Cultura de Bancada, 19º Número
Cultura de Bancada, 19º número, lançado a 12 de outubro de 2023
Cultura de Bancada, 19º número, lançado a 12 de outubro de 2023
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mero simples aproveitamento de um direito
constitucionalmente previsto – a liberdade de
expressão.
E assim vamos, apregoando que
a cura para todos os males seja uma lei
que limita a autonomia privada, promove
a coação e ataca a liberdade de associação.
Bravo!
Fomos ainda presenteados com
a possibilidade de os órgãos de polícia
poderem aplicar in loco uma espécie de
medida cautelar, se antes da ocorrência de
um jogo qualquer adepto praticar actos de
violência. Não sabemos a que corresponde o
termo pouco jurídico “violência”, nem a que
tipo de delitos se aplica. Sabemos, isso sim,
que fica na mão humana e policial este tipo
de decisões, sem qualquer direito de defesa
ou resposta.
Já vimos licenças de porte de arma
mais fáceis de obter. Já vimos cartas de
condução igualmente mais fáceis de obter.
Mas, aparentemente, a preocupação para
todos os males do futebol continua a ser esta
– a burocratização, a estigmatização, a criação
de sentimentos revolta e incompreensão,
acompanhada de uma constante sensação
de vontade de higienização das nossas
bancadas. E assim vamos, esperando que, um
dia que tirarmos tudo o que está na natureza
dos GOA, a violência termine.
Por último, os bilhetes nominais.
Com a queda do cartão do adepto,
foi instituída a obrigatoriedade da bilhética
nominal (o que os italianos chamam de mini
cartão do adepto!) para as ZCEAP. Ano e
meio depois, o Governo que aprovou esta lei,
passa esta batata quente para o organizador
da competição. Assim, este último, passa a
decidir sobre qual será a regra geral sobre este
tema, para os jogos das suas competições.
Aguardemos notícias sobre este assunto,
visto que a decisão da Liga Portugal ainda não
foi tomada.
Ficámos aquém de todos os países
que servem de referência. Ficámos longe das
culturas que elogiamos quando aparecem na
TV.
Somos um país de fraca coragem
política, que se vale do elo mais vulnerável
para demonstrações de força e se vangloria
de leis fracas e terceiro mundistas.
Somos os autores de leis
castradoras, que afastam os adeptos daquelas
que são também as suas casas, os estádios.
Os responsáveis das várias áreas que rodeiam
o desporto insistem em não perceber o nexo
causal entre estas medidas, o aumento do
afastamento, e a existência de competições
cada vez mais pobres, sem adeptos e sem
interesse.
Por Martha Gens, Presidente da Associação
Portuguesa de Defesa do Adepto
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