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HEEADSSS e a importância da sua realização pelo médico de família:
a propósito de um caso clínico
Diana Neves Correia 1 , Sílvia Gomes 1 , Gonçalo Magalhães 1
1 - USF Infante D. Henrique – ACES Dão Lafões | Coordenador: Dr. Jorge Campos
Enquadramento: A adolescência é um período de múltiplas mudanças físicas e psicológicas.
Na consulta com o(a) adolescente, os aspetos psicossociais apresentam elevada importância,
permitindo conhecê-lo e identificando fatores de risco. A aplicação do questionário HEEADSSS
possibilita, através do diálogo com o adolescente, a realização da revisão dos sistemas e a
abordagem dos desafios enfrentados por esta faixa etária.
Descrição do caso: Sexo masculino, 13 anos, integrado numa família reconstruída. Viveu com
os avós dos 3 aos 8 anos, vivendo atualmente com a mãe e o padrasto. Sem antecedentes
pessoais de relevo e sem medicação habitual.
Em Maio de 2021 realizou consulta de rotina dos 12-13 anos, não apresentando queixas de
relevo. Ao longo da consulta foi realizada entrevista psicossocial, através da aplicação do
questionário HEEADSSS, tendo-se verificado que, relativamente ao Eating, apresentava
alterações: padrão de hábitos alimentares com seletividade – restrição de sopa e legumes-, e
preferência por fast-food, com vários anos de evolução. Apesar dessas variações, não foram
verificadas modificações no desenvolvimento ou avaliação antropométrica.
Quando questionado durante a consulta sobre o facto de existir alguma razão que tivesse
motivado a alteração dos seus hábitos alimentares, o adolescente referiu que, desde o
falecimento, há vários anos, do avô (a sua figura de referência), associava a alimentação a esse
acontecimento, com agravamento de sentimentos de tristeza nos últimos meses. Antes do
falecimento do familiar, o adolescente apresentava alimentação variada e equilibrada, afirmando
que a confeção e o momento da refeição seriam um espaço de partilha e convivência familiar,
particularmente com o avô. Para além do mencionado anteriormente, verificou-se que
apresentava sentimentos de tristeza, dificuldade na gestão do não, dificuldades de concentração
e sono irregular com agravamento nos últimos meses, no entanto, sem impacto nas atividades de
vida diárias ou rendimento escolar.
O adolescente foi referenciado para a consulta de Pediatria. Foram agendadas consultas mensais
de reavaliação para exploração do tema e intervenção, até avaliação por pediatria, que
posteriormente confirmou o diagnóstico de tristeza reativa – luto – e transtorno do défice de
atenção, tendo iniciado tratamento farmacológico e acompanhamento psicológico.
Em Março de 2022 não apresentava padrão de alimentação restritivo, tendo reintroduzido a
maioria dos alimentos. Atualmente, apresenta melhoria do quadro clínico, mantendo seguimento
com o médico de família (MF) e pedopsiquiatra.
Discussão: Este caso clínico realça a importância da realização do HEEADSSS durante a
consulta do adolescente, independentemente das queixas presentes. A tristeza reativa pode
apresentar-se através de alterações comportamentais, necessitando o MF de estar atento a sinais
de alarme. Para além do descrito, o MF apresentou um papel crucial na referenciação atempada
aos cuidados de saúde secundários, tendo a multidisciplinaridade entre o MF, o médico pediatra
e a psicóloga sido crucial para o sucesso terapêutico.
9as Jornadas GIMGAS| Grupo de Internos de Medicina Geral e Familiar de Almada Seixal