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Cultura de Bancada, 19º Número

Cultura de Bancada, 19º número, lançado a 12 de outubro de 2023

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A multipropriedade é um conceito

criado nos anos 60, na Europa e nos Estados

Unidos da América, quando diversas pessoas/

empresas começaram a adquirir imóveis

em conjunto. Neste caso, a propriedade

é totalmente usada por cada proprietário

em períodos de tempo determinados pela

percentagem da fracção adquirida.

No Futebol, a introdução dos

multi-clubes dá-se na década de 90, pela

mão do ENIC Group. Este grupo económico

não pretendia controlar o quotidiano dos

clubes em que detinha participação, tendo

como objectivo principal deter as acções,

esperando que as mesmas valorizassem para

lucrarem a longo prazo, aplicando isto no

Tottenham Hotspur, AEK Atenas e Slavia de

Praga. Foi através desta ligação que se deu o

primeiro conflito de interesses deste tipo nas

competições europeias, na época 1997/98,

em que Slavia e AEK participaram na Taça

dos Vencedores das Taças. Na sequência

disso, a UEFA implementou uma nova regra,

a “Integridade das Competições de Clubes

da UEFA: Independência dos Clubes”, a qual

previa que clubes sob controlo comum não

pudessem participar na mesma competição.

A multipropriedade de clubes

praticamente confunde-se com a entrada

de investidores sem qualquer ligação

afectiva aos clubes ou cidades onde esses

têm sede, bem como na criação de SAD’s

no âmbito nacional (e não só). Sem dúvida

que é um dos baluartes do Futebol negócio,

começando a ganhar terreno, desde os

primeiros anos do atual século, ao modelo

tradicional de clubes sem fins lucrativos e

baseados no associativismo, com foco no

serviço à comunidade local e conquistas

desportivas. Actualmente, na maioria dos

clubes, os objectivos são a obtenção de lucro

financeiro, resultados desportivos, expansão

da marca e melhorias operacionais e de

infraestruturas. Infelizmente, o mercantilismo

é desmedido. Vivemos um Futebol que

está associado a uma indústria que tornou

os clubes em marcas, explorando receitas

pela venda de jogadores (activos), direitos

televisivos, prémios e subsídios da UEFA e

FIFA, patrocínios, marketing e dias de jogo,

receitas essas que triplicaram no período

compreendido entre 2000 e 2016. Quem

ganha com isso? É o Futebol? São os clubes e

as suas comunidades?

Este género de propriedade

revela-se quando uma pessoa/empresa

detém participação, seja ela maioritária ou

parcial, em mais do que um clube, podendo

ser adquirida de forma pública através da

aquisição de acções em bolsa (algo em vias

de extinção) ou de forma privada (com uma

pessoa/empresa a ter controlo maioritário

e controlo total nas decisões). Há ainda o

caso de clubes detidos em certa medida

por grupos de adeptos que pretendem

proteger a independência dos seus clubes

de investidores externos, o que acontece no

Hajduk Split, por exemplo.

Os clubes detêm características

sociais dos meios onde estão inseridos, que

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