, muito em breve, com o estímulo<br />

das políticas do Renovabio<br />

poderemos ter quase a totalidade<br />

do consumo residencial<br />

de energia elétrica baseado em<br />

biomassa da cana”, afirma.<br />

A coordenadora do Bioen explica<br />

que, hoje, a geração de<br />

energia elétrica a partir da biomassa<br />

da cana corresponde a<br />

pouco mais de 25% do total do<br />

consumo residencial no país.<br />

Com o RenovaBio, essa produção<br />

de energia baseada na<br />

queima do bagaço de cana, assim<br />

como a produção de etanol,<br />

gera créditos de descarbonização<br />

para as usinas, que são<br />

comercializados na B3 (bolsa<br />

de valores - antiga Bovespa). “É<br />

um importante estímulo para<br />

que, além do bagaço, também<br />

se queime a palha. Se as usinas<br />

passarem a queimar metade da<br />

palha que hoje é deixada no<br />

campo ou utilizada para outros<br />

fins, a energia elétrica renovável<br />

produzida será suficiente para<br />

atender 100% do consumo residencial<br />

no Brasil”, prevê.<br />

O programa de estímulo à produção<br />

de biocombustíveis RenovaBio<br />

foi criado em 2017 (lei<br />

federal 13.576), mas somente<br />

entrou em operação em abril de<br />

2020, quando começaram a<br />

ser comercializados na B3 (bolsa<br />

de valores) os créditos de<br />

descarbonização - também<br />

chamados de CBios. O Renova-<br />

Bio foi concebido com o objetivo<br />

de contribuir para que o<br />

Brasil atinja suas metas de redução<br />

nas emissões de gases<br />

efeito estufa, previstas no Acordo<br />

de Paris, tratado mundial<br />

discutido por mais de 190 países<br />

durante a 21ª Conferência<br />

das Nações Unidas sobre Mudança<br />

do Clima (COP21), ocorrida<br />

em 2015.<br />

O programa prevê que as usinas<br />

produtoras de biocombustíveis<br />

possam emitir os CBios após<br />

passarem por um processo de<br />

certificação auditável, realizado<br />

por empresas certificadoras independentes<br />

que atuam no mercado.<br />

Tanto as empresas certificadoras<br />

quanto as usinas de<br />

etanol biodiesel e bioquerosene<br />

devem atender a exigências previstas<br />

em lei e nas em regulamentações<br />

da Agência Nacional<br />

de Petróleo (ANP).<br />

Cada CBio corresponde a uma<br />

tonelada de CO 2 (um dos gases<br />

do efeito estufa). Empresas dis-<br />

6<br />

<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>


tribuidoras de combustíveis<br />

fósseis têm o compromisso de<br />

comprá-los como forma de mitigar<br />

suas emissões de CO 2 . A<br />

aquisição também é livre para<br />

outras empresas interessadas<br />

em reduzir suas “pegadas de<br />

carbono”.<br />

A contrapartida das usinas de<br />

biocombustíveis foi o compromisso<br />

de emitir CBios equivalentes<br />

a 14 milhões de toneladas<br />

de CO 2 em 2020. Para<br />

<strong>2021</strong>, a meta é de 24 bilhões de<br />

CBios. Os valores serão crescentes<br />

ano a ano até que o patamar<br />

de 90 milhões de toneladas<br />

seja alcançado em 2030.<br />

Há compromissos tanto por<br />

parte das usinas, no aumento<br />

da produção de biocombustíveis<br />

e na emissão de CBios,<br />

quanto por parte das distribuidoras<br />

de combustíveis fósseis<br />

na compra desses títulos. Com<br />

isso, o sistema gera uma previsibilidade<br />

na oferta anual de<br />

biocombustíveis e deve impactar<br />

positivamente nos preços<br />

dos biocombustíveis para o<br />

consumidor.<br />

Plinio Nastari - presidente e CEO<br />

da Datagro, consultoria especializada<br />

em mercados agrícolas<br />

com clientes em 41 países<br />

e representante da sociedade<br />

civil no Conselho Nacional de<br />

Políticas Energéticas entre 2016<br />

e 2020 -, é outro defensor do<br />

RenovaBio. “É uma legislação<br />

bem elaborada, que respeita as<br />

regras de mercado, gera impostos,<br />

induz o aumento da<br />

produtividade e traz metas negociadas<br />

entre as partes”, avalia.<br />

Essas características tendem<br />

a estimular o aumento da<br />

eficiência e a gerar previsibilidade<br />

ao setor de biocombustíveis,<br />

com métricas de equivalência<br />

de emissões de CO 2 reconhecidas<br />

internacionalmente<br />

e com certificações emitidas<br />

por empresas independentes.<br />

“Tudo foi negociado e discutido<br />

abertamente na Câmara e no<br />

Senado. Estamos falando de<br />

uma lei que premia a competência<br />

e a eficiência individual<br />

de cada usina”, ressalta. Segundo<br />

Nastari, quanto maior for<br />

a produtividade de cana por<br />

hectare e quanto mais eficientemente<br />

a empresa produzir<br />

biocombustível e energia, quanto<br />

melhor tratar os dejetos, mais<br />

ela poderá faturar no mercado<br />

de carbono. “Estamos falando<br />

de um estímulo à meritocracia,<br />

à competência, ao desenvolvimento<br />

de novas tecnologias de<br />

produção agrícola, de biocombustíveis<br />

e de preservação do<br />

meio ambiente”.<br />

Um ponto falta a ser definido: a<br />

tributação sobre os CBios. Nastari<br />

explica que a lei previa 15%<br />

de tributação sobre os CBios,<br />

mas o governo tentou aumentar<br />

a alíquota para 34%, a qual não<br />

foi aprovada no Congresso. Resultado:<br />

o Ministério da Economia<br />

ainda não emitiu a regulamentação<br />

tributária sobre os<br />

CBios. “O mercado aguarda essa<br />

regulamentação e a expectativa<br />

é a de que ela seja publicada<br />

a qualquer instante”, diz.<br />

Para que as metas previstas no<br />

RenovaBio sejam alcançadas, a<br />

produção brasileira de biocombustíveis<br />

terá de crescer de forma<br />

expressiva e consistente<br />

nos próximos dez anos. A produção<br />

atual de biodiesel, hoje<br />

próximo dos 4 bilhões de litros/<br />

ano, deve subir para 13 bilhões<br />

de litros/ano nos próximos dez<br />

anos, em especial com a ampliação<br />

do uso de óleo de palma.<br />

Já a produção de etanol<br />

deve sair dos atuais 30 bilhões<br />

de litros e atingir o patamar de<br />

50 bilhões de litros por ano, um<br />

aumento de cerca de 70%.<br />

O aumento da produção de biocombustíveis,<br />

no entanto, não<br />

implicará necessariamente na<br />

expansão da área de plantio.<br />

“Desde o Proálcool o país vem<br />

ganhando eficiência na produção<br />

de cana e de etanol por<br />

hectare. Com o estímulo do RenovaBio,<br />

devem ser mantidos<br />

os aumentos da produtividade<br />

e da eficiência das usinas”,<br />

avalia Heitor Cantarella, engenheiro<br />

agrônomo e diretor do<br />

Instituto Agronômico de Campinas<br />

(IAC - Unicamp).<br />

Cantarella explica que a lavoura<br />

da cana ocupa cerca de 10%<br />

das terras agrícolas do país. E a<br />

produtividade média por hectare<br />

está em torno de 80 toneladas<br />

de cana. Segundo ele, é possível<br />

ampliar ainda mais a produtividade,<br />

com novas práticas de<br />

manejo do solo, novas espécies<br />

de cana e uso de tecnologia.<br />

“Temos algumas áreas que hoje<br />

chegam a produzir mais de 150<br />

toneladas de cana por hectare”,<br />

explica. A troca de caldeiras que<br />

trabalham em regime de baixa<br />

pressão, para regime de alta<br />

pressão, mais eficientes, é uma<br />

outra frente. “Há, ainda, a possibilidade<br />

de uso da palha, que<br />

representa 1/3 da massa energética<br />

da cana. Hoje a palha da<br />

colheita é utilizada para proteção<br />

do solo. E parte dela pode ser<br />

direcionada para produção de<br />

energia elétrica ou de etanol de<br />

segunda geração, obtido a partir<br />

de celulose, sem impactos<br />

maiores à sustentabilidade”.<br />

Outra frente intensa de pesquisas<br />

que estão correndo no país<br />

visa o desenvolvimento de variedades<br />

de cana tolerantes à<br />

seca. “Em médio prazo teremos<br />

de adaptar a agricultura para os<br />

‘climas futuros’ e tecnologias<br />

estão sendo desenvolvidas tanto<br />

do lado da agricultura de precisão<br />

e inteligência artificial no<br />

campo, quanto do lado da biotecnologia”,<br />

diz Glaucia Souza,<br />

da FAPESP/ BIOEN.<br />

O Biofuture Summit é a principal<br />

conferência de debate e troca<br />

de experiências em políticas públicas<br />

promovida pela Plataforma<br />

para o Biofuturo, uma<br />

coalizão inter-governamental<br />

para promoção da bioeconomia<br />

de baixo carbono. Para sua segunda<br />

edição, o Biofuture Summit<br />

juntou-se à conferência<br />

científica Brazilian Bioenergy<br />

Science and Technology<br />

(BBest), para realizar um evento<br />

conjunto trazendo à luz o que há<br />

de mais avançado em políticas,<br />

financiamento, tecnologias, e<br />

ciência relacionadas à bioenergia<br />

e à bioeconomia em suas<br />

diversas formas. Participam do<br />

evento representantes de governos,<br />

órgãos internacionais,<br />

setor empresarial e pesquisadores<br />

de mais de 30 países. A<br />

Biofuture Summit II/<br />

BBEST2020-21 foi totalmente<br />

online e aconteceu entre os dias<br />

24 e 26 de maio.<br />

A Plataforma para o Biofuturo é<br />

uma iniciativa intergovernamental,<br />

da qual participam várias<br />

partes interessadas. Foi projetada<br />

para agir pelas mudanças<br />

climáticas e apoiar os Objetivos<br />

de Desenvolvimento Sustentável,<br />

com uma coordenação internacional<br />

pela promoção da<br />

bioeconomia sustentável de baixo<br />

carbono. Foi lançada em Marrakesh<br />

nas negociações climáticas<br />

da COP 22, em novembro<br />

de 2016. Desde 1º de fevereiro<br />

de 2019, a Agência Internacional<br />

de Energia (IEA) é o Facilitador<br />

(Secretariado) da iniciativa. A<br />

Plataforma para o Biofuturo tem<br />

vinte países membros: Argentina,<br />

Brasil, Canadá, China, Dinamarca,<br />

Egito, Finlândia, França,<br />

Índia, Indonésia, Itália, Marrocos,<br />

Moçambique, Holanda, Paraguai,<br />

Filipinas, Suécia, Reino Unido,<br />

Estados Unidos e Uruguai.<br />

Como uma iniciativa da qual<br />

participam múltiplas partes interessadas,<br />

várias organizações<br />

internacionais, universidades e<br />

associações do setor privado<br />

também estão envolvidas e engajadas<br />

na condição de parceiros<br />

oficiais.<br />

<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong> 7


BIOCOMBUSTÍVEL<br />

Brasil pode exportar<br />

tecnologia para o mundo<br />

O Know-how da produção e a utilização do etanol na indústria automobilística também<br />

foram destaques durante webinar realizado pela Fenasucro & Agrocana TRENDS<br />

Aindústria brasileira possui<br />

todas as condições<br />

para ser a principal exportadora<br />

de tecnologia<br />

para produção de biocombustível<br />

em escala mundial. O<br />

cenário foi foco central do webinar<br />

"Como Potencializar o Uso<br />

de Bioenergia em Nível Global<br />

sem Transformar o Etanol em<br />

Commodity?", promovido pela<br />

Fenasucro & Agrocana Trends<br />

no final de maio. Evento contou<br />

com a participação de representantes<br />

dos governos do Brasil e<br />

da Índia, além de dois dos mais<br />

importantes executivos dos elos<br />

de produção (Raízen) e consumo<br />

(Volkswagen) desta indústria<br />

e inscrição de 1.626<br />

participantes.<br />

Pietro Adamo Sampaio Mendes,<br />

diretor de Biocombustíveis do<br />

Ministério de Minas e Energia,<br />

destacou o programa Combustível<br />

do Futuro, criado pelo Governo<br />

Federal em abril deste<br />

ano, propondo medidas para incrementar<br />

o uso de combustíveis<br />

sustentáveis e de baixa<br />

intensidade de carbono. O etanol,<br />

biodiesel e o biometano<br />

aparecem como protagonistas<br />

deste programa que busca integrar<br />

políticas públicas relacionadas<br />

ao setor automotivo e de<br />

combustíveis. Assim, Mendes<br />

comentou sobre a comoditização<br />

do etanol. "Os veículos flex,<br />

híbridos e a célula de combustível,<br />

todos abastecidos com etanol,<br />

devem ter espaço no futuro<br />

da mobilidade e na redução dos<br />

gases do efeito estufa. Outros<br />

países também podem adotar o<br />

etanol para promover a descarbonização<br />

do setor de transportes,<br />

levando à sua comoditização,<br />

sem fechar o mercado<br />

apenas para uma rota tecnológica",<br />

diz.<br />

O diretor do MME ainda reforçou<br />

que o Brasil tem capacidade de<br />

exportar tecnologia para o mundo.<br />

"Somos o único país que<br />

possui a tecnologia que permite<br />

utilizar a proporção de 27,5% de<br />

etanol na gasolina e podemos<br />

levar isso para outros países.<br />

Temos o Renovabio, que conta<br />

com cerca de 80% da indústria<br />

de etanol credenciada, e estratégias<br />

de cooperações bilaterais<br />

com outras nações como a Índia."<br />

O webinar também contou com<br />

a presença do Embaixador da<br />

Índia no Brasil, Suresh Reddy,<br />

que apontou o potencial dos<br />

dois países para suprir a demanda<br />

por etanol em escala<br />

mundial. "A cooperação entre<br />

Brasil e Índia para a promoção<br />

do biocombustível e do etanol é<br />

muito importante. Para se ter<br />

uma ideia, duas empresas indianas<br />

começaram a atuar neste<br />

setor, em áreas que equivalem<br />

ao território de três ou quatro países<br />

europeus. O mercado na<br />

Índia busca por energia limpa<br />

para proteger o meio ambiente<br />

e a saúde das pessoas e ser<br />

cada vez mais sustentável. A<br />

energia renovável é um tópico<br />

presente em nossos debates e<br />

o etanol entra no cenário com<br />

um papel muito relevante",<br />

aponta o Embaixador.<br />

De acordo com Francis Queen,<br />

vice-presidente de Etanol, Açúcar<br />

e Bioenergia da Raízen, o<br />

setor sucroenergético brasileiro<br />

possui condições plenas de<br />

atender à demanda mundial por<br />

etanol.<br />

"Temos expertise de sobra,<br />

400 usinas e mais de 50 mil<br />

fornecedores de bens e serviços.<br />

O setor tem muito a oferecer<br />

para países que querem<br />

não só o etanol combustível,<br />

mas o destinado a outros fins<br />

como, por exemplo, para produzir<br />

plástico verde, o óleo<br />

para aviação SAF entre outros",<br />

afirma Queen.<br />

Para atender a demanda gerada,<br />

o vice-presidente da Raízen ressalta<br />

que será importante uma<br />

combinação de ações visando<br />

as condições necessárias para<br />

consolidar esse posicionamento<br />

de liderança. "Acreditamos que<br />

a tecnologia vai ajudar de forma<br />

significativa. Atualmente, a Raízen<br />

possui tecnologia de etanol<br />

de segunda geração que tem o<br />

potencial de aumentar a produção<br />

em aproximadamente 50%.<br />

Temos também outros tipos de<br />

biomassa que podem ser utilizadas.<br />

Com o cenário que vemos<br />

pela frente, é fundamental<br />

que tenhamos no mercado empresas<br />

de bens e serviços no<br />

Brasil que estejam estruturadas<br />

e possam atender a demanda<br />

que teremos", comenta.<br />

Já o presidente & CEO da<br />

Volkswagen América Latina,<br />

Pablo Di Si, afirma que o etanol<br />

é o biocombustível com maior<br />

potencial de implementação<br />

rápida em comparação com<br />

outras fontes de energia. "O<br />

etanol, se comparado com a<br />

gasolina, gera 86% menos<br />

emissões. A diferença é brutal.<br />

Você planta a cana e quase<br />

[todo o processo de produção<br />

do etanol] é renovável. E a velocidade<br />

para continuar essa<br />

jornada é super-rápida se comparada<br />

com a implantação de<br />

postos para abastecimento de<br />

carros elétricos. Eu colocaria<br />

essa expansão em etanol/biofuel<br />

porque o etanol funciona<br />

bem no Brasil e funcionará<br />

bem com algum componente<br />

misturado em alguns outros<br />

países, embora a base seja<br />

sempre etanol", observa Di Si.<br />

Diante desse cenário, ele comenta<br />

que a tecnologia brasileira<br />

pode ser exportada facilmente<br />

para outros países por<br />

meio do avanço em pesquisas<br />

que permitam essa produção<br />

em escala. "Temos que pensar<br />

no etanol, na célula de combustível.<br />

Ela pode ser transportada<br />

em contêiner e exportada para a<br />

Europa, para a China. Como<br />

isso se dará, eu não sei. O que<br />

sei é que temos muita gente<br />

competente para fazer pesquisas<br />

de como chegar a isso aqui<br />

mesmo no Brasil, e cito aqui algumas<br />

universidades, o Centro<br />

de Tecnologia Canavieira (CTC)<br />

entre outros. Temos muita gente<br />

inteligente para buscar solução<br />

para isso aqui", conclui.<br />

A Fenasucro & Agrocana (Feira<br />

Internacional da Bioenergia) realizará<br />

a sua 28ª edição entre os<br />

dias 9 e 12 de novembro de<br />

<strong>2021</strong>, no Centro de Eventos Zanini,<br />

em Sertãozinho (SP).<br />

O evento, realizado pelo CEISE<br />

Br e promovido e organizado<br />

pela Reed Exhibitions, é o único<br />

da América Latina a reunir inovações<br />

e conteúdo de alto nível<br />

técnico voltados à toda cadeia<br />

de produção da indústria de<br />

bioenergia, além de profissionais<br />

das indústrias de alimentos<br />

e bebidas, papel e celulose,<br />

transporte e logística e distribuidoras<br />

e comercializadoras de<br />

energia.<br />

8<br />

<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>


CAPACITAÇÃO<br />

Soluções de alta tecnologia<br />

contribuem para o combate<br />

aos insetos na cana<br />

Por Luciano Almeida, engenheiro agrônomo, especialista em gestão empresarial<br />

e supervisor de marketing para cana-de-açúcar e florestas da UPL Brasil<br />

OBrasil concentra a<br />

maior produção de<br />

cana-de-açúcar do<br />

mundo, alcançando<br />

anualmente mais de 752 milhões<br />

de toneladas, estimadas<br />

em cerca de R$ 54 bilhões, de<br />

acordo com dados do Instituto<br />

Brasileiro de Geografia e<br />

Estatística (IBGE). Para melhorar<br />

ainda mais essa produtividade,<br />

é preciso investir em<br />

tecnologias que ajudem a<br />

combater dois dos insetos<br />

que mais preocupam os produtores:<br />

o Sphenophorus e a<br />

cigarrinha das raízes.<br />

O Sphenophorus levis, que<br />

preocupa os paulistas há 50<br />

anos, tem sido altamente prejudicial<br />

para a cultura: há registros<br />

de perdas com Sphenophorus,<br />

que pode causar<br />

até 70% de perdas em toneladas<br />

de cana por hectare<br />

(TCH). Isso acontece porque<br />

a praga, ao se alimentar da<br />

planta, cria galerias e danifica<br />

os colmos da cana, causando<br />

problemas na brotação de soqueiras<br />

e, ainda mais grave, a<br />

morte da planta. Como se não<br />

bastasse, o inseto tem alta incidência<br />

durante o ano inteiro.<br />

Outra praga comum e importante<br />

causadora de prejuízos<br />

aos canaviais é a cigarrinha<br />

da raiz (Mahanarva fimbriolata).<br />

Com tons avermelhados,<br />

é o grupo de insetos que<br />

mais causa danos à plantação,<br />

produzindo feridas no tecido<br />

da raiz ao se alimentar<br />

quando ninfa e destruindo folhas<br />

e colmos com sua toxina<br />

quanto adultos. Tudo isso<br />

pode chegar até a morte da<br />

cultura da cana e sem controle,<br />

há registros de até 80%<br />

de redução em TCH e redução<br />

de até 30% em açúcar total recuperável<br />

(ATR). Seria como<br />

reduzir a produção nacional<br />

de 752 milhões de toneladas<br />

para 150,4 milhões: um prejuízo<br />

de R$ 43,2 bilhões.<br />

Felizmente, a agricultura brasileira<br />

conta com alta tecnologia<br />

de defensivos para conter<br />

esse problema. Entre eles<br />

estão ingredientes ativos como<br />

imidacloprido, que proporciona<br />

maior residual por ser<br />

menos solúvel, além de promover<br />

o vigor e gerar efeito<br />

antiestresse nas plantas. Produtos<br />

com aplicação de jato<br />

com bico tipo leque dirigido<br />

ao sulco de plantio, sobre os<br />

colmos, cobrindo-os logo<br />

após o tratamento, tendem a<br />

ser mais eficientes.<br />

Outra tecnologia de alta performance<br />

para o combate de<br />

insetos em canaviais é a combinação<br />

de acetamiprido com<br />

bifentrina. Esta mistura causa<br />

o melhor efeito de choque da<br />

classe, paralisando de forma<br />

imediata os danos causados<br />

pelas pragas. Testada e comprovada<br />

cientificamente, com<br />

reconhecimento do mercado,<br />

essa solução oferece ainda<br />

amplo espectro de controle e<br />

efeito residual prolongado, garantindo<br />

o sucesso do combate<br />

aos insetos.<br />

O desenvolvimento da tecnologia<br />

agrícola tem sido importante<br />

aliado dos produtores<br />

rurais no combate a pragas<br />

que causam alta redução na<br />

produtividade, na qualidade<br />

dos cultivos e, principalmente,<br />

na ren- tabilidade das lavouras<br />

e no fornecimento de alimento<br />

e energia à sociedade. Investir<br />

em soluções eficazes, como<br />

as destacadas, é um grande<br />

pas-so para garantir o<br />

sucesso sustentável da cana,<br />

historicamente uma das<br />

mais importantes culturas do<br />

país.<br />

10<br />

<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>


BIOMASSA<br />

Cana responde por 19% da<br />

energia consumida no Brasil<br />

A participação do biocombustível no consumo<br />

da frota de veículos leves foi de 43%<br />

Acana-de-açúcar é a<br />

principal fonte de energia<br />

elétrica renovável<br />

do país segundo o Balanço<br />

Energético Nacional (BEN)<br />

<strong>2021</strong>. A publicação da Empresa<br />

de Pesquisa Energética (EPE)<br />

mostra que a biomassa de cana<br />

representa 19,1% da oferta interna<br />

de energia (OIE) ou 39,5%<br />

de toda a energia renovável utilizada<br />

no Brasil.<br />

Isoladamente, a cana-de-açúcar<br />

já posiciona o país como<br />

referência global em energias<br />

limpas, contribuindo para uma<br />

participação acima da média<br />

mundial, de 13,8% de renováveis<br />

na matriz, e dos países<br />

desenvolvidos membros da<br />

Organização para a Cooperação<br />

e Desenvolvimento Econômico<br />

(OCDE), de 11%. Em<br />

2020, 48,4% da energia consumida<br />

no território nacional<br />

teve como origem fontes renováveis.<br />

"A cana-de-açúcar é uma das<br />

culturas agrícolas mais antigas<br />

do Brasil e permanece altamente<br />

estratégica por sua capacidade<br />

de diversificação e de<br />

aproveitamento de resíduos.<br />

Produzimos açúcar, etanol,<br />

bioeletricidade, biogás e, em<br />

breve, biometano, com um<br />

grande potencial inexplorado,<br />

capaz de garantir que o desenvolvimento<br />

socioeconômico<br />

brasileiro seja apoiado em fontes<br />

energéticas de baixo carbono",<br />

destaca Evandro Gussi,<br />

presidente da União da Indústria<br />

de Cana-de-Açúcar (Unica).<br />

As lavouras de cana-de-açúcar<br />

ocupam apenas 1,2% do território<br />

nacional e são localizadas<br />

a mais de 2 mil quilómetros da<br />

Amazônia.<br />

De acordo com o balanço, o<br />

etanol (hidratado e anidro) encerrou<br />

2020 com queda de<br />

12,3% na demanda, em comparação<br />

com 2019, devido às<br />

medidas de restrição de circulação.<br />

A participação do biocombustível<br />

no consumo da<br />

frota de veículos leves foi de<br />

43%. Quando avaliado o ciclo<br />

de vida completo do combustível,<br />

o etanol proporciona uma<br />

redução de até 90% na emissão<br />

de gases causadores do<br />

efeito estufa em relação à gasolina,<br />

além de praticamente<br />

zerar a emissão de poluentes<br />

altamente nocivos, como o<br />

material particulado fino.<br />

<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong> 11


DOIS<br />

PONTOS<br />

Biodiesel<br />

A ministra da Agricultura, Tereza<br />

Cristina, afirmou que a adoção<br />

do mandato B13, que prevê<br />

13% de uso de biodiesel na<br />

mistura do diesel deve ser retomado<br />

no próximo leilão da<br />

Agência Nacional do Petróleo,<br />

Gás Natural e Biocombustíveis<br />

(ANP). "É uma medida pontual.<br />

Acredito que com uma safra<br />

boa, podemos retomar o B15<br />

até o fim do ano", disse. O porcentual<br />

obrigatório da mistura<br />

do biodiesel no óleo diesel foi<br />

reduzido de 13% para 10% para<br />

o 79º Leilão de Biodiesel, realizado<br />

para abastecer o mercado<br />

nos meses de maio e junho.<br />

Gasolina<br />

A Copersucar, uma gigante<br />

global que atua em negócios<br />

de açúcar e etanol, acaba de<br />

atingir um feito histórico. No<br />

dia 24 de maio, suas usinas<br />

sócias atingiram a marca inédita<br />

de 5,2 milhões de CBios<br />

(créditos de descarbonização)<br />

escriturados. Essa<br />

A implantação da rede 5G de telefonia<br />

móvel vai transformar a<br />

forma como lidamos como o<br />

campo, vai significar a utilização<br />

de ferramentas remotas como<br />

sensores, robôs automatizados,<br />

máquinas autônomas, a utilização<br />

da Internet das coisas, irá<br />

trazer respostas de forma instantânea,<br />

tornando tudo mais<br />

ágil, automático e altamente eficiente.<br />

São inúmeros os projetos,<br />

pesquisas, startups, que<br />

estão apostando no agronegócio<br />

para aumentar a produtividade<br />

do campo, mas na maioria<br />

De acordo com a Unica, a sustentabilidade<br />

da cadeia é ampliada<br />

pela utilização dos<br />

subprodutos da produção de<br />

etanol para a geração de energia<br />

elétrica de baixo carbono.<br />

Em 2020, a bioeletricidade<br />

CBios<br />

quantidade coloca a cooperativa<br />

na liderança do Renova-<br />

Bio, respondendo a 15,4%<br />

dos créditos de carbono emitidos<br />

no programa desde<br />

2020. A Copersucar evitou o<br />

lançamento de mais de 5,2<br />

milhões de toneladas de carbono<br />

na atmosfera. Seriam<br />

Rede 5G<br />

dos casos o acesso a redes de<br />

sinais que possibilitam esses<br />

projetos limitam o potencial das<br />

Energia<br />

ofertada para a rede pelo setor<br />

sucroenergético cresceu 1%<br />

em relação a 2019, com um<br />

volume de 22.604 GWh. Desse<br />

total, 83% foram ofertados<br />

entre maio e novembro, período<br />

seco. Tratou-se de uma<br />

necessárias 36,4 milhões de<br />

árvores, crescendo por 20<br />

anos, para alcançar um resultado<br />

semelhante. A cooperativa<br />

reúne 20 grupos<br />

econômicos, donos de 33<br />

usinas de cana espalhadas<br />

por São Paulo, Minas Gerais,<br />

<strong>Paraná</strong> e Goiás.<br />

inovações. Com a rede 5G de<br />

dados móveis, esse limitador<br />

praticamente desaparece.<br />

geração equivalente a ter poupado<br />

15% da água disponível<br />

associada à energia máxima<br />

que pode ser gerada nos reservatórios<br />

das hidrelétricas do<br />

submercado Sudeste/Centro-<br />

Oeste.<br />

Em maio, o preço médio da<br />

gasolina registrou variação<br />

positiva pelo 12º mês seguido.<br />

Depois de uma ligeira<br />

alta de 0,18% em abril, o<br />

valor subiu 1,67% nos postos<br />

de combustíveis do País.<br />

Em média, o litro foi vendido<br />

Entre março de 2003, data de<br />

lançamento da tecnologia flex,<br />

e abril de <strong>2021</strong>, o consumo de<br />

etanol (anidro e hidratado) evitou<br />

a emissão de mais de 566<br />

milhões de toneladas de CO 2<br />

na atmosfera, informou a Unica.<br />

O volume é equivalente às<br />

emissões anuais somadas de<br />

Sustentabilidade<br />

Etanol<br />

a R$ 5,832, sendo que no<br />

mês anterior o preço médio<br />

foi de R$ 5,737. Em um ano,<br />

o preço da gasolina subiu<br />

43,06% no Brasil (em maio<br />

de 2020, o valor médio era<br />

de R$ 4,01), dados da Vale-<br />

Card.<br />

Argentina, Venezuela, Chile,<br />

Colômbia e Uruguai. Atualmente,<br />

86% do etanol comercializado<br />

no país está certificado<br />

no RenovaBio, garantindo<br />

a rastreabilidade e a efetividade<br />

da redução de emissões<br />

e a nulidade do desmatamento<br />

direto e indireto.<br />

A cana-de-açúcar responde por<br />

19,1% de toda a oferta primária<br />

de energia no País, levando em<br />

conta etanol e bioeletricidade, e<br />

39,5% de toda a energia renovável,<br />

segundo o Balanço Energético<br />

Nacional <strong>2021</strong>, publicado<br />

pela Empresa de Pesquisa Energética.<br />

O etanol gera 90% menos<br />

emissões que a gasolina, e<br />

é reconhecido internacionalmente<br />

por não representar risco<br />

às florestas nativas. As lavouras<br />

de cana destinadas à produção<br />

de etanol ocupam apenas 0,8%<br />

do território nacional e estão localizadas<br />

a mais de 2 mil quilômetros<br />

da Amazônia.<br />

12<br />

<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>


Os preços internacionais do<br />

açúcar permanecerão em patamares<br />

elevados neste ano,<br />

apoiados pela recuperação das<br />

cotações do petróleo e por<br />

fundamentos positivos de oferta<br />

e demanda, após terem atingido<br />

os maiores níveis desde<br />

2016/17, disse a agência de<br />

classificação de riscos Fitch<br />

Ratings. A companhia destacou<br />

que, embora seja previsto<br />

um superávit para a safra<br />

Açúcar<br />

Hidrogênio<br />

Índia<br />

<strong>2021</strong>/22 do adoçante, as estimativas<br />

apontam para um déficit<br />

em 2020/21, enquanto a<br />

nova safra brasileira enfrenta<br />

perdas de rendimento após<br />

uma seca afetar as principais<br />

regiões produtoras. O cenário<br />

mais apertado de oferta em<br />

2020/21, agregado às perspectivas<br />

de demanda, é um<br />

dos pilares para os preços elevados<br />

do açúcar nos mercados<br />

internacionais.<br />

As instalações de produção de<br />

hidrogênio “azul” - aquelas que<br />

utilizam combustíveis fósseis<br />

com captura e armazenamento<br />

de carbono - podem deixar de<br />

ser competitivas do ponto de<br />

vista do custo em pouco tempo.<br />

Embora o hidrogênio “azul”<br />

seja, atualmente, mais barato<br />

que o hidrogênio “verde” produzido<br />

a partir de energia renovável,<br />

a situação deve mudar<br />

até 2030. A estimativa é que o<br />

hidrogênio renovável se tornará<br />

mais barato até 2030 em todos<br />

os países avaliados, até mesmo<br />

naqueles com gás barato (como<br />

os EUA) e em países com<br />

energia renovável de alto custo<br />

(como Japão e Coreia do Sul).<br />

O governo da Índia antecipará de 2025 para 2023 a possibilidade<br />

de empresas de combustível venderem gasolina contendo<br />

20% de etanol (E20). É a segunda vez que a o governo<br />

indiano antecipa as vendas do combustível E20, que originalmente<br />

aconteceria apenas em 2030, com o país buscando<br />

cortar os gastos de importação de petróleo e reduzir a poluição<br />

nas cidades. Isso também irá diminuir o excedente de açúcar<br />

para exportação do país em dois a três anos. O país é o<br />

principal concorrente do açúcar brasileiro no mercado global<br />

da commodity, além de ser o maior consumidor do mundo do<br />

adoçante, com 19 quilos per capita. Também é o segundo<br />

maior exportador, atrás do Brasil.<br />

Mudanças climáticas<br />

Diesel verde<br />

A Associação Brasileira das Indústrias<br />

de Óleos Vegetais<br />

aprovou a decisão da Agência<br />

Nacional de Petróleo de estabelecer<br />

a especificação do diesel<br />

verde e as regras de controle<br />

de qualidade do produto. O<br />

texto aprovado define as regras<br />

de qualidade do diesel verde no<br />

mercado nacional e especificações<br />

técnicas e destaca a impossibilidade<br />

de classificá-lo<br />

como biodiesel. Na avaliação<br />

Das seis variedades do portfólio<br />

Bt aprovadas desde<br />

2017, duas já estão no campo,<br />

plantadas em cerca de<br />

150 usinas do país (CTC20Bt<br />

e CTC9001Bt). Outras duas<br />

variedades estão iniciando seu<br />

plantio nas usinas neste ano<br />

(CTC9003Bt e CTC7515Bt).<br />

da entidade, a decisão segue<br />

critérios científicos e internacionais<br />

e coloca o Brasil em condições<br />

de desenvolver mais<br />

essa rota bioenergética, que<br />

"tem potencial de aumentar a<br />

parcela de renováveis na matriz<br />

de combustíveis nacional e de<br />

reduzir a intensidade de carbono<br />

do diesel comercial em<br />

complemento ao B20, o qual<br />

se prevê adoção gradual até<br />

2028".<br />

No campo<br />

As duas mais recentes -<br />

CTC579Bt, aprovada em dezembro,<br />

e a CTC9005Bt -<br />

estão sendo multiplicadas e<br />

deverão entrar em campo em<br />

breve. Com a aprovação da<br />

9005Bt, o CTC passa a ter um<br />

portfólio de variedades transgênicas<br />

resistentes à broca<br />

Cana GM<br />

Uma nova variedade de<br />

cana geneticamente modificada,<br />

criada pelo Centro de<br />

Tecnologia Canavieira, foi<br />

aprovada para comercialização<br />

pela Comissão Técnica<br />

Nacional de Biossegurança.<br />

A CTC9005Bt é a sexta variedade<br />

GM da empresa<br />

desenvolvida para combater<br />

a broca da cana, a mais importante<br />

praga infestando<br />

os canaviais do país. Desde<br />

a primeira aprovação de sua<br />

primeira variedade resistente<br />

à broca, em 2017, o<br />

CTC contribuiu com 12%<br />

das aprovações de plantas<br />

GM no país. Por serem resistentes<br />

à praga, as variedades<br />

Bt evitam as importantes<br />

perdas de produtividade<br />

causadas pelo inseto,<br />

reduzem custos de<br />

produção e trazem ganhos<br />

em sustentabilidade. Anualmente,<br />

a broca provoca prejuízos<br />

estimados em 5 bilhões<br />

de reais aos canaviais<br />

brasileiros.<br />

que cobre todo o território da<br />

cana no país, adaptado às lavouras<br />

dos variados climas e<br />

solos. As variedades atendem<br />

desde solos férteis e regiões<br />

com maior incidência de chuvas<br />

a ambientes restritivos,<br />

além de lavouras de diferentes<br />

ciclos.<br />

A economia global pode perder<br />

quase um quinto da produção<br />

econômica até 2050 se o mundo<br />

não controlar as mudanças climáticas,<br />

mostrou um estudo divulgado<br />

pela resseguradora<br />

Swiss Re Institute. O relatório indica<br />

que, caso nenhuma ação<br />

mitigadora seja tomada e as<br />

temperaturas subam 3,2ºC<br />

(graus Celsius), a produção poderia<br />

ser 18% menor do que em<br />

um mundo sem mudanças climáticas.<br />

Se as metas do Acordo<br />

de Paris forem cumpridas e a<br />

temperatura subir menos de 2°C,<br />

a perda pode ser limitada a 4%,<br />

concluiu o estudo.<br />

<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong> 13

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