Gestão Hospitalar N.º 28 2022
Editorial #seis anos e muitos obrigados História Saúde O professor Francisco Gentil e a criação do Hospital de Santa Maria 40 Anos APAH Testemunho de quatro décadas de trabalho associativo 40 Anos APAH | Cerimónia comemorativa APAH comemorou 40 anos sob o lema "olhar a história, construir o futuro" História APAH Terceira década da APAH: afirmação no patamar europeu e reformas cá dentro Projeto Social Agradecer é mesmo preciso! Voz do Cidadão A.N.D.A.R. a chegar mais longe… Regime Jurídico dos Hospitais do SNS Subsídios para análise do Decreto Lei n.º 18 2017: a seleção dos dirigentes Transformação Digital Cibersegurança: reflexões sobre o Sistema Nacional de Saúde Espaço ENSP Gestão e avaliação de fontes de informação Opinião Os hospitais do futuro no presente Comunicação em Saúde HFF: a sua saúde, a nossa missão Inovação Financiamento de terapias celulares em Portugal Iniciativa APAH | Prémio Healthcare Excellence: Menção Honrosa Prevenção de quedas nos cuidados de saúde primários Inteligência artificial Agentes virtuais de conversação: aplicabilidade na prestação De cuidados de saúde Direito Biomédico Impacto dos modelos organizacionais na melhoria dos cuidados de saúde: o contributo do mestrado de cuidados continuados e paliativos da FMUC Auditoria Contributo estratégico da auditoria interna para o desempenho organizacional Gestão A transição digital da saúde ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência Evento Oftalgest: um projeto à dimensão da oftalmologia Iniciativa APAH | Bolsa Capital Humano Um novo processo para repensar a gestão das pessoas em saúde Iniciativa APAH | Caminho dos hospitais Caminho dos Hospitais um roteiro de inclusão para as questões da atualidade Iniciativa APAH | Congresso IHF Lisboa Lisboa acolhe o 46º Congresso Mundial dos Hospitais em 2023 Informação Empresarial Prevenção, diagnóstico e tratamento: Fujifilm apresenta "one stop solution" Informação Empresarial Nippon Gases: criando um melhor futuro através dos gases Informação Empresarial Os principais beneficiários do avanço da sequenciação genética são os pacientes
Editorial #seis anos e muitos obrigados
História Saúde O professor Francisco Gentil e a criação do Hospital de Santa Maria
40 Anos APAH Testemunho de quatro décadas de trabalho associativo
40 Anos APAH | Cerimónia comemorativa APAH comemorou 40 anos sob o lema "olhar a história, construir o futuro"
História APAH Terceira década da APAH: afirmação no patamar europeu e reformas cá dentro
Projeto Social Agradecer é mesmo preciso!
Voz do Cidadão A.N.D.A.R. a chegar mais longe…
Regime Jurídico dos Hospitais do SNS Subsídios para análise do Decreto Lei n.º 18 2017: a seleção dos dirigentes
Transformação Digital Cibersegurança: reflexões sobre o Sistema Nacional de Saúde
Espaço ENSP Gestão e avaliação de fontes de informação
Opinião Os hospitais do futuro no presente
Comunicação em Saúde HFF: a sua saúde, a nossa missão
Inovação Financiamento de terapias celulares em Portugal
Iniciativa APAH | Prémio Healthcare Excellence: Menção Honrosa
Prevenção de quedas nos cuidados de saúde primários
Inteligência artificial Agentes virtuais de conversação: aplicabilidade na prestação De cuidados de saúde
Direito Biomédico Impacto dos modelos organizacionais na melhoria dos cuidados de saúde: o contributo do mestrado de cuidados continuados e paliativos da FMUC
Auditoria Contributo estratégico da auditoria interna para o desempenho organizacional
Gestão A transição digital da saúde ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência
Evento Oftalgest: um projeto à dimensão da oftalmologia
Iniciativa APAH | Bolsa Capital Humano Um novo processo para repensar a gestão das pessoas em saúde
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Informação Empresarial Prevenção, diagnóstico e tratamento: Fujifilm apresenta "one stop solution"
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Informação Empresarial Os principais beneficiários do avanço da sequenciação genética são os pacientes
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GH HISTÓRIA DA SAÚDE
O PROFESSOR FRANCISCO GENTIL
E A CRIAÇÃO DO HOSPITAL
DE SANTA MARIA
Jorge Varanda
Presidente da APAH (1988-1992), Sócio de Mérito da APAH
Há vinte anos fui administrador delegado
do IPO de Lisboa e pude ainda ouvir
uma memória ou outra deixadas na instituição
pelo seu fundador, o Professor
Francisco Gentil. A sua liderança indiscutível
e a sua exigência em favor do doente (“Se este doente
não veio recomendado por ninguém, é recomendado
por mim que sou o Directorˮ), acompanhada da preocupação
pela higiene e pela qualidade dos médicos que
chegavam à instituição, remetendo-os à origem pelo eléctrico/Estrada
de Benfica se não lhe merecessem confiança.
Recordo ainda um rolo próprio para o envio de plantas,
existente num armário da Direcção do IPO e que havia
sido remetido pelo Arquitecto Hermann Distel, com
um selo do tempo da Alemanha nazi.
Nessa passagem pelo IPO ainda pude falar com as responsáveis
da célebre escola de enfermagem que o Professor
Gentil tomou a iniciativa de fundar, ligada ao IPO,
a mais avançada, à época, em todo o País. Foi aí que me
ofereceram o texto de uma conferência proferida pelo
Dr. Mário Neves, antigo administrador no IPO, ao tempo
do seu fundador e primeiro embaixador de Portugal
em Moscovo, a seguir ao 25 de Abril. Contava o orador
um pequeno segredo para mim, o da relação especial de
Francisco Gentil com Salazar, e que explica como é que
um republicano pôde ter um papel interventivo do maior
relevo num regime autoritário. Somou-se assim ao Professor
Bissaya Barreto, constituinte da I República e grande
amigo de Salazar.
Salazar fracturou uma perna quando era Ministro das Finanças
no ano de 1929. Terá consultado um médico em
Coimbra que lhe terá dito que iria ficar com um pro-
blema no andar. Por isso, foi pedir uma segunda opinião
ao Professor Francisco Gentil, o qual lhe garantiu que o
operaria e que ficaria a andar normalmente. Meu dito,
meu feito: operou-o e recuperou-o integralmente. A partir
daí, passou a ter a maior consideração e protecção do
Chefe do Governo. Na Torre do Tombo há mesmo um
acervo de cartas trocadas pelos dois. Um colega meu, o
Dr. António Queirós, cujo pai fez parte de uma equipa
governativa do Ministério da Educação no tempo de Salazar,
confirmou-me que os respectivos titulares tinham
instruções para acederem a todas as pretensões do Professor
Francisco Gentil. Lembre-se que o IPO dependia
na época do Ministério da Educação.
Essa relação especial com Oliveira Salazar é confirmada
pelo neto, Dr. António Gentil Martins, num texto publicado
no News da Faculdade de Medicina da Universidade
de Lisboa, de Fevereiro de 2009: “Francisco Gentil conheceu
Salazar quando o tratou de uma fratura do fémur,
admirando a sua serenidade e coragem no período mais
cruel da sua doença, o que se transformou em sólido
respeito e amizade, apesar de ser um republicano. Desde
então travaram longas conversas e uma confiança que
lhes permitiu falar sobre o futuro da Saúde em Portugal.
Foi do berço dessas conversas que nasceu a ideia de se
criarem dois centros hospitalares universitários - São João
e Santa Maria - e finalmente concretizar a Maternidade
Alfredo da Costa. Foi numa missão oficial que o avô e
Professor Gentil viajou para conhecer o que se fazia de
melhor pela Europa quanto a hospitais. Chegado a Portugal,
e depois de acordado tudo com Oliveira Salazar, reuniu
com o arquiteto alemão Hermann Distel em 1938,
sendo que a construção do Hospital de Santa Maria se
iniciava em 1940. Foi ainda Distel que contribuiu igualmente
para o grande pavilhão Hospitalar do IPO.ˮ
Nestas palavras estão alguns elementos chave para a história
da concepção e construção do Hospital de Santa Maria:
• A procura de informações actualizadas na Europa;
• O papel do arquitecto alemão Hermann Diestel;
• A integração do pavilhão central do IPO de Lisboa
no programa de construção dos Hospitais escolares de
Lisboa e do Porto. Com este pavilhão, o Professor Francisco
Gentil concluiu um caminho profissional traçado
desde 1912. Um dos pontos altos desse caminho foi o
da criação do Instituto Português para o Estudo do Cancro,
pelo então Ministro da Instrução Pública, o escritor
António Sérgio. Atentemos, a tal propósito, no processo
celeríssimo da criação do Instituto em 1923, assente na
amizade de António Sérgio e Francisco Gentil. António
Sérgio tomou posse como Ministro da Instrução Pública
a 18 de Dezembro de 1923 e ocupou o lugar até 28 de
Fevereiro de 1924 (72 dias). Onze dias depois da sua tomada
de posse é publicado o Decreto nº 9333 que cria o
referido Instituto, com sede provisória no Hospital Escolar
de Santa Marta, o mesmo Hospital onde o Professor
Gentil dera início em 1912 a uma Consulta de doentes
cancerosos. Só uma ligação muito forte a António Sérgio
e uma convicção e vontade muito conscientes e determinadas
permite compreender a celeridade da criação
do Instituto.
Significativas são também as funções atribuídas pelo Ministro
António Sérgio ao novo Instituto: “organizar a luta
contra o cancro em Portugal; manter e desenvolver um
centro regional de luta contra o cancro em Lisboa, bem
como promover e auxiliar a criação de outros centros regionais;
praticar o estudo do cancro, promover pesquisas
científicas, fazer publicações, organizando uma biblioteca
especial; divulgar os conhecimentos e preceitos úteis ao
público, através de propaganda eficaz contra o perigo do
cancro; melhorar as condições de trabalho e de estudo
do pessoal científico e técnico; fundar laboratórios de investigação
científica e adquirir o material necessário ao
estudo e tratamento do cancro.ˮ
A carreira académica do Professor Gentil pode ter sido
também um factor de aproximação a Salazar, colocando-
“
O FORMATO DO HOSPITAL DE SANTA MARIA
PLASMOU-SE EM DOIS BLOCOS DE ONZE
ANDARES (DOIS SUBTERRÂNEOS)
EM FORMATO DE H
”
-o ao mesmo nível do catedrático da Faculdade de Direito
de Coimbra, sendo que em 1911 é promovido a
lente proprietário de Medicina Operatória da Universidade
de Lisboa e que em 1915 lhe é atribuída a cátedra de
Patologia Cirúrgica, que ocuparia até à sua jubilação em
1948, ano em que inaugura, a 28 de Maio, o novo Pavilhão
Hospitalar do Instituto em Lisboa, da autoria de Diestel,
concretizando assim um grande sonho. Englobado
na Universidade de Lisboa, o Instituto gozaria de plena
autonomia, administrativa e científica.
Significativa é ainda a autorização do Governo para continuar
à frente do Instituto até ao seu falecimento, após
a sua jubilação, tendo recebido uma autorização especial
para que permanecesse à frente do Instituto até ao seu
falecimento, em 13 de Outubro de 1964.
Esta relação única com Salazar explica ainda o papel desempenhado
pelo Professor Francisco Gentil na efectivação
de um sonho antigo dos mestres da Faculdade de }
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