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Revista VOi 186

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histórias<br />

Do outro lado do mundo<br />

O<br />

primeira coisa que se vê logo na chegada é<br />

o estacionamento imenso, um espaço com<br />

facilmente mais de 1000 vagas, bem iluminado<br />

e dividido em seções por letras. Por<br />

lá transitam alguns funcionários, encarregados<br />

de orientar quem chega ao lugar. Eles vestem roupas<br />

pretas: casaco, calças, boné e botas. O que os identifica<br />

como funcionários do local são as faixas em amarelo<br />

neon no casaco. Isso permite que sejam vistos no escuro.<br />

“O estacionamento A é mais barato se você pretende<br />

ficar mais de 2h (horas)”, explica um deles a um casal que<br />

perguntava sobre o funcionamento.<br />

O aeroporto Afonso Pena fica em São José dos Pinhais,<br />

na região metropolitana de Curitiba (PR), e foi inaugurado<br />

em 1945 pelo Ministério da Aeronáutica. Atualmente,<br />

ocupa 112.176 m² (metros quadrados), um espaço<br />

amplo no qual, de acordo com o site da Infraero, cerca de<br />

15 milhões de passageiros circulam todos os anos.<br />

Em dezenas de voos diários, o aeroporto nunca fica<br />

vazio, e diversas histórias acontecem simultaneamente.<br />

Encontros, partidas, reencontros. A primeira impressão<br />

é de que o local não está cheio, apesar das várias vagas<br />

ocupadas no estacionamento; talvez pelo espaço ser<br />

muito grande. As pessoas ali parecem muito ocupadas,<br />

cada uma no seu canto. Algumas se informam com os<br />

seguranças, outras comem nos restaurantes, outras apenas<br />

caminham.<br />

Em 2019, o Afonso Pena passou por uma obra de ampliação<br />

e restauração, além da instalação de novas áreas<br />

de comércio. Dona Irene não ia ao aeroporto há muito<br />

tempo. “Faz oito anos que vim pela última vez. Se não<br />

estivesse acompanhada, com certeza<br />

teria me perdido”, conta a senhora.<br />

Junto com ela estavam o filho,<br />

a ex-nora e dois netos: Vinícius e<br />

Nathália Nakamura. A neta mais<br />

velha era o motivo de todos estarem<br />

ali: ela estava se mudando para<br />

o Japão em busca de trabalho.<br />

Nathália se casou aos 19 anos<br />

com o namorado e, até então, trabalhava<br />

em uma perfumaria, mas o salário e a carga horária<br />

extensa a cumprir não lhe permitiam fazer faculdade. Um<br />

dos sonhos de Nathália é cursar Psicologia, pretendendo<br />

começar o curso quando voltar ao Brasil, daqui a alguns<br />

anos. “Quero garantir os estudos do meu irmão também,<br />

comprar uma casa para mim e ter uma vida mais estável”,<br />

relata ela enquanto espera o horário de embarcar.<br />

Atualmente, cerca de 1,4 milhão de pessoas que moram<br />

no Japão são estrangeiras e, dentre eles, os brasileiros<br />

representam o quarto maior grupo de imigrantes, com 125<br />

mil pessoas, atrás apenas da China, Vietnã e Filipinas.<br />

Quando são 20h50, ela anuncia, triste, que precisa<br />

entrar no avião. Se vira para o pai e o abraça, e os dois<br />

começam a chorar e se despedem. Em seguida, abraça<br />

a mãe, também emocionada com a partida da filha.<br />

Nathália vai se despedindo de todos, tirando fotos com<br />

cada um, e finalmente, se vira para o marido, Lucas, que<br />

também vai se mudar para o Japão, mas, por conta da<br />

documentação, precisa esperar cerca de três meses até<br />

tudo estar certo.<br />

Eles ficam abraçados um bom tempo, dizendo um ao<br />

outro coisas inaudíveis aos que estavam ao redor, e então,<br />

se separam. Ela vai em direção ao irmão, pega a mala que<br />

ele cuidava, dá um último aceno para todos, com lágrimas<br />

nos olhos, e se vira em direção à porta de embarque. Seus<br />

familiares a olham partir, tristes, mas ao mesmo tempo<br />

orgulhosos da menina corajosa, que estava prestes a atravessar<br />

o mundo em busca de seus sonhos.<br />

Foto: divulgação<br />

Por Ana Cláudia Iamaciro<br />

*Texto escrito antes da pandemia da covid-19<br />

44<br />

JUNHO 2021<br />

revistavoi.com.br

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