01.03.2024 Views

Perspectivas sobre o controle da infraestrutura

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte I Contratações em INFRAESTRUTURA<br />

debate, é possível vislumbrar algumas aplicações<br />

<strong>da</strong> matriz de risco enquanto instrumento de gestão.<br />

Uma proposta para se garantir a segurança jurídica<br />

dos agentes que li<strong>da</strong>m com contratos incompletos é<br />

a de adotar ferramentas de gestão de riscos desde a<br />

elaboração de um projeto básico ou <strong>da</strong> modelagem<br />

de uma concessão. Ou seja, o projeto básico ter<br />

uma matriz de risco, ou pelo menos um mapa de<br />

risco, que traduza as incertezas nele conti<strong>da</strong>s, bem<br />

como os riscos delas advindos. Ao registrar o efeito<br />

<strong>da</strong>s incertezas, o projetista comunica ao agente<br />

que produzirá o contrato <strong>sobre</strong> as limitações desse<br />

projeto e, consequentemente, permite antever as<br />

incompletudes do contrato. Ao expressar os riscos<br />

do projeto, também se permite que o gestor deci<strong>da</strong><br />

<strong>sobre</strong> estratégias de mitigação. Ou seja, ao elencar<br />

as incertezas inerentes ao projeto, permite-se que<br />

os riscos de sua implementação sejam vislumbrados<br />

por to<strong>da</strong> a cadeia de agentes públicos que deliberam<br />

<strong>sobre</strong> o contrato.<br />

É aconselhável que a gestão de risco acompanhe<br />

todo o ciclo do projeto, desde a concepção do<br />

projeto básico, passando pela contratação e pela<br />

fiscalização, até a entrega do objeto. A gestão<br />

sistêmica, feita a partir de uma matriz de risco<br />

concebi<strong>da</strong> na fase de projetos e atualiza<strong>da</strong> ao longo<br />

<strong>da</strong> execução contratual, contribui para que o contrato<br />

e suas incompletudes sejam compreendidos<br />

e gerenciados de forma transparente, de forma a<br />

evidenciar uma conduta zelosa e diligente, favorecendo<br />

a distinção entre o contrato defeituoso<br />

e o contrato incompleto.<br />

CONCLUSÃO<br />

Os fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> análise econômica do direito e<br />

<strong>da</strong> teoria dos contratos incompletos são facilmente<br />

compreendidos por engenheiros e juristas que<br />

li<strong>da</strong>m cotidianamente com contratos de concessão<br />

e obras. Na prática, o que se vê são custos de<br />

transação e assimetria de informação, entre outras<br />

questões, cuja solução passa, necessariamente,<br />

pela compreensão dos fun<strong>da</strong>mentos teóricos que<br />

explicam esses fenômenos.<br />

A reali<strong>da</strong>de dos contratos administrativos de<br />

<strong>infraestrutura</strong> se mostra de tal modo complexa<br />

que se afastar demasia<strong>da</strong>mente dela é condenar<br />

todos os que li<strong>da</strong>m com esses contratos a trabalhar<br />

por algo inatingível. Por essa razão é relevante<br />

que as instâncias de <strong>controle</strong> compreen<strong>da</strong>m o<br />

que é um contrato incompleto e superem o ideal<br />

de contrato completo, que tudo prevê e diligencia.<br />

Diante <strong>da</strong>s disfunções advin<strong>da</strong>s de visões díspares<br />

entre gestores e controladores, instar o TCU à<br />

compreensão e à aplicação <strong>da</strong> análise econômica<br />

dos contratos é medi<strong>da</strong> relevante para que o<br />

Tribunal se situe na mesma página <strong>da</strong>queles que<br />

deliberam <strong>sobre</strong> contratos administrativos por<br />

natureza incompletos. Por essa razão, é pertinente<br />

que o termo “contrato incompleto” seja empregado<br />

com rigor, apenas nos casos em que as lacunas<br />

forem inerentes ao objeto contratado, onde não<br />

estiver configurado erro ou dolo que justifique<br />

a ausência de contingências contratuais. Dessa<br />

maneira, além de se conferir segurança jurídica<br />

aos agentes públicos que li<strong>da</strong>m com contratos<br />

por natureza incompletos, colabora-se, ain<strong>da</strong>,<br />

para que estes não se confun<strong>da</strong>m com contratos<br />

defeituosos ou malfeitos.<br />

Avançando nessa compreensão, questões mais<br />

relevantes para a quali<strong>da</strong>de dos contratos administrativos<br />

poderão ser debati<strong>da</strong>s, como, por exemplo:<br />

quanto é preciso investir na fase de investigação<br />

para se obter um bom projeto e, consequentemente,<br />

um bom contrato? As séries históricas de <strong>da</strong>dos<br />

que subsidiam os contratos são suficientemente<br />

completas e confiáveis? Quão precisas devem ser<br />

as estimativas? Qual o nível de aprofun<strong>da</strong>mento<br />

dos documentos a serem gerados ex ante ao processo<br />

de contratação? Qual o grau de incompletude<br />

contratual a Administração Pública pode ou deve<br />

tolerar? São questões como essas que vão determinar<br />

ex ante a incompletude do contrato e que,<br />

PERSPECTIVAS SOBRE O CONTROLE DA INFRAESTRUTURA 23

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!