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Revista eMOBILIDADE+ Nº 6

A revista eMobilidade + Dedica-se, em exclusivo, à mobilidade de pessoas e bens, nos seus vários modos de transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo, fluvial e marítimo), conferindo deste modo espaço aos mais proeminentes “stakeholders” do setor, sejam eles indivíduos, empresas, instituições ou entidades académicas.

A revista eMobilidade + Dedica-se, em exclusivo, à mobilidade de pessoas e bens, nos seus vários modos de transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo, fluvial e marítimo), conferindo deste modo espaço aos mais proeminentes “stakeholders” do setor, sejam eles indivíduos, empresas, instituições ou entidades académicas.

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www.eurotransporte.pt/mobilidade-mais/

N.º6

abril/maio/junho | 2024

Diretora: Cátia Mogo

TEMA DE CAPA

HIDROGÉNIO

VERDE

Como pode a HyChem

reconverter a indústria

e os transportes

CORRIDA PARA

O RECORDE

Um camião de 40 toneladas

conseguiu percorrer

1047 km com 80 kg

de hidrogénio líquido

t

FERROVIA

Miguel Cruz, presidente da IP, diznos

que a ferrovia irá recuperar parte

do fulgor de outrora, que a Alta

Velocidade entre Lisboa e Porto é

prioritária, mas a ligação a Madrid só

terá como horizonte a próxima década

CONFERÊNCIA

“A Gratuitidade nos Transportes

Públicos”, abordagem promovida pela

EUROTRANSPORTE, eMOBILIDADE+,

CM Oeiras e Parques Tejo, foi mais um

contributo para o caminho de uma

melhor mobilidade em Portugal

ENERGIA E MOBILIDADE

Captação e fornecimento de energia

podem contribuir para alimentar

soluções comunitárias de mobilidade,

especialmente em áreas onde o

transporte público tradicional é

limitado ou insuficiente



REVISTA Nº6

ABRIL/MAIO/JUNHO 2024

EDIÇÃO TRIMESTRAL

FALE CONNOSCO

emobilidademais@invesporte.pt

+351 215 914 293

CARLOS BRANCO

SUS-TEN-TA-BI-LI-DA-DE

É

do que se fala, ou não se fala de outra coisa, mas não raras vezes,

a despropósito. A indústria responsável, aquela que não se move

meramente pelo lucro, tem feito o seu trabalho face à urgência do

perigo climático e vai operando transformações dos seus métodos

e fatores de produção. Na própria relação com os seus pares - a

relação B2B - já sabe que o comprador exige mais e melhor, e não unicamente

o mais barato possível. Os critérios empresariais ESG são uma nova realidade,

bem mais exigentes, que impede a navegação livre de outrora. Fruto de uma

crescente literacia ambiental, o consumidor final já não come tudo sem ler

o rótulo, sem conhecer a proveniência da matéria-prima e a forma como foi

transformada. Em suma, exige - convenhamos que, por agora, ainda só quer -

que os processos sejam sustentáveis.

Assim se introduz a nossa modesta abordagem à produção de hidrogénio

verde que já se produz às portas de Lisboa. Fomos conhecer um pouco da

HyChem, empresa de química sustentável, que está a criar um hub para a

indústria e para a mobilidade, com o objetivo de os descarbonizar. Soubemos

que está perto de abrir um posto de abastecimento de hidrogénio para os

transportes terrestres e que ajuda a desenvolver um projeto para descarbonizar

o transporte marítimo. Juntamos ao assunto opinião ambientalista e

damos a conhecer alguma da tecnologia que está a ser desenvolvida para uso

nos transportes pesados com recurso ao hidrogénio.

A procura de melhor mobilidade e a eficiência dos transportes tem retratos

bem impressivos nas páginas seguintes, com opinião técnica, investigação e

debate. Em entrevista, Miguel Cruz, presidente da Infraestruturas de Portugal,

diz-nos o que podemos esperar da reestruturação da rede ferroviária nacional,

sendo que, depois de tantos anos ao abandono, aconselha a que não desesperemos,

pois é obra pesada e demorada.

--------------------------------------------------------------------------------------

DIRETORA

Cátia Mogo

--------------------------------------------------------------------------------------

EDITOR

Eduardo de Carvalho

----------------------------------------------------------------------------------------

REDAÇÃO

Ana Filipe

Carlos Branco

Márcia Dores

--------------------------------------------------------------------------------------

COLABORADORES

António Macedo, Filipe Carvalho

e Acácio Pires

--------------------------------------------------------------------------------------

DIREÇÃO DE COMUNICAÇÃO E MARKETING

Nuno Francisco

---------------------------------------------------------------------------------------

PUBLICIDADE

Margarida Nascimento

Rui Garrett

--------------------------------------------------------------------------------------

PAGINAÇÃO

Rogério Grilho

---------------------------------------------------------------------------------------

ASSINATURAS

Fernanda Teixeira

--------------------------------------------------------------------------------------

Registo ERC N.º 127896

---------------------------------------------------------------------------------------

PROPRIEDADE

Eduardo de Carvalho

--------------------------------------------------------------------------------------

INVESPORTE

EDITORA DE PUBLICAÇÕES, LDA

Contribuinte N.º 505 500 086

Edição, Redação e Administração

R. António Albino Machado, 35 G

1600-259 Lisboa

--------------------------------------------------------------------------------------

Todos os direitos reservados.

Interdita a reprodução total ou parcial

dos artigos, fotografias, ilustrações e

demais conteúdos sem a autorização por

escrito do Editor. Os artigos assinados

bem como as opiniões expressas são da

responsabilidade exclusiva dos seus

autores, não reflectindo necessariamente

os pontos de vista da Direção da Revista,

do Conselho Editorial ou do Editor.

--------------------------------------------------------------------------------------

ESTATUTO EDITORIAL:

https://www.eurotransporte.pt/noticia/38/5193/

estatuto-editorial-e-lei-da-transparencia/

www.emobilidademais.pt

www.eurotransporte.pt/mobilidade-mais/


REVISTA Nº 6

ABR/MAI/JUN 2024

8

TEMA DE CAPA

PODERÁ O HIDROGÉNIO VERDE RECONVERTER E TORNAR

MAIS SUSTENTÁVEL OS SETORES INDUSTRIAL E DOS TRANSPORTES?

22 REINVESTIMENTO NA

FERROVIA CONDUZIRÁ A UM NOVO

PARADIGMA DA MOBILIDADE

Entrevista com Miguel Cruz, presidente

da Infraestruturas de Portugal

22

32 UMA BOA GESTÃO É O

PONTO DE PARTIDA PARA UM

ESTACIONAMENTO INTELIGENTE

Entrevista com o CEO da EPS Global,

especialista em estacionamento urbano

44 SISTEMA DE BILHÉTICA

INTEGRADOS

A opinião de Sandra Vasconcelos

Lameiras, administradora da OPT

32

48 A SUSTRENTABILIDADE

DOS TRANSPORTES PÚBLICOS

A opinião técnica do engenheiro

mecânico João Reis Simões

56 QUANDO A TECNOLOGIA

É UM FALHANÇO

Por Filipe Carvalho, CEO da Wide Scope

64 HÁ MENOS MULHERES

EM BICICLETA?

Investigação de Inês Sarti Pascoal

4 e-MOBILIDADE

+

64

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Via Rápida

Metro de Lisboa ultrapassa valores pré-pandemia

O Metropolitano de Lisboa transportou 41,4 milhões de passageiros no

primeiro trimestre de 2024, valor que supera o do período homólogo de

2019 (pré-pandemia) em cerca de 1,2 milhões de validações, correspondendo

a um aumento de 2,9% na procura face a esse mesmo período, e

um aumento de 2,3% face ao período homólogo de 2023. Estes dados

demonstram um claro aumento da procura e uma tendência para uma

franca recuperação e um retorno gradual à normalidade dos níveis pré-

-pandemia de 2019. Em 2023, o Metropolitano de Lisboa registou 161,8

milhões de passageiros, tendo-se verificado um aumento de 28,1 milhões,

correspondendo a um incremento da procura de 21,1% face a 2022, mas a

uma redução da procura 11,9 milhões de passageiros face a 2019.

Ovnitur em expansão fortalece

parceria com a Daimler Buses

A empresa Ovnitur, sediada em Viana do Castelo, tem

alcançado um sucesso contínuo na expansão do seu

negócio. Com mais de três décadas de atividade desde

a sua abertura em 1987, a frota da Ovnitur ultrapassa

agora os 100 autocarros, abrangendo desde veículos de

pequeno a grande porte. Tradicionalmente cliente de

chassis, em 2023 optou pela aquisição do modelo integral

Mercedes-Benz Tourismo da Daimler Buses. A alta

satisfação com estes modelos recentemente adquiridos à

Daimler Buses, no que diz respeito ao conforto, segurança

e consumos reduzidos levou a empresa a investir em

mais cinco unidades, já entregues no início deste ano.

Francisco Oliveira, CEO da Ovnitur: “Estamos extremamente

satisfeitos com o investimento que fizemos

no ano passado e este ano decidimos reforçá-lo

aumentando a quantidade de viaturas adquiridas. Os

Mercedes-Benz Tourismo que adicionámos à nossa frota

contribuem significativamente para a nossa eficiência

operacional. Além disso, todo o suporte e apoio fornecido

pela Daimler Buses tem sido fundamental para o

sucesso da nossa parceria.”

Porto de Setúbal eletrifica acessos ferroviários aos terminais

O concurso público para a eletrificação do “last mile” ferroviário, de acesso aos terminais

portuários do Porto de Setúbal, já foi lançado e irá permitir reduzir os constrangimentos

existentes na ligação dos terminais à rede ferroviária nacional. Esta obra compreende

a eletrificação dos ramais e canais de acesso aos terminais, facilitando a etapa final do

transporte (last mile) e a reformulação do layout ferroviário para permitir manobras entre

o porto e o complexo de mercadorias de Praias do Sado. O investimento será de 17,5

milhões de euros, o prazo para apresentação

de propostas decorre até

1 de julho e o período previsto para

a realização dos trabalhos é de 420

dias. A empreitada agora a concurso

faz parte do Projeto Rail2Green, que

está a ser desenvolvido pela APSS

- Administração dos Portos de Setúbal

e Sesimbra, em conjunto com

a IP – Infraestruturas de Portugal.

Ecomood com eMOBILIDADE+ no Portugal Ecorally Oeiras

O Portugal EcoRally Oeiras, primeira prova do Campeonato de Portugal de Novas

Energias de 2024 e a quinta do Europeu desta temporada, teve um número recorde de

equipas estrangeiras e dos melhores participantes nacionais, contou com o conjunto Ecomood/Planetiers/Bel

Mobility, que esteve associado à eMOBILIDADE+. Depois de já

terem estreado vários modelos nestas competições, António Gonçalves Pereira e António

Lima estiveram a bordo do único Tesla Model Y presente, uma das mais de 100 viaturas

elétricas da frota do Grupo Bel, maioritariamente alimentadas a partir de energia solar

captada nas suas próprias instalações. Vencedores: classificação Geral - Michal Zdarsky/

Jakub Nabelek (Hyundai Kona); Eficiência Energética - Emmanuel Guigou/Alexandre Stricher

(Mini Cooper SE); Equipa Feminina – Ana Faria/Ana Nepomuceno (Hyundai Kauai);

‘Team’ Campeonato de Portugal – Kia/ACP Electric/BP; Super Especial Prio - Ivo Tavares/

João Martinho (Peugeot e208).

Bus2Bus Berlim é a cimeira dos autocarros de passageiros

É já nos dias 24 e 25 de abril que se realiza a 4ª edição da Feira Bus2Bus de Berlim,

destinada aos profissionais da indústria dos transportes rodoviários de passageiros, nas

instalações do recinto de exposições da capital alemã (Messe Berlin), onde Portugal estará

representado através das empresas PRF – Gas Solutions e Wavecom Technologies, e da

qual a EUROTRANSPORTE e eMOBILIDADE+ são media partners. A última edição, em

2022, contou com a participação de cerca de 100 empresas expositores de 16 países e

mais de 2.000 visitantes profissionais e comerciais de 25 países. A Câmara de Comércio

e Indústria Luso-Alemã é a representante oficial do evento em Portugal e anuncia que

dispõe de ingressos com descontos de preço para os eventuais interessados.

6 e-MOBILIDADE


Busway vence concurso para

transportes públicos de Coimbra

A empresa Busway, subsidiária do grupo israelita Afifi, venceu

o concurso para os transportes públicos rodoviários da Comunidade

Intermunicipal (CIM) da Região de Coimbra, disse à

agência Lusa o secretário executivo daquela entidade. O júri

propôs a adjudicação dos três lotes de transportes rodoviários

a concurso à Busway, por cerca de 40 milhões de euros (mais

IVA) para cinco anos de exploração, afirmou o secretário executivo

da CIM da Região de Coimbra, Jorge Brito. O responsável

realçou que o concurso “revelou-se interessante”, com

“várias propostas” concorrentes e com “geometrias variáveis”,

face à possibilidade de as empresas concorrerem a apenas

um, a dois ou aos três lotes (o concurso anterior, lançado em

2021, tinha registado apenas uma proposta e acima do preço

base definido na altura).

ChargeGuru lança Zeplug em Portugal

para carregamento residencial

A ChargeGuru, especialista europeia em carregamento de veículos

elétricos, acaba de lançar em Portugal o seu serviço inovador

Zeplug, que tem como principal objetivo ser a solução de carregamento

elétrico que permite ultrapassar os obstáculos existentes

nas garagens partilhadas, quer em condomínios, quer em empresas.

Com a instalação de um contador independente, apenas os

proprietários de carros elétricos fazem o pagamento mensal, garantindo

a segurança e escalabilidade do serviço permitindo a cada

utilizador instalar um ponto de carregamento de forma simples

e económica, comprando ou alugando o carregador. Para além

disso, o serviço garante sempre eletricidade de fontes renováveis,

uma vez que a empresa recorre apenas a fornecedores de energia

certificados e limpos. Na Europa, o ZEPLUG foi escolhida como

parceira por grandes fabricantes de automóveis como a BMW-Mini,

Tesla, Renault, Grupo Volkswagen, Volvo e Jaguar Land Rover e

trabalha com mais de 200 empresas gestoras de condomínios.

Descarbonizar transportes públicos

tem mais 90 milhões do PRR

O regulamento que cria o Sistema de Incentivos à Descarbonização dos

Transportes Públicos, constante na Portaria n.º 109/2024/1, de 18 de

março, já foi publicado em Diário da República, que estipula a atribuição

de 90 milhões de euros do Plano de

Recuperação e Resiliência (PRR). Segundo

a portaria, serve aquele sistema de

incentivos para “apoiar a aquisição de

autocarros com nível nulo de emissões

para assegurar exclusivamente serviços

públicos de transporte coletivo de

passageiros sob gestão de autoridades

de transporte inseridas no território de

Portugal continental, para renovação

e reforço das frotas com um impacto

muito relevante na promoção da utilização do transporte público, através

do reforço da oferta, do aumento do conforto e da qualidade de serviço

prestado, assim como na descarbonização e apoio à transição energética

do setor dos transportes, sem emissões de gases com efeito de estufa

(GEE), e do aumento da incorporação de energias renováveis no setor do

transporte público rodoviário de passageiros.

Volkswagen anuncia acordo com Mobileye para condução autónoma

A condução autónoma está a chegar. Após uma extensa fase piloto de testes rodoviários na Alemanha

e nos EUA, a Volkswagen ADMT, uma organização da Volkswagen AG, acaba de anunciar um acordo

de cooperação com a empresa de tecnologia israelita Mobileye Global. O acordo abrange a entrega

e o uso de um sistema de condução autónoma (SDS) para uma versão especial do ID.2, que está em

desenvolvimento desde 2021. Corresponde à definição de Nível 4 da Society of Automotive Engineers

(SAE), em que o veículo autónomo opera em área definida, como uma cidade. O SDS é composto

por vários componentes de software e hardware, incluindo dois computadores independentes de alto

desempenho, bem como 13 câmaras, nove Lidar e cinco unidades de radar e cada sistema é capaz de

produzir ambientes de 360 graus.

e-MOBILIDADE 7


RETROFIT

Seria um desperdício,

um despesismo, deitar-se

fora uma frota em vez de a

substituir, através de um

retrofit específico para o

hidrogénio

8 e-MOBILIDADE


TEMA DE CAPA

Descarbonizar a indústria

e os transportes

O hidrogénio

já é verde às portas

de Lisboa

No parque industrial de Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de

Xira, a HyChem (antes denominada Solvay Portugal) posiciona-se como

empresa especializada na química do hidrogénio e parceira estratégica na

transição da indústria para a neutralidade carbónica. Investe na produção

de hidrogénio verde, para a indústria e os transportes, e na inovação

tecnológica. Procura ali consolidar um biocluster com parceiros locais,

rumo a uma maior sustentabilidade da economia da região.

Por Carlos Branco

É

longa a história dos pioneiros

industriais que precederam

a HyChem, empresa

que hoje produz hidrogénio

verde e clorato de sódio. Na

Póvoa de Santa Iria extraía-se sal, depois

produziu-se soda, agora desenvolvem-se

atividades de biotecnologia e de química

sustentável. O hidrogénio resulta de

um processo de eletrólise de salmoura,

que teve início há quase 90 anos, mas

que é verde agora, graças à energia captada

num parque solarfotovoltaico, que,

assim que concluída a segunda fase, terá

uma potência total instalada de 14MW.

Tudo na presença da água do Tejo, com

a qual as instalações fazem fronteira ao

longo de mais de dois quilómetros de

frente de rio. Excluindo o quadrante

leste, onde a atividade é aquática, em

seu redor o tecido industrial é pontuado

por muitas unidades fabris de construção

e transformação e uma comunidade

de transportes e de logística muito ativa,

condimentos suficientes para elaborar

um processo de reconversão de uma

e-MOBILIDADE 9


TEMA DE CAPA

Descarbonizar a indústria e os transportes

indústria que utilizava combustíveis

fósseis. Stricto sensu, é transformar uma

indústria clássica em indústria sustentável.

“Estamos a trabalhar no sentido de

consolidar um hub de hidrogénio verde.

Ainda não atingimos a fase de poder

dizer que está já constituído, mas já há

uma série de parceiros que estão alinhados

para o construir. E parceiros na área

da utilização, na área da distribuição,

Há empresas que querem

colocar táxis e camiões

movidos a hidrogénio,

ou outras soluções, para

além da injeção na rede,

como forma de substituir

parte do gás natural e

descarbonizar alguma

indústria

parceiros que produzem, autarquias que

são parte interessada no serviço às populações.

Portanto, existe um conjunto

de utilizadores industriais e logísticos

que podem densificar esse hub de

hidrogénio”, contextualiza Vitor Coelho,

administrador executivo da HyChem.

RECONVERSÃO MAIS PRÓXIMA

Afirma este dirigente estar a empresa

a trabalhar para que possa apresentar

soluções de descarbonização às indústrias

que, neste momento, ainda são

consumidoras de combustíveis fósseis,

com efeito de estufa, designadamente

gás natural ou outros. “O hidrogénio é

uma fonte alternativa, que não produz

emissões de carbono, e o verde é uma

excelente forma de ajudar a descarbonização

dessas áreas. Temos, para além do

hidrogénio propriamente dito, um elevadíssimo

know-how no que respeita às

tecnologias e aplicações de microalgas,

no quadro do conjunto de empresas

que constituem este conglomerado, e as

algas podem ser usadas no tratamento

de águas e efluentes de indústrias que

aqui estão localizadas. Até pode ser usado

dióxido de carbono como nutriente

da produção de biomassa, que depois

alimentará, como fonte de energia, as

empresas que produzem esses efluentes.

Temos aqui uma vertente muito integrada,

de natureza marcadamente circular

e sustentável, na qual o hidrogénio

verde é um vetor.”

Em redor existem empresas com neces-

10 e-MOBILIDADE


MOTOR MARÍTIMO

ADAPTADO

PARA HIDROGÉNIO

ESTÁ EM ENSAIOS

Temos aqui uma vertente muito integrada, de

natureza marcadamente circular e sustentável,

na qual o hidrogénio verde é um vetor

sidades de descarbonização, e que também

podem ser produtoras de energia.

Diz Vitor Coelho que, nas coberturas

dos edifícios de empresas, pode ser captada

energia fotovoltaica, acreditando

que este conceito venha a ser uma mais-

-valia para todos os operadores na zona.

Por parte da HyChem, Vitor Coelho

esclarece que o processo de eletrificação

de forma renovável - que certifica como

“verde” o hidrogénio produzido - deverá

atingir, em próxima fase, 14 MW de

potência, e que apenas aguarda suporte

financeiro do PRR Descarbonização.

INTERESSE DA MOBILIDADE

A recetividade a todo este processo de

transformação é inequívoca, quer do te-

cido industrial, quer das autarquias e dos

distribuidores, agentes que podem vir a

ser peças-chave neste processo. “Temos

sido contactados por empresas do setor

da mobilidade interessadas em que lhes

forneçamos hidrogénio para veículos de

transporte de pessoas, e de mercadorias,

pelo que necessitamos de instalar um

posto de abastecimento”, informa Vitor

Coelho. A HyChem utiliza 20 MW de

potência elétrica no processo de eletrólise

de salmoura, para a produção de clorato

de sódio – agente branqueador da indústria

de pasta de papel - e de hidrogénio,

o que oferece enormes possibilidades.

E as solicitações são muitas, especifica

Vitor Coelho: “Há empresas que querem

colocar táxis e camiões movidos

a hidrogénio, ou outras soluções, para

além da injeção na rede, como forma de

substituir parte do gás natural e descarbonizar

alguma indústria. Isto são formas

que vemos muito concretas de contribuir

para a descarbonização ou para soluções

de mobilidade.”

PARTE DA SOLUÇÃO

A HyChem já produz 1700 toneladas/

ano de hidrogénio, mas tem capacidade

para rapidamente produzir até 2400

toneladas/ano, através de investimentos

que a empresa já tem encadeados, com

recurso a apoio europeu para o efeito.

“Imaginemos um operador que queira

colocar aqui um posto de abastimento

de hidrogénio para servir, por exemplo,

uma rede de táxis ou camiões de

serviços municipalizados. O que nós

produzimos é muito mais do que esses

operadores necessitariam. Mas claro

que, depois, há um conjunto de operadores

industriais aqui perto que consomem

gás natural e que estão interessados

em substituí-lo por hidrogénio. E

Nas instalações da HyChem já se encontra

um motor marítimo a converter

para um novo sistema de combustão

dual (gasóleo/hidrogénio), no âmbito

do projeto Hydrogen Pioneer, que

integra a TecnoVeritas, especialista em

engenharia naval (parceira na HyVeritas)

e a Mitsubishi. A HyChem participa

com o banco de ensaios e o know-how

industrial. O objetivo deste projeto

consiste em aferir a viabilidade da

conversão de motores marítimos para

operarem a hidrogénio, substituindo

o diesel, o que apresenta enormes

vantagens: desde logo e a principal,

cumprir o objetivo de descarbonização,

mas também garantir uma nova vida

aos motores convencionais e reduzir o

investimento dos armadores.

Com a substituição do diesel pelo

hidrogénio, as emissões de carbono

reduzir-se-ão também em até 90 a 95%,

e as emissões de óxidos de azoto em

até 99%.

A HyChem disponibiliza as suas infraestruturas

e o conhecimento adquirido

para o desenvolvimento de tecnologia

e o alargamento das aplicações do

hidrogénio.

O motor marítimo a gasóleo da Mitsubishi

foi recebido e instalado numa sala

remodelada, próxima à rede de energia

e ao PT da fábrica, de modo a facilitar o

desenho das tubagens de ligação. Uma

vez convertido pela TecnoVeritas para

trabalhar a hidrogénio, e para provar

o conceito, o motor será testado em

funcionamento durante 8000 horas,

quase um ano. A HyChem fornecerá o

hidrogénio (excedente da sua produção)

e consumirá a energia elétrica que

o funcionamento do motor, ligado a um

gerador, permitirá produzir.

A aplicação desta solução na indústria

naval, um dos setores do transporte

mais difíceis de descarbonizar,

possibilitará a conversão da vasta frota

existente, maximizando a redução de

emissões com um investimento muito

inferior ao da aquisição de unidades

motrizes novas.

e-MOBILIDADE 11


TEMA DE CAPA

Descarbonizar a indústria e os transportes

aqui há grandes consumidores. Porventura,

consumiriam muito mais do que

nós podemos produzir. Mas, no futuro,

poderemos satisfazer as necessidades de

uma parte do hub. E há ainda questões

relacionadas com outras fontes, como

o biometano, produzido por terceiros.

Seremos parte da solução, não seremos,

obviamente, a solução para toda a gente”,

sublinha o administrador executivo

da empresa.

Fazer chegar o hidrogénio a quem

dele necessita só será viável através de

pipeline – visto ser um contrassenso o

transporte em cisterna em longas distâncias

- ou com posto de abastecimento

nas instalações, para as utilizações

rodoviárias. As infraestruturas geridas

pela Floene, ou outros parceiros, por

exemplo, podem levá-lo a uma clientela

mais ou menos longínqua, ou usar a

estrutura de rede de distribuição de gás

que possa canalizar o hidrogénio.

A relação da HyChem com os organismos

públicos é classificada de muito boa

por Vitor Coelho, que também destaca a

colaboração profícua com as autarquias

de Loures e de Vila Franca de Xira, esta

particularmente interessada no desenvolvimento

do hub.

A HyChem integra algumas agendas

mobilizadoras, designadamente o

Move2LowC, e tem em curso o projeto

HyChemLowC, para o seu parque solar

e outros investimentos no âmbito do

programa PRR Descarbonização. “Existem

projetos PRR e existem candidaturas

de outras empresas do grupo a fundos

europeus, o que é recorrente nas nossas

atividades de I&D. Já o fazemos há

muitos anos, antes de aparecer o PRR.

Recentemente, por exemplo, candidatámo-nos

ao European Innovation Fund,

para adicionar mais 5 MW de capacidade

de produção de hidrogénio a partir de

eletrólise. Isso permitir-nos-á produzir

uma maior quantidade de hidrogénio

verde a partir de uma fonte renovável

interna, embora possamos produzir o

hidrogénio verde que quisermos, desde

que compremos energia elétrica verde.”

POSTO DE ABASTECIMENTO

Contam-se pelos dedos os automóveis

movidos a hidrogénio em Portugal e

A HyChem integra algumas agendas

mobilizadoras, designadamente o

Move2LowC, e tem em curso o projeto

HyChemLowC, para o seu parque solar e

outros investimentos no âmbito do programa

PRR Descarbonização

mais raro ainda será encontrar um posto

para abastecimento – existe um, em

Cascais, e em toda a Europa haverá mil

–, embora o anterior Governo tenha já

autorizado a comercialização de hidrogénio,

e bem assim de biometano nos

postos convencionais.

Mas parece faltar pouco para a HyChem

criar nas suas instalações tal infraestrutura.

“Está em curso a adjudicação. Ainda

existe a convicção de que o único hidrogénio

disponível será aquele que virá de

Sines. Ora, nós produzimos hidrogénio

há décadas. Vamos abrir um ou mais

postos porque já temos pedidos nesse

sentido. E estamos seguros que amanhã,

ao abrirmos um posto... outros clientes,

carros, autocarros e camiões começam a

aparecer. Este é um processo de construção,

que vai nascendo em paralelo”,

adianta Vitor Coelho, que considera a

instalação do posto de Cascais uma excelente

ideia - “até porque não faz sentido

trazer o hidrogénio de fora”. “Temos no

nosso parque um automóvel movido a

hidrogénio, que foi adaptado e funciona

lindamente. Seria um desperdício, um

despesismo, deitar-se fora uma frota

em vez de a substituir, através de um

retrofit específico para o hidrogénio. Nós

acreditamos também que essa será uma

das soluções. E também acreditamos que

tem de haver incentivo aos operadores,

quer pela política comum europeia, quer

pelos governos nacionais, como medida

de apoio à transição para este tipo de

combustíveis, limpos, renováveis, sustentáveis”,

justifica ainda.

12 e-MOBILIDADE


Galp Frota Corporate

O primeiro cartão

híbrido do mercado

Duas energias num único cartão

A pensar no futuro, lançámos o primeiro cartão híbrido do mercado. Com o novo

Galp Frota Corporate terá acesso à maior rede de postos de combustível da Península

Ibérica, assim como aos pontos de carregamento elétrico da rede Mobi.E

em Portugal. A isto somam-se as vantagens já conhecidas das empresas, tais como

descontos imediatos, a possibilidade de adquirir produtos e serviços Galp e pagar

portagens em toda a Península Ibérica. Abastecer e carregar as frotas de veículos

a combustível, híbridos e 100% elétricos vai ser ainda mais fácil e cómodo, com o cartão

Galp Frota Corporate.

galp.com


TEMA DE CAPA

A INDÚSTRIA

JÁ ENCONTROU

O modo de transporte

rodoviário é o principal

responsável pela emissão

de gases com efeito de

estufa no espaço da União

Europeia e ainda que sejam

os automóveis particulares

os principais poluidores -

por serem em muito maior

número - os veículos de

transportes de mercadorias,

ligeiros e pesados têm uma

enorme quota-parte em

tal passivo ambiental. A

indústria que os fabrica tem

explorado várias alternativas.

Começou pelas baterias

elétricas, matéria que já

domina, utiliza com mestria

os biocombustíveis, com

emissões mais reduzidas,

tem-se afastado dos

combustíveis sintéticos,

de tecnologia difícil e

muito cara, mas já aponta

o hidrogénio como o nível

seguinte. A segunda metade

da década dir-nos-á se

os testes estão a ser bem

sucedidos. Os sinais têm sido

bons e a Daimler Truck conta

o que tem andado a fazer.

O PADRÃO

e explora a

alternativa

hidrogénio

A

Daimler Truck e a Linde Engineering

alcançaram um marco importante

na infraestrutura de hidrogénio no

caminho para a descarbonização do

transporte rodoviário. Nos últimos

anos, engenheiros de ambas as empresas trabalharam

juntos para desenvolver a tecnologia

sLH2, um novo processo para lidar com hidrogénio

líquido. Em comparação com o hidrogénio

gasoso, esta abordagem inovadora permite maior

densidade de armazenamento, maior alcance,

reabastecimento mais rápido, custos mais baixos

e maior eficiência energética. Leva cerca de 10 a

15 minutos para reabastecer um camião pesado

de 40 toneladas com 80 quilos de hidrogénio

líquido. Isso permite um alcance de 1.000 km ou

mais. Ao mesmo tempo, a nova tecnologia sLH2

reduz o investimento necessário para uma estação

de abastecimento de hidrogénio num fator de dois

14 e-MOBILIDADE


e-MOBILIDADE 15


TEMA DE CAPA

Daimler Truck e a Linde Engineering

NOVA BOMBA

a três, e os custos

operacionais são

cerca de cinco a

seis vezes menores.

Hoje, o hidrogénio

líquido pode ser fornecido

de forma fiável em

toda a Europa.

Em comparação com a tecnologia

de reabastecimento de hidrogénio

líquido convencional (LH2), o novo

processo usa uma nova bomba sLH2

para aumentar ligeiramente a pressão

do hidrogénio líquido. Através deste

método, o hidrogénio torna-se hidrogénio

líquido subarrefecido (sLH2).

Neste estado, o resultado é um processo

de reabastecimento muito robusto

e estável, que reduz ao mínimo

as perdas de energia durante o abastecimento.

Além disso, não é necessária

a transmissão de dados entre o posto

de abastecimento e o veículo, o que

reduz ainda mais a complexidade do

processo de abastecimento. Ao mesmo

tempo, a capacidade de reabastecimento

será aumentada para um novo

Em comparação com a

tecnologia de reabastecimento

de hidrogénio líquido

convencional (LH2), o novo

processo usa uma nova

bomba sLH2 para aumentar

ligeiramente a pressão do

hidrogénio líquido

nível. O posto de

abastecimento tem

capacidade para

400 kg de hidrogénio

líquido por hora.

Em comparação com o

reabastecimento convencional

com hidrogénio líquido

ou gasoso, o sLH2 é muito mais

simples e, ao mesmo tempo, oferece

maior desempenho.

Com o objetivo de estabelecer um

padrão comum de reabastecimento

para camiões movidos a hidrogénio,

a tecnologia será disponibilizada a

todas as partes interessadas por meio

de uma norma ISO. Andreas Gorbach,

membro do Conselho de Administração

da Daimler Truck, e Jürgen

Nowicki, presidente do Conselho de

Administração da Linde Engineering,

inauguraram a primeira estação-piloto

pública sLH2 em Wörth am Rhein

com o reabastecimento de um camião

Mercedes-Benz GenH2 na presença da

secretária de Estado para os Assuntos

Económicos da Renânia-Palatinado,

Petra Dick-Walther, e de representantes

da imprensa internacional.

Segundo Andreas Gorbach, “para

descarbonizar o transporte precisamos

de três fatores: a bateria certa e os

camiões a hidrogénio, a infraestrutura

necessária e a paridade de custos

entre veículos com emissão zero e

diesel. A transformação dos veículos

está a todo vapor. Graças ao padrão

sLH2 atingimos um marco importante

na infraestrutura de hidrogénio, de

reabastecimento tão fácil quanto o do

diesel. Agora estamos a pedir a outros

fabricantes de camiões e empresas

de infraestruturas que sigam a nossa

abordagem e trabalhem juntos para

tornar essa tecnologia o padrão da

indústria.”

Para Jürgen Nowicki, vice-presidente

executivo da Linde plc e CEO da

Linde Engineering, “o sLH2 aumenta

significativamente a eficiência das

instalações de reabastecimento de

hidrogénio. Os investimentos necessários

e os custos operacionais . Essas

e outras vantagens fazem do sLH2

16 e-MOBILIDADE


Leva cerca de 10 a 15 minutos para

reabastecer um camião pesado de 40 toneladas

com 80 quilos de hidrogénio líquido

UMA NORMA INDUSTRIAL

A Daimler Truck e a Linde Engineering

querem fazer do sLH2 a principal

tecnologia de reabastecimento

de hidrogénio para camiões pesados.

Portanto, ambas as empresas oferecem

um alto grau de transparência

e abertura em torno das interfaces

relevantes da tecnologia sLH2 desenvolvida

em conjunto. A tecnologia foi

padronizada num processo ISO aberto

e é de livre acesso a todas as partes

interessadas. A Daimler Truck e a

Linde Engineering estão agora a apelar

a outros OEM, empresas de infraestruturas

e associações para aplicarem o

novo padrão de hidrogénio líquido e,

assim, estabelecerem um mercado de

massa global para o processo.

Em contraste com o reabastecimento

convencional de hidrogénio líquido

(LH2), o processo sLH2 é igualmenuma

alternativa prática e neutra em

CO 2

ao reabastecimento de diesel em

transportes pesados. A tecnologia

que desenvolvemos em conjunto com

a Daimler Truck abre caminho para

a infraestrutura de reabastecimento

nacional da qual as cadeias logísticas

de hoje dependem.”

ABASTECIMENTO PADRÃO

A nova estação pública de abastecimento

sLH2 em Wörth am Rhein

estabelece padrões em termos de

CAMIÃO RODOU 1.047 KM COM

80 KG DE HIDROGÉNIO LÍQUIDO

A Daimler Truck demonstrou com sucesso

que a tecnologia de célula de combustível

de hidrogénio pode ser a solução certa

para descarbonizar o transporte rodoviário

flexível e exigente de longa distância.

O Mercedes-Benz GenH2, protótipo

aprovado para circular em via pública,

completou o #HydrogenRecordRun da

Daimler Truck, cobrindo 1.047 km de distância

percorrida com 80 kg de hidrogénio

líquido embarcado.

Alimentada por um sistema de célula

de combustível de hidrogénio líquido,

a corrida teve início na tarde de 25 de

setembro de 2023, no Centro de Clientes

da Mercedes-Benz Truck, em Woerth

am Rhein, e terminou na manhã do dia

seguinte, em Berlim. O camião completou

a corrida totalmente carregado e com um

peso bruto combinado de 40 toneladas

em condições reais, sem emitir CO 2

durante

todo o percurso. Os tanques foram

selados e a quilometragem foi controlada

e confirmada, de forma independente,

por um documento de inspeção da TÜV

Rheinland.

Após o sucesso do teste, Andreas Gorbach,

membro do Conselho de Administração

da Daimler Truck AG, chefe de

tecnologia de camiões, conduziu o veículo

pela linha de chegada no Ministergarten,

em Berlim: “Para descarbonizar o

transporte precisamos de tecnologias

motrizes movidas a bateria e a hidrogénio.

O ponto ideal para camiões com célula de

combustível está em tarefas de transporte

de longa distância flexíveis e exigentes.

Ao quebrar a marca de 1.000 km com um

preenchimento demonstramos, de forma

impressionante, que o hidrogénio em camiões

é tudo menos ar quente, e estamos

a progredir muito bem no caminho para

a produção em série. Ao mesmo tempo,

este recorde é um lembrete de que descarbonizar

o transporte requer dois outros

fatores, além das tecnologias motrizes

certas: uma infraestrutura de energia verde

e custos competitivos em comparação

com os veículos convencionais.”

Espera-se que os primeiros camiões com

célula de combustível sejam testados

pelos próprios clientes nos próximos anos,

enquanto o objetivo permanece firmemente

definido para introduzir a versão de

série do Mercedes-Benz GenH2 Truck na

segunda metade da década.

eficiência energética e desempenho.

Com um consumo de energia de apenas

0,05 kWh/kg, requer cerca de 30

vezes menos energia em comparação

com o reabastecimento convencional

com hidrogénio gasoso. O posto de

abastecimento também tem uma área

de abastecimento muito pequena, de

apenas 50 m 2 (excluindo a bomba de

combustível) e permite configurações

em que várias bombas são possíveis

para o reabastecimento paralelo de

camiões, bem como o reabastecimento

de vários veículos um após o

outro. O tanque de armazenamento

de hidrogénio líquido tem capacidade

para quatro toneladas, o que

é suficiente para cerca de dez horas

de reabastecimento contínuo. Além

disso, a capacidade do posto de abastecimento

sLH2 pode ser aumentada

para mais de oito toneladas por dia,

reabastecendo entretanto.

e-MOBILIDADE 17


TEMA DE CAPA

Daimler Truck e a Linde Engineering

EMISSÕES DOS TRANSPORTES NA UE

MAIS ECONOMIA

No desenvolvimento de ignição à

base de hidrogénio, a Daimler Truck

prefere o hidrogénio líquido

Repartições das emissões de gases com efeito estufa

por modo de transporte (2019)

Fonte: Agência Europeia do Ambiente, 2022

te conveniente para a tecnologia de

reabastecimento a diesel atual. Graças

ao isolamento robusto da mangueira

de reabastecimento e ao design das

interfaces entre o bico e o tanque de

combustível, o processo de reabastecimento

é extremamente seguro e

evita a fuga de hidrogénio. Portanto, as

medidas de proteção necessárias para o

reabastecimento com sLH2 são comparáveis

às do diesel. Durante o processo

de reabastecimento, o hidrogénio

líquido pode ser preenchido em dois

tanques de 40 kg conectados em cada

lado do chassis do camião a menos 253

graus Celsius, sem a necessidade de

equipamentos de segurança especiais.

A tecnologia sLH2 permite uma alta

taxa de fluxo de mais de 400 kg de

hidrogénio por hora, e o enchimento

de 80 kg de hidrogénio líquido pode

ser concluído em dez a quinze minutos.

Por fim, o novo processo evita o

chamado efeito boil-off: no reabastecimento

convencional com hidrogénio

líquido, parte do hidrogénio torna-se

gasoso e necessita de ser extraído,

com grande custo, através de um

segundo tubo. No processo sLH2, o

hidrogénio permanece líquido durante

o reabastecimento, portanto, apenas

um bico é necessário para encher os

tanques. Isso simplifica o manuseio

e reduz os custos de investimento. A

Linde opera a maior infraestrutura de

produção e distribuição de hidrogénio

do mundo.

No desenvolvimento de ignição à

base de hidrogénio, a Daimler Truck

prefere o hidrogénio líquido. Neste

estado agregado, o transportador

de energia tem uma densidade de

energia significativamente maior

em relação ao volume do que o

hidrogénio gasoso. Como resultado,

os tanques de um camião de célula

de combustível com hidrogénio

líquido são mais económicos em

comparação com os tanques de

carbono para hidrogénio gasoso.

E devido à menor pressão, eles

também são significativamente mais

leves. A tecnologia permite, assim,

uma carga útil mais elevada e, ao

mesmo tempo, mais hidrogénio pode

ser transportado, o que aumenta

significativamente a autonomia dos

camiões.

Espera-se que, a partir de meados

de 2024, cinco empresas aproveitem

a oportunidade para ganhar

experiência inicial em transporte

de longa distância sem CO 2

com

veículos a célula de combustível.

Os camiões semirreboques serão

utilizados na Alemanha em rotas

específicas em várias aplicações no

transporte de longa distância e serão

reabastecidos em Wörth am Rhein

e numa estação de abastecimento

na área de Duisburg. A Daimler

Truck e as suas empresas parceiras

estão assim a criar um projetofarol

e a mostrar que o transporte

descarbonizado com camiões movidos

a hidrogénio já é possível hoje. No

entanto, para que a transformação

para o transporte de mercadorias com

propulsores de hidrogénio funcione

de forma sustentável, será importante

nos próximos anos garantir uma

infraestrutura de reabastecimento

nacional e global, bem como um

fornecimento suficiente de hidrogénio

líquido verde.

18 e-MOBILIDADE


Roteiro do hidrogénio para a Europa

estratégia da União Europeia para

A o setor dos transportes pressupõe

que as estradas e linhas de comboios

vão ser muito diferentes em 2050, ano

em que se pretende seja atingida a

neutralidade carbónica. O Roteiro do

hidrogénio para a Europa preconiza a

substituição de motores de combustão

por FCEV (Fuel Cell Eletric Vehicles),

em especial em autocarros e camiões,

táxis e furgões, bem como em veículos

de passageiros de maiores dimensões. A

descarbonização do combustível para a

aviação deverá ser feita através de combustíveis

sintéticos à base de hidrogénio

e a substituição de comboios movidos a

gasóleo e de navios movidos a petróleo

por unidades movidas a células de

hidrogénio. Segundo dados daquele

documento, em 2050 haverá 42 milhões

de automóveis ligeiros movidos

a hidrogénio, da mesma forma que 1,7

milhões de camiões, 500 mil autocarros

e 5.500 comboios. Tal estimativa inclui

igualmente 52 milhões de habitações

com sistemas de aquecimento à base de

hidrogénio e 5,4 milhões de empregos

criados.

ESTRATÉGIA NACIONAL

PARA O HIDROGÉNIO

Em 30 de julho de 2020 foi aprovada

a resolução do Conselho de Ministros

que define a Estratégia Nacional para o

Hidrogénio, promovendo “a introdução

gradual deste gás como pilar sustentável

e integrado na mais abrangente estratégia

de transição para uma economia

descarbonizada, e que “é fundamental

a presença do hidrogénio nas cadeias

de valor.” Tal estratégia foi sujeita a

consulta pública e complementada com

sessões de debate com agentes da área

da Inovação e Desenvolvimento, Indústria,

Transportes, Energia, Formação,

Qualificação e Emprego. Foi salientado

que a estratégia “prevê um investimento

de sete mil milhões de euros e pretende

representar 5% no consumo final de

energia em 2030”. Pretende garantir a

redução da importação de gás natural

entre 380 e 740 milhões de euros e criar

8500 a 12.000 novos empregos, diretos

e indiretos.

EXEMPLOS DA UTILIZAÇÃO DE TRANSPORTES

RODOVIÁRIOS COM MOTORIZAÇÃO FCEV

TOYOTA PIONEIRA

A Toyota foi pioneira no desenvolvimento e produção, em série, de veículos

propulsionados por novas energias, primeiro com o híbrido Prius, mais tarde

com o Mirai, o primeiro sedan de produção com motopropulsor elétrico a pilha

de combustível de hidrogénio (FCEV). A segunda

geração já pronta e está à venda em Portugal.

Mas praticamente não existem os postos de

abastecimento. Este verão, a Toyota vai fornecer

500 Mirai de emissões zero para apoiar os Jogos

Olímpicos Paris 2024. Após os Jogos, estas

viaturas continuarão ao serviço da frota de táxis a

hidrogénio de Paris.

CAETANO BUS

Em parceria com a Toyota, a Caetano Bus,

divisão de autocarros da Salvador Caetano

tem-se destacado um pouco por toda a Europa

com a construção dos City Gold, veículos de

transporte urbano 100% elétricos, mas também

com pilha de células de combustível a hidrogénio.

Duas destas unidades operam em Cascais. A nova geração do H2.City

Gold Toyota, com uma potência nominal de 70 kW, dispõem de uma pequena

bateria com capacidade de 44 kWh e um grupo motopropulsor com uma

potência máxima de 180 kW, conseguindo uma autonomia de mais de 500

km, podendo igualar a autonomia dos autocarros a diesel convencionais numa

única recarga. O mais recente contrato foi celebrado com a Wiener Linien,

companhia que vai introduzir dez autocarros movidos a hidrogénio na linha

urbana dos transportes públicos de Viena.

AS VAN IVECO-HYUNDAI

O protótipo eDAILY FCEV é produto da colaboração

entre a IVECO e a Hyundai e está equipado com o

sistema de células de combustível de hidrogénio de

90 kW e um motor elétrico de 140 kW. Os seis depósitos

oferecem uma capacidade de armazenamento

combinada de 12 kg de hidrogénio. O protótipo de

7,2 toneladas de peso bruto foi testado na Europa e confirmou uma autonomia de

350 km. Foi mostrado como protótipo no salão de Hanôver, em 2022.

O HTGX DA MAN

A MAN Truck & Bus será o primeiro produtor

europeu de camiões a lançar uma pequena série

de 200 unidades com um motor de combustão

a hidrogénio, já em 2025. O MAN hTGX oferece

alcances máximos de até 600 km. O motor de

combustão a hidrogénio tem uma potência de

383 kW ou 520 cv e binário de 2500 Nm. Com injeção direta de hidrogénio no

motor e um depósito de 56 kg de capacidade, produz menos de 1g de CO 2

/tkm.

e-MOBILIDADE 19


ENERGIA

Hidrogénio

nos transportes terrestres?

Há o risco de sobreinvestimento em produção de eletricidade de origem renovável para

fazer face ao uso inadequado do chamado ‘hidrogénio verde’. Os setores para os quais

existem alternativas, que não passem pelo recurso ao hidrogénio, nomeadamente o

setor dos transportes terrestres, devem adotar as alternativas mais eficientes, para evitar

sobrecarregar os sistemas ecológicos de forma desnecessária.

A

recente decisão de

abandono do projeto

H2Sines.RDAM por

parte de um consórcio

que envolve a Engie e a

Shell, apesar de ter sido selecionado

pela Comissão Europeia como Projeto

de Interesse Comum, vem confirmar,

como a ZERO tinha afirmado há cerca

de um ano, aquando do parecer que

apresentou junto da Comissão Europeia

sobre o tema, que os projetos

de exportação de hidrogénio são

extremamente ineficientes em termos

energéticos e por isso obrigam a um

sobreinvestimento em produção de

eletricidade de origem renovável para

fazer face ao uso inadequado do chamado

‘hidrogénio verde’.

Como a ZERO tem escrito, a instalação

dos eletrolisadores junto ao local

onde se pretende utilizar o hidrogénio,

combinando-o com os gases que

permitem obter uma molécula mais

estável à temperatura e pressão normais,

é um aspeto fundamental a ter

em conta para aumentar a eficiência

do hidrogénio e reduzir o seu custo

evitando o extremamente caro e ineficiente

transporte deste gás.

Se olharmos para a produção de

combustíveis sintéticos para a aviação,

que é um dos poucos setores para

os quais não existe alternativa mais

eficiente ao uso de ‘hidrogénio verde’,

observamos que para substituirmos

todo o combustível fóssil consumido

pelo setor da aviação em Portugal por

combustíveis sintéticos precisaríamos

de aproximadamente 2/3 de toda a

eletricidade atualmente consumida

pelo país, isto apenas para produzir

o conteúdo em hidrogénio do hidrocarboneto

sintético, havendo ainda

que contar com a energia necessária

para capturar o carbono e conduzir

ACÁCIO PIRES

Policy Officer da ZERO - Associação Sistema

Terrestre Sustentável

o processo de síntese. No entanto, é

preciso ter em conta que existem outros

setores que dificilmente poderão

ser descarbonizados sem recurso a

‘hidrogénio verde’ como o transporte

20 e-MOBILIDADE


marítimo, o armazenamento sazonal

de energia, que, com outros sistemas

de armazenamento de energia,

garantirá a estabilidade de uma rede

elétrica livre de combustíveis fósseis

ou alguns setores industriais para os

quais o biometano e a eletrificação

não sejam alternativas suficientes.

Os setores para os quais existem alternativas,

que não passem pelo recurso

ao hidrogénio, nomeadamente o setor

dos transportes terrestres, devem

adotar as alternativas mais eficientes,

para evitar sobrecarregar os sistemas

ecológicos de forma desnecessária.

Convido os leitores a observar o

diagrama de rede de um dia de Abril

deste ano (ver gráfico).

DIAGRAMA DE REDE (ABRIL 2024)

10 000

8 000

6 000

4 000

2 000

0

00 06 12 18 24 (HORA)

e-MOBILIDADE 21


22 e-MOBILIDADE

Alta

MIGUEL CRUZ, PRESIDENTE DA INFRAESTRUTURAS DE PORTUGAL

velocidade

tem como horizonte a próxima década


A Infraestruturas de Portugal (IP) tem em mãos o que pode ser

descrito como “trabalhos de Hércules”, tal a quantidade de projetos

de modernização ferroviária em curso ou por contratar. A linha da

Beira Alta será a primeira a dar prova de nova vida; ligar Lisboa

ao Porto e prolongar a Alta Velocidade a Vigo tem prioridade

absoluta, tal como a execução do PRR. A ferrovia irá recuperar

parte de um fulgor de outrora e a Europa não entrega mais dinheiro

para rodovias. O país tem que estar preparado para esperar pelos

resultados de um investimento forte, mas com processos tão longos

quanto demorados e só no final da década será visível um novo

paradigma da mobilidade, para pessoas e mercadorias.

Texto Carlos Branco // Fotos Rogério Grilho

e-MOBILIDADE 23


ENTREVISTA

Miguel Cruz

EUROTRANSPORTE – É na Rede

Fer ro viária Nacional que são depositadas

grandes esperanças para uma

melhor mobilidade, mais sustentável

e de acordo com os princípios da

redução de emissões de gases com

efeito de estufa. Tais tarefas confiadas

à IP conduzem mesmo a esses

desígnios?

MIGUEL CRUZ – Uma das nossas

apostas mais significativas é conseguir

assegurar algum nível de transferência

modal. Procuramos a maximização da

utilização da ferrovia em detrimento

de outros modos de transporte, mais

concretamente o rodoviário. Não sei se

são ‘trabalhos de Hércules’, mas quando

olhamos para estas matérias, a sustentabilidade

é um dos temas essenciais que

temos que conjugar bem com a mobilidade.

De forma simplista, se é verdade

que do lado ferroviário temos a Alta

Velocidade (AV), com importância para

a transformação do comportamento em

matéria de mobilidade pelo território

nacional, tal transformação só se faz se

este investimento for conjugado com

outro, de modernização e incremento

de eficiência na chamada rede convencional,

com a qual a AV irá interagir. E

isto se, ao mesmo tempo, conseguirmos

assegurar alguns investimentos

na rodovia, que estão concentrados

no Plano de Recuperação e Resiliência

(PRR), com impactes relevantes

na redução de congestionamentos,

de distâncias e na eficiência adicional

na interligação de pontos economicamente

relevantes, como é o caso das

mercadorias. Em conjunto, tudo isto

tem grande relevância para o tema da

sustentabilidade ambiental. Nesta matéria,

um dos temas mais importantes

é a ferrovia e a transição modal, mas é

também assegurar que a ferrovia, com

um nível de eletrificação que estará

acima dos 90%, tenha um consumo

de energia verde. Estamos a preparar

alguns investimentos adicionais e que

têm a ver com o aumento do autoconsumo,

aproveitando os próprios canais

rodo e ferroviário para produzir tal

energia, renovável, com a consequente

redução do custo de consumo. No que

respeita à AV, estimamos que, por efeito

da transferência direta – e também

indireta, no que respeita à libertação da

Linha do Norte, para o transporte de

mercadorias –, essa transferência modal

permitir-nos-á reduzir 50 toneladas de

CO 2

equivalente até 2050. A concretização

de tal objetivo é essencial para que

Portugal atinja as metas de sustentabilidade

com que se comprometeu. Não se

trata de um elevado investimento por si

só. Tudo isto tem que ser visto de forma

integrada.

Todavia, há que levar em conta a

morosidade dos processos, já que

estamos a falar de obras de grande

complexidade. Para os menos avisados,

pode mesmo tornar-se doloroso...

De forma simplista tendemos a ignorar

o enquadramento que temos, pois são

A ligação entre Lisboa e Porto

contribuirá para a coesão nacional e

articulará com a rede convencional

investimentos longos e pesados. E tudo

começa pela própria disponibilidade

de financiamento, nomeadamente

o comunitário, que é distribuído ao

longo dos anos, e que muitas vezes é

concorrencial entre os vários Estadosmembros.

É irreal pensarmos que

podemos executar tudo ao mesmo

tempo. Nem a IP, nem o mercado,

pois o país não tem capacidade de

resposta de projetistas e empreiteiros

para tal. Convirá não esquecer que

o país adaptou os seus meios a um

‘vale’ de investimentos, e a retoma e

crescimento destes, nos últimos dez

anos, tem provocado uma adaptação

algo dolorosa. É um processo muito

longo, com muitos passos e muitos

24 e-MOBILIDADE


Com maior destaque público, evidencio a

conclusão das obras da linha da Beira Alta, que

deverá estar pronta este ano

intervenientes, mas ao mesmo tempo

é positivo, pois tudo é público, prazos,

valores de investimento, que são

facilmente escrutináveis pela opinião

pública. Todos gostaríamos que os

prazos fossem mais curtos, mas há um

horizonte temporal que valerá a pena

olhar: temos um conjunto de projetos

que irão terminar este ano que irão

dar visibilidade a um conjunto de

investimentos que coincidem com o

programa Ferrovia 2020. Já a AV tem

como horizonte o princípio da próxima

década. Aí, tanto do ponto de vista

de transporte de passageiros como

de mercadorias assistiremos a uma

alteração significativa na mobilidade,

na utilização do transporte ferroviário,

e no patamar de qualidade a que um

investimento na AV, conjugado com a

requalificação da rede atual, eleva este

modo. Compreendo que é longe para

dizer que na próxima década vamos ter

uma transformação muito grande, mas

importa referir que é um investimento

muito pesado. Há um princípio

conhecido nos fundos comunitários

– do no significant harm –, segundo

o qual somos obrigados a provar que

os processos não prejudicam critérios

ambientais que temos que justificar, tal

como uma cuidada análise de custobenefício.

É um grande desafio, mas

que temos incorporado em todos os

projetos.

A primeira fase da AV Lisboa-Porto

já arrancou - que depois seguirá até

Vigo - e é considerada prioritária,

de momento, mais que a ligação a

Madrid. É assim?

Não temos capacidade para as

executar em simultâneo, nem do

ponto de vista financeiro, nem pelo

empreendimento em si. Do ponto

de vista da dinamização da atividade

turística seria extremamente importante

para a economia portuguesa. Mas

deverá prevalecer, em primeiro lugar, o

transporte de mercadorias, a libertação

de uma rede altamente congestionada,

mas também a aproximação de uma

série de cidades, promovendo a

coesão territorial. Vamos fazê-lo por

troços, pois é a única forma de termos

capacidade de resposta do mercado.

Mas a ligação a Madrid não é algo

excluído num horizonte futuro.

Mas tal horizonte terá já um prazo

definido?

Não. Compete à IP fazer uma proposta

técnica e depois terá que haver uma

decisão política. Até porque há

um conjunto de investimentos que

terão que ser feitos até chegarmos a

essa proposta. Não se pode fugir a

essa questão, pois teria que ser bem

debatida, uma vez que tem que ver

com a ligação entre Lisboa e Porto,

que contribuirá para a coesão nacional

e articulará com a rede convencional,

depois a extensão ao Aeroporto

Francisco Sá Carneiro e a ligação de

Braga para Valença. Numa terceira

fase, quando abordarmos o troço do

Carregado a Lisboa, esta terá que ter

sequência com o investimento na

quadruplicação da Linha de Cintura

(de Lisboa) e em função da localização

do novo Aeroporto de Lisboa. Só

depois poderemos olhar para estes

investimentos, incluindo o tema da

nova travessia do Tejo de uma forma

integrada. Só depois de 2030 falaremos

da ligação a Madrid, o que não invalida

que comecemos a trabalhar nisso antes.

A partir do investimento que estamos

a fazer no Corredor Internacional Sul,

e de um troço que já existe, e que

permite velocidades até 250 km/h,

poderemos ter essa ligação. Não é a

que desejaríamos, mas que, e com

o investimento que os espanhóis

prevêem realizar do seu lado, temos a

possibilidade de ligar as duas capitais

em pouco mais que cinco horas.

e-MOBILIDADE 25


ENTREVISTA

Miguel Cruz

Linha do Douro

PRINCIPAIS EMPREITADAS

FERROVIÁRIAS

EM DESENVOLVIMENTO

JANEIRO DE 2024

ESPANHA

Valença

Viana do Castelo

MARCO DE CANVESES

RÉGUA

Eletrificação

Modernização/Requalificação

EM CONTRATAÇÃO

Braga

LINHA COM EXPLORAÇÃO FERROVIÁRIA

Modernização/Requalificação

Nova Linha

Nine

Guimarães

Linha da Beira Alta

MANGUALDE

CELORICO DA BEIRA

Trofa

Caíde

-

CONSIGNADA

Linha do Norte

GAIA

ESPINHO

Renovação Integral de Via

CONSIGNADA

Linha do Vouga

OLIVEIRA DE AZEMÉIS

SERNADA DO VOUGA

Reabilitação da

Superestrutura de Via

CONSIGNADA

Linha da Beira Alta

ESTAÇÃO DA PAMPILHOSA

(1ª Fase)

-

CONSIGNADA

Linha da Beira Alta

PAMPILHOSA

STA. COMBA DÃO

CONCORD. DA MEALHADA

-

CONSIGNADA

Linha do Vouga

ESPINHO

VILA DA FEIRA

Reabilitação da

Superestrutura de Via

EM CONTRATAÇÃO

Linha do Vouga

AVEIRO

ÁGUEDA

Reabilitação da

Superestrutura de Via

EM CONTRATAÇÃO

Porto

de Aveiro

Figueira da Foz

Porto

de Leixões

Espinho

Ovar

Cacia

Aveiro

Pampilhosa

Coimbra B

Alfarelos

Livração

Ermesinde

Contumil

Porto-Campanhã

Gaia

Vila da Feira

Oliveira de Azeméis

Sernada do Vouga

Águeda

Luso-Buçaco

Coimbra

Marco de

Canaveses

Sta Comba Dão

Hospital Pediátrico

Alto

S. João

Serpins

Mangualde

Covilhã

Régua

Tua

Celorico

da Beira

Guarda

Pocinho

Vilar

Formoso

ESPANHA

Linha da Beira Alta

CELORICO DA BEIRA

GUARDA

-

CONSIGNADA

Linha da Beira Alta

GUARDA (CERDEIRA)

VILAR FORMOSO

Modernização - 2ª Fase

CONSIGNADA

Linha da Beira Alta

SANTA COMBA DÃO

MANGUALDE

-

CONSIGNADA

Sistema de Mobilidade

do Mondego

LINHA DO HOSPITAL

-

CONSIGNADA

Sistema de Mobilidade

do Mondego

Linha do Norte

ESTAÇÃO DE ALFARELOS

-

EM CONTRATAÇÃO

Tomar

Castelo Branco

ALTO DE SÃO JOÃO

SERPINS

-

CONSIGNADA

Sistema de Mobilidade

do Mondego

Linha do Oeste

MELEÇAS ∙ CALDAS DA RAINHA

(TORRES VEDRAS - CALDAS)

Modernização

CONSIGNADA

Abrantes

Entroncamento

Caldas

da Rainha

Mato de Miranda

PORTAGEM

ALTO DE SÃO JOÃO

-

CONSIGNADA

Sistema de Mobilidade

do Mondego

PORTAGEM

COIMBRA B

Linha do Oeste

MELEÇAS ∙ CALDAS DA RAINHA

(MELEÇAS - TORRES VEDRAS)

Modernização

CONSIGNADA

Linha de Cascais

CAIS DO SODRÉ

CASCAIS

Via e Catenária

CONSIGNADA

Meleças

Sintra

Linha de Cascais

CAIS DO SODRÉ

CASCAIS

Sinalização - Lote 1

CONSIGNADA

Cascais

Bobadela

Oriente

Torres

Vedras

Vila

Franca

de Xira

LISBOA

Barreiro

Penalva

Setúbal

Setil

Porto

de Setúbal

Pinhal

Novo

Poceirão

Alcácer do Sal

Vendas Novas

Casa Branca

Torre das

Vargens

Évora

Évora Norte

Reguengos

Portalegre

Elvas

ESPANHA

-

CONSIGNADA

Linha do Norte

MATO DE MIRANDA

Adequação do layout

CONSIGNADA

ÉVORA NORTE • L. LESTE

ALANDROAL • L. LESTE

-

CONSIGNADA

LIGAÇÃO PORTO DE

SINES/GRÂNDOLA NORTE

2ª FASE

Modernização Ermidas-Sado

/Grândola Norte

CONSIGNADA

Porto

de Sines

Grândola Norte

Ermidas-Sado

Beja

ÉVORA NORTE • L. LESTE

ÉVORA NORTE • FREIXO

-

CONSIGNADA

MapaFerroviario_PrincipaisInvestimentos2024Janeiro

LIGAÇÃO PORTO DE

SINES/GRÂNDOLA NORTE

1ª FASE

Modernização

Porto de Sines/Linha do Sul

CONSIGNADA

Linha do Algarve

TUNES

LAGOS

Eletrificação

CONSIGNADA

Lagos

Funcheira

Ourique

Neves Corvo

Tunes

Faro

Vila Real

Sto António

Linha do Algarve

FARO

VILA REAL ST. ANTÓNIO

Eletrificação

CONSIGNADA

ÉVORA

ÉVORA NORTE

Obra Geral. Via e Catenária

CONSIGNADA

26 e-MOBILIDADE


RODOVIAS

A nossa rede rodoviária, a nível

europeu, segundo os indicadores

de competitividade, está muito

bem pontuada

E a bitola - ibérica ou europeia.

É uma falsa questão?

É uma falsa questão e já tinha admitido

que o tema estava perfeitamente

esclarecido. Pela nossa geografia

qualquer ligação à Europa passará

por Espanha. No nosso território só

temos bitola ibérica e durante mais uns

anos não teremos outra e Espanha já

declarou que não tem qualquer intenção

de fazer mudança de bitola em qualquer

ligação a Portugal. Todavia, já estamos

a colocar travessas polivalentes para

que estejamos preparados para fazer a

transferência, num futuro algo distante.

Tanto nós como os espanhóis. Fá-loemos

nas requalificações de linhas, mas

também para qualquer linha nova e

mesmo na AV.

As ligações às infraestruturas portuárias

estão bem acauteladas nos

diversos projetos para o escoamento

de mercadorias?

Bom exemplo disso são os portos de

Setúbal, Sines e Lisboa, do Corredor

Internacional Sul. Este foi pensado para

mercadorias e passageiros. Estão pensados

os troços de ligação aos portos que,

ou estão a ser feitos, ou em modernização,

mas também foi pensada a eficiência

da linha, como é o caso da extensão

dos comboios de 750 metros, ou a

altura dos túneis, das catenárias. Tudo

foi pensado em contínuo para a ligação

aos portos, tal como será acautelado

no caso de aeroportos, pois também há

carga que segue por via aérea.

São muitos os projetos de modernização,

eletrificação, ou para obra nova

em muitas linhas da rede, já consignadas

ou em contratação, casos das

linhas do Minho, Beira Alta, Vouga,

Norte, Sines-Elvas, de Cintura, do

Oeste, Alentejo ou Algarve. Que podem

os utentes esperar para breve?

Com maior destaque público, evidencio

a conclusão das obras da linha da

Beira Alta, que deverá ocorrer este ano,

ainda que os testes e ensaios possam

durar alguns meses. Também destaco o

Corredor Internacional Sul [Sines-Elvas,

e que ligará portos de Sines, Setúbal

e Lisboa a Espanha], devendo ficar

pronto ainda este ano, excluindo testes

e ensaios. São investimentos muito importantes

e que tornarão muito visível o

resultado da modernização da rede.

Há quem critique que a rede rodoviária

foi excessivamente desenvolvida

em Portugal. Mas ainda haverá algo

de muito importante que tenha ficado

para trás?

Existe alguma rodovia, especialmente

de alta prestação, que provavelmente

ainda não atingiu as expetativas que

existiam quando foi projetada. Mas

convém não esquecer que a nossa rede

rodoviária, a nível europeu, segundo

os indicadores de competitividade,

está muito bem pontuada. Mas há

investimentos a realizar que ainda

serão importantes, casos de ligações

muito congestionadas, a meios

urbanos com problemas de segurança

e ambientais, ou a parques industriais

que entretanto foram desenvolvidos,

de forma a melhorar a competitividade

FERROVIAS

No nosso território só temos bitola

ibérica e durante mais uns anos

não teremos outra

das empresas aí instaladas. Da mesma

forma, as ligações transfronteiriças.

Nestes projetos faz sentido intervir.

E há vários deles concentrados no

PRR. A Comissão Europeia tem uma

posição pré-estabelecida, segundo a

qual não se deve financiar estradas.

Mas é importante pensar na inovação

e a esse propósito temos um projetopiloto

para relacionar o veículo e a

infraestrutura e conexão entre veículos,

ou conseguirmos distinguir veículos

que são amigos do ambiente, ou que

tenham ocupação reduzida. Falamos

de adaptação de infraestruturas e

faz sentido falar disto de uma forma

integrada, segundo critérios de

sustentabilidade. De momento, o que é

um facto, é difícil financiar investimento

rodoviário, que o temos, e significativo,

não apenas por parte do PRR. As

últimas ligações são muito importantes,

em termos de competitividade, para

o transporte de mercadorias e para a

promoção da coesão territorial.

Há beneficiações previstas para o IP8,

entre Beja e Ferreira do Alentejo,

mas a A26, que deriva da A2, acaba

abruptamente a escassas dezenas de

quilómetros de Beja, com um aeroporto

internacional de caminho. Há

plano para a finalizar?

A nossa primeira prioridade em

matéria rodoviária, neste momento,

e por vários motivos, mas fáceis de

compreender, assenta no PRR, no qual

se inclui o IP8.

e-MOBILIDADE 27


Trazer

TRANSFORMANDO A MOBILIDADE

a ferrovia

Não é exagerado afirmar que Portugal

encontra-se num momento decisivo

para abraçar uma transformação

radical na sua infraestrutura de

transporte. Enquanto outros países

portuguesa

europeus avançaram nas últimas

décadas com soluções ferroviárias

com velocidades superiores em linha

com as ambições da União Europeia,

o nosso país não conseguiu fazer o

mesmo, ficando para trás no que toca

à velocidade, com uma ferrovia do

século passado.

para o século XXI

LUÍS CANDEIAS

CEO Siemens Mobility Portugal

uem tem memória lembra-se

das discussões que

fomos tendo sobre a alta

velocidade ao longo das

últimas décadas na principal

linha ferroviária do

país, que liga as duas maiores cidades.

Parece que desta é de vez, aproveitando

os ventos favoráveis de Bruxelas que reconhecem

a importância do comboio na

transição verde do setor da mobilidade.

Temos de abraçar esta oportunidade de

construir um futuro mais sustentável,

ligado e cómodo para o futuro do nosso

país através de investimentos estratégicos

no transporte ferroviário, especialmente

nos comboios de alta velocidade.

Não é exagerado afirmar que Portugal

se encontra num momento decisivo

para abraçar uma transformação radical

na sua infraestrutura de transportes.

Se a mobilidade é uma necessidade inegável

para qualquer sociedade moderna,

a forma como nos deslocamos tem um

impacto direto na nossa economia, sociedade

e meio ambiente. Neste sentido,

o investimento em comboios de alta

velocidade não é apenas uma questão

de conveniência, mas uma estratégia

vital para impulsionar o desenvolvimento

económico, melhorar a qualidade de

vida das pessoas e promover a sustentabilidade

ambiental. Ou seja, dá resposta

a vários desafios em simultâneo.

Em primeiro lugar, um sistema ferroviário

moderno e eficiente ligaria

as principais cidades de Portugal de

forma rápida e conveniente, reduzindo

significativamente o tempo de viagem

entre elas. Isso não só aumentaria a

acessibilidade para os cidadãos, mas

também impulsionaria o turismo interno,

promovendo o desenvolvimento

económico em regiões que estão a ficar

para trás no comboio da coesão.

Além disso, o investimento em com-

28 e-MOBILIDADE


Não é exagerado afirmar

que Portugal se encontra

num momento decisivo

para abraçar uma

transformação radical na

sua infraestrutura

de transportes

e-MOBILIDADE 29


TRANSFORMANDO A MOBILIDADE

Siemens Mobility Portugal

IMPACTO

Se a mobilidade é uma necessidade

inegável para qualquer sociedade

moderna, a forma como nos

deslocamos tem um impacto direto

na nossa economia, sociedade e

meio ambiente

boios de alta velocidade fortalecerá a

nossa indústria, criando empregos e

oportunidades para empresas portuguesas

participarem na construção e

manutenção da infraestrutura ferroviária

e alavancar potenciais exportações

futuras. Isso não só irá promover o

dinamismo da economia nacional,

mas também fomentará a inovação e o

desenvolvimento tecnológico em setores

adjacentes.

A sustentabilidade é outra consideração

crucial ao avaliar projetos de mobilidade.

O mundo enfrenta uma crise

climática sem precedentes pelo que

é imperativo que adotemos medidas

concretas para reduzir a nossa pegada

de carbono. Os comboios de alta velocidade

representam a alternativa mais

amiga do ambiente em comparação com

o transporte aéreo, principalmente em

distância relativamente curtas como é o

caso de Lisboa-Porto, e com o transporte

rodoviário, produzindo significativamente

menos emissões de CO 2

por

passageiro transportado. Ao optar por

investir na ferrovia, podemos reduzir a

poluição do ar e contribuir para a mitigação

das mudanças climáticas.

Olhemos para o nosso lado: o exemplo

do Velaro E, também conhecido como

“Spanish Speedster”, entre Madrid

e Barcelona, mostra como Espanha

colheu os frutos dos seus investimentos

em comboios de alta velocidade. Para

além de proporcionar uma forma rápida

e eficiente de viajar pelo país, o sistema

ferroviário espanhol contribuiu para a

redução das emissões de CO 2

, oferecendo

uma alternativa sustentável ao

transporte rodoviário e aéreo. Portugal

pode seguir o bom exemplo do seu

vizinho, aproveitando as lições aprendidas

e adaptando-as às nossas próprias

necessidades e realidades.

No entanto, para alcançar esses objetivos,

é crucial que todos os agentes

demonstrem visão e compromisso.

Investir em transporte ferroviário,

especialmente em comboios de alta

velocidade, não é apenas uma questão

de decisão no curto prazo, mas um

investimento de longo prazo. É hora de

deixar de lado as hesitações do passado

e abraçar uma visão renovada da mobilidade

em que esta é rápida, eficiente e

ecologicamente responsável.

A Siemens Mobility Portugal não faltará

à chamada. Temos operação em Portugal

na área da mobilidade, e em especial

na ferrovia, desde 1895 e de forma

contínua com empresa estabelecida em

Portugal desde 1905, nunca tendo deixado

o país, mesmo quando não houve

investimento nacional, o que também

permitiu reter know how e recursos humanos

especializados do setor no país.

Toda a nossa oferta pretende ajudar os

operadores a incorporarem digitalização

nos comboios e infraestruturas, a valorizarem

os seus ativos ao longo de todo o

ciclo de vida, a melhorarem a experiência

dos passageiros, garantindo disponibilidade.

Somos um parceiro duradouro,

com provas dadas e um compromisso

A sustentabilidade é outra consideração crucial

ao avaliar projetos de mobilidade. O mundo

enfrenta uma crise climática sem precedentes

pelo que é imperativo que adotemos medidas

concretas para reduzir a nossa pegada de carbono

inabalável com a economia portuguesa,

mesmo em momentos de pouco investimento

na ferrovia.

Como fornecedor mundial de tecnologia

de ponta para linhas de alta velocidade,

com casos de sucesso em vários países

(Alemanha, Egito, Reino Unido, Espanha,

entre outros), e com uma presença histórica

no mercado português, aplaudimos

este passo em direção a um futuro mais

sustentável e moderno para o país.

30 e-MOBILIDADE



ENTREVISTA

CityZen

é o estacionamento

ZOLTAN GYARMATI, CEO DA EPS GLOBAL, ESPECIALISTA

EM SOLUÇÕES DE PARQUEAMENTO URBANO

inteligente

32 e-MOBILIDADE


Zoltan Gyarmati (à direita)

ao lado de Tamas Petheo,

presidente do conselho da

EPS Global

Estacionar o automóvel nos

grandes centros urbanos pode

ser um quebra-cabeças para a

maioria dos condutores, quer

pela falta de espaços, mas acima

de tudo pelo tempo perdido

e pelos custos implicados,

seja pelo combustível gasto,

seja pelo prejuízo ambiental

inerente. A EPS Global, sediada

em Budapeste, Hungria, diz ter

a solução para contornar tais

problemas. O seu CEO fala-nos

do que diz ser a boa gestão para

um “estacionamento inteligente”

nas grandes cidades.

O

aumento populacional e

da locomoção automóvel

tem gerado um aumento

de pressão nos lugares de

estacionamento disponíveis

nos centros urbanos e a resistência à

utilização dos transportes públicos levam

os cidadãos que para eles se deslocam

e neles trabalham a utilizar a viatura

particular. E quem chegar mais tarde terá

grande dificuldade em encontrar lugar

de estacionamento, que é escasso e está

cada vez mais caro, e frequentemente

desorganizado. Nos EUA, por exemplo,

está estimado que o tempo perdido

anualmente em procura de lugar de

estacionamento é de 17 horas e acrescido

de 345 dólares de custos associados, em

tempo, combustível e emissões poluentes.

Na totalidade, estima-se aproximadamente

20 mil milhões de dólares

perdidos no processo. É por isso que a

EPS Global tem trabalhado para encontrar

uma forma de gerir todo o processo

de estacionar o carro nas cidades, tanto

à superfície, como em parques subterrâneos.

Uma boa gestão e software inteligente

é a chave para um final feliz, desde

a chegada ao parque de estacionamento

até à realização do pagamento. A EPS

global trabalha atualmente na América

Latina, na Europa, no Médio Oriente e

e-MOBILIDADE 33


ENTREVISTA

Zoltan Gyarmati

Em Portugal, vemos um

amplo horizonte para

as nossas soluções de

estacionamento inteligente

nos setores municipal e

privado, abrangendo o

estacionamento na rua e

fora dela

em algumas cidades chinesas.

O CityZen System beneficia todos, proprietários,

gestores e utilizadores.

Zoltan Gyarmati, CEO da empresa, fala-

-nos do trabalho que têm desenvolvido

e das virtudes do sistema.

O que torna o sistema CityZen da

EPS Global diferente dos demais?

Este combina de forma única a flexibilidade

com uma abordagem centrada

no utilizador. Foi concebido para se

integrar sem esforço nas infraestruturas

urbanas atuais e em vários equipamentos,

evitando os elevados custos

normalmente associados às atualizações

do estacionamento inteligente. O City-

Zen melhora a experiência de estacionamento,

tornando mais fácil para os

condutores encontrarem e pagarem o

estacionamento, o que também ajuda a

reduzir o tráfego e as emissões. Para os

planeadores e administradores urbanos,

oferece uma análise detalhada dos

dados para uma tomada de decisões

mais eficaz em matéria de mobilidade

urbana. O CityZen distingue-se por

conseguir um equilíbrio perfeito entre

adaptabilidade, facilidade de utilização

e a vontade de melhorar a vida urbana

através de tecnologia inteligente.

MELHOR MOBILIDADE URBANA

Que feedback têm recebido dos

clientes que implementaram a vossa

solução?

Os clientes que implementaram o

CityZen partilham um feedback muito

positivo, destacando particularmente

três grandes benefícios: a aquisição de

dados valiosos, os serviços prestados

aos utilizadores com base nesses dados

e, por último, mas não menos importante,

um aumento notável das receitas.

Estão satisfeitos com a forma como o

sistema não só simplifica a gestão do estacionamento,

mas também os dota de

conhecimentos para tomarem melhores

decisões em matéria de mobilidade urbana.

Esta combinação de ganhos financeiros

e apoio ao planeamento baseado

em dados reforça o papel do CityZen na

melhoria das infraestruturas da cidade e

na satisfação do cliente.

Os benefícios para o utilizador não

se limitam ao tempo poupado para

encontrar um lugar de estacionamento.

Que outros benefícios considera

essenciais?

Para além da poupança de tempo na

procura de um lugar de estacionamento,

os utilizadores do CityZen beneficiam

de várias outras vantagens essenciais. O

sistema fornece muitos outros serviços

totalmente automatizados aos utilizadores,

entre muitos outros, o início e o

fim do pagamento das taxas de estacionamento,

bem como a entrada e saída

de parques de estacionamento fechados

sem qualquer ação dos condutores, o

que conduz a uma experiência de condução

mais descontraída. Além disso,

TECNOLOGIA

O CityZen distingue-se por

conseguir um equilíbrio perfeito

entre adaptabilidade, facilidade

de utilização e a vontade de

melhorar a vida urbana através de

tecnologia inteligente

ao minimizar o tempo gasto à procura

de estacionamento, o CityZen ajuda a

diminuir o consumo de combustível,

poupando dinheiro aos utilizadores e

reduzindo o impacto ambiental através

de emissões mais baixas. A conveniência

das opções de pagamento sem falhas

melhora ainda mais a experiência do

utilizador, eliminando o incómodo das

transações físicas e tornando todo o

processo mais eficiente. Estes benefícios

contribuem coletivamente para uma

34 e-MOBILIDADE


MAIOR EFICIÊNCIA

A conveniência das opções de

pagamento sem falhas melhora

ainda mais a experiência do

utilizador, eliminando o incómodo

das transações físicas e tornando

todo o processo mais eficiente

melhor experiência de estacionamento.

O nosso sistema também contribui para

os operadores e autarquias com muitas

funcionalidades, como por exemplo,

poupando muitos custos com a operação

de parques de estacionamento

fechados sem pessoal, bem como uma

enorme poupança de mão de obra com

a nossa solução de veículos elétricos.

Identificou oportunidades de negócio

em Portugal? Em que sectores:

municipal ou privado, na via pública

ou fora dela?

As cidades portuguesas estão a enfrentar

o mesmo desafio que todas as cidades:

resolver os problemas do rápido aumento

do número de proprietários e da

utilização de automóveis. Em Portugal,

vemos um amplo horizonte para as

nossas soluções de estacionamento

inteligente nos sectores municipal e

privado, abrangendo o estacionamento

na rua e fora dela. A nossa experiência

com as parcerias iniciais solidificou

o nosso compromisso com o mercado

português e estamos a procurar

ativamente novas oportunidades de colaboração.

Com o seu rico património

e projetos de infraestruturas orientados

para o futuro, Portugal oferece um

cenário interessante para a CityZen ter

um impacto significativo na mobilidade

urbana. Estamos empenhados em

contribuir para reduzir o congestionamento

do tráfego, reforçar a sustentabilidade

ambiental e melhorar a

qualidade de vida urbana. Pretendemos

trabalhar em conjunto com as comunidades

locais, empresas e autoridades

em Portugal para adaptar as nossas

soluções inovadoras, apoiando assim

os objetivos de cidade inteligente e

sustentabilidade do país.

AMBIENTE MAIS SUSTENTÁVEL

O facto de os municípios estarem

a começar a restringir o acesso aos

centros das cidades não vai contra as

vossas soluções?

Embora os municípios estejam a restringir

cada vez mais o acesso aos centros

das cidades para reduzir o congestionamento

e as emissões, este movimento

está, na verdade, alinhado com os

objetivos das soluções da EPS Global.

Os nossos sistemas de estacionamento

inteligente, como o CityZen, foram

concebidos para apoiar estas estratégias

urbanas, otimizando a utilização dos

lugares de estacionamento fora das zonas

restritas, orientando os condutores para

os lugares disponíveis de forma eficiente

e reduzindo o tráfego desnecessário nos

centros das cidades. Isto complementa

os esforços dos municípios para criar

ambientes urbanos mais sustentáveis,

amigos dos peões e aumenta a eficácia

dos planos de mobilidade urbana.

As aplicações móveis podem fazer

corresponder a localização dos lugares

de estacionamento disponíveis

com os centros de transportes públicos

mais próximos?

Absolutamente, a nossa aplicação

CityZen foi concebida com integração e

adaptabilidade no seu núcleo, tornando-a

adequada para sincronizar com

vários outros sistemas e aplicações.

Embora a nossa configuração atual não

faça corresponder diretamente os lugares

de estacionamento disponíveis com os

centros de transportes públicos mais

próximos, a arquitetura da nossa solução

permite uma integração perfeita com as

aplicações de transportes públicos. Isto

significa que, se houver uma procura ou

necessidade de tal caraterística, o nosso

sistema pode ser facilmente adaptado

para incluir esta funcionalidade. Estamos

abertos a colaborações com sistemas

de transportes públicos para melhorar

a mobilidade urbana, demonstrando

o nosso apoio a redes de transportes

públicos abrangentes. O nosso objetivo

é fornecer uma solução holística que

simplifique o estacionamento e incentive

os transportes públicos, em linha com o

nosso compromisso para com o desenvolvimento

urbano sustentável.

e-MOBILIDADE 35


CONFERÊNCIA PROMOVIDA PELA eMOBILIDADE+, EUROTRANSPORTE E PARQUES TEJO

Gratuitidade

universal

nos transportes públicos

não é prioridade

36 e-MOBILIDADE


DEBATES

As várias mesas redondas

de debate da conferência

foram registadas em vídeo,

podendo ser acedidas

através do QR Code

abaixo

e-MOBILIDADE 37


A redução dos tarifários dos transportes públicos e a gratuitidade de alguns títulos de

redes concelhias e em áreas metropolitanas mereceu consenso e aplauso dos 20 oradores

e especialistas em transportes, dirigentes e académicos convidados para discutir o

tema “A Gratuitidade nos Transportes Públicos”. Ficámos a saber que tal gratuitidade

generalizada é algo ainda distante das possibilidades do país e dos municípios, pois

requer muitos meios financeiros, outras fontes de financiamento, um plano integrado de

transportes e um grande trabalho de linha e agulha para garantir a contiguidade de todo

o território. A sessão realizou-se a 13 de março, em Oeiras, município que se associou à

organização, tal como a Parques Tejo.

Texto Carlos Branco // Fotos Rogério Grilho

ISALTINO MORAIS

“Antes de se tomarem decisões há

que ponderar as questões e a própria

uniformidade das medidas, pois terá

que haver coerência, caso contrário

não dão resultados”

O

novo paradigma dos

transportes públicos,

descrito como uma

“revolução”, tem muito

mais a desenvolver e a

melhorar, e apesar do número crescente

de utentes faz-se eco da necessidade

de atrair mais cidadãos ao transporte

coletivo, para a urgente melhoria ambiental,

retirando o transporte privado

das estradas e arruamentos. Mas para

isso haverá que dar mais qualidade e

conforto aos transportes públicos, regularidade

e previsibilidade de horários

e frequências. Sendo que menos tempo

perdido em deslocações será também

sinónimo de fortalecimento económico

das regiões e do país e fator de atração

de novos e mais utentes.

A gratuitidade ou redução tarifária

segmentada dos títulos – seja para residentes,

idosos e estudantes – não deve

voltar atrás, uma vez considerada ação

adequada à prossecução dos objetivos

primeiros da medida: descarbonização

ambiental, descongestionamento

urbano, melhoria da qualidade de

vida dos cidadãos. Mas admite-se que

aquelas poderão ser alargadas a mais

territórios e a outros grupos de utentes

mais necessitados. Todavia, não pode

ser entendida como um fim, mas apenas

um meio para lá chegar. Em todos os

grupos de discussão ouviu-se que a

gratuitidade é bem-vinda, mas garanti-

-la, de forma universal, a todos, requer

meios que não estão ainda ao dispor do

país. Daí que seja necessário procurar

novas formas de financiamento, que

não passem apenas pelas receitas da

bilhética, do Orçamento do Estado e

dos programas europeus de apoio. Em

pensamento poder-se-ia ouvir de cada

38 e-MOBILIDADE


um dos participantes: “Mas quem é que

paga a conta?”

Há mais de 100 cidades em todo o

mundo que garantem a gratuitidade

total dos transportes públicos, sendo

que a primeira delas foi Tallinn, capital

da Estónia, em 2013 e em 2020 o

Grão-Ducado do Luxemburgo. Oslo, na

Noruega, pratica tal medida e encontrou

como fonte de financiamento a

cobrança de portagem aos veículos

particulares que pretendam aceder ao

centro da cidade.

Para Isaltino Morais, presidente do município

de Oeiras, “antes de se tomarem

decisões há que ponderar as questões

e a própria uniformidade das medidas,

pois terá que haver coerência, caso

contrário não dão resultados.” “É uma

questão importante”, sublinhou. E foi

secundado por Rui Rei, da Parques Tejo

(empresa municipal gestora do estacionamento

e mobilidade no concelho de

HUGO OLIVEIRA

“Se o TP for lento, mesmo

que oferecido, as pessoas

não vão aderir”

Tem sido uma revolução. [Com o passe

Navegante] Há gente mais idosa de Lisboa que

passou a poder ir a Mafra comprar pão

Oeiras), da opinião que “é preciso que

a procura encontre oferta de qualidade,

com previsibilidade, e Oeiras quer

entrar nesta discussão.”

A GRATUITIDADE NOS

TRANSPORTES PÚBLICOS:

BOM OU MAU EXEMPLO?

“Os exemplos não são todos replicáveis

em outras cidades, pois têm que ser

adaptados. Com a gratuitidade [em Tallinn]

dispararam as reclamações”, disse

Hugo Oliveira, da Autoridade Metropolitana

de Transportes, referindo-se à

perda de qualidade dos transportes. “Se

o TP for lento, mesmo que oferecido,

as pessoas não vão aderir”, justificou,

ao que Carlos Humberto Carvalho, da

Área Metropolitana de Lisboa, acrescentou:

“A AMT não tem só municípios

ricos. Reduzir o tarifário dos passes

foi difícil, mas conseguiu-se. É muito

importante, não só pela redução em si,

mas pela simplificação, pois dois terços

da AMT não tinha direito a passe. Desde

2018, a rede cresceu 38%. Tem sido

uma revolução. Há gente mais idosa de

Lisboa que passou a poder ir a Mafra

comprar pão.”

“No Porto (com uma rede ainda bebé),

ninguém procura um transporte se ele

não for bom. Mas se for gratuito como

ainda é o Metrobus [autocarro elétrico],

o que as pessoas mais valorizam

é a regularidade. No entanto, antes da

chegada do passe, atravessar Gaia para

ir trabalhar custava 110€, hoje custa

30€”, resumiu Ariana Pinho, da Área

Metropolitana do Porto.

João Figueira de Sousa, da homónima

consultora de Planeamento de Transportes

e Mobilidade, já tinha enquadrado

e-MOBILIDADE 39


CONFERÊNCIA

Transportes Públicos

a questão, ao sublinhar que as políticas

de transporte público, que remontam

aos anos 70, carregam para a sociedade

benefícios ambientais, pela redução de

emissões de gases com efeito de estufa,

melhoria da mobilidade e da justiça

social, facultando o acesso e maior interação

a segmentos mais desfavorecidos

e uma dimensão económica, proporcionando

menores congestionamentos e

menos horas perdidas nas deslocações.

Para Luís Cabaço Martins, em representação

dos operadores (ANTROP), reduzir

tarifários “será sempre uma medida

pontual, pois pressupõe mais procura

e esta conduz a novos custos. Total, ou

parcial, será sempre um tema estratégico

e se estamos à espera que as pessoas

tomem uma decisão continuamos a ter

problemas. Tais como não termos vias

dedicadas a autocarros, estacionamentos

em segunda fila, semáforos que não

prioridade aos autocarros...”

O IMPACTO DO TRANSPORTE

PÚBLICO GRATUITO NA

MOBILIDADE URBANA

“Em apenas 46 km 2 de território, Oeiras

é responsável por gerar 13% do PIB.

Mas quando os investidores nos perguntam

como estamos de acessibilidade

e transportes...” O mote foi dado por

Joana Batista, vereadora da CM Oeiras,

moderadora do painel. Teotónio dos

Santos, em representação dos Transportes

Urbanos de Braga (TUB), disse

não ser a empresa pela gratuitidade

geral, mas sim pela redução de tarifários

– passes de 14€ na zona central e

28€ em toda a rede. No entanto, nada

cobra aos ex-combatentes, reduziu a

tarifa em 75% aos reformados, em 50%

Reduzir tarifários “será sempre uma medida

pontual, pois pressupõe mais procura e esta

conduz a novos custos”

FILIPE MOURA

Em dez anos a emissão de passe

normal aumentou 94% e o número

de passageiros transportados 24%

aos estudantes do ensino superior e este

ano haverá gratuitidade aos estudantes

do ensino superior profissional. “Com o

ecossistema mais favorável, a frequência

melhorou com a chegada do Programa

de Apoio à Redução dos Tarifários

(PART): em dez anos a emissão de passe

normal aumentou 94% e o número de

passageiros transportados 24%”, disse.

Filipe Moura, do Instituto Superior

Técnico, não é da opinião que a gratuitidade

altere significativamente o estado

de coisas. “Em Cascais, o aumento da

frequência residirá nas viagens curtas,

que se substituem aos modos ativos

[andar a pé].” Mas Marisa Palma, da

CM Lagos, alegou que após a pandemia

a gratuitidade concedida aos estudantes

proporcionou um resultado maior que

o esperado - das 100 mil viagens em

2021 chegámos às 180 mil em 2023.

40 e-MOBILIDADE


Em janeiro de 2024 continuámos a

crescer e a preocupação é que a rede

não estava dimensionada para este

aumento.”

Para Faustino Gomes, da TML, empresa

que gere o transporte público

coletivo na AML, “antes de falarmos

de gratuitidade temos que cuidar dos

interfaces, fazer o Plano Metropolitano

de Mobilidade Sustentável e cozê-lo

com os municípios que têm operador

interno. É preciso olhar para o território

à escala metropolitana, na perspetiva

de interligar as redes nos interfaces -

que têm que ser bons. A gratuitidade é

importante, não é fundamental.”

Novamente Filipe Moura: “Poderíamos

pensar num corredor bus na A5 ou no

IC19.” Teotónio dos Santos adianta que

o Bus Rapid Transit já está pensado para

Braga, integrado no PRR e que ligará a

Famalicão e a Barcelos.

IMPACTO AMBIENTAL E SOCIAL

DA GRATUITIDADE

O ambiente [a sua defesa] e a melhoria

da qualidade de vida dos cidadãos são a

MARISA PALMA

Após a pandemia a gratuitidade

concedida aos estudantes

proporcionou um resultado maior

que o esperado – das 100 mil

viagens em 2021 chegámos às

180 mil em 2023

A frequência melhorou com a chegada do

Programa de Apoio à Redução dos Tarifários

(PART): em dez anos a emissão de passe normal

aumentou 94% e o número de passageiros

transportados 24%

pedra de toque das políticas de descarbonização

dos transportes públicos

e da captação de novos públicos, algo

que o ambientalista da ZERO, Acácio

Pires, achou por bem enfatizar: “Não

podemos ignorar que as mudanças

comportamentais são as que demorarão

mais tempo a efetivar, da mesma

forma que não poderemos ignorar

que os investimentos em infraestruturas

também um prazo mais longo até

que produzam efeitos. Outro impacto

importante em termos sociais seria um

melhor planeamento urbanístico para

a criação de novas habitações junto aos

hubs ferroviários, pois o fator decisivo

é o tempo de viagem para que se possa

operar a transição da viatura privada

para o transporte público.”

Para Rui Lopo, da TML, nem tudo é

linear: “Se hoje um transporte segue

vazio, amanhã poderá seguir cheio e no

dia seguinte começamos a pensar que é

preciso adquirir um novo autocarro que

não há. Os recursos não são infindáveis.”

Nuno Piteira Lopes, da CM Cascais,

considera que era hora dos concelhos

de Lisboa, Oeiras e Cascais voltarem

a pensar num corredor dedicado [um

MetroBus], pois mesmo que tivessemos

um TGV de Cascais ao Cais do Sodré

haveria sempre quem residisse em São

Domingos de Rana ou Alcabideche

que demoraria 40 minutos a chegar à

estação de Cascais. Neste concelho, a

mobilidade é uma estratégia.”

E depois, através da invocação de um

caso pessoal, alargou-o a todos os pais

com filhos em idade escolar: “Quan-

e-MOBILIDADE 41


CONFERÊNCIA

Transportes Públicos

do eu era jovem ia de aucarro para a

escola. Hoje, todos os pais querem levar

os filhos de carro até à porta da sala de

aula.”

Para Rui Rei, da Parques Tejo, a penalização

do transporte individual em Oeiras

terá que ser cada mais uma realidade.

“Há muito a mudar, a começar pelo

estacionamento, pois o planeamento urbano

não se coaduna com arruamentos

cheios de carros. E era bom que o novo

Governo dissesse à Brisa que tem que

resolver o problema da A5, que está a

condicionar o desenvolvimento de Oeiras.

Precisamos de ter espaço dedicado

para transporte público e estamos a

tratar do BRT, da LIOS [Linha Intermodal

Sustentável] e do SATU [Sistema

Automático de Transporte Urbano], este

há muito abandonado, e que deveria

ligar Paço de Arcos ao Cacém, passando

pelos vários parques empresariais de

Oeiras.

Projetos, também, mas em Cascais, passam

pela descarbonização total da frota

de transportes públicos e de recolha de

resíduos. Nuno Piteira Lopes disse que,

em 2027, toda ela deverá ser movida a

hidrogénio.

POLÍTICAS DE FINANCIAMENTO

DE GRATUITIDADE DOS SERVIÇOS

Mas como se financia isto? Foi a questão

lançada pelo moderador da mesa de

debate por Nuno Soares Ribeiro (VTM).

João Teixeira, do IMT, abordou o caso

É preciso olhar para o território à escala

metropolitana, na perspetiva de interligar as

redes nos interfaces – que têm que ser bons. A

gratuitidade é importante, não é fundamental

de Oslo, que financia o ecossistema

de transportes públicos com o valor

das portagens de acesso ao centro da

cidade. E António Torres (CIM Lezírias)

advertiu que a medida do PART, mesmo

que bem-vinda, não aterrou em todo o

território por igual. “Nas Áreas Metropolitanas

isso foi excelente, mas nos

territórios de baixa densidade geram-se

grandes assimetrias, pelo que considero

que a política de financiamento deve

ser estatal e universal. Se temos nove

milhões de euros de receita de bilhética

anual, já em termos ambientais a renovação

[descarbonização] de toda a frota

custaria 75 milhões de euros.”

Para Adriano Sousa (CM Vila Real), “os

beneficiários indiretos do investimento

em transportes públicos deveriam ser

chamados a participar no esforço.” E

quem são eles? Comerciantes, automobilistas

e o ramo do imobiliário, já que

ter paragens e saídas de metro fronteiros

às habitações valoriza qualquer

negócio. “Mas aí é o Governo que tem

de atuar, pois não nos cabe atribuir

contribuições ou impostos seja a quem

for. Atualmente, o financiamento é

público. E não dá para tudo. Para descarbonizar

toda a frota de TP - segundo

um estudo da Autoridade Metropolitana

de Transportes -, seriam necessários

3000 milhões de euros.”

António Torres disse ter uma receita

para captar mais utentes para os TP:

“Basta dizer a alguém que para chegar

ao trabalho às 8h bastar-lhe-á levantar-

-se às 7h e que terá uma via rápida para

o autocarro, viajando com qualidade e

conforto, dispondo em casa de meios

para escolher a bilhética e aceder a

informação fidedigna e confiável sobre

os horários e carreiras.”

42 e-MOBILIDADE



OPINIÃO

Tendências e novos projetos

de sistemas de

bilhética integrados

Um sistema de bilhética

corresponde ao conjunto

de tecnologias necessárias

para implementar

um determinado sistema

tarifário de transportes, que representa

a política de preços de um sistema de

transportes públicos que pode envolver

diferentes modos de transporte: autocarro,

metro, barco, comboio, bicicleta,

trotineta, funicular e avião; diferentes

modelos de zonamento, envolvendo

durações das viagens, quilómetros

percorridos, número de transbordos,

permitindo otimização tarifária, ou seja,

disponibilizando ao utilizador a tarifa

mais adequada à viagem pretendida, incluindo

o plafonamento da tarifa (após

um certo número de transações, o preço

do título é limitado a um determinado

valor diário), diferentes títulos de transporte:

mono-operador, multi-operador,

grupos etários ou profissionais, turismo,

passes mensais, títulos especiais de

eventos, diferentes modelos de repartição

da receita e diversas soluções

tecnológicas. Geralmente, a bilhética

integrada é possível através de Sistemas

de Cobrança Automática (AFC – Automated

Fare Collection Systems) e de

Sistemas de Bilhética Eletrónica (Mobile

Ticketing, Smart Ticketing)

SANDRA VASCONCELOS LAMEIRAS

Administradora da OPT

O FUTURO ESTÁ

NOS PAGAMENTOS MÓVEIS...

O número de passageiros que aderem

aos pagamentos móveis tem aumentado

exponencialmente, recorrendo-se à

utilização do telemóvel para aquisição e

validação de títulos de transporte. Este

pode corresponder a uma SMS, ou a um

E-ticket virtualizado numa aplicação

móvel dedicada. A validação pode ser

realizada via Bluetooth a partir de um

smartphone, com recurso a NFC ou códigos

QR. Estes sistemas exigem pouca

44 e-MOBILIDADE


ou nenhuma infraestrutura física, o que

reduz os custos inerentes à manutenção

e a disponibilização de bilhetes físicos,

embora possa sempre ser impresso a

pedido. Não existem pagamentos em

dinheiro, pelo que é um processo mais

seguro, auditável e muito mais conveniente

para o passageiro. Estas soluções

podem integrar outros tipos de serviços

de forma a acrescentar valor para os que

efetuam viagens multimodais e atrair

novos utilizadores: parques de estacionamento

e aluguer de automóveis,

aluguer e parqueamento de bicicletas,

esquemas de car-sharing e car-pooling,

entrada em museus, eventos desportivos

ou outros, Cacifos, compras em

lojas, entre outros.

UM BILHETE ÚNICO EUROPEU…

Um dos objetivos da política europeia

de transportes é a criação de um bilhete

único integrado, válido em toda a UE

em qualquer modo de transporte. Nessa

altura os passageiros terão a possibilidade

de escolher, com base em informações

fidedignas, a opção de viagem

mais sustentável, rápida ou económica

O número de passageiros

que aderem aos

pagamentos móveis

tem aumentado

exponencialmente,

recorrendo-se à utilização

do telemóvel para

aquisição e validação de

títulos de transporte

e-MOBILIDADE 45


OPINIÃO

Sandra Vasconcelos Lameiras

e que melhor se adapte às suas necessidades,

de proceder à respetiva reserva e

pagamento online e de efetuar a viagem

com um único bilhete, independentemente

do número de diferentes modos

de transporte utilizados. Em Portugal,

o IMT lançou o projeto 1Bilhete.pt que

pretende criar uma plataforma tecnológica

de bilhética intermodal que permita

a interoperabilidade entre diferentes

sistemas de bilhética a nível

nacional. À data de hoje

INÍCIO

No nosso país, o Porto foi

pioneiro em 2003, na integração

bilhética, com a criação do

sistema intermodal Andante,

dada a necessidade de se criar

um sistema de bilhética para

enquadrar a operação da

Metro do Porto

já permitiu a validação

de 140 Milhões de

validações nas redes

Carris Metropolitana

e UNIR. Além

do Porto e Lisboa

já assinaram o

protocolo de adesão

8 Comunidades

Intermunicipais.

No nosso país, o Porto

foi pioneiro em 2003, na

integração bilhética, com a criação

do sistema intermodal Andante, dada

a necessidade de se criar um sistema

de bilhética para enquadrar a operação

da Metro do Porto. Ainda hoje é

o projeto de integração bilhética mais

inovador e complexo que existe numa

região em Portugal, dado o modelo de

repartição tarifária que pratica há 21

anos, envolvendo operadores públicos e

privados e diferentes modos de transporte.

Em 2018, o Sistema Andante

teve a capacidade de se adaptar a uma

solução de mobile ticketing, permitindo

aos passageiros usarem apenas o telemóvel,

desde que fosse android, para se

deslocarem em toda a AMP: o ANDA –

primeira solução em Portugal de Mobile

ticketing para os transportes públicos,

desenvolvido em parceria pela OPT e

pela CARD4B. A aplicação garante a

otimização das tarifas inerentes

às deslocações. Ainda em

2024 será disponibilizada

ao público uma

nova funcionalidade,

através da qual será

possível utilizar

a aplicação para

adquirir títulos de

transporte e efetuar

carregamentos de

assinaturas intermodais

em suporte físico (cartões

RFID), solução TOP UP, sem

que haja necessidade de deslocação

a um ponto de venda físico.

Os concursos públicos internacionais

para a concessão da operação em

Transporte Público Rodoviário lançados

pelas autoridades de transporte em

Portugal, estão a contribuir para que se

disponibilizem aos passageiros soluções

de bilhética inovadoras e que facilitam a

entrada de novos passageiros no sistema

de transporte público. Citam-se alguns

desses projetos, nos quais a OPT está

envolvida, em parceria com a empresa,

AMI: Na região da CIM AVE foi lançada

no início do ano, uma aplicação móvel

que permite aos passageiros a aquisição

e utilização de títulos de transporte

através do telemóvel. A validação destes

títulos de transporte é feita através da

leitura de um código QR. Na região

de Aveiro também será lançada, este

ano, uma aplicação que permitirá aos

passageiros a aquisição e utilização de

títulos de transporte. Nesta aplicação, a

validação dos títulos de transporte também

será feita através da leitura de um

código QR. Estão previstos lançamentos

de mais aplicações móveis com bilhética,

ainda este ano, nomeadamente nas

regiões do Alentejo e de Chaves. Nas

restantes comunidades intermunicipais

verifica-se igualmente uma preocupação

crescente em disponibilizar sistemas

de integração tarifária, pelo que novos

projetos surgirão no mercado em breve.

A OPT está fortemente envolvida

nestes processos de integração tarifária,

almejando contribuir para a interoperabilidade

dos vários sistemas em

construção, o que poderá tornar Portugal

num dos primeiros países a ter

um título único nacional de integração

bilhética e de informação ao público, o

que contribuirá de forma decisiva para

se atingirem as metas da mobilidade

sustentável.

46 e-MOBILIDADE



OPINIÃO

A sustentabilidade

dos transportes públicos

de passageiros e a redução

do seu impacto ambiental

Foi com um misto de prazer e de decepção que assisti, no dia 13 de Março, à Conferência

“A Gratuitidade nos Transportes Públicos”, organizada pelas revistas Eurotransporte e

eMobilidade+, em parceria com o Município de Oeiras e a Parques Tejo.

48 e-MOBILIDADE


Prazer por ouvir alguns

Técnicos jovens defenderem

soluções para melhorar a

qualidade dos Transportes

Públicos que, há mais de 40

anos, eram defendidas pela CARRIS.

Decepção por verificar que a eficiência

energética nos transportes rodoviários,

mas não apenas, continua a não ser um

objectivo das empresas de transportes

e é desconhecida dos responsáveis pela

mobilidade.

Em 1983, como Técnico da CARRIS,

lancei o Projeto de redução do consumo

de combustível dos autocarros, que veio

a dar bons resultados nos anos seguintes.

Quando, em 1988, o Despacho Conjunto

10//88, de várias Direções Gerais, entre

as quais a DG Energia, determinava que

todos os sectores, excepto o Doméstico,

estavam obrigados a cumprir o Regulamento

de Gestão do Consumo de Energia

que, até então, se aplicava apenas à

JOÃO REIS SIMÕES*

Engº Mecânico (IST - 1970)

Indústria, fiquei a saber que também os

Transportes estavam obrigados.

Como a DGE apenas tinha ação no âmbito

da Indústria, indaguei se existiam

Técnicos com conhecimentos na área

dos Transportes, tendo obtido resposta

negativa. Assim estabeleci contacto com

um Director daquela DGE e foi estabelecido

um contrato de prestação de

serviços cujo objectivo imediato era a

criação de um Regulamento específico

para os Transportes, tendo sido, em

1990 criado, pela Portaria 228/90, o

Regulamento de Gestão do Consumo de

Energia para o Sector dos Transportes,

que ainda está em vigor, mas que, sendo

obrigatório para as empresas que consomem

mais do que 500 toneladas de

equivalente petróleo por ano (tep/ano),

é cumprido por um número muito

reduzido de empresas.

Como no momento a DGE pretendia

estabelecer consumos específicos padrão

para qualquer produção, firmou um

acordo com a ANTRAM para a execução

de 50 Auditorias Energéticas nas maiores

associadas, que foram por mim executadas,

dando origem aos respectivos Planos

de Gestão do Consumo de Energia, dos

quais uma minoria foi executada.

e-MOBILIDADE 49


OPINIÃO

João Reis Simões

Alguns anos mais tarde elaborei, por

encomenda da Auditoria Ambiental do

Ministério dos Transportes, uma atualização

do RGCEST, que nunca foi publicada.

A principal alteração proposta foi

a substituição da fórmula de cálculo da

redução mínima de 5%, relativamente

ao ano anterior, do consumo específico,

para o Plano de Racionalização de 3

anos a realizar. Essa alteração implicava

a utilização da Intensidade Energética

como consumo específico e da Taxa de

Ocupação como variável independente.

Como demonstrei no meu livro “Gestão

Técnica de Frotas Rodoviárias – Na

busca do desenvolvimento sustentável”,

editado pela Ordem dos Engenheiros

em 2014, a Taxa de Ocupação – relação

percentual entra a produção realizada

num dado período e a produção potencial

que poderia ter sido realizada – é o

principal fator que influencia a Intensidade

Energética – relação entre a energia

consumida (gep – grama de equivalente

petróleo) e a produção realizada (expressa

em passageiro-km para o transporte

de passageiros e tonelada-quilómetro

para o transporte de mercadorias).

No meu livro mais recente, “Gestão

Económica de Frotas Rodoviárias – A

formação do preço no transporte de

mercadorias, editado em 2021 pela

Ordem dos Engenheiros, volto ao tema

para demonstrar que o preço a propor

ao cliente não deve ser obtido através de

uma tabela de duas entradas – escalões

de toneladas e escalões de quilómetros

– pois o combustível, geralmente o

gasóleo, que é a principal componente

GRÁFICO 1 - CURVA DE CORRELAÇÃO DA INTENSIDADE

ENERGÉTICA COM A TAXA DE OCUPAÇÃO

de custo do transporte, não depende,

isoladamente, das toneladas ou dos

quilómetros, mas sim da produção e,

portanto, da Taxa de Ocupação.

Esta questão é importante na determinação

do custo que as Autarquias irão

suportar quando contratam um Operador

para realizar o serviço de transportes

(Gráfico 1).

Nesta colaboração com a Euro Transporte

proponho-me divulgar um conjunto de

ações, e demonstrar a sua importância,

que podem contribuir para a racionalização

do consumo de energia nas Empresas

de Transporte de Passageiros, que era um

tema da Conferência referida.

1. ÂMBITO DE ATUAÇÃO DA

EMPRESA DE TRANSPORTES

1.1. Especificação dos autocarros

O Caderno de Encargos da aquisição

estabelece todas as especificações que

a Empresa Transportadora pretende

ter nos novos veículos. Nos pontos

seguintes são destacados alguns determinantes

para a obtenção de reduções

do consumo de energia.

1.1.1. Relação de transmissão do eixo

traseiro

Um dos valores mais importantes, na

especificação dos autocarros é a relação

de transmissão do eixo traseiro.

Esta relação é criada por engrenagens

que alteram a velocidade angular

(rpm) do veio de saída da caixa de

velocidades e a transforma na velocidade

angular das rodas do autocarro.

Como o consumo

específico de energia do

motor não é constante

ao longo de todos os

valores da velocidade

angular em que pode ser

utilizado, mas sim uma

curva em forma de U, a

relação de transmissão

do diferencial deve ser

tal que, para a velocidade

máxima em que o

autocarro é utilizado, o

motor esteja a trabalhar

na rotação em que aquele

consumo específico

(g/kWh) é mínimo.

Como se mostra no

GRÁFICO 2 – CURVA DE CONSUMO

ESPECÍFICO DO MOTOR

Gráfico 2, essa velocidade angular é bem

inferior à velocidade máxima em que o

motor pode trabalhar.

A relação de transmissão do eixo traseiro

deverá ser, portanto, diferente para autocarros

que operam em meio urbano, em

estrada nacional ou em auto-estrada.

1.1.2. Tara

A tara é um peso que está sempre presente

na movimentação de um autocarro

e, portante, contribui para o seu

consumo de energia. Aquando da especificação

para aquisição de autocarros a

redução da sua tara deve ser discutida.

Para permitir uma melhor compreensão

do valor da intensidade energética de

cada autocarro, pode considerar-se o

valor da tara no cálculo da produção e

da produção potencial (o exemplo dos

Gráficos 3 e 4 é de veículos de recolha

de resíduos sólidos urbanos).

Verifica-se que na primeira opção a

curva tende para infinito quando a TO

é muito baixa e se aproxima do zero

(percurso em vazio) e que na segunda

quando o percurso é em vazio, o mínimo

da TO é igual a T/PB (41,3 %) e a IE

é máxima (40,4 L/1.000 t.km total).

1.1.3. Coeficiente de resistência aerodinâmica

(Cx)

O Coeficiente de resistência aerodinâmica

de uma dada forma, no caso presente

a frente de um autocarro, que se desloca

na atmosfera permite compreender qual

o valor da força resistente que se opõe

à deslocação do autocarro e que, por

consequência, origina um maior consumo

de energia. O valor do Cx é mais

importante para as deslocações com

elevadas velocidades de circulação e, em

50 e-MOBILIDADE


GRÁFICO 3 – CORRELAÇÃO IE X TO

GRÁFICO 4 – CORRELAÇÃO IE X TO CONSIDERANDO A TARA

qualquer dos casos, deve ser solicitado

ao construtor e posteriormente discutido

com o objectivo de o reduzir.

1.1.4. Novas formas de energia

São já diversas as formas de energia

disponíveis para utilização nos autocarros.

Genericamente o principal objectivo

é utilizar aquelas que proporcionam

menor impacto ambiental, no entanto,

o seu preço e as condições e disponibilidade

de locais para abastecimento são

factores que retardam ou impedem a

sua utilização no curto prazo.

Deve notar-se que os veículos que utilizam

gás natural estão equipados com

motores que funcionam no ciclo termodinâmico

Otto, por oposição ao ciclo

Diesel utilizado nos motores a gasóleo.

Tal implica diferentes características de

binário motor, fator que é importante

nos arranques e trajetos em rampa, pelo

que a sua adoção deve ser analisada

tendo em conta as condições em que os

autocarros irão ser utilizados.

1.2. Manutenção dos autocarros

Um veículo é constituído por um conjunto

bastante numeroso de sistemas.

Alguns desses sistemas são simples, mas

outros apresentam complexidade tanto

na sua constituição

como no seu funcionamento

e, portanto,

na forma como

devem ser utilizados

pelos Motoristas.

Na fase de concepção

de um veículo

são, à partida,

estabelecidas as

condições de carga,

de pisos e de velocidade

em que irá ser

utilizado. É em função

dessas condições que é

feito o dimensionamento

dos vários sistemas.

O funcionamento de

alguns sistemas baseia-

-se em fenómenos - o

atrito, por exemplo -

que em si mesmos

conduzem ao desgaste

de algumas das peças

que os constituem,

como é o caso dos

pneus, dos calços e polies de travão ou

dos segmentos e camisas do motor.

Outros sistemas vão perdendo as suas

características de origem - nominais -

como é o caso das molas metálicas da

suspensão, das molas recuperadoras das

máxilas dos travões ou das molas do

regulador da bomba injectora.

Outros, ainda, vão perdendo as suas

características pelo simples facto de

exercerem adequadamente a sua função,

como por exemplo os filtros de ar, de

óleo, de gasóleo que após um dado período

de funcionamento ficam colmatados

e devem, portanto, ser substituídos.

As situações são muito diversas e irão

ocorrer ao longo da utilização do veículo,

tanto nos casos em que é utilizado

em condições semelhantes àquelas para

que foi concebido como naquelas em

que essas condições são excedidas:

» desgastes – que se traduzem em perdas

de eficiência

» avarias – que se traduzem na rotura

do funcionamento.

A atividade de manutenção surge para

dar resposta a este tipo de situações

que provocam imobilizações dos

veículos e gastos com a sua reparação.

A minimização dos custos de manutenção

dos veículos é um objectivo da

gestão das empresas de transporte.

1.2.1.Tipos de manutenção

Os diversos tipos de manutenção podem

distinguir-se, pela utilização dos

critérios:

» a causa da sua realização

» o objectivo que se pretende atingir

com a sua realização

Assim, distinguem-se os seguintes três

tipos de manutenção (Quadro 1):

QUADRO 1 - TIPOS DE MANUTENÇÃO

Num veículo são inúmeros os sistemas

cujo estado influencia o consumo de

gasóleo, pelo que devem ser sujeitos a

manutenção.

Podem dar-se como exemplos os casos

seguintes (Tabela 1), indicando-se os valores

de aumento do consumo específico

energético (expresso em L / 100 km):

TABELA 1 – FACTORES INFLUENCIADORES

DO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL

FATOR

AUMENTO

( L / 100 KM )

Radiador colmatado 1 a 2

Termostatos deficientes 1 a 3

Filtro de ar colmatado > 1

Filtro de gasóleo

colmatado

> 1

Injectores deficientes > 1

Ar no sistema de

combustível

0 a 2

Turbocompressor sujo > 1

Débito de combustível

não uniforme entre

cilindros

Avanço à injeção

excessivo (> 3 º)

Bomba de alimentação

deficiente

Fuga no colector de

admissão / escape

Resistência excessiva

no tubo de escape

0 a 1

1 a 2

> 1

> 1

> 1

e-MOBILIDADE 51


OPINIÃO

João Reis Simões

Os valores não podem ser somados, pois

não são, geralmente, independentes.

Muitos outros factores poderão ser

listados.

1.2.2.Pressão de enchimento dos

pneus

Os pneus suportam o peso total do

autocarro, para o que têm dadas dimensões

e são enchidos a uma pressão

definida pelo respectivo construtor.

O seu papel é importantíssimo no que

concerne à segurança da circulação,

pois a capacidade de travagem do autocarro

depende do coeficiente de atrito

entre o pneu e o pavimento, o que

pode variar, reduzindo-se se tanto o

pavimento como o pneu não estiverem

em bom estado. No pneu, tal depende

da altura da banda de desgaste, pelo

que deve ser medida regularmente, por

exemplo uma vez por mês.

A pressão de enchimento, por seu lado,

influencia a segurança, mas também o

consumo de energia, pelo que deve ver

verificada com a periodicidade anteriormente

indicada.

1.2.3.Lavagem exterior do radiador

A eficiência do motor é influenciada

por vários factores, alguns dos quais de

difícil controlo. A limpeza exterior do

radiador é um desses factores pelo que

a lavagem deve ser feira regularmente e

intensificada no período mais chuvoso

ou quando são utilizadas estradas com

piores situações de limpeza, pelo que

deve ser estabelecida uma periodicidade

de execução apropriada.

1.2.4.Colmatagem do filtro de ar

Para queimar o combustível, o motor

necessita de ar. Nos motores de ciclo

Otto – gasolina, gás natural - o ar é admitido

já misturado com o combustível

mas, nos motores de ciclo Diesel – gasóleo,

biodiesel – é apenas admitido ar.

Se o filtro de ar estiver colmatado não

irá ser admitida a quantidade suficiente

para que todo o combustível admitido

no motor seja queimado. Será, assim,

gasto combustível que não será útil

para o movimento do veículo e, ainda,

será produzida emissão de gases mais

prejudicial à saúde e ao ambiente.

É recomendado que o estado de colmatagem

do filtro de ar seja verificado

Em 1983, como Técnico da CARRIS,

lancei o Projeto de redução do consumo

de combustível dos autocarros, que veio a

dar bons resultados nos anos seguintes

a cada 60.000 km.

Alguns veículos estão equipados com

um indicador de colmatagem, que

facilita a detecção de anomalia.

1.2.5.Bomba injectora e injectores

O sistema de injeção do combustível,

que é diferente conforme o tipo de

ciclo termodinâmico de funcionamento

do motor, é fundamental para o funcionamento

mais eficiente do motor,

pelo que deve ser alvo de operações de

manutenção preventiva, sistemática ou

por diagnóstico.

TABELA 3 – DADOS DA ACÇÃO DE FORMAÇÃO EM CONDUÇÃO ECONÓMICA

---

1.2.6. Auditoria Energética e Plano

de Racionalização do Consumo de

Energia

As empresas cujo consumo de energia,

num dado ano, seja superior a 500

toneladas de equivalente petróleo (tep)

estão abrangidas pelo Regulamento de

Gestão do Consumo de Energia para o

Sector dos Transportes aprovado pela

Portaria nº 228/90 de 27 de Março.

Esse Regulamento obriga as empresas a

executarem uma Auditoria Energética

e a conceberem um Plano de Racionalização

do Consumo de Energia cuja

meta é uma redução de 5 % do consumo

específico, relativamente ao ano de

referência.

O trabalho deverá ser realizado por

Técnico reconhecido pela Direção-Geral

de Energia e Geologia.

Entre muitas medidas de gestão e,

eventualmente, alguns investimentos,

deve salientar-se a formação em condução

económica dos Motoristas.

1.2.6.1.Formação dos Motoristas

O Plano de Racionalização concebido

em 1983, na CARRIS, sob minha

direção, incluíu ações de formação dos

Motoristas.

Cada ação foi desenvolvida para 15

Motoristas, sendo constituída por uma

sessão em sala em que era escolhido

um Motorista que se considerasse

como bom e que seguidamente conduzia

um autocarro, onde iam os colegas,

numa das carreiras da CARRIS, conduzindo

ao seu estilo, efetuando paragens

como no serviço normal.

Eram registadas as aplicações do

retardador (travão auxiliar), do travão

pneumático, o tempo e a distância

percorrida e o consumo total de

combustível.

Seguia-se, de novo em sala, uma sessão

52 e-MOBILIDADE


de formação sobre as técnicas de condução

económica, finda a qual o mesmo

Motorista voltava a fazer o mesmo

trajeto, mas agora sob a orientação do

Instrutor, sendo registados os valores já

referidos.

De novo em sala, eram efetuados os

cálculos da velocidade média, do

consumo de combustível e mostrados

todos os valores, para comparação e

reflexão

Na Tabela 3 estão os valores registados

numa das referidas sessões.

A velocidade média dos dois ensaios é

semelhante, tendo mesmo aumentado

ligeiramente no segundo ensaio, o que

pode ter proporcionado a redução de 1

L / 100 km.

A menor quantidade de aplicações

do retardador (- 24,1 %) e do travão

pneumático (- 31,0 %), no segundo

ensaio, mostram que houve uma mais

baixa dispersão da velocidade instantânea,

enquanto que no primeiro ensaio

a maior dispersão provocou a necessidade

do seu controlo e da sua redução

através da aplicação daqueles sistemas.

O exemplo mostra uma redução de 22

% no consumo específico energético.

Na sequência desta ação, que abrangeu

todos os Motoristas, verificou-se

redução do consumo específico, mas

não tem forte como no teste descrito,

pelo que outro tipo de controlo deve

ser encontrado.

Note-se que na CARRIS cada autocarro

é conduzido diariamente por cerca de 3

Motoristas, o que torna o controlo individual

quase impossível. A leitura dos discos

de tacógrafo permitia algum trabalho

de controlo, que pode ter sido prejudicado

com os tacógrafos eletrónicos.

1.3.Utilização dos autocarros

A forma como os autocarros são utilizados

também dá o seu contributo

para a racionalização do consumo de

energia.

em consideração a intensidade energética

de cada veículo, dentro de uma

família de iguais características, em

função da taxa de ocupação que cada

serviço apresenta, pois os veículos de

maior intensidade energética devem ser

escalonados para os serviços de mais

elevada taxa de ocupação.

1.3.2.Velocidade de circulação

No transporte em meio urbano, o

Transportador tem poucas oportunidades

de alterar a velocidade média de

circulação dos serviços que executa, no

entanto, nas ligações regionais e nacionais,

tal já é possível, nomeadamente

pela utilização de auto-estradas onde,

para além da circulação à velocidade

mais económica, é possível manter a

regularidade, aspecto muito importante

no âmbito do consumo específico,

uma vez que as travagens correspondem

a períodos em que a energia gasta

para atingir uma dada velocidade é

desperdiçada e, nas acelerações, se não

GRÁFICO 5 – CORRELAÇÃO ENTRE CONSUMO

ESPECÍFICO E VELOCIDADE MÉDIA

TABELA 2 – PERCURSOS EM CONTRA-FLUXO

-

forem suaves, pode estar a ser introduzido

no motor combustível que não é

queimado por falta de ar.

No Gráfico 5 mostra-se a curva de correlação

entre o consumo de combustível

(L/100 km) e a velocidade média

(km/h) para a CARRIS de então.

1.3.3.Percursos em contra-fluxo

Em meio urbano existem linhas que

têm nos períodos de ponta, de manhã

e da tarde, procuras muito desequilibradas.

Nesses casos é possível reduzir

a periodicidade das viagens no sentido

de menor procura, por exemplo executando

apenas de duas em duas viagens,

o que permite que ao veículo que não

cumpre essas viagens circular por um

trajeto diferente que proporcione mais

elevada velocidade comercial, permitindo

assim uma redução do consumo

de combustível e um reforço da oferta

no sentido em que a procura é mais

elevada, pelo menor tempo de trajeto

até ao ponto de partida.

Esta solução foi utilizada a partir de

1984, no âmbito do Projeto de Redução

do Consumo de Combustível, na

carreira 16, que fazia a ligação da Praça

do Chile a Benfica, na qual a procura

da manhã era mais intensa no sentido

do centro da cidade e a procura no

sentido contrário muito baixa.

Foram utilizados 3 percursos para

o trajeto em vazio, como se mostra

seguidamente na Tabela 2.

No Gráfico 6 situam-se os pontos representativo

de cada percurso relativamente

à curva de correlação, registando-se

dispersão expectável.

1.3.1.Escalonamento em função da

Intensidade Energética

O escalonamento dos veículos, da

frota de um Transportador, deve ser

feito considerando as características

dos vários veículos, nomeadamente a

potência, caso existam serviços com

rampas fortes, mas deve ter, também,

Percursos:

A. da careira em serviço – Arco do Cego, Praça de Espanha, Sete Rios, Estrada de Benfica, Benfica

B. da carreira, mas reservado

C. Arco do Cego, Av. República, Av. Forças Armadas, Sete Rios, Estrada de Benfica, Benfica

D. Arco do Cego, Av. República, Campo Grande, 2ª Circular, Fonte Nova, Benfica

Distâncias percorridas – de 5.650 m a 6.950 m

Tempo de trajecto – de 21:35 a 13:46 (mm:ss)

Velocidades médias – de 15,7 a 30,3 km/h

Consumo – de 3,87 a 2,50 L

Poupança – de 11,37 a 35,4 %

e-MOBILIDADE 53


OPINIÃO

João Reis Simões

GRÁFICO 6 – PONTOS PARA OS 4 TRAJECTOS

Foi escolhida a solução D pois proporcionava

uma muito boa redução do

consumo de combustível (27,1 %) e

uma muito boa redução do tempo de

trajeto.

2.ÂMBITO DE ATUAÇÃO DAS

AUTORIDADES REGULADORAS E

DAS AUTARQUIAS

As Autoridades Reguladoras e, na época

atual, as Autarquias também devem

tomar decisões que permitam melhorar

a qualidade do Serviço de Transporte

Público Colectivo de Passageiros

e, se possível reduzir o consumo específico

de energia, que proporcionará

redução das emissões poluentes.

Parece conveniente que a duração dos

contratos seja a da vida útil dos autocarros,

mas eventualmente tal cálculo não

existe.

2.1.Corredores BUS

O corredor BUS – O termo BUS não deriva

da designação dada no Reino Unido

aos autocarros, mas é um termo romano

que significa colectivo, usando-se no

âmbito dos transportes – é uma solução

que permite o aumento da velocidade

média de circulação porque a faixa de

rodagem é exclusiva – Na realidade, em

Lisboa começou por ser exclusiva, mas

a partir de certo momento foi aprovado

que pudesse ser utilizado por táxis e,

posteriormente, por certo tipo de motorizadas,

o que em minha opinião foi

um erro – para os modos de transporte

colectivo.

2.1.1.Em meio urbano

A sua utilização em meio urbano, como

é o caso de Lisboa, tem-se mostrado

muito boa, mas ao longo dos anos a

Câmara Municipal de Lisboa mostrou-

-se muito restritiva na aprovação das

propostas que a CARRIS apresentava

regularmente. Espero que agora que

a CML é dona da CARRIS a situação

esteja mais favorável.

A velocidade média global dos autocarros

da CARRIS era de 14 km/h mas,

para os autocarros que circulam em carreiras

onde há trajetos com corredores

BUS, a velocidade média é de 21 km/h,

isto é 50 % superior.

Tendo em consideração a curva apresentada

no Gráfico 5, podemos calcular

qual a redução do consumo de combustível

(Gráfico 7).

GRÁFICO 7 – PONTOS PARA VIAS

BANALIZADAS E CORREDORES BUS

A redução do consumo específico é

de 17,3 %.

Note-se que, para o utilizador do sistema

de transportes, a uma mais elevada

velocidade de circulação corresponde

um menor tempo da viagem, o que é do

seu agrado e corresponde a uma melhoria

da qualidade do serviço.

2.1.2. O caso particular da A5

Como na Conferência foi referida esta

possibilidade que vem sendo prosseguida

pela Câmara Municipal de Oeiras

não pude deixar de relembrar uma

situação que ocorreu na CARRIS por

volta de 1980.

O Secretário de Estado do Transportes

da altura decidiu comprar 12 autocarros

para criar uma carreira entre Santa

Apolónia e o Aeroporto da Portela,

tendo perguntado ao Presidente do

Conselho de Administração da CARRIS,

Eng.º Consiglieri Pedroso, se a empresa

queria explorar tal linha. Como é óbvio,

a resposta foi afirmativa.

Iniciada a exploração da linha, verificou-se

passados cerca de 4 meses que os discos

das embraiagens tinham de ser substituídos.

Note-se que se tratava de autocarros

com embraiagens mecânicas, situação que

a CARRIS nunca tinha tido pois desde

o início da utilização de autocarros em

Lisboa (1944), a Gestão inglesa tinha introduzido

embraiagens hidráulicas.

Reagindo a esta situação de inadequação

dos autocarros ao serviço urbano,

54 e-MOBILIDADE


o Eng.º Consiglieri Pedroso reuniu com

o Director Técnico e os seus Técnicos

para solicitar soluções para ultrapassar

o problema.

Passado uma semana, propus à

Administração a seguinte solução:

transforar 12 autocarros antigos da

marca Daimler Fleetline de 2 pisos,

retirando alguns bancos no piso de

baixo e colocando aí prateleiras para

arrumação de malas, o que foi executado

num período curto de tempo, e

utilização dos autocarros novos numa

carreira nova, ligando o parque do

Estádio Nacional, situado no Concelho

de Oeiras, como se sabe, à zona

de S. Sebastião, onde se situa atualmente

o Corte Inglês, onde passavam

várias linhas de autocarros e de carros

eléctricos.

Nesta linha, que pretendia reduzir

a quantidade de automóveis que,

oriundos das zonas de Caxias a Oeiras,

se destinam a Lisboa. A periodicidade

de partidas seria de cerca de

10 minutos, mas as partidas poderiam

dar-se sempre que o autocarro

estivesse cheio.

Esta proposta não chegou a ser posta

em prática na altura nem quando

foi construída na A5 a terceira faixa

de rodagem. Espero, sinceramente,

que venha a ser utilizada tantos anos

depois, pois continua válida.

2.2. Gestão dos semáforos

Os autocarros da CARRIS estão equipados

com emissores que são detectados

por circuitos eléctricos enterrados que,

ao detectarem a aproximação a um

semáforo podem prolongar o tempo

de verde de modo que o autocarro não

pare, contribuindo assim para a melhoria

da velocidade média, para a redução

do tempo de viagem e para a redução

do consumo de energia.

É, portanto, uma boa solução que deve

ser utilizada sempre que possível.

2.3.Taxa de cumprimento do serviço

De entre as várias componentes da

qualidade que um sistema de transporte

pode oferecer aos seus utilizadores, o

cumprimento do serviço é certamente

uma delas. Acontece, porém, que por

falta de autocarros, certas viagens não

são feitas, o que se traduz num grande

transtorno para os utilizadores.

As Autoridades de Transportes e as Autarquias

deverão estabelecer uma taxa

de cumprimento do serviço (TCS) que

contrataram. Essa taxa de serviço tem

como consequência que a Empresa de

Transporte tem de possuir uma frota de

reserva para suprir as falhas.

A quantidade de veículos que constituirá

a frota de reserva pode ser calculada

utilizando a Lei Binomial e tendo em

consideração a taxa de imobilização

média da frota envolvida na prestação

do contrato.

No exemplo que se apresenta, trata-

-se de um serviço que necessita de 50

autocarros que registam uma taxa de

imobilização (TI) anual de 10 %.

Se a Autoridade exigir uma TCS de 95

TABELA 4 – FROTA DE RESERVA PARA TCS = 95 %

R1 =

58 * 0,10 = 5,8

R2 = 8-5,8

= 2,2

50 frota necessária

8 reserva que

probabilisticamente

garante a colocação

de 50 autocarros ao

serviço

58 trota total

6 1ª reserva

50 + 6

= 56

frota nominal

2 2ª reserva

%, então a frota de reserva será de 8

autocarros:

GRÁFICO 8 – RELAÇÃO TCS E FROTA DE RESERVA

O Gráfico 8 mostra a relação entre a

TCS e a quantidade de autocarros que

constitui a frota de reserva.

Se a Autoridade for mais exigente,

por exemplo impondo TCS = 100 %,

os valores passarão a ser os seguintes

(Tabela 5).

TABELA 5 – FROTA DE RESERVA PARA TCS = 100 %

R1 =

66 * 0,10 = 6,6

R2 =16-6,6

= 9,4

50 frota necessária

16 reserva que

probabilisticamente

garante a colocação

de 50 autocarros ao

serviço

66 trota total

7 1ª reserva

50 + 7

= 57

frota nominal

9 2ª reserva

Pode concluir-se que seria necessário

aumentar a frota em 8 autocarros, o que

implica custos para a Empresa e para a

Autoridade.

Esta solução foi utilizada na CARRIS por

minha iniciativa. A frota de reserva era

constituída por uma parte da frota que, devido

à aquisição anual de novos autocarros,

era retirada do serviço. No ano seguinte

seria substituída por outra abatida.

Os autocarros da 2ª frota de reserva

são utilizados apenas quando a Taxa de

Imobilização num dado dia é superior à

média.

Membro Conselheiro da Ordem dos

Engenheiros e Especialista em Transportes.

Assistente no IST e Faculdade de Engenharia

de Lourenço Marques (1970/1980). Professor

Convidado no IST – Mestrado em Transportes

(1987(2001). Técnico da CARRIS (1974/1991).

Vogal do Conselho de Administração da

CARRIS (1997/2003).

e-MOBILIDADE 55


56 e-MOBILIDADE


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

Quando a tecnologia

é um falhanço

Raramente olhamos para o

passado e vemos o que aconteceu

Para que a evolução digital seja eficaz é preciso que as empresas

de transporte e logística estejam preparadas, que saibam avaliar a

qualidade dos dados existentes e que não confundam transformação

digital com modernização tecnológica. São conceitos diferentes,

pelo que os processos tendem a falhar.

Aproximadamente dois terços

dos líderes na área da

logística, inquiridos pela

Gartner 1 , planeiam ou já

implementam soluções de

inteligência artificial generativa (GenAI)

em 2024.

É sempre assim todos os anos, não é?

Nestes inquéritos sobre o que nos espera

no próximo ano ficamos com a impressão

de que todos estão a surfar uma onda

de tecnologia inovadora. Mas raramente

olhamos para as previsões dos anos anteriores

e vemos o que lhes aconteceu.

A implementação de tecnologia na

indústria de transportes e logística é

fundamental para atingir inovação e

novas formas de operar. Mas é importante

que tal se traduza em benefícios

e ganhos efetivos para as organizações.

Infelizmente nem sempre é assim.

De facto, apesar de 30% das empresas

assumirem-se como maduras tecnologicamente

nas áreas do planeamento

tático (vendas e operações) e 10% no

planeamento estratégico (desenho das

redes de abastecimento e transportes),

apenas 5% das empresas atribuem a

melhoria do seu desempenho à evolução

tecnológica 2 .

Para que a evolução digital seja eficaz é

preciso que as empresas de transporte

e logística estejam preparadas. Diretamente

ligado ao desempenho está a

qualidade dos dados que alimentam

esses sistemas. Muitas vezes os dados

não existem ou – pior ainda – existem,

mas são medíocres e estão misturados

com alguns de qualidade.

As empresas devem estar preparadas

para adotar novos processos e operar

de forma diferente. Este aspeto é

frequentemente negligenciado quando

falamos de transformação digital. Aliás,

o conceito de transformação digital é

frequentemente confundido com o conceito

de modernização tecnológica.

TRANSFORMAÇÃO DIGITAL VS.

MODERNIZAÇÃO TECNOLÓGICA

Uma empresa que adquira um sistema

automático de caixas de pagamento,

FILIPE CARVALHO

CEO Wide Scope

onde são os próprios clientes a registar

os seus produtos, estará a modernizar-

-se tecnologicamente. Poderá atingir

um desenho da linha de caixas diferente,

com menos pessoas a atender, e até

ter alguma redução global de custos

com essa iniciativa. Mas os clientes

serão os mesmos e o modelo de negócio

permanecerá inalterado. Apesar de se

modernizar tecnologicamente não está a

transformar-se.

No entanto, se essa empresa iniciar

um novo canal de vendas online que

inclui entrega ao domicílio, com uma

operação assente em tecnologias de planeamento

e optimização das entregas,

e-MOBILIDADE 57


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

Filipe Carvalho

estará a chegar a novos clientes, terá

novas receitas e até mesmo uma nova

presença no mercado. Poderemos então

dizer que beneficiará de uma efetiva

transição digital e não somente de uma

modernização tecnológica.

Infelizmente, as iniciativas de adoção

tecnológica em busca da disrupção nem

sempre correm bem e dão origem a

falhanços monumentais:

Nos anos 80 o célebre CEO da General

Motors, Robert Smith, investiu milhares

de milhões na robotização das linhas de

produção. Talvez tenha levado o esforço

demasiado longe porque houve relatos

de robôs a pintarem-se uns aos outros

enquanto outros instalavam o para-brisas

no banco da frente.

-chain. Resultou em excesso de stock

de alguns artigos e levou a uma perda

de 100 milhões em receita, conforme

reportado pelo seu CEO mais tarde.

Em 1999, a Toys r’us apostou fortemente

no negócio online e anunciou que

conseguia entregar todas as encomendas

desse canal até dia 10 de dezembro.

Apesar das encomendas chegarem via o

seu website, a empresa não conseguiu

de forma ágil recolher os produtos das

prateleiras do armazém, colocá-los em

caixas e expedi-los. Os processos e

sistemas dentro do armazém não acompanharam

a evolução do novo canal de

comércio eletrónico. Nesse ano, o Pai

Natal chegou depois do Ano Novo para

muitas crianças.

Para que a evolução digital seja eficaz é

preciso que as empresas de transporte e

logística estejam preparadas

formação de sistema TradeLens para o

registo da transferência de propriedade

dos contentores expedidos internacionalmente.

Era a união de parceiros

ideal e rapidamente a ideia atraiu várias

empresas interessadas em aderir ao

sistema. O consórcio alargou as suas

equipas técnicas e recebeu investimento

significativo.

No entanto, não é suficiente que uma tecnologia

seja boa para ser bem-sucedida. É

também preciso que seja útil, que resolva

problemas prementes das organizações.

Passados 4 anos, a Maersk e a IBM

anunciaram o fim do sistema por manifesta

falta de adopção do mercado 4 .

Outro exemplo em que a tecnologia

nem sempre significa melhoria para a

organização é a“Uberização” do transporte

como já escrevi aqui em 2018 5 .

Desde então surgiu a Uber Freight

(como se esperava) para implementar

o conceito que descrevi, mas não está

a correr muito bem. Só no ano passado

reportou quebras de 23% 6 e despediu

50 pessoas 7 .

Atualmente, tal robotização é bastante

elevada, mas na altura o investimento

desmesurado em tecnologia prematura

valeu-lhe o despedimento, e à GM valeu

a ultrapassagem pela Toyota e consequente

queda em bolsa.

Em 1996, a Adidas tentou lançar um

novo sistema de gestão de armazéns que

já vinha a desenvolver há 3 anos. Mas

fê-lo antes de estar realmente pronto, e

simplesmente não funcionou. Nem funcionou

o segundo sistema que tentou

lançar logo a seguir para ultrapassar o

falhanço do anterior. Isso traduziu-se

em 80% de encomendas por satisfazer

nesse mês, num volume de 50 milhões

de dólares.

Algo semelhante aconteceu à Nike em

2001, com o lançamento de um novo

sistema de planeamento de supply-

Muitas outras empresas reportaram

falhanços na adoção de tecnologias ao

longo do tempo. Isso tem servido para a

indústria se acautelar, principalmente no

que diz respeito à adoção dos novos processos

que as tecnologias permitem, mas

também na própria preparação da empresa

para desenvolver nova tecnologia.

TECNOLOGIA AVANÇADA NÃO É

SINÓNIMO DE TECNOLOGIA ÚTIL

Algumas tecnologias apresentam-se

como disruptivas e levam a que os

mais arrojados cedo invistam nelas. A

promessa de disrupção tecnológica atrai

frequentemente investidores para o seu

próprio desenvolvimento. Mais uma

vez, nem sempre bem-sucedidos.

Por exemplo, em 2018 a Maersk e a

IBM anunciaram o negócio do ano 3 . A

OLHAR PARA O PASSADO ANTES

DE FAZER PREVISÕES PARA 2024

Começamos mais um ano e mais uma

vez assistimos ao desfile de chavões

tecnológicos. A Inteligência Artificial

continua a ser o mais proeminente.

Em suma, recomendo que antes de

investir deve certificar-se de que efetivamente

necessita da tecnologia em causa

para resolver um problema que é actual,

ou que lhe permitirá fazer algo que

ainda não fazia antes no seu negócio,

ou seja, que se trata de uma verdadeira

transição tecnológica.

E, por fim, não lance as tecnologias

quando estão apenas parcialmente

prontas. Nem quando até são fantásticas,

mas é a altura errada para o seu negócio.

A história está cheia de falhanços

por estes dois motivos.

1. https://www.gartner.com/en/webinar/574585/1291322

2. https://www.supplychainmovement.com/millions-spent-on-supply-chain-technology-fail-to-deliver

3. https://www.supplychaindive.com/news/Maersk-IBM-shut-down-TradeLens/637580/

4. https://www.supplychaindive.com/news/Maersk-IBM-shut-down-TradeLens/637580/

5. https://www.eurotransporte.pt/reportagem/34/353/3-mentiras-sobre-a-uberizacao-do-transporte-de-mercadorias/

6. https://www.freightwaves.com/news/uber-freight-ebitda-continues-to-fall-revenue-drops-23-from-year-ago

7. https://finance.yahoo.com/news/uber-freight-lays-off-many-154657687.html?guccounter=1

58 e-MOBILIDADE


Inove com a nossa empresa.

Construímos um produto que se adequa às suas

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OPINIÃO

Energia e mobilidade

comunitárias

Soluções comunitárias de captação e fornecimento de energia podem contribuir

significativamente para alimentar soluções comunitárias de mobilidade. E esses

serviços de mobilidade fornecidos pela comunidade podem desempenhar um

papel crucial na melhoria das opções de transporte, especialmente em áreas

onde o transporte público tradicional pode ser limitado ou insuficiente. Mas

também nas áreas de maior densidade populacional, como forma de acelerar e

democratizar a transição energética e a descarbonização dos transportes.

ANTÓNIO GONÇALVES PEREIRA

Presidente do Ecomood Portugal, Associação

para a Promoção Solidária da Sustentabilidade

na Mobilidade Humana; Embaixador

do Pacto Climático Europeu

Projetos comunitários de

energia, como parques

solares ou eólicos pertencentes

e operados por

comunidades locais, bem

como as Comunidades de Energia e o

Autoconsumo Colectivo, podem servir

de motor para a criação de soluções alternativas

comunitárias de mobilidade,

como frotas de veículos partilhados,

de várias tipologias, ou autocarros ‘a

pedido’. Tudo elétrico, claro está. Mas

o contrário também pode ser verdade:

a implementação destes formatos de

mobilidade comunitária justificam a

criação de soluções de energia locais

para os alimentar.

Vamos então a alguns exemplos, começando

por aqueles que mais beneficiam

por serem parte de projectos que

incluam também a captação comunitária

de energia:

» Autocarros pertencentes ou

operados pela comunidade

Em algumas áreas, as comunidades

podem estabelecer os seus

próprios serviços de autocarro

para responder a necessidades

específicas de transporte não

satisfeitas adequadamente pelos

operadores tradicionais de transporte

público. Estes autocarros

operados pela comunidade podem

servir áreas rurais ou desfavorecidas,

fornecer serviços de transporte

para populações específicas (por

exemplo, idosos, estudantes ou

trabalhadores) ou oferecer rotas

flexíveis e horários adaptados à

procura local.

60 e-MOBILIDADE


e-MOBILIDADE 61


OPINIÃO

António Gonçalves Pereira

» Programas comunitários de

partilha de veículos

Podemos estar a falar de automóveis,

de ciclomotores, de bicicletas ou

mesmo de furgões de mercadorias.

Ou até de frotas multimodais, consoante

as necessidades da comunidade

previamente diagnosticadas.

Normalmente acontece uma utilização

de curto prazo, por hora ou por

quilómetro. Esses programas permitem

que os membros da comunidade

utilizem os veículos quando necessário,

sem as despesas, complicações e

pegada inerentes à produção e posse

individual.

Para reduzir ainda mais as emissões,

sobretudo as de produção, e também os

custos de implementação destes programas,

o próprio Estado pode criar programas

de incentivo à conversão para

elétricos de veículos já existentes, e para

a sua reutilização por estas plataformas

comunitárias.

» Centros de mobilidade comunitária

Podem operar como locais centralizados

onde convergem várias opções

de transporte, incluindo veículos

partilhados, bicicletas, paragens de

transporte público e comodidades

como estacionamento e oficina de

bicicletas, estações de carregamento

de veículos elétricos e pontos de

recolha de transporte partilhado.

Estes centros proporcionam ligações

contínuas entre diferentes modos de

transporte, melhoram a acessibilidade

e incentivam as viagens multimodais,

promovendo a mobilidade sustentável

e eficiente dentro da comunidade.

E podem não só servir de

base para os veículos comunitários,

como também

prestar serviços, como carregamento

ou manutenção,

para os veículos particulares

dos seus membros.

» Plataformas de boleias e

partilha de viagens

Estas iniciativas comunitárias,

normalmente facilitadas

através de plataformas

online, conectam indivíduos

que viajam na mesma

direção, permitindo-lhes

compartilhar viagens e reduzir

custos de transporte.

Ao incentivar a partilha de viagens,

as comunidades podem aliviar o

congestionamento do tráfego, reduzir

as emissões e melhorar as ligações

sociais entre os residentes.

» Serviços de transporte conduzidos

por voluntários:

Podem servir para ajudar residentes,

especialmente idosos, pessoas com

deficiência ou pessoas com mobilidade

limitada, no acesso a serviços e

atividades essenciais. Os motoristas

voluntários podem utilizar os seus

veículos pessoais ou os comunitários

para fornecer transporte porta-a-porta

para consultas médicas, compras

de supermercado, passeios sociais e

outras necessidades, preenchendo

lacunas nos serviços tradicionais de

transporte público e promovendo

um sentimento de apoio e solidariedade

comunitários. E esta pode ser

também uma solução de emprego

temporário ou extra para elementos

da comunidade em fase de necessidade.

Quanto à vertente energética para

alimentar, não só estes serviços de mobilidade,

como as restantes necessidades

da comunidade e seus elementos, a captação

deverá prioritariamente aproveitar

espaços já construídos, como as coberturas

de grandes espaços. A distribuição

deverá funcionar preferencialmente em

formato de micro-rede, independente

da rede nacional, que deverá ser encarada

como backup. Para isso é necessário

apostar também em armazenamento,

com a inclusão nos projectos de baterias

estacionárias, como as de sódio, por

exemplo. Estas soluções podem ter

como base associações e instituições

locais das mais diversas tipologias, mas

também as freguesias, municípios ou

até mesmo as comissões de coordenação

e desenvolvimento regionais.

Ao aproveitar os recursos energéticos, a

experiência e a colaboração da comunidade,

pode-se desenvolver soluções de

mobilidade integradas que sejam ambientalmente

sustentáveis e socialmente

equitativas. Estas iniciativas podem

melhorar o acesso a opções e serviços

de transporte à medida das necessidades

de cada cidadão a cada momento.

E, como isso, reduzir as emissões de

gases com efeito de estufa, os congestionamentos

de trânsito e contribuir

para a resiliência geral e o bem-estar da

comunidade.

Este será o tema de uma sessão que

a Ecomood e a Zero estão a preparar

para as Jornadas Pela Democracia

Energética, que acontecerão a 11 e 12

de Maio, no Liceu Camões, em Lisboa.

Pode saber mais sobre o evento e inscrever-se

para participar em democracia-energetica.pt.

Nota: este artigo está escrito em português de

Portugal, apenas com as evoluções do (des)

acordo ortográfico que me fazem sentido.

62 e-MOBILIDADE


Preparados para um futuro

multitecnológico e sustentável

FOR A

BETTER

LIFE

Descubra

o mundo

da Irizar


INVESTIGAÇÃO

Há menos

mulheres

em bicicleta?

Em 2023, as mulheres representavam apenas 14% das

pessoas que utilizam a bicicleta na Área Metropolitana

de Lisboa. Estes dados confirmam a desigualdade de

género existente neste meio de transporte e revelam

que a mobilidade não é neutra. Estudar o que inibe

e motiva as mulheres a adoptar a bicicleta nas suas

deslocações quotidianas e incluir essa informação nas

políticas de mobilidade parece ser um factor-chave

para reduzir as diferenças de género na mobilidade em

bicicleta nas nossas cidades.

INÊS SARTI PASCOAL

insapa@hotmail.com

Linkedin.com/in/inessartipascoal

A

desigualdade de género

(gender gap) na utilização

da bicicleta existe por

diversos factores, como

comumente se referem

a insegurança rodoviária para pedalar

junto do tráfego automóvel ou a falta

de infraestruturas cicláveis. Junta-se

ainda a falta de dados desagregados por

género na mobilidade, resultando, por

exemplo, no desconhecimento de que

os padrões de mobilidade das mulheres

são mais complexos, pelas tarefas domésticas

e de cuidado que, por motivos

sociais, continuam a estar mais a cargo

destas. Soma-se também o assédio sexual

vivenciado em espaço público, sentido

mais por mulheres. Estes factores

não estudados culminam em sistemas

de transportes e soluções de mobilidade

não adequados às necessidades específicas

das mulheres.

DESIGUALDADE DE GÉNERO NA

UTILIZAÇÃO DA BICICLETA NA AML

Num trabalho de investigação que

decorreu em 2023, foram feitas observações

junto a infraestruturas cicláveis

de 6 locais da Área Metropolitana de

Lisboa (AML), para apurar a proporção

de mulheres a utilizar a bicicleta

como meio de transporte. Do total de

21h40min observadas, foram contabilizadas

515 bicicletas, sendo que as

mulheres representavam apenas 14% de

quem utilizava a bicicleta.

Foi possível notar diferenças significativas

na proporção de mulheres consoante

as localizações: Lisboa foi o local com

maior proporção de mulheres em bicicleta

(19%), seguido de Almada (17%),

Montijo (13%), Setúbal (11%), Amadora

(5%) e Vila Franca de Xira (2%).

Sendo a proporção de mulheres a

pedalar considerada um indicador de

segurança para andar de bicicleta, pode

afirmar-se que das 6 localizações analisadas,

Lisboa é a mais segura.

As diferenças entre géneros na mobilidade

em bicicleta podem ser mais

evidentes em cidades com menores taxas

de utilização da bicicleta, o que parece

verificar-se também na AML, ou seja, a

maior proporção de mulheres a usar a

bicicleta parece estar relacionada com o

maior fluxo de ciclistas numa cidade.

Das observações efetuadas foi ainda

64 e-MOBILIDADE


possível notar que existe maior proporção

de homens a usar capacete (42%) do

que mulheres (39%). As preocupações

com a aparência afetadas pelo uso de

capacete podem fazer parte do conjunto

de motivos que dão origem ao gender

gap da utilização da bicicleta. E, de facto,

a maioria das mulheres que utiliza a bicicleta

na AML (61%) não coloca capacete.

Se a maioria das mulheres prefere não

utilizar capacete enquanto pedala, fará

sentido promover a obrigatoriedade na

sua utilização e campanhas de fomento

à utilização do capacete, ou esse tipo

de medidas poderá promover uma

desigualdade ainda maior neste meio de

transporte? Considera-se pertinente que

haja uma perspectiva de género no delineamento

e planeamento de políticas e

campanhas em relação.

OBSERVAÇÕES

EM ALMADA

OBSERVAÇÕES

NA AMADORA

A DESIGUALDADE DE GÉNERO (GENDER GAP)

NA UTILIZAÇÃO DA BICICLETA

PROPORÇÃO DE MULHERES EM BICICLETAS

CONSOANTE O FLUXO DE CICLISTAS

PROPORÇÃO DE MULHERES A UTILIZAR

A BICICLETA COMO MEIO DE TRANSPORTE

TIPO DE CICLISMO URBANO NA AML

Local de

observação na

AML

Nº total de

ciclistas

observados/as

Proporção de

mulheres

em bicicleta

Lisboa 180 19,4 %

Almada 46 17,4 %

Montijo 123 13,0 %

Setúbal 65 10,8 %

Amadora 60 5,0 %

Vila Franca de Xira 41 2,4 %

Total 515 13,6 %

e-MOBILIDADE 65


OPINIÃO

Inês Sarti Pascoal

OBSERVAÇÕES

EM LISBOA

OBSERVAÇÕES

NO MONTIJO

INVESTIGAÇÃO

A existência de dados desagregados

por género assume-se como um

domínio essencial para compreender

o estado da mobilidade, em

particular da bicicleta

OBSERVAÇÕES

EM SETÚBAL

OBSERVAÇÕES

EM VILA FRANCA DE XIRA

Das observações realizadas, notou-se

ainda que crianças, mulheres e idosos

desmontam, por vezes, da bicicleta

para passar em infraestruturas cicláveis

que cruzam a rodovia. Esta observação

revela falta de confiança na infraestrutura

ciclável existente, possivelmente

por não seguir as melhores práticas

para infraestruturas cicláveis, sendo

que a segurança rodoviária e confiança

na infraestrutura poderia ser um dos

focos das das políticas e campanhas de

promoção da bicicleta.

PERSPECTIVA DE GÉNERO NAS

POLÍTICAS DE MOBILIDADE

A existência de dados desagregados

por género assume-se como um

domínio essencial para compreender

o estado da mobilidade, em particular

da bicicleta, onde existem grandes

disparidades entre homens e mulheres.

As mulheres têm barreiras e motivadores

específicos para a adoção da

bicicleta nas suas deslocações quotidianas,

como os relativos aos padrões de

viagem, segurança rodoviária, infraestruturas

cicláveis, assédio ou contexto

social.

A incorporação de perspectiva de

género no planeamento dos sistemas

de transportes e mobilidade visa

não apenas a igualdade de género

na mobilidade urbana em bicicleta,

mas também a eficácia das próprias

medidas e infraestruturas cicláveis

implementadas, promovendo a sua

maior utilização por mais pessoas. O

estudo das preferências e necessidades

das mulheres, a promoção de ambientes

urbanos seguros e a consideração

das experiências específicas de género

parecem ser factores-chave para

reduzir as desigualdades de género na

utilização da bicicleta como meio de

transporte.

Caberá às entidades com responsabilidade

na área da mobilidade adotar este

tipo de política, desde a nível nacional,

com o IMT, a AMT, a ANSR, mas

também a nível regional, com a TML,

culminando nas próprias câmaras da

AML, até porque todas têm planos para

a igualdade de género.

66 e-MOBILIDADE



CIDADES INTELIGENTES

Micromobilidade

O meio de transporte

rumo à sustentabilidade

e às smart cities

A mobilidade é uma das características

funcionais que melhor define o estado atual

da sociedade em que vivemos, e o seu grau

de evolução. A forma que temos de nos

movimentar atualmente em nada se compara

à realidade de há alguns séculos, sendo

certo que o surgimento do automóvel foi um

marco incontornável para o desenvolvimento

da mobilidade: rapidamente as cidades

adaptaram-se, os veículos evoluíram, os custos

de aquisição e manutenção destes diminuiu e

as pessoas habituaram-se ao conforto de terem

um meio de transporte individual acessível a

qualquer momento. Contudo, não foi preciso

muito tempo para estes hábitos provocarem

repercussões sérias ao nível do ambiente e da

qualidade de vida.

GUSTAVO MAGALHÃES

Director na Beta-i

68 e-MOBILIDADE


ESTUDO

As opções de micromobilidade

elétricas contribuem ativamente

para a sustentabilidade das

cidades e, segundo um estudo da

Ageas Portugal, já constituem a

escolha de 14% dos cidadãos

residentes nos grandes

centros urbanos

O

impacto da degradação

da qualidade do ar na

saúde pública é infelizmente

uma realidade

global, especialmente nas

grandes cidades. Este panorama, em

conjunto com as exigentes e crescentes

pressões ambientais, ajudou ao início

do processo de desincentivo da utilização

do automóvel. A chave para a solução

deste problema reside em boa parte

na capacidade de gerar mais inovação

nesta área, e com isso providenciar

às pessoas opções comparativamente

melhor do que o meio de transporte

próprio.

O conceito de micromobilidade é relativamente

recente e refere-se aos meios de

transporte utilizados para percorrer distâncias

curtas, como sendo os primeiros

ou últimos quilómetros de um trajeto.

Este termo, diretamente relacionado com

a mobilidade partilhada, veio redefinir

e atualizar, uma vez mais, a indústria

da mobilidade. As estradas das grandes

Cada vez existe mais informação a circular,

tendo de haver um grande desenvolvimento

tecnológico das infraestruturas para garantir a

capacidade de recolher, processar e partilhar os

dados entre todos os utilizadores

cidades que eram apenas ocupadas por

carros, dividem agora o espaço com ciclovias

por onde passam constantemente

bicicletas, trotinetes elétricas, e outros

veículos leves.

Temos vindo a assistir a uma sensibilização

generalizada e crescente para

a utilização de meios de transporte

económicos e amigos do ambiente,

capazes de deslocar as pessoas dentro

dos centros urbanos de forma eficiente

e sustentável. As cidades voltaram a

moldar-se e surgiram pistas para estes

veículos em vários locais – uma adaptação

que trouxe agilidade a todos aqueles

que escolheram mudar as suas rotinas

de transporte. Mas, além de mais económicos,

o que trazem as bicicletas e as

trotinetes?

As opções de micromobilidade elétricas

contribuem ativamente para a sustentabilidade

das cidades e, segundo um

estudo da Ageas Portugal, já constituem

a escolha de 14% dos cidadãos residentes

nos grandes centros urbanos. Optar

por estas soluções é optar, muitas vezes,

por uma deslocação mais eficiente e com

consideráveis reduções nas emissões de

CO 2

, traduzindo-se num menor impacto

ambiental. É inegável que a crescente

utilização das bicicletas e das trotinetes

trouxe também alguns desafios, sobretudo

ao nível da segurança e da organização.

Contudo, tendo já percorrido este

caminho, a solução não poderá passar

por descartar estas opções verdes, mas

sim criar condições para o seu correto

usufruto: com a obrigatoriedade de

uso de capacetes e a criação de espaços

específicos para largar e apanhar estes

veículos, por exemplo.

Com os avanços tecnológicos, a micromobilidade

vem juntar-se também

à rede de transportes públicos, contribuindo

para cidades cada vez mais inteligentes.

Atualmente, não é incomum

que a rotina de um residente de um

centro urbano seja sair de casa, andar

de bicicleta elétrica até um local estratégico

e fazer a ligação com um modo de

transporte público. Esta visão de uma

cidade que contempla interconexão

entre diferentes serviços de mobilidade,

todos eles digitalizados e conectados,

chama-se smart city.

Segundo a Comissão Europeia, as smart

cities vão além da utilização de tecnologias

digitais, incluindo também um

melhor uso dos recursos, menos emissões

e uma rede de transportes urbanos

mais inteligente. Assim, torna-se claro

que o sucesso destas cidades depende

diretamente da disponibilidade e da

eficiência das tecnologias e do uso da

informação, o que é um grande desafio

para os governos. Cada vez existe mais

informação a circular, tendo de haver

um grande desenvolvimento tecnológico

das infraestruturas para garantir

a capacidade de recolher, processar e

partilhar os dados entre todos os utilizadores,

condição fundamental para apps

que juntam informações em tempo real

de vários meios de transporte.

A micromobilidade veio mesmo para

ficar e promete colocar os centros

urbanos um passo à frente no que

toca às nossas rotinas de transporte e

à inovação. Numa fase em que cada

vez mais se fala no uso sustentável de

recursos e na proteção do ambiente,

esta é uma das opções decisiva para

aqueles que querem, de facto, fazer a

diferença.

e-MOBILIDADE 69


eBus

MAN em posição dominante

Autocarro Lion’s City E

com hegemonia urbana

A marca do leão anuncia

liderança do mercado europeu

em 2023 para eBuses com 780

registos de novas matrículas

para veículos elétricos de

transporte coletivo

O

MAN Lion’s City E tornou-se

parte integrante

da paisagem urbana de

muitas grandes cidades

europeias. Só no ano passado

foram registados 780 eBuses MAN

(EU27+3). Segundo anuncia a marca,

de acordo com as últimas estatísticas

de registo, a MAN Truck e Bus assumiu

assim a primeira posição no mercado

europeu de autocarros elétricos, deixando

a concorrência para trás com uma

quota de mercado de cerca de 13,3%.

Sublinha o construtor que os números

de vendas de eBuses na Europa falam

por si: o fabricante de veículos comerciais

vendeu um total de 780 eBuses em

2023 e quase triplicou os números de

vendas do Lion’s City E em comparação

com o ano anterior (263 eBuses em

2022).

No entanto, diz a MAN que não é

“apenas” líder de mercado no mercado

europeu global, mas também número

70 e-MOBILIDADE


ESPANHA

1 nos mercados nacionais de eBus da

Alemanha (245 Lion’s City E foram

ali registados em 2023), Suécia (126

registos), Bélgica (69 registos), Áustria

(26 registos) e Eslovénia (8 registos).

“Em termos de números, os mercados

da Alemanha, Suécia, Espanha, Noruega

e Bélgica estão a liderar a corrida

neste tipo de veículos”, diz Robert

Katzer, chefe de vendas e product bus,

acrescentando que “quase 80% de todos

os Lion’s City E registados na Europa

em 2023 estão na estrada nesses cinco

países, fornecendo transporte público

seguro, confiável e, acima de tudo,

sustentável.”

MOBILIDADE A CRESCER

Os mercados de eBus em Espanha e

na Noruega cresceram particularmente

no ano passado – tanto em termos de

registos totais como de novos registos

de MAN eBuses: 76 Lion’s City E foram

colocados em operação na Noruega e 93

em Espanha, com as cidades espanholas

de Alicante, Bilbao, Málaga, San Sebastián

e Valência, entre outras, a contarem

com o inovador autocarro urbano. “A

Estamos muito satisfeitos com estes sucessos,

que devemos aos nossos clientes, mas também

aos esforços incansáveis da nossa equipa de

autocarros

A nossa milésima Cidade

do Leão E, que saiu da linha

de produção na fábrica polaca

da MAN em Starachowice em

setembro de 2023, também

está em operação na área

da grande Madrid

nossa milésima Cidade do Leão E, que

saiu da linha de produção na fábrica

polaca da MAN em Starachowice em

setembro de 2023, quase três anos após

o início da produção em série, também

está em operação na área da grande

Madrid e, portanto, em Espanha”, diz

Katzer. O eBus foi encomendado pela

empresa de transportes Auto Periferia

S.A., subsidiária do grupo espanhol Ruiz.

A Escandinávia também é considerada

uma das pioneiras quando se trata de

eletromobilidade. Isto reflete-se também

nos números de registo: na Suécia,

Noruega e Dinamarca foram registados

230 autocarros urbanos MAN movidos

a eletricidade no último exercício.

Só em dezembro, a MAN colocou 76


AUTOCARROS

MAN Lion’s City E

BARBAROS OKTAY

Neste novo ano queremos

claramente continuar a impulsionar

a transformação para a mobilidade

sustentável e aumentar as nossas

vendas de autocarros elétricos a

bateria

eBuses na estrada na capital norueguesa,

Oslo. Os 59 autocarros individuais

e 17 articulados foram encomendados

pela operadora de transporte Unibuss.

A empresa optou pelo MAN Lion’s City

E em parte para melhorar significativamente

o equilíbrio do CO 2

no transporte

público.

MUITOS SUCESSOS

“Estamos muito satisfeitos com estes

sucessos, que devemos aos nossos clientes,

mas também aos esforços incansáveis

da nossa equipa de autocarros”, diz

Barbaros Oktay, head of bus da MAN

Truck & Bus. “Neste novo ano queremos

claramente continuar a impulsionar

a transformação para a mobilidade

sustentável e aumentar as nossas vendas

de autocarros elétricos a bateria.” Juntamente

com parceiros e clientes, a MAN

sustenta que quer continuar a impulsionar

a mobilidade sustentável, a fim

de ter em conta a proteção ambiental e

climática. Nesse sentido, diz-se totalmente

comprometida com as metas do

Acordo Climático de Paris.

Os esforços da MAN estão focados

em consultoria abrangente e soluções

inovadoras adaptadas às necessidades do

mercado. “Sempre ficou claro para nós

que desenvolveríamos e otimizaríamos

continuamente nosso eBus em estreita

cooperação com os nossos clientes.

Afinal, o nosso objetivo era, e continua a

ser, oferecer o melhor autocarro urbano

elétrico e fornecer o melhor suporte possível

às empresas de transporte no seu

percurso de transição para o transporte

público sustentável. O fato de os nossos

esforços terem sido recompensados pelo

mercado e por muitos especialistas é um

grande sucesso”, resume Oktay.

Além de clientes, motoristas e passageiros,

o Lion’s City E também impressiona

especialistas e a imprensa especializada.

O eBus foi nomeado “Bus of the Year

2023” pelo júri internacional “Bus &

Coach of the Year”. Um júri internacional

de especialistas também o elegeu

“Autocarro Sustentável do Ano 2024”.

72 e-MOBILIDADE



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