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OPINIÃO<br />
Uma transformação radical na<br />
matriz energética global está por vir<br />
Se não se apressar, Brasil perderá chance de tirar milhões da pobreza<br />
Por Décio Oddone (*)<br />
AAIE (Agência Internacional<br />
de Energia) divulgou<br />
um cenário sobre<br />
como chegar a um total<br />
líquido de zero emissões de dióxido<br />
de carbono em 2050, prérequisito<br />
para atingir a meta<br />
estabelecida no Acordo de Paris<br />
de limitar o aquecimento global a<br />
1,5°C acima da temperatura global<br />
média de antes da revolução<br />
industrial.<br />
O relatório define medidas para<br />
transformar a economia global.<br />
Nenhuma nova mina de carvão<br />
seria requerida. A demanda por<br />
petróleo jamais retornaria aos níveis<br />
de 2019 e declinaria para 24<br />
milhões de barris por dia em<br />
2050. O consumo de gás natural<br />
seria 55% menor que em 2020. A<br />
quase totalidade dos carros e caminhões<br />
seria movida por eletricidade<br />
ou célula de combustível.<br />
Não seria preciso explorar novas<br />
jazidas e não haveria necessidade<br />
de novos projetos de óleo e<br />
gás, além dos que já tiveram o<br />
desenvolvimento aprovado. Nem<br />
de novas plantas de liquefação<br />
de gás.<br />
Os combustíveis limpos teriam<br />
um rápido crescimento, mas deixariam<br />
de ser usados em veículos<br />
leves. Seriam empregados<br />
nos transportes pesados, navegação<br />
e aviação.<br />
O crescimento da oferta de biocombustíveis<br />
viria do aproveitamento<br />
de resíduos e materiais<br />
não adequados à produção de<br />
alimentos. Plantas de etanol seriam<br />
adaptadas para capturar<br />
carbono ou usar celulose. A demanda<br />
de eletricidade cresceria<br />
rapidamente, como a geração<br />
por renováveis. A precificação<br />
do carbono seria adotada.<br />
Tudo isso impactaria no preço<br />
do petróleo, que cairia para<br />
cerca de US$ 35 por barril em<br />
2030 e US$ 25 em 2050. Governos<br />
teriam de reduzir ou eliminar<br />
impostos para manter os níveis<br />
de produção. Novos projetos seriam<br />
evitados para não haver reflexos<br />
nos preços. A rápida eletrificação<br />
da frota diminuiria a<br />
demanda por gasolina e diesel.<br />
Com queda de 85% na carga, refinarias<br />
seriam fechadas ou convertidas<br />
para petroquímica ou<br />
produção de biocombustíveis.<br />
Os investimentos em energia<br />
limpa seriam enormes. Além<br />
disso, seria necessário eliminar<br />
emissões e capturar carbono da<br />
atmosfera.<br />
Governos deveriam acelerar o<br />
planejamento do uso de resíduos,<br />
o desenvolvimento de<br />
biocombustíveis líquidos, biogás,<br />
biometano, amônia e hidrocarbonetos<br />
sintéticos que<br />
não emitem CO 2 . Também da<br />
indústria do hidrogênio e da<br />
transformação do setor elétrico,<br />
com o crescimento da<br />
geração hidroelétrica e do uso<br />
de baterias para armazenar a<br />
energia produzida pelas fontes<br />
renováveis e intermitentes.<br />
Plantas de etanol seriam<br />
adaptadas para capturar<br />
carbono ou usar celulose<br />
As dificuldades seriam enormes,<br />
mas surgiriam oportunidades<br />
para crescimento da economia e<br />
criação de empregos. Os países<br />
ricos alcançariam esse objetivo<br />
antes dos em desenvolvimento.<br />
As regiões produtoras de petróleo<br />
e gás enfrentariam desafios.<br />
Os trabalhadores em projetos de<br />
combustíveis fósseis seriam treinados<br />
para desempenhar novas<br />
funções.<br />
Esse cenário surpreendeu o<br />
mundo da energia. E é altamente<br />
improvável. No entanto, como as<br />
posições da AIE são consideradas<br />
na formulação de políticas<br />
energéticas de países e empresas,<br />
tem um simbolismo importante.<br />
As mudanças elencadas nesse<br />
relatório indicam que uma transformação<br />
radical na matriz energética<br />
global está por vir e servem<br />
de mais um alerta. O Brasil<br />
não é o único país com potencial<br />
para produção de petróleo ou<br />
energias renováveis, mas não<br />
consegue aprovar medidas, em<br />
discussão há anos, para aprimorar<br />
o ambiente de negócios.<br />
Nesse novo mundo que se avizinha<br />
as disputas por investimentos<br />
capazes de gerar riqueza,<br />
arrecadação e empregos<br />
serão mais acirradas. Se não se<br />
apressar, o país perderá mais<br />
uma chance de usar os seus recursos<br />
para tirar milhões de pessoas<br />
da pobreza<br />
(*) Décio Oddone, engenheiro,<br />
é diretor-presidente da Enauta<br />
S.A. Publicado originalmente<br />
na Folha de S.Paulo<br />
2<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>
SAFRA <strong>2021</strong>/22<br />
Chuvas trazem alívio<br />
Ritmo mais lento de colheita tem como causa o menor<br />
desenvolvimento dos canaviais por conta da estiagem<br />
Oretorno das chuvas<br />
nas últimas semanas<br />
foi bem vindo pelos<br />
canaviais e trouxe alívio<br />
aos produtores de cana-deaçúcar<br />
em toda região produtora<br />
no <strong>Paraná</strong>. Devido às<br />
suas características, a cultura<br />
tem uma alta capacidade de<br />
resposta e tende a recuperar<br />
parte de seu potencial produtivo<br />
desde que as chuvas continuem,<br />
associadas a temperaturas<br />
mais altas e tempo de<br />
luminosidade maior, afirma o<br />
presidente da Alcopar, Miguel<br />
Tranin.<br />
O que preocupa, ressalta, é<br />
que, a partir de julho, a tendência<br />
no Estado é de clima mais<br />
seco e frio, característico no<br />
período, com o agravante de<br />
os modelos climáticos sinalizam<br />
este ano chuvas abaixo da<br />
normalidade, devido a configuração<br />
do fenômeno climático<br />
La Niña.<br />
Tranin comenta que o início da<br />
safra foi em ritmo bastante<br />
acelerado. Na segunda quinzena<br />
de março e na primeira de<br />
abril, o volume de cana esmagado<br />
superou os números registrados<br />
nos períodos equivalentes<br />
nos últimos anos e o<br />
indicativo é de que seria uma<br />
safra rápida, entretanto, na segunda<br />
quinzena de abril e na<br />
primeira e segunda quinzenas<br />
de maio, a moagem de canade-açúcar<br />
na região produtora<br />
do <strong>Paraná</strong> foi cerca de 10%<br />
menor, em média, do que nas<br />
duas últimas safras, considerando<br />
o mesmo período.<br />
O ritmo mais lento da moagem<br />
se justifica por conta do menor<br />
desenvolvimento dos canaviais<br />
devido às recorrentes estiagens<br />
nesta safra. As indústrias<br />
diminuíram o ritmo de colheita<br />
para evitar colher cana fora do<br />
seu estágio ideal de desenvolvimento.<br />
Na última quinzena,<br />
além deste fator, a retomada da<br />
chuva deu uma segurada no<br />
ritmo de colheita.<br />
A moagem de cana realizada<br />
pelas unidades produtoras no<br />
Estado, no acumulado da safra<br />
<strong>2021</strong>/22, foi de 8,857 milhões<br />
de toneladas, uma redução de<br />
1% comparando com as 8,945<br />
milhões de toneladas de cana<br />
esmagadas no mesmo período<br />
do ano safra 2020/21. A produção<br />
de açúcar totalizou<br />
643,6 mil toneladas e a de etanol<br />
314,910 milhões de litros<br />
sendo 124,581 milhões de litros<br />
de anidro e 190,329 milhões<br />
de litros de hidratado.<br />
No contraponto ao baixo rendimento<br />
agrícola, o desenvolvimento<br />
industrial tem sido muito<br />
bom. A quantidade de Açúcares<br />
Totais Recuperáveis<br />
(ATR) por tonelada de cana,<br />
também no acumulado da safra<br />
<strong>2021</strong>/22 ficou 4,6% acima<br />
do valor observado na safra<br />
2020/21, totalizando 137,13<br />
kg de ATR/t de cana, contra<br />
131,08 kg ATR observados na<br />
safra passada.<br />
Devido aos repetidos períodos<br />
de estiagem que danificaram<br />
os canaviais afetando a cultura<br />
no principal período de crescimento<br />
da cana na região Centro-Sul<br />
do país para a safra<br />
<strong>2021</strong>/22, o que reduziu o potencial<br />
produtivo, o presidente<br />
da Alcopar disse que a entidade<br />
já pensa em rever a estimativa<br />
de safra de 34,8 milhões<br />
de toneladas de cana<br />
para algo em torno de 30 a 31<br />
milhões de toneladas, cerca de<br />
10% ou mais de quebra da<br />
safra no <strong>Paraná</strong>, reduzindo a<br />
produção de açúcar e etanol<br />
na mesma proporção.<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong> 3
2º DIA DE CAMPO<br />
UDT Cana <strong>Paraná</strong> trouxe<br />
avanços e inovações<br />
Evento foi totalmente on line, com as empresas parceiras mostrando novos<br />
tratamentos e protocolos de defensivos, fertilizantes e variedades<br />
AUnidade de Difusão<br />
Tecnológica – UDT<br />
Cana <strong>Paraná</strong>, área<br />
agrícola de pesquisa<br />
e extensão em cana-de-açúcar,<br />
apresentou seu 2º Dia de<br />
Campo, que nesta edição foi<br />
realizado no formato online,<br />
por conta da pandemia provocada<br />
pelo novo coronavírus. A<br />
UDT Cana <strong>Paraná</strong>, está localizada<br />
na estrada Cristo Rei s/n,<br />
em Paranavaí, no noroeste do<br />
Estado.<br />
A área é uma vitrine regional de<br />
difusão tecnológica de conhecimento<br />
e inovação no manejo<br />
da cultura da cana-de-açúcar,<br />
contendo aproximadamente<br />
12,5 hectares de ensaios instalados.<br />
O objetivo é desenvolver<br />
pesquisas, testar e validar<br />
novas tecnologias, além de<br />
promover a difusão entre os<br />
profissionais das usinas e destilarias<br />
do <strong>Paraná</strong>. São conduzidos<br />
também ensaios em<br />
parcelas demonstrativas de<br />
empresas parceiras, mostrando<br />
novos tratamentos e protocolos<br />
de defensivos, fertilizantes<br />
e variedades.<br />
O projeto é do ITAM, Instituto<br />
de Tecnologia Agropecuária de<br />
Maringá, ligado a UEM, é desenvolvido<br />
em parceria com<br />
Alcopar e conta com o apoio<br />
de empresas como a Syngenta,<br />
Bayer, UPL, FMC, CTC,<br />
IAC, Froya Chemical Solutions,<br />
Evento foi totalmente online e todos os cuidados de distânciamento foram mantidos durante as gravações<br />
4<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>
LAM Agroscience, Ubyfol,<br />
Ihara, Fertbras, Euroforte,<br />
Follyfertil, Celleron e Sanovita.<br />
A unidade era coordenada pelo<br />
professor doutor Anderson<br />
Gualberto, do departamento de<br />
Agronomia da Universidade<br />
Estadual de Maringá (UEM),<br />
falecido no ano passado por<br />
complicações da Covid-19.<br />
Em 2020, após a instalação de<br />
todos os campos de demonstração<br />
das empresas parceiras<br />
da UDT Cana <strong>Paraná</strong>, a pandemia<br />
alterou toda a rotina de trabalho,<br />
impossibilitando a realização<br />
do segundo dia de<br />
campo presencial. Por isso,<br />
este ano, a equipe organizadora<br />
do evento optou pela<br />
forma virtual para levar as informações<br />
que estavam disponíveis<br />
nos diversos campos<br />
demonstrativos que foram implantados<br />
em 2020.<br />
possibilidade de controle biológico,<br />
principalmente de nematoide,<br />
e para a reconstrução<br />
da parte biológica dos solos<br />
degradados e com baixo potencial<br />
produtivo.<br />
Todas as tecnologias apresentadas<br />
no 2º dia de Campo da<br />
UDT- Cana <strong>Paraná</strong> estão disponíveis<br />
em plataforma online<br />
versátil (udt.cana.com.br) que<br />
permite o amplo acesso aos<br />
conteúdos.<br />
O trabalho na UDT Cana <strong>Paraná</strong><br />
teve início em setembro<br />
de 2018 e o primeiro dia de<br />
campo na unidade foi em novembro<br />
de 2019.<br />
No evento, por meio da parceria<br />
com empresas comprometidas<br />
com o desenvolvimento<br />
sustentável da cana-de-açúcar,<br />
foi possível conhecer as novidades<br />
que as maiores empresas<br />
do setor de cana-deaçúcar<br />
têm para o manejo da<br />
cultura. Cada um dos parceiros<br />
preparou um conteúdo dinâmico<br />
e repleto de dados<br />
específico para a região, mostrando<br />
os avanços e inovações<br />
aplicados em todas as<br />
etapas de desenvolvimento da<br />
cultura.<br />
Com a participação dos parceiros<br />
CTC e IAC, foram apresentadas<br />
as variedades de<br />
cana-de-açúcar, com destaque<br />
para os materiais indicados<br />
para os ambientes restritos do<br />
arenito. Foram mostrados novos<br />
conceitos na área de nutrição<br />
da cana-de-açúcar, com<br />
emprego de fertilizantes foliares<br />
em diferentes épocas e<br />
com objetivos bastante específicos,<br />
além de avanços no<br />
controle de pragas, doenças e<br />
plantas daninhas, com diferentes<br />
princípios ativos e diferentes<br />
dinâmicas de controle. Foi<br />
dado destaque ainda para a<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong> 5
UM ANO<br />
RenovaBio, umas das<br />
políticas ambientais mais<br />
consistentes do Brasil<br />
Programa tem potencial para estimular que a energia elétrica produzida a<br />
partir da biomassa da cana atenda a 100% do consumo residencial no país<br />
ORenovaBio, programa<br />
de estímulo à produção<br />
de biocombustíveis,<br />
completou em<br />
abril um ano de operação e já<br />
desponta como uma das políticas<br />
ambientais mais promissoras<br />
do país, com potencial para<br />
aumentar em cerca de 50% a<br />
produção de álcool combustível<br />
no Brasil e ainda gerar 100% de<br />
toda energia elétrica doméstica<br />
consumida no mercado nacional<br />
a partir da biomassa da cana.<br />
“Desde o Proálcool (Programa<br />
Nacional do Álcool), criado em<br />
1975, não tínhamos um programa<br />
que incentivasse de forma<br />
tão intensa e consistente a<br />
mudança da matriz energética<br />
utilizada na mobilidade no país”,<br />
afirma Luiz Augusto Horta Nogueira,<br />
professor de Sistemas<br />
Energéticos da Universidade Federal<br />
de Itajubá (Unifei) e pesquisador<br />
associado do Núcleo<br />
Interdisciplinar de Planejamento<br />
Energético (NIPE) da Unicamp.<br />
“Mas”, frisa ele, “com um importante<br />
diferencial: o Renova-<br />
Bio não implica em renúncia<br />
fiscal e se sustenta sobre as regras<br />
do mercado.”<br />
Para Nogueira, com o Renova-<br />
Bio, o país pode alcançar, em<br />
até dez anos, a neutralidade de<br />
carbono no setor de produção<br />
de energia, depois de já ter conquistado<br />
a transição energética<br />
na área de mobilidade em função<br />
da adoção em larga escala<br />
do etanol. “Seremos neutros em<br />
carbono também na geração de<br />
energia”, comemora. O professor<br />
chama a atenção para o fato<br />
de que o país tem registrado<br />
crescimento de produção de<br />
energia renovável em diversas<br />
matrizes. “E, com o RenovaBio,<br />
temos incentivo à produção de<br />
biocombustíveis e à geração de<br />
energia elétrica a partir de biomassa”,<br />
acrescenta.<br />
Seu otimismo é compartilhado<br />
por Glaucia Mendes Souza,<br />
professora titular do Departamento<br />
de Bioquímica da Universidade<br />
de São Paulo (USP) e<br />
coordenadora do Programa de<br />
Bioenergia (Bioen) da Fundação<br />
de Amparo à Pesquisa do Estado<br />
de São Paulo (Fapesp).<br />
“Temos projeções que indicam<br />
que, muito em breve, com o estímulo<br />
das políticas do Renovabio<br />
poderemos ter quase a totalidade<br />
do consumo residencial<br />
de energia elétrica baseado em<br />
biomassa da cana”, afirma.<br />
A coordenadora do Bioen explica<br />
que, hoje, a geração de<br />
energia elétrica a partir da biomassa<br />
da cana corresponde a<br />
pouco mais de 25% do total do<br />
consumo residencial no país.<br />
Com o RenovaBio, essa produção<br />
de energia baseada na<br />
queima do bagaço de cana, assim<br />
como a produção de etanol,<br />
gera créditos de descarbonização<br />
para as usinas, que são<br />
comercializados na B3 (bolsa<br />
de valores - antiga Bovespa). “É<br />
um importante estímulo para<br />
que, além do bagaço, também<br />
se queime a palha. Se as usinas<br />
passarem a queimar metade da<br />
palha que hoje é deixada no<br />
campo ou utilizada para outros<br />
fins, a energia elétrica renovável<br />
produzida será suficiente para<br />
atender 100% do consumo residencial<br />
no Brasil”, prevê.<br />
O programa de estímulo à produção<br />
de biocombustíveis RenovaBio<br />
foi criado em 2017 (lei<br />
federal 13.576), mas somente<br />
entrou em operação em abril de<br />
2020, quando começaram a<br />
ser comercializados na B3 (bolsa<br />
de valores) os créditos de<br />
descarbonização - também<br />
chamados de CBios. O Renova-<br />
Bio foi concebido com o objetivo<br />
de contribuir para que o<br />
Brasil atinja suas metas de redução<br />
nas emissões de gases<br />
efeito estufa, previstas no Acordo<br />
de Paris, tratado mundial<br />
discutido por mais de 190 países<br />
durante a 21ª Conferência<br />
das Nações Unidas sobre Mudança<br />
do Clima (COP21), ocorrida<br />
em 2015.<br />
O programa prevê que as usinas<br />
produtoras de biocombustíveis<br />
possam emitir os CBios após<br />
passarem por um processo de<br />
certificação auditável, realizado<br />
por empresas certificadoras independentes<br />
que atuam no mercado.<br />
Tanto as empresas certificadoras<br />
quanto as usinas de<br />
etanol biodiesel e bioquerosene<br />
devem atender a exigências previstas<br />
em lei e nas em regulamentações<br />
da Agência Nacional<br />
de Petróleo (ANP).<br />
Cada CBio corresponde a uma<br />
tonelada de CO 2 (um dos gases<br />
do efeito estufa). Empresas dis-<br />
6<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>
tribuidoras de combustíveis<br />
fósseis têm o compromisso de<br />
comprá-los como forma de mitigar<br />
suas emissões de CO 2 . A<br />
aquisição também é livre para<br />
outras empresas interessadas<br />
em reduzir suas “pegadas de<br />
carbono”.<br />
A contrapartida das usinas de<br />
biocombustíveis foi o compromisso<br />
de emitir CBios equivalentes<br />
a 14 milhões de toneladas<br />
de CO 2 em 2020. Para<br />
<strong>2021</strong>, a meta é de 24 bilhões de<br />
CBios. Os valores serão crescentes<br />
ano a ano até que o patamar<br />
de 90 milhões de toneladas<br />
seja alcançado em 2030.<br />
Há compromissos tanto por<br />
parte das usinas, no aumento<br />
da produção de biocombustíveis<br />
e na emissão de CBios,<br />
quanto por parte das distribuidoras<br />
de combustíveis fósseis<br />
na compra desses títulos. Com<br />
isso, o sistema gera uma previsibilidade<br />
na oferta anual de<br />
biocombustíveis e deve impactar<br />
positivamente nos preços<br />
dos biocombustíveis para o<br />
consumidor.<br />
Plinio Nastari - presidente e CEO<br />
da Datagro, consultoria especializada<br />
em mercados agrícolas<br />
com clientes em 41 países<br />
e representante da sociedade<br />
civil no Conselho Nacional de<br />
Políticas Energéticas entre 2016<br />
e 2020 -, é outro defensor do<br />
RenovaBio. “É uma legislação<br />
bem elaborada, que respeita as<br />
regras de mercado, gera impostos,<br />
induz o aumento da<br />
produtividade e traz metas negociadas<br />
entre as partes”, avalia.<br />
Essas características tendem<br />
a estimular o aumento da<br />
eficiência e a gerar previsibilidade<br />
ao setor de biocombustíveis,<br />
com métricas de equivalência<br />
de emissões de CO 2 reconhecidas<br />
internacionalmente<br />
e com certificações emitidas<br />
por empresas independentes.<br />
“Tudo foi negociado e discutido<br />
abertamente na Câmara e no<br />
Senado. Estamos falando de<br />
uma lei que premia a competência<br />
e a eficiência individual<br />
de cada usina”, ressalta. Segundo<br />
Nastari, quanto maior for<br />
a produtividade de cana por<br />
hectare e quanto mais eficientemente<br />
a empresa produzir<br />
biocombustível e energia, quanto<br />
melhor tratar os dejetos, mais<br />
ela poderá faturar no mercado<br />
de carbono. “Estamos falando<br />
de um estímulo à meritocracia,<br />
à competência, ao desenvolvimento<br />
de novas tecnologias de<br />
produção agrícola, de biocombustíveis<br />
e de preservação do<br />
meio ambiente”.<br />
Um ponto falta a ser definido: a<br />
tributação sobre os CBios. Nastari<br />
explica que a lei previa 15%<br />
de tributação sobre os CBios,<br />
mas o governo tentou aumentar<br />
a alíquota para 34%, a qual não<br />
foi aprovada no Congresso. Resultado:<br />
o Ministério da Economia<br />
ainda não emitiu a regulamentação<br />
tributária sobre os<br />
CBios. “O mercado aguarda essa<br />
regulamentação e a expectativa<br />
é a de que ela seja publicada<br />
a qualquer instante”, diz.<br />
Para que as metas previstas no<br />
RenovaBio sejam alcançadas, a<br />
produção brasileira de biocombustíveis<br />
terá de crescer de forma<br />
expressiva e consistente<br />
nos próximos dez anos. A produção<br />
atual de biodiesel, hoje<br />
próximo dos 4 bilhões de litros/<br />
ano, deve subir para 13 bilhões<br />
de litros/ano nos próximos dez<br />
anos, em especial com a ampliação<br />
do uso de óleo de palma.<br />
Já a produção de etanol<br />
deve sair dos atuais 30 bilhões<br />
de litros e atingir o patamar de<br />
50 bilhões de litros por ano, um<br />
aumento de cerca de 70%.<br />
O aumento da produção de biocombustíveis,<br />
no entanto, não<br />
implicará necessariamente na<br />
expansão da área de plantio.<br />
“Desde o Proálcool o país vem<br />
ganhando eficiência na produção<br />
de cana e de etanol por<br />
hectare. Com o estímulo do RenovaBio,<br />
devem ser mantidos<br />
os aumentos da produtividade<br />
e da eficiência das usinas”,<br />
avalia Heitor Cantarella, engenheiro<br />
agrônomo e diretor do<br />
Instituto Agronômico de Campinas<br />
(IAC - Unicamp).<br />
Cantarella explica que a lavoura<br />
da cana ocupa cerca de 10%<br />
das terras agrícolas do país. E a<br />
produtividade média por hectare<br />
está em torno de 80 toneladas<br />
de cana. Segundo ele, é possível<br />
ampliar ainda mais a produtividade,<br />
com novas práticas de<br />
manejo do solo, novas espécies<br />
de cana e uso de tecnologia.<br />
“Temos algumas áreas que hoje<br />
chegam a produzir mais de 150<br />
toneladas de cana por hectare”,<br />
explica. A troca de caldeiras que<br />
trabalham em regime de baixa<br />
pressão, para regime de alta<br />
pressão, mais eficientes, é uma<br />
outra frente. “Há, ainda, a possibilidade<br />
de uso da palha, que<br />
representa 1/3 da massa energética<br />
da cana. Hoje a palha da<br />
colheita é utilizada para proteção<br />
do solo. E parte dela pode ser<br />
direcionada para produção de<br />
energia elétrica ou de etanol de<br />
segunda geração, obtido a partir<br />
de celulose, sem impactos<br />
maiores à sustentabilidade”.<br />
Outra frente intensa de pesquisas<br />
que estão correndo no país<br />
visa o desenvolvimento de variedades<br />
de cana tolerantes à<br />
seca. “Em médio prazo teremos<br />
de adaptar a agricultura para os<br />
‘climas futuros’ e tecnologias<br />
estão sendo desenvolvidas tanto<br />
do lado da agricultura de precisão<br />
e inteligência artificial no<br />
campo, quanto do lado da biotecnologia”,<br />
diz Glaucia Souza,<br />
da FAPESP/ BIOEN.<br />
O Biofuture Summit é a principal<br />
conferência de debate e troca<br />
de experiências em políticas públicas<br />
promovida pela Plataforma<br />
para o Biofuturo, uma<br />
coalizão inter-governamental<br />
para promoção da bioeconomia<br />
de baixo carbono. Para sua segunda<br />
edição, o Biofuture Summit<br />
juntou-se à conferência<br />
científica Brazilian Bioenergy<br />
Science and Technology<br />
(BBest), para realizar um evento<br />
conjunto trazendo à luz o que há<br />
de mais avançado em políticas,<br />
financiamento, tecnologias, e<br />
ciência relacionadas à bioenergia<br />
e à bioeconomia em suas<br />
diversas formas. Participam do<br />
evento representantes de governos,<br />
órgãos internacionais,<br />
setor empresarial e pesquisadores<br />
de mais de 30 países. A<br />
Biofuture Summit II/<br />
BBEST2020-21 foi totalmente<br />
online e aconteceu entre os dias<br />
24 e 26 de maio.<br />
A Plataforma para o Biofuturo é<br />
uma iniciativa intergovernamental,<br />
da qual participam várias<br />
partes interessadas. Foi projetada<br />
para agir pelas mudanças<br />
climáticas e apoiar os Objetivos<br />
de Desenvolvimento Sustentável,<br />
com uma coordenação internacional<br />
pela promoção da<br />
bioeconomia sustentável de baixo<br />
carbono. Foi lançada em Marrakesh<br />
nas negociações climáticas<br />
da COP 22, em novembro<br />
de 2016. Desde 1º de fevereiro<br />
de 2019, a Agência Internacional<br />
de Energia (IEA) é o Facilitador<br />
(Secretariado) da iniciativa. A<br />
Plataforma para o Biofuturo tem<br />
vinte países membros: Argentina,<br />
Brasil, Canadá, China, Dinamarca,<br />
Egito, Finlândia, França,<br />
Índia, Indonésia, Itália, Marrocos,<br />
Moçambique, Holanda, Paraguai,<br />
Filipinas, Suécia, Reino Unido,<br />
Estados Unidos e Uruguai.<br />
Como uma iniciativa da qual<br />
participam múltiplas partes interessadas,<br />
várias organizações<br />
internacionais, universidades e<br />
associações do setor privado<br />
também estão envolvidas e engajadas<br />
na condição de parceiros<br />
oficiais.<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong> 7
BIOCOMBUSTÍVEL<br />
Brasil pode exportar<br />
tecnologia para o mundo<br />
O Know-how da produção e a utilização do etanol na indústria automobilística também<br />
foram destaques durante webinar realizado pela Fenasucro & Agrocana TRENDS<br />
Aindústria brasileira possui<br />
todas as condições<br />
para ser a principal exportadora<br />
de tecnologia<br />
para produção de biocombustível<br />
em escala mundial. O<br />
cenário foi foco central do webinar<br />
"Como Potencializar o Uso<br />
de Bioenergia em Nível Global<br />
sem Transformar o Etanol em<br />
Commodity?", promovido pela<br />
Fenasucro & Agrocana Trends<br />
no final de maio. Evento contou<br />
com a participação de representantes<br />
dos governos do Brasil e<br />
da Índia, além de dois dos mais<br />
importantes executivos dos elos<br />
de produção (Raízen) e consumo<br />
(Volkswagen) desta indústria<br />
e inscrição de 1.626<br />
participantes.<br />
Pietro Adamo Sampaio Mendes,<br />
diretor de Biocombustíveis do<br />
Ministério de Minas e Energia,<br />
destacou o programa Combustível<br />
do Futuro, criado pelo Governo<br />
Federal em abril deste<br />
ano, propondo medidas para incrementar<br />
o uso de combustíveis<br />
sustentáveis e de baixa<br />
intensidade de carbono. O etanol,<br />
biodiesel e o biometano<br />
aparecem como protagonistas<br />
deste programa que busca integrar<br />
políticas públicas relacionadas<br />
ao setor automotivo e de<br />
combustíveis. Assim, Mendes<br />
comentou sobre a comoditização<br />
do etanol. "Os veículos flex,<br />
híbridos e a célula de combustível,<br />
todos abastecidos com etanol,<br />
devem ter espaço no futuro<br />
da mobilidade e na redução dos<br />
gases do efeito estufa. Outros<br />
países também podem adotar o<br />
etanol para promover a descarbonização<br />
do setor de transportes,<br />
levando à sua comoditização,<br />
sem fechar o mercado<br />
apenas para uma rota tecnológica",<br />
diz.<br />
O diretor do MME ainda reforçou<br />
que o Brasil tem capacidade de<br />
exportar tecnologia para o mundo.<br />
"Somos o único país que<br />
possui a tecnologia que permite<br />
utilizar a proporção de 27,5% de<br />
etanol na gasolina e podemos<br />
levar isso para outros países.<br />
Temos o Renovabio, que conta<br />
com cerca de 80% da indústria<br />
de etanol credenciada, e estratégias<br />
de cooperações bilaterais<br />
com outras nações como a Índia."<br />
O webinar também contou com<br />
a presença do Embaixador da<br />
Índia no Brasil, Suresh Reddy,<br />
que apontou o potencial dos<br />
dois países para suprir a demanda<br />
por etanol em escala<br />
mundial. "A cooperação entre<br />
Brasil e Índia para a promoção<br />
do biocombustível e do etanol é<br />
muito importante. Para se ter<br />
uma ideia, duas empresas indianas<br />
começaram a atuar neste<br />
setor, em áreas que equivalem<br />
ao território de três ou quatro países<br />
europeus. O mercado na<br />
Índia busca por energia limpa<br />
para proteger o meio ambiente<br />
e a saúde das pessoas e ser<br />
cada vez mais sustentável. A<br />
energia renovável é um tópico<br />
presente em nossos debates e<br />
o etanol entra no cenário com<br />
um papel muito relevante",<br />
aponta o Embaixador.<br />
De acordo com Francis Queen,<br />
vice-presidente de Etanol, Açúcar<br />
e Bioenergia da Raízen, o<br />
setor sucroenergético brasileiro<br />
possui condições plenas de<br />
atender à demanda mundial por<br />
etanol.<br />
"Temos expertise de sobra,<br />
400 usinas e mais de 50 mil<br />
fornecedores de bens e serviços.<br />
O setor tem muito a oferecer<br />
para países que querem<br />
não só o etanol combustível,<br />
mas o destinado a outros fins<br />
como, por exemplo, para produzir<br />
plástico verde, o óleo<br />
para aviação SAF entre outros",<br />
afirma Queen.<br />
Para atender a demanda gerada,<br />
o vice-presidente da Raízen ressalta<br />
que será importante uma<br />
combinação de ações visando<br />
as condições necessárias para<br />
consolidar esse posicionamento<br />
de liderança. "Acreditamos que<br />
a tecnologia vai ajudar de forma<br />
significativa. Atualmente, a Raízen<br />
possui tecnologia de etanol<br />
de segunda geração que tem o<br />
potencial de aumentar a produção<br />
em aproximadamente 50%.<br />
Temos também outros tipos de<br />
biomassa que podem ser utilizadas.<br />
Com o cenário que vemos<br />
pela frente, é fundamental<br />
que tenhamos no mercado empresas<br />
de bens e serviços no<br />
Brasil que estejam estruturadas<br />
e possam atender a demanda<br />
que teremos", comenta.<br />
Já o presidente & CEO da<br />
Volkswagen América Latina,<br />
Pablo Di Si, afirma que o etanol<br />
é o biocombustível com maior<br />
potencial de implementação<br />
rápida em comparação com<br />
outras fontes de energia. "O<br />
etanol, se comparado com a<br />
gasolina, gera 86% menos<br />
emissões. A diferença é brutal.<br />
Você planta a cana e quase<br />
[todo o processo de produção<br />
do etanol] é renovável. E a velocidade<br />
para continuar essa<br />
jornada é super-rápida se comparada<br />
com a implantação de<br />
postos para abastecimento de<br />
carros elétricos. Eu colocaria<br />
essa expansão em etanol/biofuel<br />
porque o etanol funciona<br />
bem no Brasil e funcionará<br />
bem com algum componente<br />
misturado em alguns outros<br />
países, embora a base seja<br />
sempre etanol", observa Di Si.<br />
Diante desse cenário, ele comenta<br />
que a tecnologia brasileira<br />
pode ser exportada facilmente<br />
para outros países por<br />
meio do avanço em pesquisas<br />
que permitam essa produção<br />
em escala. "Temos que pensar<br />
no etanol, na célula de combustível.<br />
Ela pode ser transportada<br />
em contêiner e exportada para a<br />
Europa, para a China. Como<br />
isso se dará, eu não sei. O que<br />
sei é que temos muita gente<br />
competente para fazer pesquisas<br />
de como chegar a isso aqui<br />
mesmo no Brasil, e cito aqui algumas<br />
universidades, o Centro<br />
de Tecnologia Canavieira (CTC)<br />
entre outros. Temos muita gente<br />
inteligente para buscar solução<br />
para isso aqui", conclui.<br />
A Fenasucro & Agrocana (Feira<br />
Internacional da Bioenergia) realizará<br />
a sua 28ª edição entre os<br />
dias 9 e 12 de novembro de<br />
<strong>2021</strong>, no Centro de Eventos Zanini,<br />
em Sertãozinho (SP).<br />
O evento, realizado pelo CEISE<br />
Br e promovido e organizado<br />
pela Reed Exhibitions, é o único<br />
da América Latina a reunir inovações<br />
e conteúdo de alto nível<br />
técnico voltados à toda cadeia<br />
de produção da indústria de<br />
bioenergia, além de profissionais<br />
das indústrias de alimentos<br />
e bebidas, papel e celulose,<br />
transporte e logística e distribuidoras<br />
e comercializadoras de<br />
energia.<br />
8<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>
CAPACITAÇÃO<br />
Soluções de alta tecnologia<br />
contribuem para o combate<br />
aos insetos na cana<br />
Por Luciano Almeida, engenheiro agrônomo, especialista em gestão empresarial<br />
e supervisor de marketing para cana-de-açúcar e florestas da UPL Brasil<br />
OBrasil concentra a<br />
maior produção de<br />
cana-de-açúcar do<br />
mundo, alcançando<br />
anualmente mais de 752 milhões<br />
de toneladas, estimadas<br />
em cerca de R$ 54 bilhões, de<br />
acordo com dados do Instituto<br />
Brasileiro de Geografia e<br />
Estatística (IBGE). Para melhorar<br />
ainda mais essa produtividade,<br />
é preciso investir em<br />
tecnologias que ajudem a<br />
combater dois dos insetos<br />
que mais preocupam os produtores:<br />
o Sphenophorus e a<br />
cigarrinha das raízes.<br />
O Sphenophorus levis, que<br />
preocupa os paulistas há 50<br />
anos, tem sido altamente prejudicial<br />
para a cultura: há registros<br />
de perdas com Sphenophorus,<br />
que pode causar<br />
até 70% de perdas em toneladas<br />
de cana por hectare<br />
(TCH). Isso acontece porque<br />
a praga, ao se alimentar da<br />
planta, cria galerias e danifica<br />
os colmos da cana, causando<br />
problemas na brotação de soqueiras<br />
e, ainda mais grave, a<br />
morte da planta. Como se não<br />
bastasse, o inseto tem alta incidência<br />
durante o ano inteiro.<br />
Outra praga comum e importante<br />
causadora de prejuízos<br />
aos canaviais é a cigarrinha<br />
da raiz (Mahanarva fimbriolata).<br />
Com tons avermelhados,<br />
é o grupo de insetos que<br />
mais causa danos à plantação,<br />
produzindo feridas no tecido<br />
da raiz ao se alimentar<br />
quando ninfa e destruindo folhas<br />
e colmos com sua toxina<br />
quanto adultos. Tudo isso<br />
pode chegar até a morte da<br />
cultura da cana e sem controle,<br />
há registros de até 80%<br />
de redução em TCH e redução<br />
de até 30% em açúcar total recuperável<br />
(ATR). Seria como<br />
reduzir a produção nacional<br />
de 752 milhões de toneladas<br />
para 150,4 milhões: um prejuízo<br />
de R$ 43,2 bilhões.<br />
Felizmente, a agricultura brasileira<br />
conta com alta tecnologia<br />
de defensivos para conter<br />
esse problema. Entre eles<br />
estão ingredientes ativos como<br />
imidacloprido, que proporciona<br />
maior residual por ser<br />
menos solúvel, além de promover<br />
o vigor e gerar efeito<br />
antiestresse nas plantas. Produtos<br />
com aplicação de jato<br />
com bico tipo leque dirigido<br />
ao sulco de plantio, sobre os<br />
colmos, cobrindo-os logo<br />
após o tratamento, tendem a<br />
ser mais eficientes.<br />
Outra tecnologia de alta performance<br />
para o combate de<br />
insetos em canaviais é a combinação<br />
de acetamiprido com<br />
bifentrina. Esta mistura causa<br />
o melhor efeito de choque da<br />
classe, paralisando de forma<br />
imediata os danos causados<br />
pelas pragas. Testada e comprovada<br />
cientificamente, com<br />
reconhecimento do mercado,<br />
essa solução oferece ainda<br />
amplo espectro de controle e<br />
efeito residual prolongado, garantindo<br />
o sucesso do combate<br />
aos insetos.<br />
O desenvolvimento da tecnologia<br />
agrícola tem sido importante<br />
aliado dos produtores<br />
rurais no combate a pragas<br />
que causam alta redução na<br />
produtividade, na qualidade<br />
dos cultivos e, principalmente,<br />
na ren- tabilidade das lavouras<br />
e no fornecimento de alimento<br />
e energia à sociedade. Investir<br />
em soluções eficazes, como<br />
as destacadas, é um grande<br />
pas-so para garantir o<br />
sucesso sustentável da cana,<br />
historicamente uma das<br />
mais importantes culturas do<br />
país.<br />
10<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>
BIOMASSA<br />
Cana responde por 19% da<br />
energia consumida no Brasil<br />
A participação do biocombustível no consumo<br />
da frota de veículos leves foi de 43%<br />
Acana-de-açúcar é a<br />
principal fonte de energia<br />
elétrica renovável<br />
do país segundo o Balanço<br />
Energético Nacional (BEN)<br />
<strong>2021</strong>. A publicação da Empresa<br />
de Pesquisa Energética (EPE)<br />
mostra que a biomassa de cana<br />
representa 19,1% da oferta interna<br />
de energia (OIE) ou 39,5%<br />
de toda a energia renovável utilizada<br />
no Brasil.<br />
Isoladamente, a cana-de-açúcar<br />
já posiciona o país como<br />
referência global em energias<br />
limpas, contribuindo para uma<br />
participação acima da média<br />
mundial, de 13,8% de renováveis<br />
na matriz, e dos países<br />
desenvolvidos membros da<br />
Organização para a Cooperação<br />
e Desenvolvimento Econômico<br />
(OCDE), de 11%. Em<br />
2020, 48,4% da energia consumida<br />
no território nacional<br />
teve como origem fontes renováveis.<br />
"A cana-de-açúcar é uma das<br />
culturas agrícolas mais antigas<br />
do Brasil e permanece altamente<br />
estratégica por sua capacidade<br />
de diversificação e de<br />
aproveitamento de resíduos.<br />
Produzimos açúcar, etanol,<br />
bioeletricidade, biogás e, em<br />
breve, biometano, com um<br />
grande potencial inexplorado,<br />
capaz de garantir que o desenvolvimento<br />
socioeconômico<br />
brasileiro seja apoiado em fontes<br />
energéticas de baixo carbono",<br />
destaca Evandro Gussi,<br />
presidente da União da Indústria<br />
de Cana-de-Açúcar (Unica).<br />
As lavouras de cana-de-açúcar<br />
ocupam apenas 1,2% do território<br />
nacional e são localizadas<br />
a mais de 2 mil quilómetros da<br />
Amazônia.<br />
De acordo com o balanço, o<br />
etanol (hidratado e anidro) encerrou<br />
2020 com queda de<br />
12,3% na demanda, em comparação<br />
com 2019, devido às<br />
medidas de restrição de circulação.<br />
A participação do biocombustível<br />
no consumo da<br />
frota de veículos leves foi de<br />
43%. Quando avaliado o ciclo<br />
de vida completo do combustível,<br />
o etanol proporciona uma<br />
redução de até 90% na emissão<br />
de gases causadores do<br />
efeito estufa em relação à gasolina,<br />
além de praticamente<br />
zerar a emissão de poluentes<br />
altamente nocivos, como o<br />
material particulado fino.<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong> 11
DOIS<br />
PONTOS<br />
Biodiesel<br />
A ministra da Agricultura, Tereza<br />
Cristina, afirmou que a adoção<br />
do mandato B13, que prevê<br />
13% de uso de biodiesel na<br />
mistura do diesel deve ser retomado<br />
no próximo leilão da<br />
Agência Nacional do Petróleo,<br />
Gás Natural e Biocombustíveis<br />
(ANP). "É uma medida pontual.<br />
Acredito que com uma safra<br />
boa, podemos retomar o B15<br />
até o fim do ano", disse. O porcentual<br />
obrigatório da mistura<br />
do biodiesel no óleo diesel foi<br />
reduzido de 13% para 10% para<br />
o 79º Leilão de Biodiesel, realizado<br />
para abastecer o mercado<br />
nos meses de maio e junho.<br />
Gasolina<br />
A Copersucar, uma gigante<br />
global que atua em negócios<br />
de açúcar e etanol, acaba de<br />
atingir um feito histórico. No<br />
dia 24 de maio, suas usinas<br />
sócias atingiram a marca inédita<br />
de 5,2 milhões de CBios<br />
(créditos de descarbonização)<br />
escriturados. Essa<br />
A implantação da rede 5G de telefonia<br />
móvel vai transformar a<br />
forma como lidamos como o<br />
campo, vai significar a utilização<br />
de ferramentas remotas como<br />
sensores, robôs automatizados,<br />
máquinas autônomas, a utilização<br />
da Internet das coisas, irá<br />
trazer respostas de forma instantânea,<br />
tornando tudo mais<br />
ágil, automático e altamente eficiente.<br />
São inúmeros os projetos,<br />
pesquisas, startups, que<br />
estão apostando no agronegócio<br />
para aumentar a produtividade<br />
do campo, mas na maioria<br />
De acordo com a Unica, a sustentabilidade<br />
da cadeia é ampliada<br />
pela utilização dos<br />
subprodutos da produção de<br />
etanol para a geração de energia<br />
elétrica de baixo carbono.<br />
Em 2020, a bioeletricidade<br />
CBios<br />
quantidade coloca a cooperativa<br />
na liderança do Renova-<br />
Bio, respondendo a 15,4%<br />
dos créditos de carbono emitidos<br />
no programa desde<br />
2020. A Copersucar evitou o<br />
lançamento de mais de 5,2<br />
milhões de toneladas de carbono<br />
na atmosfera. Seriam<br />
Rede 5G<br />
dos casos o acesso a redes de<br />
sinais que possibilitam esses<br />
projetos limitam o potencial das<br />
Energia<br />
ofertada para a rede pelo setor<br />
sucroenergético cresceu 1%<br />
em relação a 2019, com um<br />
volume de 22.604 GWh. Desse<br />
total, 83% foram ofertados<br />
entre maio e novembro, período<br />
seco. Tratou-se de uma<br />
necessárias 36,4 milhões de<br />
árvores, crescendo por 20<br />
anos, para alcançar um resultado<br />
semelhante. A cooperativa<br />
reúne 20 grupos<br />
econômicos, donos de 33<br />
usinas de cana espalhadas<br />
por São Paulo, Minas Gerais,<br />
<strong>Paraná</strong> e Goiás.<br />
inovações. Com a rede 5G de<br />
dados móveis, esse limitador<br />
praticamente desaparece.<br />
geração equivalente a ter poupado<br />
15% da água disponível<br />
associada à energia máxima<br />
que pode ser gerada nos reservatórios<br />
das hidrelétricas do<br />
submercado Sudeste/Centro-<br />
Oeste.<br />
Em maio, o preço médio da<br />
gasolina registrou variação<br />
positiva pelo 12º mês seguido.<br />
Depois de uma ligeira<br />
alta de 0,18% em abril, o<br />
valor subiu 1,67% nos postos<br />
de combustíveis do País.<br />
Em média, o litro foi vendido<br />
Entre março de 2003, data de<br />
lançamento da tecnologia flex,<br />
e abril de <strong>2021</strong>, o consumo de<br />
etanol (anidro e hidratado) evitou<br />
a emissão de mais de 566<br />
milhões de toneladas de CO 2<br />
na atmosfera, informou a Unica.<br />
O volume é equivalente às<br />
emissões anuais somadas de<br />
Sustentabilidade<br />
Etanol<br />
a R$ 5,832, sendo que no<br />
mês anterior o preço médio<br />
foi de R$ 5,737. Em um ano,<br />
o preço da gasolina subiu<br />
43,06% no Brasil (em maio<br />
de 2020, o valor médio era<br />
de R$ 4,01), dados da Vale-<br />
Card.<br />
Argentina, Venezuela, Chile,<br />
Colômbia e Uruguai. Atualmente,<br />
86% do etanol comercializado<br />
no país está certificado<br />
no RenovaBio, garantindo<br />
a rastreabilidade e a efetividade<br />
da redução de emissões<br />
e a nulidade do desmatamento<br />
direto e indireto.<br />
A cana-de-açúcar responde por<br />
19,1% de toda a oferta primária<br />
de energia no País, levando em<br />
conta etanol e bioeletricidade, e<br />
39,5% de toda a energia renovável,<br />
segundo o Balanço Energético<br />
Nacional <strong>2021</strong>, publicado<br />
pela Empresa de Pesquisa Energética.<br />
O etanol gera 90% menos<br />
emissões que a gasolina, e<br />
é reconhecido internacionalmente<br />
por não representar risco<br />
às florestas nativas. As lavouras<br />
de cana destinadas à produção<br />
de etanol ocupam apenas 0,8%<br />
do território nacional e estão localizadas<br />
a mais de 2 mil quilômetros<br />
da Amazônia.<br />
12<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>
Os preços internacionais do<br />
açúcar permanecerão em patamares<br />
elevados neste ano,<br />
apoiados pela recuperação das<br />
cotações do petróleo e por<br />
fundamentos positivos de oferta<br />
e demanda, após terem atingido<br />
os maiores níveis desde<br />
2016/17, disse a agência de<br />
classificação de riscos Fitch<br />
Ratings. A companhia destacou<br />
que, embora seja previsto<br />
um superávit para a safra<br />
Açúcar<br />
Hidrogênio<br />
Índia<br />
<strong>2021</strong>/22 do adoçante, as estimativas<br />
apontam para um déficit<br />
em 2020/21, enquanto a<br />
nova safra brasileira enfrenta<br />
perdas de rendimento após<br />
uma seca afetar as principais<br />
regiões produtoras. O cenário<br />
mais apertado de oferta em<br />
2020/21, agregado às perspectivas<br />
de demanda, é um<br />
dos pilares para os preços elevados<br />
do açúcar nos mercados<br />
internacionais.<br />
As instalações de produção de<br />
hidrogênio “azul” - aquelas que<br />
utilizam combustíveis fósseis<br />
com captura e armazenamento<br />
de carbono - podem deixar de<br />
ser competitivas do ponto de<br />
vista do custo em pouco tempo.<br />
Embora o hidrogênio “azul”<br />
seja, atualmente, mais barato<br />
que o hidrogênio “verde” produzido<br />
a partir de energia renovável,<br />
a situação deve mudar<br />
até 2030. A estimativa é que o<br />
hidrogênio renovável se tornará<br />
mais barato até 2030 em todos<br />
os países avaliados, até mesmo<br />
naqueles com gás barato (como<br />
os EUA) e em países com<br />
energia renovável de alto custo<br />
(como Japão e Coreia do Sul).<br />
O governo da Índia antecipará de 2025 para 2023 a possibilidade<br />
de empresas de combustível venderem gasolina contendo<br />
20% de etanol (E20). É a segunda vez que a o governo<br />
indiano antecipa as vendas do combustível E20, que originalmente<br />
aconteceria apenas em 2030, com o país buscando<br />
cortar os gastos de importação de petróleo e reduzir a poluição<br />
nas cidades. Isso também irá diminuir o excedente de açúcar<br />
para exportação do país em dois a três anos. O país é o<br />
principal concorrente do açúcar brasileiro no mercado global<br />
da commodity, além de ser o maior consumidor do mundo do<br />
adoçante, com 19 quilos per capita. Também é o segundo<br />
maior exportador, atrás do Brasil.<br />
Mudanças climáticas<br />
Diesel verde<br />
A Associação Brasileira das Indústrias<br />
de Óleos Vegetais<br />
aprovou a decisão da Agência<br />
Nacional de Petróleo de estabelecer<br />
a especificação do diesel<br />
verde e as regras de controle<br />
de qualidade do produto. O<br />
texto aprovado define as regras<br />
de qualidade do diesel verde no<br />
mercado nacional e especificações<br />
técnicas e destaca a impossibilidade<br />
de classificá-lo<br />
como biodiesel. Na avaliação<br />
Das seis variedades do portfólio<br />
Bt aprovadas desde<br />
2017, duas já estão no campo,<br />
plantadas em cerca de<br />
150 usinas do país (CTC20Bt<br />
e CTC9001Bt). Outras duas<br />
variedades estão iniciando seu<br />
plantio nas usinas neste ano<br />
(CTC9003Bt e CTC7515Bt).<br />
da entidade, a decisão segue<br />
critérios científicos e internacionais<br />
e coloca o Brasil em condições<br />
de desenvolver mais<br />
essa rota bioenergética, que<br />
"tem potencial de aumentar a<br />
parcela de renováveis na matriz<br />
de combustíveis nacional e de<br />
reduzir a intensidade de carbono<br />
do diesel comercial em<br />
complemento ao B20, o qual<br />
se prevê adoção gradual até<br />
2028".<br />
No campo<br />
As duas mais recentes -<br />
CTC579Bt, aprovada em dezembro,<br />
e a CTC9005Bt -<br />
estão sendo multiplicadas e<br />
deverão entrar em campo em<br />
breve. Com a aprovação da<br />
9005Bt, o CTC passa a ter um<br />
portfólio de variedades transgênicas<br />
resistentes à broca<br />
Cana GM<br />
Uma nova variedade de<br />
cana geneticamente modificada,<br />
criada pelo Centro de<br />
Tecnologia Canavieira, foi<br />
aprovada para comercialização<br />
pela Comissão Técnica<br />
Nacional de Biossegurança.<br />
A CTC9005Bt é a sexta variedade<br />
GM da empresa<br />
desenvolvida para combater<br />
a broca da cana, a mais importante<br />
praga infestando<br />
os canaviais do país. Desde<br />
a primeira aprovação de sua<br />
primeira variedade resistente<br />
à broca, em 2017, o<br />
CTC contribuiu com 12%<br />
das aprovações de plantas<br />
GM no país. Por serem resistentes<br />
à praga, as variedades<br />
Bt evitam as importantes<br />
perdas de produtividade<br />
causadas pelo inseto,<br />
reduzem custos de<br />
produção e trazem ganhos<br />
em sustentabilidade. Anualmente,<br />
a broca provoca prejuízos<br />
estimados em 5 bilhões<br />
de reais aos canaviais<br />
brasileiros.<br />
que cobre todo o território da<br />
cana no país, adaptado às lavouras<br />
dos variados climas e<br />
solos. As variedades atendem<br />
desde solos férteis e regiões<br />
com maior incidência de chuvas<br />
a ambientes restritivos,<br />
além de lavouras de diferentes<br />
ciclos.<br />
A economia global pode perder<br />
quase um quinto da produção<br />
econômica até 2050 se o mundo<br />
não controlar as mudanças climáticas,<br />
mostrou um estudo divulgado<br />
pela resseguradora<br />
Swiss Re Institute. O relatório indica<br />
que, caso nenhuma ação<br />
mitigadora seja tomada e as<br />
temperaturas subam 3,2ºC<br />
(graus Celsius), a produção poderia<br />
ser 18% menor do que em<br />
um mundo sem mudanças climáticas.<br />
Se as metas do Acordo<br />
de Paris forem cumpridas e a<br />
temperatura subir menos de 2°C,<br />
a perda pode ser limitada a 4%,<br />
concluiu o estudo.<br />
<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong> 13