11.07.2023 Views

Revista eMOBILIDADE+ #03

A revista eMobilidade + Dedica-se, em exclusivo, à mobilidade de pessoas e bens, nos seus vários modos de transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo, fluvial e marítimo), conferindo deste modo espaço aos mais proeminentes “stakeholders” do setor, sejam eles indivíduos, empresas, instituições ou entidades académicas.

A revista eMobilidade + Dedica-se, em exclusivo, à mobilidade de pessoas e bens, nos seus vários modos de transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo, fluvial e marítimo), conferindo deste modo espaço aos mais proeminentes “stakeholders” do setor, sejam eles indivíduos, empresas, instituições ou entidades académicas.

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

www.eurotransporte.pt/mobilidade-mais/<br />

N.º3<br />

julho/agosto | 2023<br />

Bimestral | Continente<br />

Diretora: Cátia Mogo<br />

OPINIÃO<br />

JOSÉ LUÍS ESQUÍVEL<br />

O equilíbio financeiro dos contratos<br />

de serviço público do transporte<br />

de passageiros<br />

ENTREVISTA<br />

ACÁCIO PIRES<br />

“É urgente conter o esvaziamento<br />

dos centros urbanos e procurar<br />

melhores políticas de urbanização”<br />

TRANSPORTE MARÍTIMO<br />

Novas regras estipulam<br />

redução das emissões<br />

em 2% a partir de 2025<br />

t<br />

MERCEDES-BENZ t<br />

eACTROS E eECONIC<br />

Dois pesados 100% elétricos<br />

que encerram o capítulo dos<br />

motores de combustão interna<br />

TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO<br />

Smart phone, smartwatch, GPS,<br />

APP, há tecnologias de fazer<br />

perder a cabeça<br />

MOBILIDADE INTEGRADA<br />

O objetivo será alcançável com<br />

soluções à medida do cidadão e<br />

da sua necessidade pontual<br />

CONSULTÓRIO DE SEGURANÇA<br />

Qual a melhor solução para a<br />

frota automóvel da empresa:<br />

ICE, HEV ou BEV?


O cartão que tem tudo.<br />

Menos custos.<br />

Sem anuidades, custos de adesão ou de cartões, o PRIO TRUCK<br />

é perfeito para todas as ocasiões. Comece já hoje a poupar.<br />

<strong>Revista</strong> nº3 | julho/agosto 2023<br />

EDIÇÃO BIMESTRAL<br />

Email: emobilidademais@invesporte.pt<br />

DIRETORA<br />

Cátia Mogo<br />

EDITOR<br />

Eduardo de Carvalho<br />

REDAÇÃO<br />

Ana Filipe<br />

Márcia Dores<br />

Carlos Branco<br />

CARLOS BRANCO<br />

DIREÇÃO DE COMUNICAÇÃO<br />

E MARKETING<br />

Nuno Francisco<br />

EDITORIAL<br />

PUBLICIDADE<br />

José Afra Rosa<br />

Margarida Nascimento<br />

Rui Garrett<br />

ASSINATURAS<br />

Fernanda Teixeira<br />

Vasta rede com AdBlue<br />

Cartão aceite nos postos Shell (PT)<br />

Gestão online no portal MyPRIO<br />

Gestor dedicado disponível para o ajudar<br />

Digitalizar, eletrificar, descarbonizar, pelo ambiente, pela melhoria<br />

da qualidade de vida das pessoas e, no fim da linha, por<br />

uma melhor mobilidade urbana. É todo um processo, técnico e<br />

político, que não é fácil de executar. A ele assim se referiu um<br />

dignitário europeu no Congresso dos Transportes Inteligentes<br />

realizado em Lisboa. Os atores desta grande peça terão agora que se entender<br />

e de partilhar o conhecimento e os dados recolhidos.<br />

Mas o tempo vai passado e o horizonte das datas-limite começa a aproximar-<br />

-se. O transporte rodoviário, que tem o maior peso nas emissões de gases<br />

com efeito de estufa, desdobra-se em iniciativas e vai fazendo a sua parte,<br />

que é como quem diz, vai dizendo adeus ao gasóleo e prepara a chegada do<br />

hidrogénio. As altas instâncias europeias continuam a preparar os normativos<br />

para a imposição de limites às emissões e pela adoção de combustíveis<br />

renováveis, sintéticos, verdes. O transporte marítimo já tem calendário, o<br />

transporte aéreo vem a seguir. Mas já existe uma boa notícia: enquanto os<br />

turistas enxameiam as grandes cidades, os navios que nelas aportam vão ter<br />

que desligar os motores e ligarem-se à ficha elétrica.<br />

Um dos responsáveis pela associação ambientalista zero afirma nestas páginas<br />

que a nossa qualidade de vida peca por uma política débil, tardia, ou mesmo<br />

inexistente, seja pelo (ineficiente) planeamento urbano, que tem colocado<br />

as pessoas longe dos centros urbanos, afastadas das linhas férreas, e também<br />

pela falta de robustez e pontualidade dos demais transportes públicos. Fartos<br />

do tempo perdido, os cidadãos mantêm o apego ao transporte individual.+<br />

COLABORADORES<br />

António Macedo; Filipe Carvalho<br />

e Frederico Gomes<br />

DESIGN GRÁFICO / PAGINAÇÃO<br />

Rogério Grilho<br />

IMAGENS<br />

Pixabay.com | Freepik.com | Canvas<br />

EDITORA INVESPORTE,<br />

EDITORA DE PUBLICAÇÕES<br />

Edição, Redação e Administração<br />

R. António Albino Machado, 35G<br />

1600-259 Lisboa<br />

Telefone: 215914293<br />

Email: eurotransporte@invesporte.pt<br />

Site: www.eurotransporte.pt<br />

PROPRIEDADE<br />

Eduardo de Carvalho<br />

Registo ERC: Nº 127896<br />

Adira em prio.pt<br />

+info em 234 390 010 (24h)<br />

cartao@prio.pt<br />

ESTATUTO EDITORIAL:<br />

https://www.eurotransporte.pt/noticia/38/5193/<br />

estatuto-editorial-e-lei-da-transparencia/<br />

www.emobilidademais.pt<br />

www.eurotransporte.pt/mobilidade-mais/


t<br />

maio/junho | 2023<br />

Bimestral | Continente<br />

Diretora: Cátia Mogo<br />

Estratégia de cibersegurança.<br />

Eficaz num setor ferroviário<br />

cada vez mais digitalizado<br />

Estudo com o objetivo de avaliar<br />

o sentimento do setor junto dos<br />

seus intervenientes ativos<br />

www.eurotransporte.pt/mobilidade-mais/<br />

Como contrariar o aumento<br />

dos combustíveis na frota.<br />

Atenção ao comportamento<br />

REVISTA Nº 3<br />

JULHO/AGOSTO 2023<br />

52<br />

10 MERCEDES-BENZ ECITAN<br />

Já está à venda em Portugal e as<br />

primeiras unidades chegam ainda este<br />

verão, com preços a partir de 35 mil €<br />

16<br />

20 ENTREVISTA: ACÁCIO PIRES<br />

Responsável pelas políticas da<br />

associação ambientalista zero, falou<br />

ao <strong>eMOBILIDADE+</strong>, admitiu que há<br />

sinais positivos na mobilidade elétrica,<br />

mas que há muito para fazer para<br />

reduzir drasticamente as emissões dos<br />

transportes rodoviários.<br />

26 CONGRESSO DOS<br />

TRANSPORTES INTELIGENTES<br />

Ligar carros a máquinas e a<br />

infraestruturas rodoviárias, e as<br />

pessoas a todos eles não é tarefa fácil.<br />

Mas a Comissão Europeia quer tudo<br />

conetado e os dados partilhados por<br />

todos até 2028.<br />

36<br />

34 O DESAFIO DO EQUILÍBRIO<br />

FINANCEIRO DOS CONTRATOS<br />

DE SERVIÇO PÚBLICO DE<br />

TRANSPORTE DE PASSAGEIROS.<br />

Um texto do advogado José Luís<br />

Esquível.<br />

38 POLÍTICA EUROPEIA PARA OS<br />

TRANSPORTES MARÍTIMOS<br />

Novos combustíveis, menor emissão<br />

de gases poluentes, imposição de<br />

ligação elétrica quando aportados,<br />

64<br />

os grandes navios vão ter que rever<br />

procedimentos.<br />

46 OS PESADOS ELÉTRICOS DA<br />

MERCEDES-BENZ<br />

Apresentados no Autódromo<br />

Internacional de Portimão, o eActros e<br />

eEconic já estão à venda em Portugal.<br />

Até 2039, a marca alemã conta ser<br />

neutra em emissões de carbono.<br />

Mobilidade<br />

e- +<br />

N.º2<br />

maio/junho | 2023<br />

Bimestral | Continente<br />

Práticas sustentáveis comuns<br />

nas cadeias logísticas verdes<br />

de base marítima<br />

Diretora: Cátia Mogo VÍTOR CALDEIRINHA<br />

ENTREVISTA<br />

VÍTOR DOMINGUES<br />

DOS SANTOS<br />

“O investimento em transportes<br />

públicos é deficitário em relação<br />

às reais necessidades da AML”<br />

Mobilidade<br />

e- +<br />

N.º2<br />

ENTREVISTA<br />

VÍTOR DOMINGUES<br />

DOS SANTOS<br />

“O investimento em transportes<br />

públicos é deficitário em relação<br />

às reais necessidades da AML”<br />

www.eurotransporte.pt/mobilidade-mais/<br />

OPINIÃO<br />

VÍTOR CALDEIRINHA<br />

Práticas sustentáveis comuns<br />

nas cadeias logísticas verdes<br />

de base marítima<br />

FORD REVELA<br />

E-TRANSIT COURIER<br />

Furgão compacto<br />

100% elétrico<br />

t<br />

OPINIÃO<br />

FORD REVELA t<br />

E-TRANSIT COURIER<br />

Furgão compacto<br />

100% elétrico<br />

FÓRUM MOBILIDADE<br />

E TRANSPORTES<br />

FÓRUM MOBILIDADE<br />

E TRANSPORTES<br />

Reportagem completa sobre o evento<br />

Reportagem completa sobre o evento<br />

organizado pela eMobilidade+<br />

(ver pág. 30)<br />

t<br />

organizado pela eMobilidade+<br />

(ver pág. 30)<br />

t<br />

Cibersegurança<br />

Cibersegurança<br />

Estratégia de cibersegurança.<br />

Eficaz num setor ferroviário<br />

cada vez mais digitalizado<br />

Barómetro Transportes<br />

Estudo com o objetivo de avaliar<br />

o sentimento do setor junto dos<br />

seus intervenientes ativos<br />

Barómetro Transportes<br />

Consultório de Segurança<br />

Como contrariar o aumento<br />

dos combustíveis na frota.<br />

Atenção ao comportamento<br />

Consultório de Segurança<br />

e-MOBILIDADE 1<br />

e-MOBILIDADE 1<br />

VER REVISTA DIGITAL<br />

GRATUITA Nº.2<br />

4 e-MOBILIDADE +


Via Rápida<br />

Daimler Buses Portugal será<br />

a nova designação da EvoBus<br />

Desde 1995 que a EvoBus é sinónimo de sucesso económico<br />

para o maior fabricante de autocarros europeu com as marcas<br />

tradicionais Mercedes-Benz e Setra, mas a partir de 12 de julho<br />

abrirá um novo capítulo na história da empresa, mudando<br />

a designação de EvoBus Portugal, S.A. para Daimler Buses<br />

Portugal, S.A. “Como filial da Daimler Truck AG, o nosso novo<br />

nome de empresa deriva do nosso grupo, do qual somos<br />

parte integrante da área de negócio Daimler Buses. Ao mesmo<br />

tempo, é um símbolo da nossa orientação para o futuro e<br />

da nossa capacidade de inovação. Temos grandes planos. A<br />

nossa ambição continua a ser construir os melhores autocarros<br />

e oferecer-lhe o melhor serviço. Em conjunto consigo,<br />

queremos moldar com sucesso a transformação do nosso setor<br />

em direção a zero emissões em todos os segmentos”, lê-se<br />

no comunicado da empresa, dirigido aos clientes, oficinas<br />

autorizadas e parceiros comerciais. Esclarecendo que foram feitos<br />

todos os esforços para garantir a continuidade do negócio<br />

com o mínimo de mudanças nos processos administrativos e<br />

dizendo-se orgulhosa por usar a nova designação, afiança a<br />

empresa que, no mínimo, tudo fará com a mesma dedicação<br />

que nos mais de 25 anos como EvoBus.<br />

t<br />

Metropolitano de Lisboa premiado por produtividade<br />

a nível europeu<br />

A World Conference in Transport Research (WCTR) atribuiu ao Metropolitano de Lisboa<br />

o Prémio de Excelência “Most Productivity Improved System in Europe”, uma distinção<br />

que reconhece Lisboa como a cidade europeia com maior crescimento na taxa de<br />

produtividade do seu sistema de metro, explorado pelo Metropolitano de Lisboa. Este<br />

prémio é atribuído com base na análise comparativa dos Relatórios e Contas das operadoras<br />

de transporte, permitindo identificar aqueles que mais se destacam em termos<br />

de eficiência e produtividade. Para proceder a esta análise, a WCTR constituiu um grupo<br />

de trabalho coordenado pelo Prof. Tae Oum, presidente da WCTR Society, da Sauder<br />

School of Business da University of British Columbia, no Canadá. Este grupo, composto<br />

por equipas de sete países, conduziu um estudo em mais de 50 cidades e regiões metropolitanas<br />

da Ásia, Europa e América do Norte, no período referenciado. O grupo de<br />

trabalho baseou a seleção das cidades vencedoras com base nos dados de produtividade<br />

variável até ao ano de 2019, sem considerar os anos subsequentes, devido às medidas<br />

de confinamento adotadas em contexto da pandemia por COVID-19, que tiveram<br />

um impacto substancial na procura das redes de metro. Considerando a evolução da<br />

taxa de produtividade, as restantes cidades distinguidas foram, por ordem decrescente,<br />

Changsha (China), Osaka (Japão), Daejeon (Korea) e Miami-Dade (US/Canadá).<br />

t<br />

Elétrico BYD aumenta oferta com a nova gama Dolphin<br />

A BYD, fabricante líder mundial de viaturas elétricas (EV e PHEV) e baterias elétricas, acaba<br />

de anunciar o lançamento no mercado europeu do novo BYD Dolphin 100% elétrico que<br />

se junta à gama de lançamento da marca, composta pelos BYD Atto 3, BYD Han e BYD<br />

Tang. As vendas terão início ainda este verão, com entregas em toda a Europa a partir<br />

do quarto trimestre do ano. O preço de entrada na gama começa nos 29.990 €, para a<br />

versão Active, chegando aos 37.690 € na versão Design. Comercializado em Portugal pela<br />

Salvador Caetano, este novo hatchback do segmento C combina uma estética de design<br />

distinta e divertida com versatilidade, agilidade e uma abundância de equipamento de série.<br />

O Dolphin dispõe de uma bateria BYD Blade Battery de 60,4 kWh de fosfato de ferro<br />

e lítio – mais tarde, a partir do primeiro trimestre de 2024, chegará também uma versão<br />

com uma bateria de 44,9 kWh. Com a bateria de 60,4 kWh a autonomia é de 427 km<br />

(ciclo combinado WLTP), baixando para 340 km no caso de ter instalada a bateria de<br />

44,9 kWh. A potência de carregamento é de 11 kW AC trifásica e quando se trata de<br />

recarregar, o carregador de 100 kW DC pode fazê-lo em apenas 29 minutos, entre 30% a<br />

80% da sua capacidade. O BYD DOLPHIN está também equipado com VtoL, pelo que a<br />

bateria do automóvel pode facilmente carregar dispositivos externos.<br />

Global Mobility Call adiada para o final de outubro<br />

O recente anúncio de antecipação das eleições gerais em Espanha para 23 de<br />

julho impulsionou a decisão de adiar a realização da Global Mobility Call de<br />

setembro para o mês de outubro, entre os dias 24 e 26, de forma a assegurar<br />

a presença institucional da Administração do Estado, e das comunidades e<br />

municípios, eixos fundamentais do evento dedicado à mobilidade. A IFEMA<br />

MADRID, Smobhub e o Mitma tomaram a decisão de forma consensual, uma<br />

vez confirmada a presença de mais de 80% das entidades interessadas em<br />

participar, assim como o apoio de um importante número de empresas, instituições<br />

e associações que se juntaram uma vez mais como partners estratégicos e<br />

colaboradores da Global Mobility Call. A nova proposta de convocatória, que<br />

previsivelmente assegura uma margem de tempo suficiente para a constituição<br />

das novas equipas para a reativação das suas agendas institucionais, foi<br />

apoiado por todos os agentes que fazem parte da Global Mobility Call perante<br />

o objetivo partilhado de assegurar as melhores condições que permitam gerar<br />

oportunidades de negócio e de investimento. A Global Mobility Call acolherá<br />

uma parte da agenda oficial de mobilidade da Presidência Espanhola do<br />

Conselho da União Europeia com três reuniões organizadas pelo Ministério de<br />

Transportes, Mobilidade e Agenda Urbana de Espanha onde se encontrarão os<br />

representantes dos 27 países da UE. Trata-se da “Conferência técnica sobre a<br />

mobilidade em áreas rurais”, a reunião “The PEP Partnership on Active Mobility”,<br />

assim como uma importante jornada sobre os Corredores Europeus em<br />

Espanha 360: Corredor Atlântico e Corredor Mediterrâneo.<br />

Évora com posto de carregamento elétrico<br />

ultrarrápido da MOBI.E e Sunenergy<br />

O primeiro posto de carregamento ultrarrápido (PCUR) no concelho<br />

de Évora foi inaugurado a 21 de junho, integrando uma iniciativa<br />

da MOBI.E. O posto é operado pela Sunenergy e está situado no<br />

Operação da AveiroBus apontada como exemplo<br />

Parque das Portas da Lagoa. Este é o sétimo PCUR integrado no<br />

Programa de Estabilização Económica e Social, cofinanciado pelo<br />

na Transdev<br />

Fundo Ambiental, que visa instalar um conjunto de 12 infraestruturas<br />

A operação da Transdev em Aveiro, a AveiroBus, recebeu a visita de uma<br />

semelhantes e de 9 hubs, num investimento global superior a 3<br />

delegação de executivos de topo do Grupo Transdev, vindos de várias partes<br />

milhões de euros. O primeiro PCUR no âmbito deste projeto foi inaugurado<br />

do mundo, interessados em conhecer esta operação exemplo de inovação,<br />

em Castelo Branco, em maio de 2021, a que se seguiram<br />

tecnologia e mobilidade. A colocação nas paragens de informação em tempo<br />

Beja, Portalegre e Santarém, em 2022, além de Palmela e Vila Real,<br />

real, relativa aos tempos de espera para os autocarros seguintes, prevê-se para<br />

t<br />

já em 2023. As próximas inaugurações estão previstas para Bragança,<br />

o próximo mês e a aposta numa frota elétrica, que ainda este ano vai ser reforça-<br />

Guarda, Portimão, Sintra e Viana do Castelo. “A MOBI.E continua<br />

da, foram dois dos temas em destaque na visita. A delegação visitou também a<br />

a concretizar os objetivos deste projeto, com mais de metade das<br />

Câmara Municipal de Aveiro, uma vez que o objetivo deste projeto é aprofundar<br />

infraestruturas já instaladas, de forma a contribuir para a coesão territorial<br />

uma cultura centrada no cliente e socialmente responsável, afirmando-se o Gru-<br />

ao nível da mobilidade elétrica”, disse Luís Barroso, presidente<br />

po Transdev como parceiro de confiança das autoridades locais, comunidades e<br />

da MOBI.E. O representante da Sunenergy, Carlos Morais, destacou<br />

empresas. Este programa de executivos da Transdev designa-se de Trans’lead e<br />

que “a instalação de um equipamento como este em Évora foi uma<br />

a presente edição teve lugar em Espanha e Portugal. No país vizinho esteve em<br />

opção natural e permitirá que os utilizadores de veículos elétricos<br />

destaque a operação de Barcelona enquanto em Portugal o foco foi colocado na<br />

assinalem esta cidade como um ponto de paragem obrigatório nas<br />

operação da AveiroBus.<br />

6 e-MOBILIDADE +<br />

suas viagens pelo Alentejo, ou até mesmo de e para Espanha.”<br />

e-MOBILIDADE + 7<br />

t<br />

t<br />

t


Via Rápida<br />

Mobilidade em Aveiro<br />

conta com novas<br />

bicicletas BUGA<br />

A Câmara Municipal de Aveiro apresentou<br />

a 19 de junho as novas bicicletas<br />

BUGA, veículo de partilha pelos<br />

cidadãos, segundo conceito do qual o<br />

município foi pioneiro. De acordo com<br />

a notícia publicada no site camarário, as<br />

novas BUGA trazem várias novidades,<br />

a começar pelo número de bicicletas<br />

disponíveis – mais 124 do que o modelo<br />

anterior – e o aumento do número de estações, num total de 204, estando em operação 136. Estas<br />

novas bicicletas passam agora a poder ser utilizadas em todo o Concelho de Aveiro e contam<br />

também com um sistema de GPS integrado. Sublinha a autarquia que continua a trabalhar para<br />

tornar o concelho cada vez mais sustentável, pois também foi anunciado que o município terá<br />

ainda o primeiro ferryboat 100% elétrico do País, que está a ser desenvolvido inteiramente em<br />

Portugal, por marcas nacionais, para operar na Ria de Aveiro, sendo também um dos primeiros<br />

ferryboats elétricos em toda a Europa, com exceção feita aos países nórdicos. O novo ferryboat<br />

permitirá a redução da emissão das mais de 300 toneladas de CO 2<br />

libertadas pelo atual modelo,<br />

reduzindo igualmente em cerca de 30% o consumo energético.<br />

Volkswagen e Vestas em parceria pela mobilidade sustentável<br />

A Vestas Wind Systems, líder mundial em<br />

soluções de energia sustentável, já recebeu<br />

da Volkswagen Veículos Comerciais<br />

mais de 100 unidades do modelo ID.Buzz<br />

Cargo, totalmente elétrico, com que vai<br />

operar na assistência e manutenção de t<br />

parques eólicos a seu cargo, inicialmente<br />

na Dinamarca e no norte da Alemanha, e<br />

mais tarde em outras localizações europeias,<br />

a começar por França e Espanha.<br />

A colaboração entre as duas entidades é<br />

considerada estratégica, uma vez que ambas acordaram em colaborar em soluções de transporte<br />

elétrico no futuro. Com o objetivo de se tornar uma empresa com emissões neutras de carbono até<br />

2030, Christian Venderby, vice-presidente executivo de serviços da Vestas expressou o comprometimento<br />

em tornar a empresa neutra em carbono nas operações próprias, sem a utilização de<br />

compensações, até 2030. “Aprendemos muito sobre os requisitos dos nossos veículos através da<br />

cooperação. A Vestas, a empresa mais sustentável do mundo em 2022 pela Corporate Knights, é,<br />

assim, o parceiro ideal para nós”, sublinhou Carsten Intra, CEO da Volkswagen Veículos Comerciais.<br />

t<br />

Os 50 Buggy Ami para<br />

Portugal esgotaram<br />

em três horas<br />

Os 800 exemplares do Citroën My Ami Buggy<br />

que ficaram disponíveis para comercialização<br />

online a 20 de junho, esgotaram num<br />

espaço de apenas 10 horas. Os restantes<br />

200 exemplares são destinados a mercados<br />

que não dispõem de venda online. Para<br />

Portugal foram destinadas 50 unidades,<br />

que esgotaram em apenas 3h10m.As<br />

encomendas para esta segunda edição do<br />

quadriciclo My Ami Buggy da marca francesa<br />

foram efetuadas no website nacional do<br />

Citroën Ami e o cliente mais rápido em<br />

Portugal adquiriu o seu exemplar em apenas<br />

2m19s. Nos oito países abrangidos pelas<br />

vendas online, muitos foram os clientes que<br />

concluíram todo o processo de compra. O<br />

mercado belga destacou-se, com 65 My<br />

Ami Buggy vendidos em menos de 9 min., a<br />

França despachou 300 unidades no espaço<br />

de uma hora, mas o cliente mais rápido foi<br />

espanhol, ao completar todo o processo de<br />

compra em 1m10s. Os preços da gama Ami<br />

estão compreendidos entre os 7.990 € e os<br />

9.190 €. Os restantes 200 exemplares, a disponibilizar<br />

até ao final do ano serão vendidos<br />

no verão na Turquia, Marrocos e Territórios<br />

Ultramarinos Franceses. Para setembro está<br />

programado o arranque das entregas das<br />

primeiras unidades.<br />

O seu autocarro é a<br />

nossa competência.<br />

Expertise – o seu serviço profissional da OMNIplus.<br />

A OMNIplus cuida da manutenção e reparação profissional do seu<br />

autocarro com uma equipa de assistência altamente especializada.<br />

Por exemplo com Oficinas Autorizadas especificas para autocarros,<br />

ferramenta adequada e disponibilidade a nível mundial de peças<br />

OMNIplus. Para que o seu autocarro volte à estrada de forma<br />

rápida, eficiente e segura – garantindo o seu valor.<br />

Saiba mais em omniplus.com/pt/expertise<br />

8 e-MOBILIDADE +<br />

t<br />

Mobilidade urbana em Angola conta com colaboração<br />

dos TIP e TML<br />

Pela sua experiência e boas práticas no que respeita à mobilidade e à implementação e<br />

gestão dos sistemas de bilhética, os Transportes Intermodais do Porto (TIP) e a Transportes<br />

Metropolitanos de Lisboa (TML) estão a trabalhar com a Empresa Nacional de Bilhética de<br />

Angola no sentido de promover um intercâmbio de ideias e experiências nos domínios da<br />

mobilidade que tornem possível a participação conjunta em áreas de interesse comum,<br />

bem como o intercâmbio de formadores e especialistas com vista à partilha de conhecimento<br />

e à criação de sinergias no domínio da mobilidade. De visita ao país, os TIP e<br />

TML foram recebidos pelo ministro dos Transportes de Angola, Ricardo Viegas D’Abreu,<br />

e assinaram a 20 de junho, na presença do secretário de Estado dos Transportes de<br />

Angola, Jorge Bengue Calumbo, dois protocolos de cooperação com a ENBI no sentido<br />

de estabelecer mecanismos que tornem possível a participação conjunta em estudos em<br />

áreas de interesse comum. Para Mário Nsingui Pedro, presidente da ENBI, “a qualidade e<br />

a eficiência dos transportes é um objetivo a cumprir com brevidade, porque os cidadãos<br />

merecem poder deslocar-se entre a casa e o trabalho com mais celeridade e conforto.<br />

Uma marca da Daimler Truck AG<br />

Daimler Buses Portugal, S.A. Edif. Mercedes-Benz Abrunheira, Apartado 14 - 2726-901 Mem Martins


Mercedes-Benz eCitan<br />

Elétrico, urbano,<br />

compacto<br />

Entregas rápidas de mercadorias, ou transporte de passageiros em curtas<br />

distâncias, eis as (principais) funções do eCitan, o furgão compacto<br />

da Mercedes-Benz, totalmente elétrico. Já está em venda em Portugal e as primeiras<br />

unidades chegam ainda este verão, com preços a partir de 35 mil euros (sem IVA).<br />

Por Carlos Branco<br />

Em setembro de 2021, a Mercedes-Benz<br />

lançou o novo Citan com motores de combustão<br />

interna e rapidamente conquistou<br />

clientela. No final desse mesmo ano, um júri<br />

de 25 jornalistas europeus especializados<br />

atribuía-lhe o título de “Furgão Internacional do Ano”<br />

(2022). A marca alemã não perdeu tempo para aumentar<br />

a oferta, e a partir do mesmo modelo gerou a versão<br />

elétrica, com autonomias variáveis entre os 280 e 284<br />

Km, de diferentes comprimentos de carroçaria – Standard<br />

e Longo –, consoante o tipo de utilização. A Tourer<br />

(Longo) é destinada a passageiros, mas só estará disponível<br />

mais tarde. Por ora, acomodá-los-á na variante<br />

Standard.<br />

A política de descarbonização da marca está muito ativa,<br />

e se há muito que as classes de turismo e de furgões<br />

comerciais andam de passo afinado, também a Daimler<br />

Trucks tem acompanhado a marcha com a disponibilização<br />

dos primeiros pesados integralmente elétricos<br />

(eActros e eEconic), que também podem ser descobertos<br />

nestas páginas da <strong>eMOBILIDADE+</strong>. O futuro está<br />

mesmo por perto, e se a linha de transporte de longa<br />

distância conhecerá o seu primeiro trunfo em outubro,<br />

com a première do eActros 600, a segunda metade da<br />

década trará o hidrogénio verde como gerador de energia<br />

para os pesados.<br />

O consumo combinado anunciado é de 19,16 kWh/100<br />

km e, dependendo do modelo, tem uma autonomia de<br />

operação entre os 280 e os 284 quilómetros. Sustenta<br />

a marca que num carregamento rápido a bateria de 45<br />

kWh é carregada de 10 a 80% em 38 minutos com o<br />

carregador DC (corrente contínua) de 80 kW instalado,<br />

mas também pode ser carregado com corrente<br />

alternada (CA) a 11 kW ou, opcionalmente, 22 kW<br />

através do carregador de bordo. A utilização de uma<br />

Wallbox Mercedes-Benz permite um carregamento muito<br />

mais rápido do que numa tomada doméstica.<br />

RECUPERAÇÃO DE ENERGIA<br />

O motor elétrico do eCitan tem uma potência máxima<br />

de 90 kW (122 cv) e um torque máximo de 245 Nm,<br />

valor inteiramente disponível desde o arranque. A<br />

bateria de iões de lítio é posicionada na parte inferior da<br />

O consumo combinado é de<br />

19,16 kWh/100 km e, dependendo<br />

do modelo, tem uma autonomia<br />

de operação entre os 280 e os 284<br />

quilómetros. A utilização de uma<br />

Wallbox permite um carregamento<br />

muito mais rápido<br />

carroçaria à frente do eixo traseiro, onde também é protegida<br />

contra colisões e os oito módulos de bateria usam células de<br />

bolsa. O condutor pode optar entre os programas de acionamento<br />

Comfort e ECO (otimizado para a autonomia) e três<br />

níveis de recuperação de energia (D- / D / D+).<br />

Ainda que de dimensões exteriores compactas, as carroçarias<br />

do eCitan disponibilizam um generoso espaço interior, bem<br />

como uma elevada capacidade de carga, abrangendo uma ampla<br />

gama de utilizações possíveis nas tarefas de distribuição<br />

no centro da cidade, prestação de serviços e em operações de<br />

transporte. O eCitan dispõe de painel lateral com duas opções<br />

de comprimento: a versão compacta de 4498 mm e a versão<br />

longa de 4922 mm onde se inclui o Tourer. Para o furgão de<br />

painel compacto, são 2,9 metros cúbicos de capacidade e<br />

até 544 quilos de carga, para o modelo longo são 3,7 metros<br />

cúbicos e até 722 quilos. Uma porta de correr de abertura<br />

DUAS OPÇÕES<br />

O eCitan dispõe de painel lateral com duas<br />

opções de comprimento: a versão compacta<br />

de 4498 mm e a versão longa de 4922 mm de<br />

comprimento onde se inclui o Tourer. De 2,9 a<br />

3,7 m 3 de capacidade.<br />

10 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 11


COMERCIAIS<br />

Mercedes-Benz eCitan<br />

ampla e uma baixa altura da soleira ao solo de 57 centímetros<br />

permitem um acesso conveniente ao interior e fácil carregamento<br />

do veículo.<br />

Além da divisória fixa (com e sem janela) entre a cabine do<br />

motorista e o compartimento de carga existe uma partição<br />

pivotante, assim como uma grade no lado do passageiro dianteiro,<br />

que pode ser virada a 90 graus e travada para o banco<br />

do motorista.<br />

O banco do passageiro dianteiro é rebatível, proporcionando<br />

uma superfície plana para transportar objetos longos. O comprimento<br />

do compartimento de carga é então de 3,05 metros<br />

para a versão compacta e 3,41 metros para a versão longa.<br />

EQUIPAMENTOS BASE E PRO<br />

O eCitan Panel Van e Tourer estão disponíveis nas linhas de<br />

equipamentos BASE e PRO. A linha PRO dispõe de iluminação<br />

LED no interior e compartimento de carga, para além<br />

do sistema de áudio Mercedes-Benz, o banco do motorista<br />

com regulação em altura, ar condicionado, vidros dianteiros<br />

elétricos com função conforto e piso plástico no compartimento<br />

de carga.<br />

O sistema multimédia MBUX (Mercedes-Benz User Experience)<br />

é opcional, dispondo de ecrã tátil de sete polegadas ou<br />

botões de controlo tátil no volante. Pode ser integrado com<br />

smartphones Apple Car Play e Android Auto, conetividade<br />

Bluetooth mãos-livres e rádio digital (DAB e DAB+). O MBUX<br />

também inclui navegação rápida em disco rígido, o que é<br />

particularmente conveniente de operar graças ao assistente de<br />

voz “Hey Mercedes”.<br />

Para o transporte comercial de passageiros, o eCitan Tourer<br />

tem uma porta traseira com janela e uma segunda porta<br />

lateral deslizante de série. Em alternativa, também pode ser<br />

equipado com portas traseiras. O banco traseiro é rebatível de<br />

1/3 a 2/3.<br />

O sistema de refrigeração compreende ar condicionado com<br />

bomba de calor, particularmente económico em termos energéticos,<br />

pois a bateria do veículo apenas fornece o compressor<br />

da bomba de calor instalada e não assume o ar condicionado<br />

real do interior do veículo.<br />

Como assistência à condução e segurança, além dos sistemas<br />

ABS e ESP, legalmente exigidos, o eCitan tem o sistema de<br />

chamadas de emergência Mercedes-Benz de série. Em caso de<br />

acidente no exterior, o centro de atendimento de emergência<br />

da Mercedes-Benz notifica o centro de controlo de socorro<br />

mais próximo.<br />

O eCitan Panel Van está igualmente dotado com os sistemas<br />

Hill Start Assist, Crosswind Assist, Attention Assist, Active<br />

Brake Assist, Active Lane Keeping Assist (ativo a partir de 70<br />

km/h), Blind Spot Assist, Speed Limit Assist (reconhecimento<br />

de sinais de trânsito e limites de velocidade), Active Distance<br />

Assist e Active Steering Assist.<br />

A PARTIR DE 35 MIL EUROS<br />

O novo veículo comercial ligeiro compacto elétrico da Mercedes-Benz<br />

já pode ser encomendado na versão Furgão eTourer,<br />

com a chegada das primeiras unidades a Portugal prevista para<br />

este verão, surgindo posteriormente a versão Mixto. Os preços<br />

são todos a título indicativo para Portugal, sem IVA.+<br />

eCitan Furgão<br />

Standard BASE<br />

35.030<br />

eCitan Furgão<br />

Longo BASE<br />

36.470<br />

eCitan Tourer<br />

Standard BASE<br />

37.630<br />

eCitan Tourer<br />

Longo BASE<br />

39.130<br />

12 e-MOBILIDADE +


ELÉTRICO<br />

Fiat Topolino<br />

VERDE<br />

PARA TODOS<br />

Diz a marca italiana que<br />

este próximo lançamento<br />

representa um novo passo<br />

no impulso no domínio<br />

da eletrificação<br />

Topolino<br />

O “ratinho” é elétrico<br />

Diz a FIAT que é a forma mais gira de eletrificar<br />

as cidades, destinado a uma clientela mais<br />

jovem e moderna. Do novo Topolino, herdeiro<br />

do 500 nascido em 1936, sabe-se muito pouco,<br />

apenas que é um quadriciclo, como o são o AMI,<br />

da Citroën, e o Opel Rocks-e. Todos com um<br />

denominador comum: pertencem ao<br />

grupo Stellantis.<br />

A<br />

FIAT libertou apenas uma foto do Topolino e<br />

um singelo comunicado à imprensa, aguçando<br />

o apetite e historiando os primeiros passos do<br />

primeiro 500 – produzido entre 1936 e 1955 –<br />

que em Itália abriu caminho à democratização<br />

da mobilidade automóvel para todos. A diferença é que agora<br />

pode mesmo ser conduzido pelos mais novos, com idade<br />

mínima de 16 anos, uma vez homologado como quadriciclo,<br />

apenas com dois lugares, com uma pequena bateria e uma<br />

autonomia próxima dos 70 km.<br />

Tendo como target as jovens gerações, o Topolino é mais<br />

do que um dispositivo de mobilidade, pois graças ao seu<br />

design encantador, adequado a todas as gerações, fará<br />

com que os jovens se apaixonem novamente pelos automóveis<br />

e desempenhará um papel socialmente ativo na<br />

promoção da mobilidade elétrica nas cidades. E cabe em<br />

apenas 2,41 metros. Diz a marca italiana que este próximo<br />

lançamento representa um novo passo no seu impulso no<br />

domínio da eletrificação, em linha com a visão “só é verde<br />

quando é verde para todos.”+<br />

14 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 15


ANTÓNIO COSTA VISITOU FÁBRICA<br />

Nova Fuso<br />

eCanter<br />

entrou em produção<br />

O primeiro-ministro marcou presença da fábrica da Mitsubishi<br />

FUSO Truck Europe (MFTE), no Tramagal (Abrantes), para assinalar<br />

a meta de produção de 250 mil veículos Canter, assim como o início<br />

da produção do novo modelo do camião ligeiro totalmente elétrico.<br />

5.ª GERAÇÃO<br />

A nova Canter tem maior<br />

autonomia e destina-se a uma<br />

maior variedade de aplicações,<br />

caraterizando-se como o<br />

“transporte sustentável do<br />

futuro”<br />

O<br />

evento contemplou uma<br />

visita à fábrica e à unidade de<br />

produção do eCanter, bem<br />

como a intervenção de Arne<br />

Barden, CEO da MFTE, que<br />

anunciou a produção de 250 mil unidades<br />

do modelo FUSO Canter desde o início do<br />

seu fabrico no Tramagal, em 1980. Além do<br />

primeiro-ministro, António Costa, esteve<br />

também presente o secretário de Estado da<br />

Economia, Pedro Cilínio.<br />

MAIS POTENTE E MAIS EFICIENTE<br />

Apresentado na IAA Transportation, em setembro<br />

de 2022, em Hannover (Alemanha), o novo<br />

modelo que agora inicia produção em Portugal<br />

chega com maior autonomia e destina-se a uma<br />

maior variedade de aplicações, caraterizando-se<br />

como o “transporte sustentável do futuro”. Esta<br />

geração, a 5.ª a ser produzida em solo nacional<br />

para o mercado europeu, estará disponível em<br />

seis distâncias entre eixos: entre 2.500 e 4.750<br />

milímetros e um peso bruto permitido de 4,25<br />

a 8,55 toneladas. Já a capacidade de carga do<br />

chassis é de até cinco toneladas. A nova eCanter<br />

Por Cátia Mogo<br />

é alimentada por um motor elétrico de 110 kW<br />

ou 129 kW com uma transmissão otimizada e<br />

430 Nm de binário. A velocidade máxima é de<br />

89 km/h.<br />

Consoante a distância entre eixos, estão disponíveis<br />

três packs de baterias distintas: S, M e L<br />

(de 70 a 200 km). As baterias utilizam a tecnologia<br />

de células de fosfato, de ferro e lítio (LFP)<br />

e caraterizam-se por uma vida útil mais longa e<br />

mais energia utilizável.<br />

No que diz respeito ao carregamento, o novo<br />

modelo suporta corrente alternada (AC) e<br />

corrente contínua (DC), sendo possível o<br />

carregamento rápido DC de 20 a 80 por<br />

cento da capacidade em aproximadamente 24<br />

(S), 26 (M) e 39 (L) minutos, dependendo da<br />

bateria. Já o carregamento AC (11 e 22 kW)<br />

demora cerca de quatro a seis horas.<br />

Karl Deppen, CEO da Daimler Truck Asia,<br />

também esteve presente no evento e reforçou<br />

a preocupação da empresa com as causas<br />

ambientais: “Na Daimler Truck, estamos<br />

totalmente empenhados em cumprir o Acordo<br />

Climático de Paris e queremos fazer do<br />

transporte sustentável um sucesso. Até 2039,<br />

16 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 17


COMERCIAL<br />

Fuso eCanter<br />

Na Daimler Truck, estamos<br />

totalmente empenhados em cumprir<br />

o Acordo Climático de Paris e<br />

queremos fazer do transporte<br />

sustentável um sucesso. Até 2039, o<br />

nosso objetivo é oferecer aos nossos<br />

principais mercados globais veículos<br />

sem emissão de CO 2<br />

SUSTENTABILIDADE NO TRAMAGAL<br />

Como parte da sua estratégia ecológica global, a<br />

fábrica da MFTE tem vindo a reduzir as suas emissões<br />

de CO 2<br />

ao longo dos últimos anos, tendo sido implementada<br />

a neutralidade total de CO 2<br />

na produção, no<br />

final do ano passado. Para atingir este marco, a MFTE<br />

tem expandido continuamente a utilização de fontes<br />

de energia renováveis e completado a conversão para<br />

fontes de energia ecológicas. Existem 1.200 painéis<br />

solares nos telhados dos pavilhões, que produzem<br />

até 350 megawatts por ano. Os objetivos futuros são<br />

produzir até 600 megawatts de eletricidade. Para<br />

além da expansão das instalações solares, a fábrica<br />

está, também, a testar tecnologias para a produção<br />

local de hidrogénio verde. A redução do consumo de<br />

água é outra questão de sustentabilidade em que a<br />

fábrica está a concentrar esforços. A nova estação de<br />

tratamento de água já opera mais de 60 por cento da<br />

água do processo e devolve-a ao ciclo de produção.<br />

Paralelamente, está a ser desenvolvido um sistema otimizado<br />

de recolha de águas pluviais para uma irrigação<br />

mais sustentável das áreas verdes.<br />

o nosso objetivo é oferecer aos nossos principais mercados<br />

globais veículos sem emissão de CO 2<br />

, pelo que estou extremamente<br />

satisfeito com o início da produção do nosso novo<br />

eCanter aqui no Tramagal. Estamos a dar um passo importante<br />

em direção a um transporte neutro em carbono”.<br />

Neste momento, já existem mais de 550 FUSO eCanter em<br />

operação diária, com clientes na Europa, Japão e EUA, bem<br />

como na Austrália e Nova Zelândia. A distância total percorrida<br />

pela frota global de eCanter, em modo totalmente elétrico,<br />

ou seja, sem emissões locais, é de cerca de oito milhões de<br />

quilómetros, o equivalente a cerca de 200 circunavegações<br />

ao mundo. A próxima geração eCanter pretende, agora, levar<br />

esta história de sucesso a um novo nível.+<br />

18 e-MOBILIDADE +


ENTREVISTA<br />

Acácio Pires<br />

“Não se vêem políticas<br />

que promovam a mobilidade<br />

partilhada e o transporte público”<br />

Transição energética, mobilidade urbana, sustentabilidade,<br />

digitalização, energias alternativas, é vasto o léxico a que<br />

nos vamos habituando, em parte também por ser novidade<br />

no país, mas não estranho para os ambientalistas, para<br />

quem as preocupações já vêm de longe. Acácio Pires é um<br />

dos responsáveis pelas políticas da associação ambientalista<br />

zero e acredita que nem tudo o que se está a fazer é o mais<br />

correto. Admite que há sinais positivos, mas que também há<br />

muito atraso, falta de determinação política e débeis sinais<br />

de cooperação entre todos os agentes.<br />

Por Carlos Branco<br />

É urgente conter o<br />

esvaziamento dos centros<br />

urbanos e procurar melhores<br />

políticas de urbanização<br />

[Do muito que se fala dela] Eletromobilidade.<br />

Estamos no bom caminho?<br />

Estamos no início do caminho, pois o setor<br />

dos transportes teve uma evolução muito<br />

negativa nos últimos 30 anos, no ponto de<br />

vista do impacte ambiental e pelo aumento<br />

da emissões de gases com efeito de estufa, e<br />

em quase todas as áreas do setor. Em Portugal,<br />

descontando as emissões dos transportes<br />

marítimo e aéreo internacionais, representa<br />

28%, de acordo com os últimos dados, e sem<br />

tendência para diminuir, antes pelo contrário.<br />

Após a pandemia julgámos que poderia<br />

existir alguma inversão no setor, mas após<br />

2022 foram superadas as emissões registadas<br />

em 2019. O consumo de todos os combustíveis<br />

é já superior aos valores de 2019, o<br />

que é preocupante. O que está a acontecer,<br />

um pouco por todo o mundo, no setor dos<br />

veículos ligeiros, principalmente no maior<br />

mercado mundial, que é o chinês, está acima<br />

das expetativas, o que poderá contaminar de<br />

forma positiva o mercado global. Essa via da<br />

eletrificação do atual modelo de mobilidade<br />

- e que está a ser seguida pelas marcas -,<br />

não deixa de ser positiva, mas a mobilidade<br />

partilhada não tem a expressão desejada<br />

em Portugal nem se vêem políticas públicas<br />

que promovam a mobilidade partilhada e<br />

o transporte público. Acontece que temos<br />

um cenário mau nas áreas metropolitanas<br />

do Porto e Lisboa. Segundo os inquéritos<br />

20 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 21


ENTREVISTA<br />

Acácio Pires<br />

Quando projetamos a linha vermelha do<br />

Metro de Lisboa e não temos interface<br />

com a Linha de Sintra estamos a fazer<br />

algo de errado e não estamos a promover<br />

a intermodalidade e promovemos o<br />

congestionamento da linha de cintura<br />

de 2017 [esse é outro problema, pois<br />

não temos informação atualizada], em<br />

Lisboa temos 57% das viagens feitas em<br />

transporte individual ligeiro, ao mesmo<br />

tempo que no Porto esse valor sobe<br />

para 67%. Ora, isto tem várias razões, e<br />

muitas delas ligadas ao ordenamento do<br />

território, uma vez que, se esvaziarmos<br />

o centro das cidades, haverá deslocação<br />

para zonas suburbanas, mais distantes.<br />

PRAZOS<br />

O famoso ano de 2035, segundo<br />

o qual deixa de ser permitida a<br />

comercialização dos motores a<br />

combustão, deve ser antecipado<br />

Isso vai ter impacte, sobretudo se essas<br />

áreas não estiverem em torno dos eixos<br />

ferroviários, e dificilmente conseguiremos<br />

controlar o uso do transporte<br />

individual nas grandes cidades. É urgente<br />

conter o esvaziamento dos centros<br />

urbanos e procurar melhores políticas<br />

de urbanização, da mesma forma que<br />

o ordenamento do território deve levar<br />

em conta as ligações ferroviárias.<br />

Que soluções preconizam?<br />

Será necessário racionalizar o número<br />

de veículos, pois isso vai ter impactes<br />

nas chamadas matérias-primas críticas,<br />

que precisamos de mobilizar para<br />

a eletrificação dos veículos. Quanto<br />

mais pessoas e mercadorias pudermos<br />

transportar com menos veículos<br />

melhor, pois a eficiência dos setores<br />

de transportes é crucial. Direi, então,<br />

que densificar o transporte ferroviário<br />

das Áreas Metropolitanas de Lisboa e<br />

Porto é importante. O Plano Ferroviário<br />

Nacional aponta algumas medidas, mas<br />

devem ser aprofundadas. Teremos que<br />

ter mais vias rodoviárias dedicadas (e<br />

reguladas) para transporte público e,<br />

assim, podermos ter transporte público<br />

com tempo de viagem competitivo. Para<br />

além disto, há que desenvolver os modos<br />

flexíveis, integrando-os no sistema<br />

de passes. Modos flexíveis, quero dizer,<br />

também, os táxis coletivos, para melhorar<br />

os tempos de viagem em transporte<br />

público, porque neste momento o fator<br />

preço deixou de ser questão essencial.<br />

Na maior parte dos casos, para que se<br />

opte pelo transporte público em vez<br />

do particular é a questão do tempo de<br />

viagem, claramente.<br />

E que tal as vias VAO (sinal D6-a,<br />

introduzido no Código da Estrada<br />

em 2019), sem utilização, mas que<br />

pressupõe vias reservadas a veículos<br />

com alta taxa de ocupação?<br />

Evidente, terão que ser equacionadas.<br />

Mas ainda assim estamos a falar de<br />

transporte individual que terá que ser<br />

mais bem aproveitado. Melhor seria a<br />

incorporação dos modos flexíveis, como<br />

o táxi partilhado, ou mesmo pequenos<br />

autocarros, sem horários, sem percursos<br />

pré-definidos, que respondem às<br />

chamadas dos utilizadores.<br />

Em contrapartida, os veículos das<br />

plataforma TVDE, ainda muito pouco<br />

eletrificados, proliferam...<br />

A prioridade na eletrificação deverá<br />

recair nas frotas, pois são as que têm<br />

mais horas de utilização e, como tal, deveriam<br />

ser alvo de políticas de incentivo<br />

público, pois elas têm grande impacte<br />

na redução de emissões.<br />

Mas há datas a respeitar... E estas são<br />

exequíveis?<br />

Depende das políticas públicas. O<br />

famoso ano de 2035, segundo o qual<br />

deixa de ser permitida a comercialização<br />

dos motores a combustão, deve ser antecipado.<br />

Com todas as metas que hoje<br />

conhecemos, com o ‘fit for 55’, ainda<br />

estamos aquém do necessário para conseguirmos<br />

ficar abaixo dos 1,5 graus.<br />

Estas metas não são consistentes para<br />

atingirmos um patamar de segurança<br />

climática. A exequibilidade depende de<br />

fortes políticas públicas que permitam<br />

melhorar as condições de mobilidade<br />

de todos. Temos que ter mais tempo<br />

de vida útil e não perdê-la no meio dos<br />

transportes.<br />

Mas há paradoxos. A via férrea, por<br />

exemplo...<br />

Há um plano, ainda não aprovado, mas<br />

esperemos que possa entrar em vigor<br />

rapidamente. Já foi lançada discussão<br />

pública do estudo de impacte ambiental<br />

do primeiro troço da alta velocidade.<br />

Esperemos que esse caminho, embora<br />

já com enorme atraso, possa ser uma<br />

das duas prioridades – o eixo Atlântico,<br />

entre Vigo e Setúbal, e o eixo Mediterrânico,<br />

ligação Lisboa-Madrid. Nós,<br />

enquanto associação, lançámos um<br />

desafio: Portugal, Espanha e Marrocos<br />

estão unidos por um projeto de candidatura<br />

conjunta à organização do MundIal<br />

de futebol de 2030. Ora, tal desafio<br />

pressupõe que tenhamos o transporte<br />

do público e das equipas feito integralmente<br />

por via férrea, naturalmente nos<br />

territórios de Portugal e Espanha. Ligar<br />

as duas capitais em três horas é crucial.<br />

E o aumento das rotas aéreas parece<br />

um contrassenso...<br />

Há que conciliar os dois modos. A TAP,<br />

por exemplo, já tem bilhetes combinados<br />

com operadores ferroviários da Alemanha,<br />

Suíça e Áustria. Voando para os<br />

aeroportos principais, o voo de ligação,<br />

se de curta distância, já será eliminado<br />

e substituído pelo comboio. Terá que<br />

haver boa coordenação entre os dois<br />

modos. E no futuro será de utilizar os<br />

comboios noturnos de alta velocidade.<br />

É que a nossa posição de hub intercontinental,<br />

até mesmo do ponto de<br />

vista de poupança de combustíveis, é<br />

importante.<br />

Os navios acostados nos grandes<br />

portos terão que desligar os motores<br />

diesel e ligarem-se à rede elétrica, o<br />

que parece ser medida que melhorará<br />

o ambiente nas cidades...<br />

Peca por tardia, e embora o Porto de<br />

Lisboa já tenha anunciado que o faria<br />

em 2022, essa data foi adiada para<br />

2026. Claramente, já deveria estar<br />

implementada.<br />

Os transportes inteligentes dizem-nos<br />

que iremos andar todos ligados, os<br />

humanos às máquinas e às infraestruturas<br />

rodoviárias, pela melhor<br />

intermodalidade e pelas dificuldades<br />

da bilhética e pelas distâncias entre<br />

os vários terminais...<br />

O sistema de passes já está algo desenvolvido<br />

e é relevante para a intermodalidade,<br />

tal como o sistema de bicicletas,<br />

22 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 23


ENTREVISTA<br />

Acácio Pires<br />

que também é relevante. É preciso<br />

caminhar mais, é preciso, igualmente,<br />

melhor planeamento. Por exemplo,<br />

quando projetamos a linha vermelha do<br />

Metro de Lisboa e não temos interface<br />

com a Linha de Sintra estamos a fazer<br />

algo de errado e não estamos a promover<br />

a intermodalidade e promovemos o<br />

congestionamento da linha de cintura.<br />

Também não promovemos uma adequada<br />

ligação à zona ocidental da cidade.<br />

Os planos de mobilidade urbana<br />

sustentável terão que ser desenvolvidos,<br />

terão que envolver todos os atores<br />

no terreno e reduzirem os tempos de<br />

viagem. Em vez disso, cada modo de<br />

transporte viaja no seu pequeno mundo<br />

VIA FÉRREA<br />

Devemos ter muito mais<br />

camiões sobre carris, em<br />

vez de termos um consumo<br />

desmesurado de combustível<br />

e andam a competir cada um por si.<br />

Devemos poder ir de Lisboa a Freixo<br />

de Espada à Cinta com um só bilhete,<br />

de forma rápida, e uma vez lá chegados<br />

termos um transporte público que<br />

responda à última solicitação e fechar<br />

o espaço vazio. É por isso que reafirmo<br />

que um sistema de transporte público<br />

flexível será a peça-chave.<br />

No caso do transporte rodoviário de<br />

mercadorias, o interface com o modo<br />

ferroviário é igualmente crucial, ao<br />

mesmo tempo que promove economias.<br />

Devemos ter muito mais camiões sobre<br />

carris, em vez de termos um consumo<br />

desmesurado de combustível. A eletrificação<br />

não resolverá tudo. Mas devemos<br />

privilegiá-la, mormente os meios mais<br />

eficientes para percorrer a última milha.<br />

Operadores de gás e o Governo acreditam<br />

que ainda há muito futuro para<br />

o gás, pois que nem tudo é eletrificável.<br />

O biometano e o hidrogénio<br />

verde são os mais falados dos gases<br />

renováveis. Enquanto atentos ao fenómeno,<br />

que opinião formaram?<br />

É uma possibilidade, mas são aplicações<br />

limitadas à existência do biometano,<br />

que existe em grandes quantidades nos<br />

aterros sanitários e ETAR. Onde ele<br />

exista nessas quantidades não vemos<br />

obstáculos à sua utilização, seja na rede<br />

de gás ou no transporte rodoviário pesado.<br />

Desde que não seja muito utilizado<br />

junto aos centros urbanos. É poluente<br />

[o biometano], mas com emissões mais<br />

reduzidas. O ideal será utilizá-lo fora<br />

dos centros urbanos. Esperemos que<br />

haja estratégia nacional para o biometano.<br />

Sempre que possível, combinado<br />

com o hidrogénio verde, na indústria,<br />

onde não seja possível eletrificar.<br />

Onde os combustíveis sintéticos fazem<br />

mais sentido é no transporte aéreo e<br />

marítimo, seja o efuel ou o metanol,<br />

produzidos a partir do hidrogénio<br />

verde, e há um conjunto de empresas<br />

nacionais que se estão a posicionar<br />

nesse sentido, o que é positivo. Convém<br />

que a produção de hidrogénio verde se<br />

realize perto dos locais de maiores emissões<br />

de dióxido de carbono, como as<br />

cimenteiras, ou as indústrias cerâmica e<br />

vidreira. Poderemos ter uma interessante<br />

simbiose industrial, evitando transportes<br />

de longa distância, pois de outra<br />

forma reduz-se a eficiência do processo.<br />

Quanto ao gás natural, esperamos ainda<br />

uma evolução das centrais de ciclo combinado,<br />

através do aumento de potência<br />

Convém que a produção<br />

de hidrogénio verde se<br />

realize perto dos locais<br />

de maiores emissões<br />

de dióxido de carbono,<br />

como as cimenteiras, ou<br />

as indústrias cerâmica e<br />

vidreira<br />

das renováveis, seja a eólica onshore,<br />

também o novo eólico offshore e o solar,<br />

com aumento da capacidade, mas sempre<br />

em solos de qualidade reduzida.<br />

Sus-ten-ta-bi-li-da-de. À boca se cheia<br />

se fala dela. Será que todos sabem do<br />

que se trata, do que verdadeiramente<br />

significa?<br />

Ficaria preocupado se a expressão<br />

fosse utilizada sem o conhecimento do<br />

significado. É importante falar-se dela,<br />

mesmo no discurso político, ou no<br />

marketing empresarial. Até porque as<br />

práticas contrárias começam a ser prejudiciais<br />

às empresas, com consequências<br />

económicas adversas. Para Portugal, se<br />

se tirar partido da revolução tecnológica<br />

será muito positivo, pois se deixarmos<br />

de importar energia e a produzirmos<br />

para as próprias necessidades atrairemos<br />

novas indústrias. Atualmente há um<br />

grande movimento de reindustrialização,<br />

mormente de alguns países que se terciarizaram.<br />

Isto pode conduzir a ganhos<br />

ambientais ao encurtarmos as cadeias<br />

de produção e de consumo. Poderemos<br />

assistir ao regresso da produção do aço e<br />

outras que há muito andaram distantes<br />

do país. Poderemos tirar partido disso<br />

através da produção de energia com custos<br />

mais interessantes. Antes isto do que<br />

exportar energia e importar produtos de<br />

elevado valor acrescentado.”+<br />

C<br />

M<br />

Y<br />

CM<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K<br />

INDEPENDENTE, SEM FINS LUCRATIVOS<br />

A zero, Associação Sistema Terrestre Sustentável, nasceu em finais de 2015, é de<br />

âmbito nacional, sem fins lucrativos e exerce a sua atividade com total independência<br />

relativamente aos partidos políticos, empresas e entidades com fins<br />

lucrativos, associações de natureza confessional e ao governo.<br />

24 e-MOBILIDADE +


CONGRESSO ITS<br />

Lisboa juntou 2500 delegados<br />

de entidades que participam<br />

no ITS e empresas que se<br />

juntaram aos projetos para<br />

mudar o jogo da mobilidade<br />

urbana e os transportes de<br />

mercadorias e de passageiros<br />

CONGRESSO EUROPEU DA ITS<br />

OK, temos planos e dados<br />

agora só falta ligar tudo<br />

Smart cars, smart roads, planos europeus para a descarbonização e digitalização,<br />

uma revolução verde em curso, Inteligência Artificial, a Internet das Coisas, big<br />

data, uma plêiade de tecnólogos a trabalhar em conjunto em prol da mobilidade e<br />

logística para pessoas e bens. Só falta mesmo ligar tudo e ensinar o homem<br />

a perceber o resultado das conexões entre máquinas e infraestruturas.<br />

Mas para isso existem as Apps. Coisa pouca?<br />

Por Carlos Branco<br />

não é fácil!”, admitiu<br />

Herald Ruijters, representante<br />

da Comissão<br />

Europeia no Congresso<br />

“Isto<br />

Europeu da ITS, acrónimo<br />

de Sistemas e Serviços Inteligentes de<br />

Transporte, realizado em Lisboa, entre<br />

22 a 24 de maio. O diretor executivo<br />

da Directoria Geral para a Mobilidade<br />

e Transporte da Comissão Europeia –<br />

responsável pelo investimento, inovação<br />

e sustentabilidade –, que se dirigiu aos<br />

congressistas, não teve pejo em afirmá-<br />

-lo, como não deixou de mencionar na<br />

conferência de abertura, que deseja ardentemente<br />

ver Lisboa ligada a Madrid<br />

e o Porto a Vigo por via férrea de alta<br />

velocidade. Quase simultaneamente, o<br />

presidente da autarquia anfitriã, Carlos<br />

Moedas, lançava à assistência uma<br />

promessa: ter Lisboa livre de carbono<br />

em 2030. O que também não será fácil...<br />

Dias depois do Congresso, o Parlamento<br />

e o Conselho europeus chegaram a<br />

acordo sobre a partilha digital dos dados<br />

recolhidos pelas autoridades de mobilidade<br />

dos Estados-Membros, estabelecendo<br />

que entre 2025 e 2028 tal partilha<br />

tem que estar consumada.<br />

Ligar tudo, literalmente, ou unir os<br />

pontos, à velocidade anunciada pelo 5G,<br />

e gerada por um ror de algoritmos, mas<br />

fazendo com que “toneladas” de informação,<br />

que simplisticamente podemos<br />

chamar de big data, se transformem em<br />

informação, foi disto que se falou no<br />

Congresso da ITS que juntou 2500 pessoas<br />

e um ‘festival’ de networking.<br />

26 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 27


EVENTOS<br />

Congresso Europeu da ITS<br />

E com obrigatoriedades intrínsecas:<br />

que façam sentido para os utilizadores<br />

e sejam da melhor utilidade para uma<br />

mobilidade que se quer inteligente, sustentável<br />

e verde, quer para as pessoas,<br />

quer para as mercadorias; que sejam<br />

dados seguros e fiáveis, que preservem<br />

a identidade dos indivíduos e a<br />

sua segurança em mobilidade. É uma<br />

transição digital que deve acompanhar<br />

a energética, que devem seguir paralelamente<br />

e em passo acelerado. E, de facto,<br />

vistas assim as coisas, não é fácil gerir<br />

tantos estudos e projetos e coordená-los<br />

de forma a tornar a mobilidade e as<br />

cidades mais ‘smart’.<br />

PERTO DE 500 CIDADES<br />

Num encontro com semelhante dimensão<br />

como o de Lisboa, o difícil foi<br />

acompanhar a dinâmica dos timings das<br />

comunicações, fossem plenárias ou temáticas,<br />

ou mesmo de nicho, sendo que em<br />

três dias foram realizadas 180 sessões.<br />

A <strong>eMOBILIDADE+</strong> presenciou algumas<br />

destas, dando particular atenção aos<br />

SESSÕES PLENÁRIAS<br />

E TEMÁTICAS<br />

Ao longo de três dias<br />

realizaram-se 180 sessões<br />

plenárias e temáticas, para<br />

além de demonstrações. Foram<br />

muitas horas de apresentações<br />

e de networking<br />

capítulos da mobilidade e da logística de<br />

transporte. Apenas para ter uma ideia do<br />

que se está a fazer, assim se descrevem,<br />

sucintamente, pequenos trechos do que<br />

se está a preparar, sob o chapéu do programa<br />

europeu Ten-T, que envolve 484<br />

cidades aderentes, que devem preparar<br />

planos de sustentabilidade e avaliar,<br />

regularmente, o seu progresso.<br />

Também o Grupo Brisa esteve presente<br />

no Congresso e não perdeu a oportunidade<br />

de mostrar o que anda a fazer em<br />

nome da mobilidade inteligente. Eduardo<br />

Ramos, CEO da Via Verde, deu o<br />

mote, aludindo às “Soluções de Mobilidade<br />

e Infraestruturas Inteligentes”, projeto<br />

que a Brisa desenvolve com vários<br />

parceiros, sejam a Altice, o Instituto das<br />

Comunicações, a Smart Lab Aveiro ou a<br />

Renault Cacia. O projeto é integrado na<br />

Rede Nacional de Test Beds (bancos, ou<br />

laboratórios de ensaio), que financia, ao<br />

abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência,<br />

soluções inovadoras e necessárias<br />

às empresas para o desenvolvimento<br />

e teste de novos produtos e serviços e<br />

acelerar o processo de transição digital.<br />

Segundo revelou Andreia Jesus, da<br />

Brisa, após um investimento de 2,5 milhões<br />

de euros foram feitos dois daqueles<br />

testes de mobilidade e conetividade,<br />

em Aveiro e Lisboa, em colaboração<br />

com a Renault, que instalou dispositivos<br />

de posicionamento e comunicação<br />

nas várias viaturas de teste, na via e nas<br />

portagens, de forma a ensaiar o procedimento<br />

C-ITS, de cooperação entre<br />

diferentes viaturas, infraestruturas e<br />

tecnologias de comunicação.<br />

28 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 29


EVENTOS<br />

Congresso Europeu da ITS<br />

Mais de uma<br />

centena<br />

de empresas<br />

exibiram as suas<br />

propostas, ou<br />

projetos já em<br />

desenvolvimento,<br />

que concorrem<br />

para a melhoria<br />

da mobilidade<br />

e da qualidade<br />

de vida dos<br />

cidadãos<br />

HARMONIZAÇÃO<br />

DE DADOS<br />

Para o português Pedro<br />

Barradas, chefe de estratégia<br />

da Armis-ITS, a harmonização<br />

de dados é o resultado da<br />

cooperação entre os agentes<br />

PARTILHA E CONFIANÇA<br />

Martin Boehm, diretor técnico da<br />

AutriaTech, falou sobre a implantação<br />

dos sistemas de cooperação ITS (C-ITS),<br />

que pressupõe a conetividade entre dois<br />

ou mais subsistemas (pessoais, veículos,<br />

rodoviários e centrais). Basicamente,<br />

observa a boa-vontade entre os vários<br />

atores em comunicarem entre si,<br />

porventura um dos maiores problemas<br />

para a prossecução de todo o plano da<br />

mobilidade. Segundo aquele técnico, “é<br />

um desafio colocar as autoridades rodoviárias,<br />

os detentores das infraestruturas<br />

e os operadores de transportes públicos<br />

a partilharem os seus dados, a confiarem<br />

uns nos outros, e fundirem todas as<br />

informações para que 50 cidades europeias<br />

comecem a operar de acordo com<br />

os novos planos.” Tudo começou em<br />

2016 e, assim parece, ainda há muito<br />

para dialogar e afinar.<br />

Em segurança e sustentabilidade,<br />

podem os smart cars comunicar com as<br />

smart roads?, foi o tema abordado por<br />

Sanket Partani, da Universidade alemã<br />

de Kaiserslautern. Podem, de facto, e<br />

os resultados extraídos de ensaios em<br />

dez mil veículos revelaram que aquela<br />

tecnologia pode conduzir até à redução<br />

até 32% de emissões de CO 2<br />

.<br />

Émilie Petit, gestora de projetos do Ministério<br />

dos Transportes de França, tem<br />

ocupado a sua equipa a compreender e<br />

harmonizar as informações e especificações<br />

dos sistemas, a validá-las, garantindo<br />

que são seguras para os cidadãos,<br />

da mesma forma que foi aferido se os<br />

veículos compreendem as mensagens<br />

recebidas.<br />

INDÚSTRIA SERÁ ENVOLVIDA<br />

Para o português Pedro Barradas, chefe<br />

de estratégia da Armis-ITS, a harmonização<br />

de dados é o resultado da<br />

cooperação entre os agentes, “mas tão<br />

importante quanto isso é garantir que<br />

a indústria automóvel e a de telecomunicações<br />

compreendem o que estamos<br />

[nós e as 54 cidades envolvidas] a<br />

procurar fazer, para que possamos, num<br />

futuro próximo, estender o projeto a<br />

outras cidades”, disse o engenheiro.<br />

Mas quando estaremos em condições<br />

de perceber que os carros e as ‘coisas’<br />

já estão a comunicar para melhorar<br />

a mobilidade nas nossas cidades?<br />

Responde Martin Boehm: “Ainda falta<br />

muito tempo. Antes de mais, teremos<br />

É um desafio colocar as<br />

autoridades rodoviárias,<br />

os detentores das<br />

infraestruturas e<br />

os operadores de<br />

transportes públicos<br />

a partilharem os seus<br />

dados, a confiarem uns<br />

nos outros, e fundirem<br />

todas as informações<br />

para que 50 cidades<br />

europeias comecem a<br />

operar de acordo com<br />

os novos planos<br />

que alterar todos os regulamentos<br />

rodoviários, que são físicos, enquanto<br />

estas comunicações são todas digitais.<br />

Haverá uma altura em que coexistirão<br />

os semáforos físicos e os regulamentos<br />

digitais. Teremos câmaras nos carros<br />

ligadas aos sistemas centrais que<br />

trocam informações e nos mandam<br />

avançar ou parar.”<br />

LOGÍSTICA SEM ENGANOS<br />

As plataformas logísticas digitais prometem<br />

garantir uma grande sustentabilidade<br />

no capítulo da distribuição de mercadorias<br />

e há equipas de estudo atentas<br />

a todos os pormenores, a começar pelo<br />

simples engano. A digitalização e o<br />

recurso a uma aplicação fará com que<br />

deixe de ser possível a um condutor de<br />

veículo de mercadorias que se dirija ao<br />

porto de Xangai (apenas referido como<br />

exemplo) para entrega a transporte<br />

naval, entrar para o terminal de aviação<br />

que lhe fica perto, mas que perderá<br />

meia-hora para encontrar a via correta.<br />

Tudo será calculado, o tempo de entrega,<br />

as rotas, os locais de entrega, os<br />

espaços de estacionamento e a ‘última<br />

milha’.<br />

O que se pretende com o projeto<br />

LEAD (Baixa Emissões Adaptativas) é<br />

que um modelo de análise determine<br />

quais os veículos a utilizar ao longo<br />

do percurso e de que forma se poderá<br />

percorrer a última milha, em perímetro<br />

urbano, necessariamente em veículo<br />

eco-friendly.<br />

É também imperioso que a entrega de<br />

mercadoria tenha como certa a hora a<br />

que estará disponível o navio para o<br />

início da estiva, ou a que minuto poderá<br />

aceder ao cais de embarque da via<br />

férrea ou por via aérea sem delongas.<br />

O maior busilis de todo este processo<br />

de mudança reside na intermodalidade.<br />

Isto é, quando um passageiro ou<br />

mercadoria necessite usar mais que<br />

um meio de transporte para chegar do<br />

ponto A ao B sem que tenha que fazer<br />

maratonas ou sprints pelo meio. A comunicação<br />

entre os gestores dos meios<br />

e uma troca de informações seguras<br />

estão longe de chegar a bom porto. Ou<br />

o custo da transformação das infraestruturas.<br />

E até mesmo a bilhética. Segundo<br />

vários oradores, não estará para<br />

breve adquirir um bilhete para vários<br />

modos de transporte que garanta uma<br />

certeza horária ao seu detentor.<br />

São muitos dados e para isso são necessários<br />

muitos estudos, mas acima de<br />

tudo muita cooperação entre todas as<br />

entidades e uma partilha sem receios.<br />

E muita paciência para esperar pela<br />

mudança.+<br />

30 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 31


EVENTOS<br />

Congresso Europeu da ITS<br />

ACORDO PARA A PARTILHA DE DADOS DIGITAIS<br />

Se parece existir algum atraso na união de todos os pontos destes sistemas, no<br />

que diz respeito às regras (e a sua atualização) sobre os sistemas de transporte<br />

inteligentes, já existe acordo entre o Parlamento Europeu (PE) e o Conselho, segundo<br />

o qual será exigida às autoridades da mobilidade dos Estados-Membros<br />

a disponibilização de mais dados digitais sobre o tráfego.<br />

Conforme o acordo provisório firmado em Estrasburgo a 8 de junho, as<br />

regras dos Sistemas de Transporte Inteligentes ajudarão a digitalizar o setor<br />

dos transportes e a garantir uma partilha de dados mais ampla entre as aplicações<br />

de mobilidade, tornando a mobilidade mais segura, mais eficiente e<br />

mais sustentável.<br />

Como se pode ler no comunicado do PE, durante as negociações, os eurodeputados<br />

apoiaram a cobertura de mais serviços, como informações multimodais,<br />

serviços de reserva e emissão de bilhetes, comunicação entre automóveis e infraestruturas<br />

e mobilidade automatizada, tendo sido incluídos dados rodoviários<br />

e de tráfego tidos como cruciais para a partilha on-line. Para além dos limites de<br />

velocidade, do encerramento de estradas ou das obras rodoviárias, os dados relativos<br />

às ruas de sentido único nas cidades, as restrições de peso, comprimento,<br />

largura e altura, bem como as condições de tráfego em zonas de tráfego restrito,<br />

serão incluídos numa base de dados nacional a partilhar entre os países da UE.<br />

empresas e consumidores.<br />

Dependendo do tipo de dados, o prazo para disponibilizar novas informações<br />

digitalmente varia entre o final de 2025 e o final de 2028. Isso iniciará um<br />

processo para implantar o ITS mais rapidamente. Como princípios básicos, a<br />

implantação de serviços ITS deve ser tecnologicamente neutra, promover a interoperabilidade,<br />

não discriminar os utentes vulneráveis da estrada e assegurar a<br />

transparência da classificação, incluindo as consequências ambientais, ao propor<br />

opções de mobilidade aos clientes.<br />

A fim de organizar sem problemas os transportes transfronteiriços, os Estados-<br />

-Membros da UE terão de cooperar melhor na implantação daqueles serviços,<br />

em especial em projetos transfronteiriços. O acordo, ainda informal, requer<br />

aprovação pela Comissão dos Transportes e do Turismo do Parlamento e pelo<br />

Comité de Representantes Permanentes do Parlamento Europeu, e depois pelo<br />

Parlamento e pelo Conselho no seu conjunto.<br />

Sob o grande chapéu da ERTICO<br />

PROMOÇÃO DA<br />

INTEROPERABILIDADE<br />

ITS, ERTICO, centenas de equipas<br />

e dezenas de projetos europeus e<br />

congressos um pouco por todo o<br />

lado. Mas de que falamos? O ITS<br />

constitui-se em aplicações avançadas<br />

que visam proporcionar serviços<br />

inovadores relacionados com diferentes<br />

modos de transporte, a fim de tornar o<br />

uso das redes de transporte mais seguro,<br />

coordenado e inteligente. O termo<br />

surgiu nos anos 80 quando um grupo<br />

de profissionais reconhece o impacto<br />

que a revolução nas comunicações pode<br />

assumir na área dos transportes.<br />

Estes sistemas incluem telemática e<br />

todos os tipos de comunicações em<br />

veículos, entre veículos (por exemplo,<br />

carro-carro), e entre veículos e locais<br />

fixos (por exemplo, carro-infraestrutura).<br />

No entanto, a sua utilização não<br />

é restrita aos transportes rodoviários,<br />

também inclui o uso de tecnologias da<br />

informação e comunicação (TIC) no<br />

transporte ferroviário, marítimo e aé-<br />

reo, incluindo sistemas de navegação, e<br />

podem ser utilizados por passageiros e<br />

para transporte de carga.<br />

A Lei n.º 32/2013, publicada em Diário<br />

da República a 10 de maio, reconhece<br />

a implementação e utilização de<br />

sistemas de transportes inteligentes,<br />

no transporte rodoviário, inclusive<br />

nas interfaces com outros modos de<br />

transporte, transpondo a Diretiva<br />

n.º2010/40/EU do Parlamento Europeu<br />

e do Conselho.+<br />

Dependendo do tipo de dados,<br />

o prazo para disponibilizar novas<br />

informações digitalmente varia<br />

entre o final de 2025 e o final de<br />

2028. Isso iniciará um processo<br />

para implantar o ITS mais<br />

rapidamente<br />

32 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 33


LEGISLAÇÃO<br />

O desafio do equilíbrio financeiro<br />

dos contratos de serviço público<br />

de transporte de passageiros<br />

Como todos sabemos, os tempos mais recentes, pelo menos desde o início da pandemia<br />

Covid-19 no primeiro trimestre de 2020 (já declarada extinta pela Organização Mundial<br />

de Saúde), que os dias têm estado revoltos no que toca ao comportamento dos mercados<br />

e das economias, e Portugal não é exceção. A guerra da Ucrânia, as crises nas cadeiras de<br />

abastecimento e de matérias-primas, o aumento dos custos energéticos e o comportamento<br />

da inflação têm gerado impactos financeiros significativos no âmbito dos contratos, e, em<br />

particular, nos contratos de serviço público de transporte de passageiros.<br />

Com efeito, revistam estes contratos a natureza<br />

de contratos de concessão ou de contratos<br />

de prestação de serviços ou natureza mista, a<br />

estrutura de custos inerente a cada um deles<br />

é fortemente influenciada pelos ciclos económicos<br />

em que tais contratos são executados. Com efeito, se<br />

pensarmos que uma parte assinalável dos atuais contratos<br />

de serviço público de transporte de passageiros de primeira<br />

geração foi desenhado (na sua estrutura financeira e operacional)<br />

no período pré-pandemia, certamente é fácil verificar<br />

que os respetivos pressupostos foram materialmente alterados<br />

até aos dias de hoje.<br />

Consciente desta realidade, foram aprovadas (e bem) várias<br />

medidas de apoio à sustentabilidade financeira deste tipo de<br />

contratos, como sucede, entre outros casos, com o apoio dado<br />

pelo Decreto-Lei n.º 14-C/2020, de 7 de abril (cujo período<br />

de aplicação foi estendido até 31 de dezembro de 2023)<br />

ou com a aplicação do mecanismo de revisão excecional de<br />

preços aplicado por via do Decreto-Lei n.º 36/2022, de 20<br />

de maio (cujos efeitos práticos, em bom rigor, ainda não se<br />

fizeram sentir).<br />

É certo que, nalgumas situações, a Taxa de Atualização Tarifária<br />

(TAT) regular divulgada anualmente pela Autoridade da<br />

Mobilidade e dos Transportes também concorre para auxiliar<br />

o equilíbrio financeiro dos contratos de serviço público. Todavia,<br />

este mecanismo nem sempre é suficiente para retratar a<br />

real evolução financeira dos custos associados à produção do<br />

serviço público de transporte de passageiros, com agravante<br />

de as autoridades de transportes terem, via de regra, muita<br />

renitência em utilizar ao mecanismo da TAT extraordinária de<br />

modo complementar.<br />

Os mecanismos que acabei de enunciar são, todavia, aquilo<br />

JOSÉ LUÍS ESQUÍVEL<br />

Advogado<br />

que poderemos chamar mecanismos de natureza externa<br />

face a cada contrato de serviço público, o qual, em si mesmo,<br />

deveria prever os mecanismos adequados para poder<br />

lidar com as situações inerentes à alteração das circunstâncias<br />

que geraram o respetivo desequilíbrio financeiro.<br />

É certo que uma parte significativa dos contratos de<br />

serviço público de transporte de passageiros atualmente<br />

em vigor contém, seja diretamente seja por remissão para<br />

o Código dos Contratos Públicos, algum tipo de previsão<br />

sobre como assegurar a reposição do equilíbrio financeiro<br />

do contrato quando a mesma é afetada por caudas alheias<br />

às partes (como sucedia com a pandemia e ainda sucede<br />

com a guerra da Ucrânia).<br />

O desafio em redor desta matéria consiste em saber se os<br />

mecanismos contratuais existentes respondem ou não, em tempo<br />

útil, à necessidade de as partes encontrarem uma solução que<br />

permita assegurar a sustentabilidade financeira sem que o respetivo<br />

procedimento se arraste por meses (ou mesmo anos). Com<br />

efeito, o desenho legal que hoje decorre do Código dos Contratos<br />

Públicos e as exigências de natureza fiscalizadora (seja pela<br />

Autoridade da Mobilidade e dos Transportes, seja pelo Tribunal<br />

de Contas) nem sempre se coaduna com a velocidade e o impacto<br />

dos efeitos financeiros gerados pelas alterações de contexto<br />

económico e operacional, pelo que seria adequado promover<br />

uma análise detalhada (até para melhor preparação dos contratos<br />

de segunda geração) a este respeito. Fica o desafio.+<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

FINANCEIRA<br />

O desafio em redor desta matéria<br />

consiste em saber se os mecanismos<br />

contratuais existentes respondem ou<br />

não, em tempo útil, à necessidade<br />

de as partes encontrarem uma<br />

solução que permita assegurar a<br />

sustentabilidade financeira sem que<br />

o respetivo procedimento se arraste<br />

por meses (ou mesmo anos)<br />

34 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 35


i-letric city<br />

a nova marca de mobilidade elétrica urbana<br />

C<br />

Com os crescentes problemas ambientais, excesso de tráfego e elevado preço dos<br />

combustíveis, que afetam o ramo dos transportes nas suas várias vertentes surge a necessidade<br />

de criar soluções. A i-lectric city compromete-se em fornecer valores como a sustentabilidade<br />

para tornar a vida mais fácil para aqueles que se deslocam no meio urbano.<br />

É<br />

no Parque das Nações, em Lisboa, que pode<br />

encontrar a nova loja da i-letric city. Uma<br />

marca do Grupo Auto-Industrial que promete<br />

“revolucionar a mobilidade urbana” com várias<br />

“soluções integradas tanto para o cliente particular<br />

como empresarial”.<br />

No dia da sua inauguração (29 de junho), a <strong>eMOBILIDADE+</strong>,<br />

foi ao encontro do responsável da marca, Pedro Galvão, que<br />

nos explicou em que consiste esta grande novidade.<br />

“Estamos a falar de um leque de ofertas de mobilidade<br />

elétrica num único espaço, focado na inovação e na consciencialização<br />

ambiental sem esquecer a oferta de produtos<br />

diferenciadores com elevados padrões de qualidade e<br />

design distinto. Acreditamos ser fortes impulsionadores<br />

da mudança com vista a um futuro mais sustentável”,<br />

referiu Pedro Galvão.<br />

A oferta da i-lectric city está assente em quatro eixos<br />

principais: uma ampla gama de produtos tais como<br />

trotinetas, bicicletas, scooters e microcarros 100%<br />

elétricos; Serviço de assistência técnica; Rent-a-<br />

-car/ Rent-a-moto e uma Battery station que irá<br />

permitir, mediante subscrição, a troca de uma<br />

bateria descarregada por uma carregada.<br />

Um futuro mais limpo e sustentável está<br />

nos objetivos dos Grupo Auto-Industrial,<br />

36 e-MOBILIDADE +<br />

Por Márcia Dores<br />

que continua a dar passos nessa direção com a<br />

criação desta nova marca e não só: “Atualmente<br />

cerca de 50% das nossas infraestruturas próprias<br />

tem instalados painéis fotovoltaicos e a ambição é<br />

que antes do final de 2025 chegue a 100%. Contamos<br />

também, até ao final de 2025, deixar a utilização<br />

do papel apenas para as situações em que o requisito<br />

legal a isso obrigue. Todas estas medidas geram uma<br />

enorme redução da pegada ambiental do Grupo Auto-<br />

-industrial.” +<br />

CURIOSO PARA CONHECER<br />

A I-LETRIC CITY?<br />

Aceda ao site da marca:<br />

https://www.ilectriccity.pt/i-lectric-city<br />

e descubra todas as novidades.<br />

M<br />

Y<br />

CM<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K<br />

Leva a sua frota mais longe.<br />

E o seu desempenho, também.<br />

Novos Conti Hybrid HS5 e HD5.<br />

Beneficie de uma quilometragem muito elevada<br />

graças ao novo composto, desenvolvido para<br />

operações regionais.<br />

Usufrua de uma forte aderência em todas as<br />

condições meteorológicas, graças ao piso<br />

altamente robusto, que inclui novas lamelas de<br />

matriz 3D com largura total (proporcionando,<br />

assim, boa tração ao longo da vida útil do pneu).<br />

O desenho do piso, desenvolvido de forma<br />

inteligente para um desgaste uniforme, faz<br />

aumentar a vida útil do pneu.<br />

5ª Geração. Juntos, fazemos a diferença.


TRANSPORTE MARÍTIMO<br />

Grandes navios<br />

reduzem gradualmente<br />

as emissões de gases<br />

com efeito de estufa<br />

Novas regras da União Europeia (UE) para<br />

combustíveis marítimos mais limpos impõem também<br />

a redução das emissões em 2% já a partir de 2025.<br />

Por Carlos Branco<br />

O<br />

Parlamento e o Conselho europeus<br />

chegaram a um acordo<br />

sobre combustíveis marítimos<br />

mais limpos, pedindo para<br />

reduzir as emissões de gases<br />

com efeito de estufa (GEE) dos navios em 2%<br />

a partir de 2025 e em 80% a partir de 2050,<br />

para ajudar a UE a tornar-se neutra em termos<br />

climáticos. Segundo o acordo provisório<br />

alcançado no final de maio entre os negociadores<br />

do Parlamento Europeu e do Conselho,<br />

este estabelece um padrão<br />

de combustível para os<br />

navios para orientar o setor<br />

marítimo da UE para a<br />

adoção de combustíveis renováveis<br />

e hipocarbónicos<br />

que conduzam à descarbonização.<br />

De acordo com o comunicado<br />

do Parlamento<br />

Europeu, os eurodeputados<br />

conseguiram garantir<br />

que os navios terão de<br />

reduzir gradualmente<br />

as emissões de GEE na<br />

energia que utilizam, em<br />

2% a partir de 2025, 6% a<br />

O acordo dará mais<br />

créditos, como<br />

incentivo, na forma<br />

de compensação de<br />

emissões, aos armadores<br />

que usam combustíveis<br />

renováveis de origem<br />

não biológica (RFNBO),<br />

entre 2025 a 2034<br />

partir de 2030, 14,5% para lá de 2035, 31%<br />

a partir de 2040, 62% em 2045 e 80% em<br />

2050. Tais medidas aplicar-se-iam aos navios<br />

com arqueação bruta superior a 5000 AB –<br />

que representam cerca de 55% dos navios<br />

que escalam os portos da UE e que são, em<br />

princípio, responsáveis por 90% das emissões<br />

de CO 2<br />

–, e a toda a energia utilizada a bordo<br />

nos portos da UE ou entre eles, bem como a<br />

50% da energia utilizada em viagens em que<br />

o porto de partida ou de chegada se situe<br />

fora da UE ou nas regiões<br />

ultraperiféricas desta.<br />

BENEFÍCIOS AOS<br />

ARMADORES<br />

Na mesma nota de imprensa<br />

está igualmente expresso<br />

que os eurodeputados<br />

garantiram ainda que<br />

a Comissão irá rever as<br />

regras até 2028 para decidir<br />

se alarga os requisitos<br />

de redução das emissões<br />

a navios mais pequenos,<br />

ou se aumenta a quota<br />

de energia utilizada por<br />

navios provenientes de<br />

38 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 39


TRANSPORTE MARÍTIMO<br />

Política Europeia Naval<br />

países terceiros. Refere-se ainda que o acordo<br />

dará mais créditos, como incentivo, na forma<br />

de compensação de emissões, aos armadores<br />

que usam combustíveis renováveis de origem<br />

não biológica (RFNBO), entre 2025 a 2034,<br />

tendo ficado igualmente estabelecida uma<br />

meta de uso de combustíveis renováveis de<br />

2% a partir de 2034, se a Comissão informar<br />

que, em 2031, a RFNBO equivale a menos de<br />

1% na mistura de combustíveis.<br />

Este acordo, ainda informal, sobre as regras<br />

relativas aos combustíveis marítimos sustentáveis,<br />

terá ainda que ser aprovado pelo<br />

Comité de Representantes Permanentes do<br />

Conselho e pela Comissão dos Transportes e<br />

Turismo do Parlamento e, em seguida, pelo<br />

Parlamento e pelo Conselho europeus no seu<br />

conjunto.<br />

A EUROPA FAZ A SUA PARTE<br />

A mesma fonte cita o relator do Parlamento<br />

Europeu, o eurodeputado sueco Jörgen<br />

Warborn, do Partido Popular Europeu<br />

(Democratas-Cristãos), segundo o qual o<br />

acordo “estabelece o caminho mais ambicioso<br />

do mundo para a descarbonização<br />

marítima. Nenhuma outra potência global<br />

elaborou um quadro tão abrangente para<br />

combater as emissões marítimas.”<br />

“Esta regulamentação vai obrigar os outros a<br />

movimentarem-se também. A Europa fará a<br />

sua parte, justa, mas os cidadãos e as empresas<br />

europeias não devem pagar a fatura<br />

dos esforços climáticos de todo o mundo.<br />

Garantimos ao setor regras de longo prazo e<br />

previsibilidade, para que eles ousem investir.<br />

As empresas de navegação e os portos podem<br />

concentrar os seus recursos em oferecer os<br />

maiores benefícios climáticos e o melhor<br />

custo-benefício. Isso protege os empregos dos<br />

marítimos, estivadores e trabalhadores da indústria<br />

exportadora, e serve de exemplo para<br />

outros países”, explicou o eurodeputado.<br />

Os transportes foram responsáveis por cerca<br />

de um quarto das emissões totais de CO 2<br />

da<br />

UE em 2019, das quais 14% vieram da navegação<br />

marítima, de acordo com a Agência<br />

Europeia do Ambiente. As novas regras em<br />

matéria de infraestruturas de combustíveis<br />

alternativos e combustíveis marítimos<br />

fazem parte do pacote “Fit for 55 in 2030”,<br />

que é o plano da UE para reduzir as emissões<br />

de gases com efeito de estufa em pelo<br />

menos 55% até 2030, em comparação com<br />

os níveis de 1990, em conformidade com a<br />

Lei Europeia do Clima.+<br />

NAVIOS CARGUEIROS E DE TURISMO RECEBERÃO<br />

ENERGIA A PARTIR DOS PORTOS<br />

No âmbito do mesmo acordo sobre a<br />

redução dos gases com efeito de estufa,<br />

mas que também ainda carece de aprovação<br />

final do Parlamento e pelo Conselho<br />

europeus, provavelmente ainda neste<br />

mês de julho, ficou igualmente estabelecido<br />

que as embarcações atracadas nos<br />

cais das principais cidades portuárias da<br />

UE, sejam elas de carga, como porta-contentores<br />

e graneleiras, ou de turismo,<br />

como os navios de cruzeiro, serão<br />

forçadas, a partir de 2030, a servirem-se<br />

do fornecimento de energia a partir das<br />

instalações de terra para suprirem todas<br />

as necessidades de eletricidade enquanto<br />

estiverem acostadas.<br />

De acordo com aquela negociação, tal<br />

medida também se aplicará aos restantes<br />

portos da UE, ainda que a partir de 2035,<br />

se aquelas instalações dispuserem de fornecimento<br />

adequado de energia em terra.<br />

Ainda segundo o documento de trabalho,<br />

serão aplicadas certas isenções, tais como a<br />

permanência no porto por menos de duas<br />

horas, a utilização de tecnologia própria de<br />

emissões zero ou a realização de uma escala<br />

no porto devido a circunstâncias imprevistas<br />

ou emergências.<br />

A energia elétrica fornecida para as necessidades<br />

do navio enquanto acostado provém<br />

de geradores acionados por motor de<br />

combustão, emitindo continuamente gases<br />

poluentes para a atmosfera. A medida<br />

agora em fase de aprovação final, deverá<br />

reduzir significativamente as emissões de<br />

gases poluentes nas cidades portuárias que<br />

acolhem aquelas embarcações de carga e<br />

de turismo.<br />

Segundo um estudo de 2017 da Federação<br />

Europeia de Transportes e Ambiente, Lisboa<br />

foi a cidade com mais tráfego de navios de<br />

cruzeiro e estava entre as seis cidades portuárias<br />

da Europa com mais emissões<br />

poluentes naquele ano.<br />

A Europa fará a sua parte, justa,<br />

mas os cidadãos e as empresas<br />

europeias não devem pagar a<br />

fatura dos esforços climáticos<br />

de todo o mundo. Garantimos<br />

ao setor regras de longo prazo<br />

e previsibilidade, para que eles<br />

ousem investir<br />

40 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 41


Modelo de Construção<br />

e Exploração de Terminais<br />

Portuários Wind<br />

A construção e operação de um Terminal Portuário de<br />

suporte às eólicas offshore envolve uma série de desafios<br />

e questões relacionadas ao financiamento, infraestrutura e<br />

logística. Neste texto, abordaremos as principais questões<br />

envolvidas nesse processo e como elas impactam o<br />

desenvolvimento desse tipo de porto.<br />

Um dos aspetos cruciais<br />

é o financiamento. A<br />

construção de um porto<br />

de suporte às eólicas<br />

offshore requer investimentos<br />

significativos em infraestrutura,<br />

equipamentos e tecnologia e o<br />

financiamento desses projetos pode ser<br />

obtido por meio de parcerias público-privadas,<br />

empréstimos bancários,<br />

investimentos diretos ou outras formas<br />

de financiamento. Os governos e<br />

instituições financeiras desempenham<br />

um papel fundamental ao fornecer<br />

recursos e incentivos para viabilizar<br />

esses empreendimentos.<br />

A infraestrutura do porto também é<br />

uma consideração importante, pois<br />

deve ser capaz de acomodar grandes<br />

embarcações e guindastes de alta<br />

capacidade para o manuseamento e<br />

montagem das turbinas eólicas offshore.<br />

Além disso, é necessário espaço<br />

adequado para o armazenamento das<br />

peças das turbinas, como pás e torres,<br />

VÍTOR CALDEIRINHA<br />

Assessor do Conselho de Administração<br />

da APSS, Professor, Investigador e<br />

Consultor portuário<br />

RECURSOS<br />

ESSENCIAIS<br />

A infraestrutura do porto<br />

também é uma consideração<br />

importante, pois deve ser<br />

capaz de acomodar grandes<br />

embarcações e guindastes<br />

de alta capacidade para o<br />

manuseamento e montagem das<br />

turbinas eólicas offshore<br />

42 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 43


TRANSPORTE MARÍTIMO<br />

Opinião Vítor Caldeirinha<br />

antes de sua instalação e a profundidade<br />

e largura do canal de acesso ao porto<br />

também são fundamentais para permitir<br />

a entrada e saída das embarcações. A<br />

logística desempenha um papel crucial<br />

na construção e operação do porto, uma<br />

vez que o transporte das turbinas eólicas<br />

offshore e de seus componentes requer<br />

planeamento cuidadoso e eficiente<br />

e os componentes das turbinas, como as<br />

pás e as torres, podem ser fabricados em<br />

diferentes locais e transportados por mar<br />

até o porto de suporte. Portanto, a localização<br />

estratégica do porto em relação<br />

às áreas de desenvolvimento de parques<br />

eólicos offshore é essencial para reduzir<br />

os custos logísticos e garantir o fornecimento<br />

oportuno dos componentes.<br />

Além disso, a disponibilidade de serviços<br />

de manutenção e operação também<br />

é fundamental. O porto de suporte às<br />

eólicas offshore deve abrigar instalações<br />

e embarcações necessárias para a manutenção<br />

contínua dos parques eólicos<br />

offshore, o que deve incluir depósitos<br />

de peças, escritórios e instalações de<br />

treinamento, pelo que a capacidade<br />

de fornecer infraestrutura e serviços<br />

adequados ao longo de toda a cadeia de<br />

valor é essencial para reduzir os custos e<br />

otimizar a eficiência das operações.<br />

A concessão de um porto de apoio às<br />

eólicas offshore deve levar em consideração<br />

a necessidade de um uso exclusivo<br />

por parte do setor de energia eólica<br />

offshore, uma vez que esse tipo de porto<br />

requer infraestrutura e serviços específicos<br />

para satisfazer as necessidades da<br />

indústria, é importante que a concessão<br />

garanta a disponibilidade e o uso exclusivo<br />

dessas instalações para as empresas<br />

que operam no setor.<br />

Existem diferentes modelos de concessão<br />

que podem ser considerados. Um<br />

deles é a concessão por tempo determinado,<br />

em que a autoridade portuária<br />

concede o uso exclusivo do porto<br />

para o desenvolvimento de atividades<br />

relacionadas à energia eólica offshore<br />

de terceiros (serviço público) por um<br />

período específico, o que permite que<br />

as empresas tenham a segurança de uso<br />

exclusivo do porto durante o tempo<br />

necessário para o desenvolvimento e<br />

operação dos projetos. No entanto a<br />

concessão de construção e exploração<br />

INFRAESTRUTURAS E<br />

SERVIÇOS ESPECÍFICOS<br />

É importante que a concessão<br />

estabeleça claramente<br />

as condições para o uso<br />

exclusivo do porto pelas<br />

empresas de setor de energia<br />

eólica offshore<br />

não parece atrativa, pela imprevisibilidade<br />

da atividade e a falta de alternativas<br />

em caso de falha do mercado.<br />

Outro modelo é a concessão por projeto<br />

específico, em que o uso privativo e<br />

exclusivo do porto é concedido para um<br />

projeto de energia eólica offshore específico,<br />

sendo a concessão válida apenas<br />

para o período de desenvolvimento e<br />

operação desse projeto específico, e<br />

pode ser renovada caso haja extensões<br />

ou expansões futuras do projeto.<br />

É importante que a concessão estabeleça<br />

claramente as condições para o uso<br />

exclusivo do porto pelas empresas do<br />

setor de energia eólica offshore, o que<br />

pode incluir restrições permanentes ou<br />

temporárias quanto ao uso do porto por<br />

outras indústrias ou atividades não relacionadas<br />

à energia eólica offshore, bem<br />

como a exigência de que as empresas<br />

do setor cumpram com as obrigações<br />

contratuais e regulatórias estabelecidas.<br />

Além disso, a concessão deve garantir a<br />

disponibilidade de infraestrutura adequada,<br />

como docas, guindastes e áreas<br />

de armazenamento, para responder às<br />

necessidades específicas das atividades<br />

Existem diferentes<br />

modelos de concessão que<br />

podem ser considerados.<br />

Um deles é a concessão<br />

por tempo determinado,<br />

em que a autoridade<br />

portuária concede o uso<br />

exclusivo do porto para<br />

o desenvolvimento de<br />

atividades relacionadas à<br />

energia eólica offshore de<br />

terceiros (serviço público)<br />

de apoio às eólicas offshore.<br />

A viabilidade de terminais de apoio às<br />

eólicas offshore depende de vários fatores,<br />

incluindo o potencial de desenvolvimento<br />

da indústria de energia eólica<br />

offshore numa determinada região, a<br />

disponibilidade de recursos financeiros<br />

e técnicos, e a procura de serviços de<br />

apoio. No que diz respeito ao risco de<br />

mercado, é importante considerar que<br />

a indústria de energia eólica offshore é<br />

uma indústria em crescimento e evolução,<br />

embora o mercado de energia<br />

eólica offshore possa ser afetado por<br />

fatores como mudanças nas políticas<br />

energéticas, flutuações nos preços da<br />

energia, avanços tecnológicos e concorrência.<br />

Nesse sentido, a alocação do<br />

risco de mercado pode variar dependendo<br />

do modelo de negócio adotado.<br />

Em alguns casos, o setor privado pode<br />

assumir o risco de mercado ao investir<br />

e operar o terminal de apoio às eólicas<br />

offshore, pelo que as empresas devem<br />

estar dispostas a assumir o risco como<br />

parte de sua estratégia de negócios e<br />

visão de longo prazo para a indústria.<br />

Por outro lado, noutros casos, o setor<br />

público pode desempenhar um papel<br />

na mitigação do risco de mercado,<br />

através de parcerias público-privadas,<br />

incentivos financeiros ou regulamentações<br />

favoráveis que estimulem<br />

o desenvolvimento da indústria de<br />

energia eólica offshore e a utilização do<br />

terminal de apoio.+<br />

44 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 45


ELÉTRICOS<br />

eActros eEconic Mercedes-Benz<br />

Adeus diesel<br />

Os dois primeiros camiões elétricos da Mercedes-Benz, eActros e o<br />

eEconic, já estão à venda em Portugal. Para o ano surgirá o eActros de<br />

longo curso. Até 2039, a marca conta ser neutra em emissões de CO 2<br />

.<br />

Por Carlos Branco<br />

46 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 47


PESADOS<br />

eActros e eEconic<br />

APRESENTAÇÃO<br />

NO AUTÓDROMO<br />

DE PORTIMÃO<br />

Os novos veículos, 100%<br />

elétricos, realizaram vários<br />

voltas ao exigente circuito,<br />

colocando à prova as suas<br />

qualidades<br />

A nossa estratégia passará pelo<br />

uso de baterias e hidrogénio.<br />

O combustível fóssil<br />

deixará de ser opção, já os<br />

combustíveis sintéticos,<br />

de momento, ainda não o são.<br />

Pelo menos para as operações<br />

de transportes<br />

No mínimo, foi estranho, mas nunca incómodo<br />

aos sentidos e ao meio ambiente, porquanto foi<br />

inaudível, inodoro e não poluente. Mais estranho<br />

ainda porque tinha por piso o Autódromo<br />

Internacional do Algarve, um “santuário”<br />

do mundo motorizado. Até dava para escutar a fauna. E no<br />

entanto eles deslocavam-se, rolavam, aceleravam, travavam e<br />

regeneravam. Falamos de energia, da verde, sinal de que algo<br />

está a mudar. Com os veículos elétricos eActros e eEconic, os<br />

novos pesados da Mercedes-Benz, a marca alemã está a dizer<br />

adeus ao gasóleo e a assumir a sua parte da descarbonização<br />

da sociedade. De ora em diante vai ser sempre assim: a cada<br />

elétrico que surja haverá um Diesel a menos. O processo já<br />

começou, primeiro com as baterias elétricas, e na segunda<br />

metade da década, sê-lo-á através do hidrogénio. Até 2039,<br />

o grupo Daimler-Benz pretende atingir a neutralidade em<br />

emissões de CO 2<br />

.<br />

“A nossa estratégia passará pelo uso de baterias e hidrogénio.<br />

O combustível fóssil deixará de ser opção, já os combustíveis<br />

sintéticos, de momento, ainda não o são. Pelo menos para as<br />

operações de transportes”, esclareceu António Louro, diretor<br />

geral da Daimler-Benz para Portugal, sintetizando o que já é<br />

um ponto assente: “A transição a 100% da combustão interna<br />

para os veículos de zero emissões far-se-á até 2039.”<br />

O eActros foi lançado em 2021, pensado para a distribuição<br />

pesada, em circuitos relativamente curtos, urbanos e interurbanos.<br />

Já o eEconic iniciou produção em 2022, veículo<br />

dedicado ao segmento do ambiente, para recolha de resíduos<br />

sólidos, embora possa ter outras aplicações naquela área.<br />

O HIDROGÉNIO VEM A SEGUIR<br />

Em 2024 será lançado o eActros Long Haul, camião de longo<br />

curso, também a baterias – já se sabe que a primeira apresentação<br />

pública está marcada para o outono – e na segunda<br />

metade desta década será lançado o camião da Geração<br />

48 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 49


PESADOS<br />

eActros e eEconic<br />

ID.BUZZ<br />

O ID.BUZZ mantém<br />

a «boa disposição» pela qual<br />

já é conhecido, com uma<br />

interessante mescla de<br />

cores e materiais<br />

hidrogénio (GenHs), com célula de combustível. O Long<br />

Haul já está a realizar testes e brevemente será disponibilizado<br />

a alguns clientes para fazerem operações reais de transporte,<br />

e a mesma lógica seguirá o camião a hidrogénio, já a partir de<br />

2024.<br />

O que não será uma completa novidade para a marca, pois<br />

em junho, na Cimeira Mundial dos Transportes, em Barcelona,<br />

fez a estreia mundial do eCitaro, autocarro para transporte<br />

de passageiros, equipado com a tecnologia da célula de<br />

combustível a hidrogénio.<br />

“Perguntam-nos frequentemente, mas qual será a tecnologia<br />

que irá vigorar de agora em diante? Respondemos que ambas,<br />

pois são complementares. Os camiões a baterias pressupõem<br />

trajectos mais curtos, urbanos e interurbanos, com rotas planificadas,<br />

pois até a topografia do terreno é relevante para este<br />

tipo de transporte. Já a tecnologia de hidrogénio é mais propensa<br />

aos trajetos longos, mais idêntica à filosofia do camião<br />

a gasóleo”, complementa António Louro, sublinhando que<br />

o mercado entrou numa nova fase, nunca antes vista. “Tudo<br />

isto é novo, os clientes não estão habituados a tais novidades,<br />

pelo que queremos assegurar-lhes que vão optar pela melhor<br />

solução”, justifica o gestor da marca, garantindo que um<br />

camião nunca será vendido por si só, mas sempre acompanhado<br />

de três premissas. A saber: eConsulting - profissionais<br />

habilitados analisarão em detalhe as operações do cliente e<br />

avaliarão a viabilidade de transportar com viaturas elétricas;<br />

[se for possível usar os veículos a baterias] eActros - escolher-se-á<br />

o camião certo, o que mais fará sentido para aquele<br />

cliente, para aquele tipo de transporte, que tipo de autonomia<br />

e a quantidade de baterias adequadas; soluções digitais - são<br />

as ferramentas de software que auxiliarão o cliente a melhor<br />

gerir a sua frota.<br />

ENÉRGICO EM PISTA<br />

O eActros vem equipado com com três ou quatro packs de<br />

baterias, consoante as versões (300 ou 400), e que se fazem<br />

corresponder com autonomias de, respetivamente, 300 e 400<br />

Km. Tão importante quanto a capacidade das baterias é o<br />

tempo de recarga destas, especialmente quando o que está em<br />

causa é um veículo de trabalho. O tempo gasto é de 1h15m,<br />

Tudo isto é novo, os clientes não estão<br />

habituados a tais novidades, pelo que<br />

queremos assegurar-lhes que vão optar<br />

pela melhor solução<br />

para 20 a 80% da carga total, com um carregador de 160 kW,<br />

a potência mais elevada que recebe aquela bateria.<br />

Em duas voltas completas à pista do Autódromo do Algarve<br />

– cerca de 9,3 Km –, sem preocupações de monta quanto a<br />

consumos, qualquer dos modelos ensaiados pela e-MOBILI-<br />

DADE+, eActros 300 e eEconic, gastaram apenas, em média,<br />

2% da carga disponível, sendo que se acelerou à vontade,<br />

mesmo no modo booster e com a opção “um só pedal”, de<br />

forma a testar a travagem/regeneração proporcionada pelos<br />

motores elétricos. Todo o binário é entregue quando solicitado,<br />

a unidade mostrou energia e desembaraço, e numa das<br />

maiores descidas do circuito - onde o declive máximo é de<br />

12% - com o sistema de regeneração no máximo (de um a<br />

cinco cliques), o veículo devolveu energia às baterias - o retorno<br />

da energia é mostrado no display de bordo -, ao mesmo<br />

tempo que se imobilizou no final da mesma, sem que para<br />

isso tenha sido necessário recorrer ao travão de serviço.<br />

Em termos de motricidade, ambos os modelos podem ter a<br />

configuração 4x2 ou 6x2 (esta com capacidade para reboque).<br />

No City Tractor, apenas com três packs de baterias e 40 t de<br />

peso máximo bruto combinado, a autonomia será de 230 Km.<br />

Neste caso, existem dois tipos de travagem, a convencional,<br />

ou pneumática, mas também aquele sistema adicional de travagem,<br />

por regeneração. Para manter esta capacidade de travagem<br />

adicional e ao rebocar 40 t, as baterias podem “encher”<br />

demasiado. Sendo assim, e quando tal acontece, perder-se-ia<br />

a capacidade de regeneração e travagem do veículo, pelo que<br />

foi adotado um sistema de resistências de alta potência para<br />

“deitar fora” energia, que mantém aquelas capacidades de<br />

travagem e regeneração.<br />

No eEconic, apenas disponível em configuração 6x2 e três<br />

packs de baterias, quando equipado com um compactador de<br />

lixo, a energia para o seu funcionamento deriva das baterias,<br />

pelo que a autonomia será reduzida para 150 Km. Diz a marca<br />

que, pelo que conhece do mercado, em percursos citadinos,<br />

é mais que suficiente.<br />

eAXLE É INOVAÇÃO DA MARCA<br />

Como inovação tecnológica surge o sistema eAxle. Foi explicado<br />

que os engenheiros retiraram toda a cadeia cinemática,<br />

o motor de combustão interna e o veio de transmissão e<br />

colocaram os dois motores elétricos diretamente acoplados<br />

ao diferencial, a que se junta um sistema de refrigeração e<br />

uma caixa de velocidades, com duas relações. Sendo aqueles<br />

motores síncronos, que favorecem maior binário e não a rotação<br />

(para isso existem os assíncronos), aqueles produzem,<br />

em conjunto 336 kW (ou 450 CV) e 970 Nm em contínuo,<br />

na primeira relação, até aos 30 Km/h, sendo que a segunda<br />

marcha desenvolverá dos 30 aos 80 km/h. Os dois motores<br />

elétricos do eActros 400 produzem 448 kW (ou 600 CV).<br />

Como equipamento de segurança, a visão 360 graus, obrigatória<br />

a partir de 2024, já está assegurada nos veículos<br />

da Mercedes-Benz. O botão de emergência, ao alcance do<br />

motorista, corta a alta tensão, ficando restringida às baterias.<br />

Em caso de sinistro, junto aos bancos do motorista e<br />

do passageiro existem dispositivos de corte de corrente para<br />

serviço das equipas de socorro. Em caso de colisão, um<br />

fusível pirotécnico é acionado automaticamente, cortando a<br />

alta tensão.<br />

Tudo o resto é silêncio. É algo estranho. Os técnicos da Mercedes-Benz,<br />

já com adiantada habituação à novidade, admitem<br />

que, de facto, primeiro estranha-se, mas que depois...<br />

Os valores de venda destes veículos não foram divulgados,<br />

até porque muito dependem de um sem número de configurações<br />

possíveis, mas será certo que, quando comparado<br />

com o Actros a combustão interna, é crível que se tenha que<br />

multiplicar por três o preço a pagar por um eActros.+<br />

50 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 51


SÓ OS SERES VIVOS PODEM<br />

CRIAR ORDEM A PARTIR DO CAOS<br />

Uma luta permanente contra<br />

a segunda lei<br />

da termodinâmica<br />

Quem estudou termodinâmica sabe bem que a segunda lei da termodinâmica<br />

não mais lhe sairá do caminho. É esta lei que nos relembra que o setor dos<br />

transportes não pode ser ‘deixado ao seu próprio controlo’ e à sua sorte. Mais<br />

coordenação (a nível) nacional e uma regulação que pondere com equilíbrio e<br />

imparcialidade os legítimos interesses de todos os atores, levar-nos-á, certamente,<br />

a um setor menos entrópico e mais ordenado.<br />

Segurança, poluição atmosférica e<br />

ruído, gases com efeito de estufa<br />

(aquecimento global e alterações<br />

climáticas) e exclusão social de<br />

pessoas sem possibilidade de aceder<br />

aos diferentes spots de oportunidades são<br />

exemplos de externalidades cuja gestão exige<br />

uma ação conjunta. No<br />

entanto, continuamos a<br />

funcionar em silos quando<br />

o mundo não está a<br />

acontecer em silos. Porque<br />

o mundo acontece<br />

de uma forma integrada<br />

e sistémica também as<br />

relações (contratuais)<br />

devem exigir abordagens<br />

integradas e sistémicas e<br />

não tomadas de formada<br />

isolada, casuística e<br />

empírica.<br />

Ao longo dos últimos<br />

anos tem-se intensificado<br />

o debate sobre a<br />

ORLANDO FERREIRA<br />

Professor Universitário e ex-administrador<br />

da Rodoviária do Tejo<br />

eficácia das políticas públicas tendo ganho<br />

relevância (não a suficiente) o pensamento<br />

de William BAUMOL, reputado professor<br />

de Economia na Columbia: “O Estado tem<br />

ajudado as empresas de duas formas: subsidiando<br />

ou comprando bem; ora, a primeira<br />

forma é prejudicial pois distorce os mercados<br />

e propicia a corrupção<br />

enquanto a segunda<br />

é recomendável pois<br />

qualifica as empresas”.<br />

‘Comprar bem’ continua<br />

a ser uma visão distante e<br />

hoje, nem temos ‘suficiente<br />

BAUMOL’, nem o<br />

setor está mais sustentável,<br />

nem as empresas<br />

estão mais qualificadas.<br />

Nunca é demais relembrar<br />

que é na prossecução<br />

dos objetivos pretendidos<br />

para o serviço público de<br />

transporte de passageiros<br />

que devemos manter o<br />

52 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 53


MOBILIDADE<br />

Opinião Orlando Ferreira<br />

ruptivas. Os incumbentes quase sempre avaliam as mudanças<br />

como incrementais na certeza de serem capazes de controlar<br />

os passos seguintes. Nem sempre acontece!<br />

‘Comprar bem’<br />

continua a ser uma<br />

visão distante e hoje,<br />

nem temos ‘suficiente<br />

BAUMOL’, nem o setor<br />

está mais sustentável,<br />

nem as empresas estão<br />

mais qualificadas<br />

UMA VIAGEM AO CAMINHO PERCORRIDO<br />

E UMA TEORIA MAL-AMADA<br />

Até aos anos 60, o setor dos transportes públicos viveu de<br />

uma forma sustentada sem necessidade de subsídios, mas, a<br />

partir daí, a sustentabilidade do setor foi negativamente influenciada<br />

pelos aumentos dos salários, pela crescente suburbanização<br />

verificada nas grandes áreas metropolitanas, pela<br />

passagem da semana de trabalho para apenas cinco dias, pela<br />

crescente utilização do transporte individual nas deslocações<br />

diárias, etc. Estas foram algumas das razões que trouxeram<br />

para a agenda governamental a necessidade de subsidiação ao<br />

transporte público de passageiros.<br />

Nos anos 80 assistiu-se na Europa a um movimento de descentralização<br />

com a migração do nível de decisão do poder<br />

central para o poder regional e local, o que se tornou numa<br />

oportunidade para que os novos atores quisessem fazer as<br />

coisas de um modo diferente do que antes se fazia.<br />

Em 1982 no mundo académico, surgiu uma teoria que revolucionou<br />

a forma de se pensar o mercado e a competição:<br />

a teoria dos mercados disputados (Theory of Contestable<br />

Markets de William Baumol). Anteriormente, havendo a ideia<br />

de que a competição só funcionava bem com vários operadores<br />

económicos competindo no mercado, conseguiu-se<br />

demonstrar que, afinal, existia uma alternativa para a organização<br />

do mercado. Numa região adequadamente regulada e<br />

com imediatas alternativas de transporte em caso de insucesso,<br />

uma única empresa de transportes, em aparente situação<br />

de monopólio, podia ter um desempenho altamente eficaz.<br />

Esta teoria veio provar que, com certas condições cumpridas<br />

e respeitadas, os incumbentes se comportavam como estanfoco<br />

e não nos caminhos escolhidos para os atingir. Esses<br />

caminhos (inclusive a opção por procedimentos abertos) têm<br />

apenas um carácter instrumental de modo a conseguir satisfazer<br />

as necessidades das entidades adjudicantes e contribuir<br />

para um desejável processo de desenvolvimento, equilibrado,<br />

sustentável.<br />

Garantir serviços de transporte de passageiros seguros,<br />

eficazes e de elevada qualidade graças a uma concorrência<br />

regulada (Livro Branco, 2001).<br />

Assegurar serviços de interesse geral que sejam mais numerosos,<br />

mais seguros, de melhor qualidade e mais baratos, com<br />

base em procedimentos de adjudicação transparentes, equitativos<br />

e concorrenciais (Regulamento 1370/2007).<br />

No dogma (ponto fundamental de doutrina) em que tudo<br />

deve ser organizado com base em procedimentos abertos<br />

(concursos públicos) são as autoridades de transportes que<br />

têm hoje a responsabilidade de escolher os operadores de<br />

transporte. Desconhecendo quem poderá ser o melhor e mais<br />

eficiente futuro prestador dos serviços (apesar de muitas vezes<br />

se ter ali, bem à mão, um bom e dedicado incumbente) a<br />

entidade adjudicante organiza um ‘jogo’ onde se fazem umas<br />

‘perguntas’ e se escolhem depois as melhores respostas de<br />

modo a encontrar o melhor jogador/operador. Na realidade, a<br />

finalidade última destes ‘jogos’ (competitive tendering) acaba<br />

por ser manter intacto um monopólio para os próximos oito/<br />

dez anos e escolher o melhor monopolista para esse período.<br />

Não se pode utilizar quem se tem à mão e conhece bem e<br />

vai-se procurar, algures no mundo, um monopolista desconhecido.<br />

É este o jogo que tem que ser jogado, ponto final.<br />

A INVIOLABILIDADE TERMODINÂMICA<br />

Segundo Schrodinger, ‘a vida é uma luta permanente contra<br />

a segunda sei da sermodinâmica’ que, em termos muito<br />

Garantir serviços de transporte<br />

de passageiros seguros, eficazes<br />

e de elevada qualidade graças<br />

a uma concorrência regulada<br />

(Livro Branco, 2001)<br />

simples, nos diz que a desordem tem sempre tendência a<br />

aumentar.<br />

“Quando um sistema é deixado ao seu próprio controlo, ele<br />

assume um estado de máxima entropia, isto é, torna-se o<br />

mais desordenado possível. Este estado, denominado estado<br />

de equilíbrio, é a condição estável final”.<br />

Todos os sistemas tendem a evoluir para estados de equilíbrio<br />

que correspondem a altos graus de desorganização estrutural<br />

e máxima entropia. Estabelecendo que os processos se<br />

realizam sempre numa mesma direção, não está inibida a<br />

evolução de um sistema para um grau de maior organização e<br />

complexidade.<br />

O setor dos transportes não é exceção e, também ele, lá vai<br />

travando a sua luta contra a segunda sei da termodinâmica.<br />

Deixado ao seu próprio controlo e à sua sorte, o setor pode<br />

acelerar a aproximação ao seu estado de estado de equilíbrio<br />

termodinâmico. Apesar de todos acreditarmos que esta situação<br />

se irá reverter, os mais otimistas continuam a ser os que<br />

não estudaram termodinâmica.<br />

Numa permanente procura de equilíbrio e de organização, o<br />

setor defronta-se com um ‘mundus novus’ carregado de mudanças,<br />

umas vezes incrementais (as que somos capazes de<br />

prever e se incorporam no senso comum) e muitas vezes dis-<br />

UM NOVO OLHAR DE CIMA<br />

A mobilidade é hoje uma temática da responsabilidade dos<br />

municípios, no entanto, as externalidades que devem poder<br />

gerir, manifestam-se pelo somatório daquilo que são as suas<br />

opções e das opções de outras entidades regionais, nacionais<br />

e mesmo supranacionais. Exige-se assim uma maior coordenação<br />

por parte de alguém que possa observar este fenómeno<br />

numa perspetiva de conjunto (oversight body). Alguém que,<br />

a nível nacional, funcione como um facilitador (enabler) que<br />

esteja no terreno, não para impedir que aconteça este ou<br />

aquele modelo, esta ou aquela ou tecnologia, mas sim para estabelecer<br />

as balizas e os enquadramentos que permitam a conciliação<br />

dos interesses legítimos dos diferentes atores e partes<br />

interessadas: Estado, autoridades de transporte, operadores<br />

económicos, passageiros, contribuintes, etc.<br />

No atual contexto do nosso setor, altamente entrópico disruptivo,<br />

proliferam tensões conflituosas (proteção da concorrência<br />

vs interesse público, por exemplo) e pulsões contraditórias<br />

decorrentes das mudanças irreversíveis que evoluíram numa<br />

certa direção e que, com elevada probabilidade, dificilmente<br />

se reverterão.<br />

54 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 55


Hoje, concorrência e defesa da concorrência passaram a ser<br />

um valor de interesse público mas, dizer que a concorrência<br />

entre as empresas é agora um valor de interesse público continua<br />

a perturbar o anterior esquema arrumado, dialógico e<br />

dual que existia introduzindo alguma novidade e confusão.<br />

do em competição. Era como se, a todo o momento, estas<br />

empresas receassem a possibilidade de entrada de outras empresas<br />

concorrentes no seu mercado. Não se verificando maus<br />

desempenhos, ineficiências ou preços e lucros elevados não se<br />

criava também a apetência para o surgir de novos entrantes.<br />

Esta foi uma teoria mal-amada porque, com a realização do<br />

mercado único e facto do mercado dos contratos públicos<br />

representar na altura cerca de 16% do PIB da União Europeia,<br />

logo se tornou impensável deixar de fora este tão apetecido<br />

mercado. E assim, paulatinamente, o legislador comunitário<br />

lá foi construindo um regime jurídico adequado a esse seu<br />

fim, concretizado em Regulamentos e Diretivas que suprimiram<br />

as restrições à liberdade de estabelecimento e à livre<br />

prestação de serviços no interior da União Europeia. Não<br />

sendo uma opção agnóstica, qualquer outro caminho atrapalharia<br />

a facilidade de acesso a este mercado por parte dos operadores<br />

económicos dos diferentes Estados-membros da UE.<br />

Assim, num contexto político que visava em primeiro lugar a<br />

abertura do mercado aos operadores dos diferentes países, até<br />

foi conseguido que os concursos públicos se tornassem num<br />

procedimento moda (very fashionable procedure).<br />

Esta decisão veio criar uma tensão conflituosa, até em Portuga!<br />

Historicamente, as regras de contratação pública surgiram<br />

aqui com o objetivo de defender o erário público. Numa<br />

lógica de defesa do interesse público financeiro do Estado,<br />

sempre esteve unicamente em causa o encontrar de uma<br />

proposta mais barata e economicamente mais vantajosa. Com<br />

esta influência do Direito europeu, deu-se uma inversão total<br />

e quase se apagou a anterior valência da proteção do interesse<br />

público para se pensar única e exclusivamente na proteção<br />

da concorrência, do mercado, da igualdade de oportunidades<br />

para os operadores do mercado.<br />

A CONTRATAÇÃO PÚBLICA<br />

Curiosamente, paralelamente a esta propagada e dita intransigente<br />

defesa da concorrência e dos procedimentos não excluídos<br />

da aplicação do regime geral da Contratação Pública,<br />

continua a haver uma injustificada pulsão por procedimentos<br />

excluídos do mercado aberto. Na quase maioria dos contratos<br />

in-house, verifica-se, no entanto, que a atividade que constitui<br />

o objeto do contrato, poderia ser mais bem exercida por<br />

uma empresa do mercado livre, nada justificando esta fuga às<br />

regras da contratação pública.<br />

Este é um tema que tem sido muito pouco trabalhado em<br />

Portugal, havendo uma pergunta que vai sendo esquecida,<br />

apesar ser legalmente exigida a apresentação de uma resposta<br />

fundamentada: o que é que diferencia o recurso a uma entidade<br />

in-house do recurso a uma entidade do mercado? Esta fuga<br />

às regras da contratação pública só é permitida em caso de<br />

existência de uma verdadeira cooperação de interesse público.<br />

Só nesse caso é que a legislação permite a exclusão da concorrência.<br />

Será que se tem mesmo verificado essa cooperação de<br />

interesse público em todos os casos de fuga?<br />

Nesta fuga ao mercado, continua inequívoco na nossa legislação<br />

que os contratos excluídos da aplicação do regime<br />

geral da Contratação Pública não estão eximidos de observar<br />

três níveis de vinculação de direito público: a vinculação aos<br />

princípios gerais da atividade administrativa: a vinculação<br />

a um específico dever de fundamentação e a vinculação aos<br />

princípios gerais da Contratação Pública.<br />

Assim, mesmo que um contrato não esteja sujeito à parte II<br />

do CCP tem mesmo que obedecer aos exigentes princípios<br />

de eficiência e economia na afetação de recursos. O artigo<br />

5.º-B/1 do CCP apresenta ainda, para além da sujeição a estes<br />

princípios, uma outra referência à imperiosidade de indicação<br />

da fundamentação desta decisão de contratar.+<br />

Numa região adequadamente<br />

regulada e com imediatas<br />

alternativas de transporte<br />

em caso de insucesso, uma<br />

única empresa de transportes,<br />

em aparente situação de<br />

monopólio, podia ter um<br />

desempenho altamente eficaz<br />

56 e-MOBILIDADE +


Tecnologias<br />

de perder a cabeça<br />

USO DO GPS<br />

Marcar um destino num<br />

GPS é comum. Parques de<br />

estacionamento que aceitam<br />

reservas também. Mas é<br />

raro receber uma sugestão<br />

de reserva no parque de<br />

estacionamento quando se<br />

marca um destino de GPS<br />

Imagine que entra no seu carro de manhã e marca no GPS um<br />

destino numa zona comercial. A navegação a bordo da viatura<br />

reserva-lhe um lugar num parque de estacionamento próximo<br />

do destino. Ao chegar, lembra-se que é o aniversário da sua<br />

mãe. Através do seu smartwatch, envia-lhe flores que irão<br />

chegar horas antes de a encontrar para almoçar.<br />

No regresso a casa, ao final<br />

do dia, o seu telefone<br />

convida-o a concluir a<br />

encomenda de supermercado<br />

que iniciara no seu<br />

computador durante a tarde. Embora<br />

possa parecer um cenário futurista,<br />

tudo isto é possível com as tecnologias e<br />

serviços atualmente disponíveis.<br />

Marcar um destino num GPS é comum.<br />

Parques de estacionamento que aceitam<br />

reservas também. Mas é raro receber<br />

uma sugestão de reserva no parque de<br />

estacionamento quando se marca um<br />

destino de GPS. Porquê? Porque os<br />

sistemas de reserva de estacionamentos<br />

foram construídos a pensar em pontos<br />

específicos de interação com o consumidor,<br />

como uma app mobile do próprio<br />

serviço ou o seu website. Não consideraram<br />

a possibilidade de integração<br />

com outros serviços, como um qualquer<br />

sistema de GPS que possa juntar as duas<br />

ofertas e assim ser um canal alternativo<br />

de interação com o cliente.<br />

Existem atualmente vários serviços<br />

de encomenda de flores online que<br />

podem ser acedidos por um navegador<br />

de internet num computador. Mas não<br />

através de um smartwatch, ou de um<br />

quiosque digital, ou de qualquer outro<br />

FILIPE CARVALHO<br />

CEO Wide Scope<br />

dispositivo que não aquele para o qual<br />

o serviço foi pensado inicialmente. O<br />

serviço fica assim demasiado associado<br />

a uma forma específica de interação<br />

com o cliente e não tem agilidade<br />

suficiente para evoluir rapidamente<br />

para outras formas, falhando no<br />

acompanhamento das necessidades dos<br />

consumidores.<br />

Uma encomenda de supermercado<br />

pode ser iniciada num navegador de<br />

internet num computador, mas quando<br />

nos movemos para a app mobile<br />

A principal lacuna dos<br />

sistemas de comércio<br />

eletrónico existentes está na<br />

limitação do seu backend<br />

aos próprios frontends.<br />

Muitas vezes os sistemas<br />

são construídos de tal<br />

forma que não é possível<br />

desacoplar um do outro<br />

correspondente esperamos encontrar<br />

o mesmo carrinho de compras virtual,<br />

e não um vazio. Isto implica que os<br />

dois canais de interação com o cliente<br />

(website e app mobile) devem estar, na<br />

realidade, a utilizar os mesmos serviços<br />

centrais de negócio. Ou seja, a seleção<br />

de compras deve existir num carrinho<br />

de compras central que pode ser<br />

apresentado ao consumidor em vários<br />

dispositivos e grafismos.<br />

Estes casos de uso são exemplificativos<br />

de uma mudança de comportamento<br />

do consumidor que exige ao comércio<br />

eletrónico novas estratégias organizacionais<br />

e tecnológicas. As experiências<br />

online dos clientes estão cada vez mais<br />

fragmentadas e com novos pontos de<br />

interação. Isto representa uma oportunidade<br />

significativa para as marcas<br />

e os comerciantes expandirem os seus<br />

negócios digitais.<br />

58 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 59


TECNOLOGIAS<br />

Aplicações móveis<br />

PLATAFORMAS DE<br />

COMÉRCIO DIGITAL<br />

As limitações apontadas nos exemplos<br />

anteriores advêm de uma conceção<br />

comum em sistemas tecnológicos que<br />

consiste em acoplar a lógica de negócio<br />

a uma forma específica de apresentação<br />

ao consumidor. Por exemplo, um<br />

sistema de reserva de estacionamentos<br />

implementa os seus processos de negócio<br />

no que se denomina de backend,<br />

como a gestão dos lugares disponíveis<br />

no parque, a reserva de um lugar a<br />

partir de uma certa hora, a cobrança do<br />

cartão de crédito do cliente, a emissão<br />

de fatura por email, etc. Tudo isto é<br />

interno à organização.<br />

Por outro lado, o sistema disponibiliza as<br />

funcionalidades do negócio aos consumidores<br />

através de um frontend, um canal<br />

de interação como um website, uma app<br />

mobile, uma rede social, etc. Esta é a<br />

apresentação externa do serviço.<br />

A principal lacuna dos sistemas de<br />

comércio eletrónico existentes está na<br />

limitação do seu backend aos próprios<br />

frontends. Muitas vezes os sistemas são<br />

construídos de tal forma que não é possível<br />

desacoplar um do outro. Ou, pior,<br />

não permitem que um sistema terceiro<br />

aceda diretamente ao seu backend para<br />

fazer compras sem passar por algum<br />

dos seus frontends.<br />

O negócio online fica assim impossibilitado<br />

de explorar canais de interação<br />

adicionais como redes sociais, aplicações<br />

de mensagens instantâneas, quiosques<br />

digitais, entre muitos outros canais<br />

emergentes e para onde os consumidores<br />

divergem rapidamente.<br />

A solução tecnológica mais adequada<br />

pertence uma categoria denominada por<br />

Plataformas de Comércio Digital. Este<br />

tipo de sistemas permite a definição de<br />

toda a lógica de negócio (backend) de<br />

forma separada e independente da forma<br />

de apresentação e interação com o<br />

consumidor (frontend). Esta abordagem<br />

denomina-se por paradigma headless<br />

(sem cabeça), ou seja, os processos de<br />

negócio não estão vinculados a uma<br />

PLATAFORMAS<br />

DE COMÉRCIO DIGITAL<br />

A solução tecnológica mais<br />

adequada pertence a uma<br />

categoria denominada por<br />

Plataformas de Comércio Digital.<br />

Este tipo de sistemas permite<br />

a definição de toda a lógica de<br />

negócio (backend) de forma<br />

separada e independente da<br />

forma de apresentação e interação<br />

com o consumidor (frontend)<br />

face do serviço. O corpo vive bem independentemente<br />

da cara que possa vir a<br />

assumir.<br />

Estas plataformas permitem o desenho<br />

e disponibilização online dos serviços<br />

sob múltiplos formatos (websites,<br />

mobile apps, redes sociais, quiosques<br />

digitais, smartwatches, etc) a partir de<br />

regras de negócio definidas centralmente,<br />

de forma muito ágil. Ao mesmo<br />

tempo, permitem que sistemas terceiros<br />

utilizem os seus serviços expandindo-os<br />

por ainda mais canais de interação com<br />

consumidores provenientes de outras<br />

experiências.<br />

Todas as experiências imaginadas no<br />

primeiro parágrafo deste texto são facilmente<br />

implementáveis se assentes nesta<br />

tecnologia e neste paradigma.<br />

INTELIGÊNCIA CENTRALIZADA<br />

Sem cabeça não significa sem cérebro,<br />

apenas sem uma cara definida. De facto,<br />

o cérebro do sistema está nos seus<br />

processos de negócio centralizados no<br />

backend. Numa perspetiva de transporte<br />

e logística, por exemplo, o backend<br />

assumirá a gestão das ordens dos<br />

clientes e todo o fluxo necessário para<br />

as satisfazer, através da integração com<br />

aplicações especializadas em cada uma<br />

das áreas da cadeia de valor:<br />

» O sistema de gestão de armazéns para<br />

proceder à preparação da expedição<br />

dos produtos em stock no armazém;<br />

» O sistema de planeamento e otimização<br />

de rotas para a mais eficiente<br />

expedição e transporte dos produtos<br />

até aos clientes;<br />

» A aplicação móvel que permite ao<br />

motorista executar a rota tal como<br />

planeada e reportar incidências em<br />

tempo real, bem como a confirmação<br />

das entregas;<br />

» A aplicação móvel de acompanhamento<br />

da entrega, em tempo real, por<br />

parte do cliente no seu telefone.<br />

Estas tecnologias especializadas asseguram<br />

a execução eficiente das encomendas<br />

e são a garantia de que o serviço disponibilizado<br />

online é fiável, económico,<br />

competitivo e resiliente. Adicionalmente,<br />

recorrendo ao paradigma headless, as<br />

organizações podem criar experiências<br />

personalizadas para os clientes, ganhar<br />

a liberdade de experimentar, aumentar<br />

a sua agilidade e escalar novos conceitos<br />

com mais eficiência.<br />

A proliferação destes sistemas e a sua<br />

crescente adoção continuarão a pavimentar<br />

o caminho para melhores e mais<br />

dinâmicas experiências de compra, tal<br />

como imaginado um dia.+<br />

C<br />

M<br />

Y<br />

CM<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K<br />

60 e-MOBILIDADE +


CAMINHO DA ELECTRIFICAÇÃO<br />

Qual a melhor<br />

solução<br />

ICE, HEV ou BEV?<br />

Nos últimos anos a frota automóvel nacional tem vindo a<br />

electrificar-se. As exigências de redução das emissões impostas<br />

pela legislação e controladas pelo WLTP, obrigaram todas as<br />

marca automóveis a incluir na gama dos seus veículos a oferta de<br />

modelos com motorização híbrida ou eléctrica pura.<br />

Apesar dos ainda elevados<br />

preços das motorizações<br />

eléctricas, os apoios fiscais<br />

dados são tentadores<br />

para promover a aquisição<br />

de uma viatura que, para além de<br />

consumir uma energia mais barata por<br />

quilómetro percorrido, ainda permite ao<br />

seu utilizador contribuir como cidadão<br />

para a protecção do meio ambiente e da<br />

natureza.<br />

No entanto, possuir ou conduzir uma<br />

viatura 100% eléctrica não está ainda<br />

ao alcance de muitos condutores<br />

pelos mais variados motivos. Talvez a<br />

primeira circunstância que inibe o uso<br />

desta tipologia de veículo, se prenda<br />

com a disponibilidade de um local para<br />

carregamento privado. Se utiliza o carro<br />

como ferramenta de trabalho, ou tem<br />

um carregador na garagem – e para isso<br />

tem de ter garagem – ou tem de ter um<br />

disponível no local de trabalho. Se tem<br />

uma função comercial, viajante, e só<br />

puder contar com a rede de carregadores<br />

pública para «atestar» o carro, então<br />

poderá ter uma enorme dor de cabeça.<br />

Outro motivo, normalmente associado<br />

à dificuldade da aquisição ou uso do<br />

automóvel 100% eléctrico, prende-se<br />

com a autonomia. Vendo bem, não será<br />

realmente um problema de autonomia,<br />

pois muitos dos carros de bateria elétrica<br />

(BEV), recarregáveis em tomada, até<br />

ANTÓNIO MACEDO<br />

CR&M Formação<br />

já possuem uma autonomia próxima ou<br />

até superior a alguns veículos com motor<br />

de combustão. Com cerca de 350 a<br />

550 quilómetros de autonomia, não será<br />

impedimento para nenhuma viagem.<br />

Para o condutor que usa o carro em<br />

movimentos pendulares até 150 kms<br />

por dia e tem forma de o carregar em<br />

casa, esta é a melhor solução, pois terá<br />

um custo de energia (com impostos)<br />

próximo de 1 euro aos 100kms e muito<br />

baixos custos de manutenção. Não<br />

muda de óleo nem filtros, e como terá<br />

uma condução mais suave pode reduzir<br />

o desgaste dos pneus e das pastilhas de<br />

travão, pois o carro regenera energia na<br />

O problema da «autonomia»<br />

normalmente resulta da<br />

indisponibilidade<br />

de postos de abastecimento<br />

aliadaa um tempo<br />

de carga elevado<br />

travagem. O problema da «autonomia»<br />

normalmente resulta da indisponibilidade<br />

de postos de abastecimento aliada a<br />

um tempo de carga elevado.<br />

Claro que para o «apaixonado» proprietário<br />

de um carro eléctrico, este não é um<br />

problema, pois já se encontra disponível<br />

uma rede de carregadores um pouco por<br />

todo o país e se as viagens forem planeadas<br />

para que as pausas de condução,<br />

ou para que as visitas comerciais ou as<br />

refeições coincidam com os momentos de<br />

carga, com paciência e alguma calma não<br />

há viagem que fique por fazer.<br />

Para outros o problema será não a falta<br />

de carregadores nem a autonomia dos<br />

veículos mas a disponibilização dos carregadores.<br />

Muitas vezes os carregadores<br />

públicos estão avariados, inoperacionais<br />

ou apenas ocupados com um carro que,<br />

depois de carregado, ficou estacionado<br />

no posto. Às vezes vemos que um<br />

carro, que nem sequer é eléctrico, está<br />

a ocupar o único lugar disponível no<br />

carregador, situação vulgar em parques<br />

de centros comerciais e nalguns locais<br />

nos centros urbanos.<br />

Mas se a sua paixão é o carro eléctrico<br />

e quer mesmo diminuir a sua pegada<br />

carbónica então tem duas opções de<br />

motorização que ajudam a poupar na<br />

energia fóssil e lhe retiram a «ansiedade<br />

da autonomia», o veículo híbrido<br />

(HEV) que combina um motor térmico<br />

com um motor eléctrico, reduzindo os<br />

consumos e aumentando a potência<br />

nos momentos de esforço, e o híbrido<br />

“plugin” (PHEV), ou seja, de “ligar à<br />

tomada”, que permite mesmo circu-<br />

DISPONIBILIDADE<br />

DE CARREGADORES<br />

Muitas vezes os carregadores<br />

públicos estão avariados,<br />

inoperacionais ou apenas<br />

ocupados com um carro que,<br />

depois de carregado, ficou<br />

estacionado no posto<br />

lar quase 50 quilómetros em modo<br />

100% eléctrico, nunca ficando parado<br />

por falta de electricidade pois possui<br />

motor térmico (ICE) que trabalha em<br />

conjunto ou independente, sempre<br />

que necessário, e com um depósito de<br />

combustível que leva poucos minutos<br />

a encher. Esta é a melhor solução para<br />

quem usa maioritariamente o veículo de<br />

forma pendular em trajectos até 50 km<br />

e que tenha de se deslocar com alguma<br />

frequência em viagens mais longas, sem<br />

garantia de ter postos de carregamento<br />

nos locais de destino.+<br />

Nota: este texto está escrito no português<br />

sem acordo ortográfico por opção do autor.<br />

62 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 63


GOVERNO APOIA<br />

PROJETOS DE PRODUÇÃO<br />

Duarte Cordeiro, ministro do<br />

Ambiente, disse acreditar que<br />

Portugal pode passar de importador<br />

a exportador de energia<br />

João Filipe Jesus,<br />

diretor executivo<br />

da Dourogás<br />

LISBON GREEN GAS SUMMIT<br />

Dourogás quer descarbonizar<br />

e diz ter os gases ideais<br />

As metas para a transição energética e descarbonização da economia estão<br />

definidas, já se preconiza uma antecipação da data para 2045, e o setor do gás<br />

afirma estar preparado para acompanhar tais objetivos, com a produção de gases<br />

renováveis como o biometano e o hidrogénio verde. O Governo acredita mesmo<br />

que poderemos passar de importadores a exportadores de energia.<br />

Discutir o futuro do setor<br />

do gás como abastecedor<br />

de energia verde (limpa)<br />

para o país, acompanhando<br />

o processo de descarbonização,<br />

refletir sobre as vantagens<br />

dos gases renováveis para cumprir<br />

Por Carlos Branco<br />

tal objetivo, como o biometano e o<br />

hidrogénio verde levaram a Dourogás<br />

e a Sonorgás a promover a cimeira dos<br />

gases verdes. Aconteceu em Lisboa, em<br />

maio, onde se lançou um alerta: nem<br />

tudo neste país é eletrificável; há que<br />

contar ainda com o gás, desde que seja<br />

“verde”. O Governo disse estar ao lado e<br />

a apoiar quem os irá produzir.<br />

“Uma grande fatia da produção de<br />

energia em Portugal ainda tem origem<br />

no petróleo e no gás natural [uma<br />

parte deste para produzir energia<br />

elétrica], mas como ponto de partida<br />

Duarte Cordeiro, ministro do<br />

Ambiente e da Ação Climática<br />

Queremos tirar<br />

partido do<br />

aproveitamento<br />

integral das<br />

abundantes biomassas<br />

que abrangem toda a<br />

cadeia de valor que<br />

potencia o biometano<br />

em Portugal<br />

é um grande desafio que temos pela<br />

frente para descarbonizarmos a nossa<br />

matriz energética”, disse Nuno Afonso<br />

Moreira, CEO da Dourogás e Sonorgás,<br />

na alocução de abertura do encontro,<br />

lançando um sucinto panorama da situação:<br />

“Quem mais consome essa energia<br />

são os transportes e a indústria e se em<br />

ambientes urbanos sabemos que o futuro<br />

passará pela eletrificação dos consumos,<br />

também sabemos que ainda há espaço<br />

para as redes de gás que substituam os<br />

combustíveis com origem fóssil.”<br />

O GOVERNO E AS MAIS-VALIAS<br />

Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente<br />

e da Ação Climática, não poderia<br />

estar mais de acordo ao afirmar que<br />

“no nosso país nem tudo é eletrificável,<br />

pelo que podemos descarbonizar com<br />

uma estratégia de gases renováveis”, e<br />

justificou como fazê-lo: “Queremos tirar<br />

partido do aproveitamento integral das<br />

abundantes biomassas que abrangem<br />

toda a cadeia de valor que potencia o<br />

biometano em Portugal.”<br />

O governante alargou o leque de vantagens<br />

encontradas: “A produção e o<br />

consumo de biometano irá contribuir<br />

para o esforço de descarbonização e<br />

esta cadeia de valor do biometano permite,<br />

ainda, a obtenção de um coproduto<br />

que pode ser utilizado na agricultura<br />

como fertilizante, reforçando a<br />

capacidade orgânica dos solos e a sua<br />

capacidade de retenção de carbono,<br />

bem assim como o reforço da capacidade<br />

de retenção de água.”<br />

Havendo sintonia de ideias, o líder da<br />

Dourogás explicou que para a indústria<br />

e mobilidade, a eletricidade é usada<br />

para força motriz e iluminação, o gás<br />

natural para produzir calor. “É erra-<br />

64 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 65


EVENTOS<br />

Lisbon Green Gas Summit<br />

VISÕES ENVIESADAS<br />

E DISTORCIDAS<br />

Nuno Afonso Moreira,<br />

CEO da Dourogás<br />

do pensarmos que de um dia para o<br />

outro com a eletrificação do consumo<br />

seríamos capazes de descarbonizar toda<br />

a indústria. No setor da mobilidade,<br />

nomeadamente a ligeira, a eletrificação<br />

é uma medida muito positiva. Acreditamos<br />

que irá resolver a questão neste<br />

particular. Mas também é verdade<br />

que os consumos de eletricidade e de<br />

gás natural na mobilidade são muito<br />

semelhantes”, disse o líder da Dourogás,<br />

explicando de seguida o processo iniciado<br />

pelo grupo: “A Sonorgás iniciou há<br />

20 anos a deslocalização dos consumos<br />

de GPL para o gás natural a preparar o<br />

caminho para o que aí vem, para gaseificar,<br />

através dos gases renováveis. Nem<br />

todo o país vive o mesmo panorama,<br />

mas o ideal é que estivesse todo a remar<br />

para o mesmo lado. Há dez anos que já<br />

falamos do biometano. Já construímos<br />

dois projetos, em Mirandela e em Frielas,<br />

já fizemos o primeiro enchimento<br />

de veículos com biometano GNV.”<br />

MUITOS PROJETOS<br />

“E temos outros seis projetos em<br />

preparação para produzirmos uma<br />

quantidade significativa de biometano.<br />

Sendo o maior produtor de gás natural<br />

do país, abastecemos diariamente<br />

mais de mil viaturas pesadas. Não é um<br />

desejo, é uma obrigação, participarmos<br />

na descarbonização, através do biometano,<br />

mesmo que os nossos clientes<br />

ainda vivam na incerteza quanto à sua<br />

utilização. Mas é uma solução imediata.<br />

Também temos dez projetos para produzir<br />

hidrogéneo verde pelo país, para<br />

o podermos integrar na rede de gás,<br />

que será o melhor combustível para a<br />

indústria, aos preços mais baixos, ainda<br />

que a produção deste dependa muito<br />

do custo da eletricidade”, elencou Nuno<br />

Afonso Moreira.<br />

Que também disse ter sido desafiado<br />

pelo Governo a preparar um projeto<br />

para produção de metanol verde, em<br />

associação com outras empresas, projeto<br />

esse que foi aprovado. Será instalada<br />

em Mangualde uma fábrica de dimensões<br />

assinaláveis destinada a produzir<br />

E temos outros seis<br />

projetos em preparação<br />

para produzirmos uma<br />

quantidade significativa<br />

de biometano. Sendo<br />

o maior produtor de<br />

gás natural do país,<br />

abastecemos diariamente<br />

mais de mil viaturas<br />

pesadas<br />

hidrogénio e com o CO 2<br />

da chaminé da<br />

biomassa produzirá metanol. Este será<br />

transportado por ferrovia para o porto<br />

de Leixões e Aveiro. “Julgamos que o<br />

metanol será o combustível para o setor<br />

marítimo”, justificou o gestor, que anunciou<br />

uma novidade absoluta: a Dourogás<br />

já injetou, no final de março, na rede<br />

de gás da REN, 1 gWh de biometano,<br />

importado de Espanha, a que se seguirão<br />

outras adições de maior dimensão. “Até<br />

ao final do ano a nossa atividade será<br />

integralmente com biometano,” concluiu<br />

Nuno Afonso Moreira.<br />

O QUE É O BIOMETANO?<br />

Biometano é o nome dado a um combustível renovável derivado do biogás, constituído<br />

essencialmente por metano (85-95%), este obtido por remoção de dióxido de<br />

carbono e de impurezas (siloxanos, sulfureto de hidrogénio, entre outros), contidas<br />

no biogás. As suas caraterísticas são semelhantes às do gás natural, mas quando<br />

comparado com este reduz substancialmente as emissões CO 2<br />

e metano na atmosfera,<br />

apresentando-se como uma solução inteligente para o ambiente. O biogás é<br />

capturado pela decomposição de resíduos orgânicos, seja em aterros sanitários, das<br />

lamas das ETAR, ou mesmo pelo chorume produzido nas instalações agropecuárias.<br />

Já o hidrogénio verde é produzido por eletrólise da água usando energia de fontes<br />

renováveis e sem emissão de gases poluentes.<br />

DA IMPORTAÇÃO À EXPORTAÇÃO<br />

Ao dizer que o executivo que integra<br />

se associa à energia circular, o ministro<br />

sustenta que há financiamento do PRR<br />

(185 milhões de euros) para projetos<br />

de biometano, mas não esqueceu o<br />

dossier hidrogénio verde: “Já temos<br />

25 contratos assinados para a produção<br />

de hidrogénio verde e biometano,<br />

dotados com 100 milhões de euros de<br />

apoio, para produzir, até ao final de<br />

2025, 113 mWh de gases renováveis.<br />

Já determinámos a compra centralizada<br />

de hidrogénio e biometano, as<br />

suas quantidades e preços de injeção<br />

na rede, orientações importantes para<br />

a segurança dos investidores para que<br />

os projetos arranquem. A tal ponto de<br />

poder permitir a Portugal passar da<br />

condição de importador a exportador<br />

para o mercado europeu.”<br />

Com todos mais ou menos afinados<br />

pelo mesmo diapasão de ideias, pela<br />

Confederação da Indústria (CIP), Armindo<br />

Monteiro afiançou que “sem gás<br />

não teríamos o crescimento económico<br />

que temos tido em Portugal nos últimos<br />

tempos”, “da mesma forma que o<br />

mundo ainda não está preparado para<br />

a dispensa total de combustíveis, deixemo-nos<br />

de fantasias”. E se admitiu<br />

que “a transição energética é inevitável<br />

e desejável”, alertou que são dispensáveis<br />

os “estados de alma.”<br />

Luís Miguel Ribeiro, da AEP, pediu às<br />

empresas energéticas que produzam<br />

e distribuam essa energia a partir de<br />

fontes renováveis e a preços razoáveis.<br />

“É preciso andar rápido e a um custo<br />

economicamente aceitável”, sintetizou<br />

Alexandre Fernandes, presidente da<br />

ENSE. Já Luís Mira, secretário-geral da<br />

CAP, sublinhou que os agricultores estão<br />

interessados em utilizar os resíduos<br />

agrícolas para a produção de gases<br />

renováveis.+<br />

João Filipe Jesus, diretor executivo<br />

da Dourogás, comentou à eMOBI-<br />

LIDADE+ o teor das comunicações<br />

apresentadas, e não sem alguma ironia<br />

apreciou um fato ocorrido recentemente<br />

no terminal de gás natural do<br />

Porto de Sines, quando alguém decidiu<br />

bloquear a entrada e saída de cirternas<br />

naquela instalação:<br />

“Há um movimento que entende que<br />

devemos parar o consumo de gás. Mas<br />

admitamos o seguinte: essas pessoas<br />

podem ter ido a pé, ou de bicicleta,<br />

mas certamente gastaram energia.<br />

Admito, também, que essas pessoas<br />

tomaram banho de manhã e que depois<br />

tomaram um café, servido numa<br />

chávena de porcelana, que alguém<br />

produziu. De vez em quando temos<br />

uma visão muito enviesada e muito distorcida<br />

da realidade em que vivemos.<br />

Ora, nesta realidade, temos que ser<br />

plurais do ponto de vista tecnológico,<br />

agnósticos na arbitragens das tecnologias,<br />

não podemos ter a veleidade de<br />

dizer que tudo é eletrificável como o<br />

único caminho para a descarbonização.<br />

Não é plausível, pois no fim do dia<br />

são as famílias que pagam a transição<br />

energética.”<br />

A respeito da utilização do gás por<br />

veículos automóveis, João Filipe Jesus<br />

explicou que o gás natural representa<br />

atualmente 4% da mobilidade em<br />

Portugal, e que este valor já assegura<br />

menos 10 mil toneladas de CO 2<br />

/ano<br />

quando comparado com os combustíveis<br />

tradicionais. “Já estamos a dar<br />

essa contribuição e se queremos acelerar<br />

a penetração dos gases renováveis<br />

na mobilidade não podemos fechar<br />

essa porta de entrada, que é através<br />

do gás natural”, disse o diretor da<br />

Dourogás.<br />

No que se refere ao carregamento de<br />

veículos com biometano, João Filipe<br />

Jesus explicou que a sua potência<br />

energética é similar à do gás natural:<br />

“Estamos a falar de introduzir biometano<br />

no mix do GNV, nas formas gasosa<br />

ou liquefeita, para poder alimentar os<br />

transportes de grande curso. Nenhum<br />

operador destes transportes deverá<br />

recear a utilização deste gás limpo. É<br />

possível fazer quilómetros ‘verdes’ com<br />

motor de combustão interna, desde<br />

que seja de ciclo Otto e não ciclo<br />

diesel, adaptado a uma tecnologia que<br />

é a do petróleo.”<br />

66 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 67


MOBILIDADE INTEGRADA<br />

Colectiva, activa,<br />

partilhada,<br />

zero emissões<br />

Numa época em que as cidades e áreas metropolitanas continuam a crescer exponencialmente<br />

e em que tanto se fala da necessidade de reduzir o uso do automóvel individual, mas em que<br />

este continua a aumentar, esse objectivo apenas será alcançável com soluções à medida do<br />

cidadão e da sua necessidade pontual. Integradas, coordenadas, cómodas.<br />

Congestionamento de<br />

trânsito, poluição do ar,<br />

acessibilidade limitada e<br />

uso ineficiente de recursos<br />

são alguns dos problemas<br />

que afectam os actuais modelos de<br />

transporte. E a falta de soluções que<br />

compitam com o conforto e a liberdade<br />

proporcionados pelo automóvel<br />

apenas prolonga e agrava esta situação.<br />

O conceito de mobilidade integrada<br />

passa por criar um sistema de transporte<br />

contínuo e interconectado que<br />

combine vários modos de transporte.<br />

Ao integrar serviços de transporte<br />

público e colectivo, vias seguras para<br />

caminhada, bicicletas e outros veículos<br />

suaves e a partilha de viagens e de<br />

veículos, passar-se-á a fornecer opções<br />

de mobilidade eficientes, sustentáveis e<br />

convenientes para todos. À medida.<br />

MULTIMODAL, TECNOLÓGICO,<br />

PLANEADO<br />

No essencial, a mobilidade integrada é construída sobre<br />

três vectores principais: o transporte multimodal, as tecnologias<br />

de informação e comunicação, e a infraestrutu-<br />

ANTÓNIO GONÇALVES PEREIRA<br />

Presidente do Ecomood Portugal,<br />

Associação para a Promoção<br />

Solidária da Sustentabilidade na<br />

Mobilidade Humana; Embaixador<br />

do Pacto Climático Europeu<br />

Ao fornecer alternativas práticas e<br />

cómodas ao uso do carro particular e ao<br />

optimizar os fluxos de transporte, uma<br />

mobilidade mais integrada reduzirá o<br />

número de veículos nas estradas, levando<br />

à diminuição do congestionamento e a<br />

operações de trânsito mais suaves<br />

ra e o planeamento urbano. Vejamos<br />

cada uma delas mais em detalhe:<br />

Transporte multimodal – refere-se<br />

à integração de diferentes modos de<br />

transporte de forma coesa e racional.<br />

Isso implica criar redes que permitam<br />

aos passageiros fazerem uma transição<br />

confortável entre transportes públicos<br />

rodoviários e ferroviários, bicicletas<br />

ou outros modos suaves e trajectos<br />

pedonais. Ao oferecer uma panóplia<br />

de opções, a mobilidade integrada<br />

capacita o indivíduo para escolher o<br />

modo de transporte mais eficiente e<br />

conveniente para as suas necessidades<br />

específicas, reduzindo a dependência<br />

do automóvel particular e atenuando o<br />

congestionamento do trânsito.<br />

Tecnologias de informação e<br />

comunicação – desempenham um<br />

papel crucial no sucesso da integração.<br />

Aproveitando dados, sensores e<br />

conectividade, informações em tempo<br />

real podem ser fornecidas não somente aos operadores mas,<br />

sobretudo, aos viajantes, permitindo-lhes tomar decisões<br />

informadas sobre as suas deslocações. Os aplicativos móveis<br />

podem oferecer planeamento de viagens multimodais, plataformas<br />

de boleias, atualizações de trânsito em tempo real e,<br />

até, sistemas de emissão de bilhetes integrados. A tecnologia<br />

permitirá também a optimização de rotas e a gestão adaptativa<br />

dos fluxos de trânsito.<br />

Infraestrutura e planeamento urbano – são os principais<br />

facilitadores. A construção de ciclovias exclusivas, de ruas<br />

para pedestres e de centros intermodais (hubs), incentivará o<br />

uso de meios de transporte activos, não motorizados ou suaves.<br />

Soluções tão simples como estacionamento seguro para<br />

bicicletas junto às estações de comboio ou aos terminais de<br />

transporte rodoviário são de grande importância. A infraestrutura<br />

inteligente, como semáforos conectados e sistemas de<br />

gestão de estacionamento, pode optimizar também os fluxos<br />

de trânsito e melhorar a eficiência geral do transporte. A<br />

integração da infraestrutura de transporte com o planeamento<br />

urbano garante que as cidades sejam projetadas com o objetivo<br />

de fornecer opções de transporte convenientes e acessíveis<br />

para todos os residentes. E aqui entra também a essencial<br />

coordenação entre operadores e entre decisores, tanto centrais<br />

como, sobretudo, municipais. Uma área metropolitana tem<br />

de ser encarada como um grande todo e não como um mero<br />

conjunto de municípios vizinhos.<br />

VANTAGENS HUMANAS, AMBIENTAIS E ECONÓMICAS<br />

Ao fornecer alternativas práticas e cómodas ao uso do carro<br />

particular e ao optimizar os fluxos de transporte, uma mobilidade<br />

mais integrada reduzirá o número de veículos nas estradas,<br />

levando à diminuição do congestionamento e a operações<br />

de trânsito mais suaves. Isso não apenas economiza tempo aos<br />

passageiros, como também reduz as emissões de gases de efeito<br />

estufa, promovendo uma maior sustentabilidade ambiental.<br />

Além disso, a mobilidade integrada melhora a acessibilidade,<br />

garantindo que as opções de transporte estejam disponíveis<br />

para todos os indivíduos, independentemente das<br />

suas limitações de mobilidade e também, em certa medida,<br />

da sua condição económica, tornando o transporte mais<br />

inclusivo e equitativo.<br />

Do ponto de vista económico, aliás, a mobilidade integrada<br />

68 e-MOBILIDADE + e-MOBILIDADE + 69


MOBILIDADE<br />

Opinião António Gonçalves Pereira<br />

pode levar a uma considerável economia de custos, tanto para<br />

os indivíduos, como para a sociedade. Ao maximizar a utilização<br />

das infraestruturas existentes, reduz-se a necessidade de<br />

possuir um automóvel individual e as despesas associadas à<br />

manutenção do carro, combustíveis e taxas de estacionamento.<br />

E reduzir-se-á também a gigantesca pegada da produção<br />

de veículos.<br />

O advento dos veículos autónomos apresenta também novas<br />

possibilidades para integrar carros e autocarros autónomos<br />

nas redes de transporte multimodais. A mobilidade elétrica<br />

está em ascensão, e a integração de veículos elétricos e o<br />

desenvolvimento da infraestrutura de carregamento desempenharão<br />

um papel significativo no transporte sustentável.<br />

NÃO É PROPRIAMENTE<br />

UMA NOVIDADE<br />

Estes princípios estão já a ser postos em prática em várias cidades<br />

um pouco por todo o mundo. Em quase todos os casos<br />

começaram por sofrer alguma resistência, mas apresentam já<br />

excelentes resultados. A aplicação em Singapura do conceito<br />

“Mobility-as-a-Service (MaaS)” integra o transporte público,<br />

boleias e plataformas de partilha de bicicletas, permitindo que<br />

os passageiros planeiem e paguem as suas viagens de forma<br />

prática e descomplicada. O “Whim App” já implementado em<br />

cidades como Helsínquia fornece uma plataforma abrangente<br />

para os utentes planearem, reservarem e pagarem por vários<br />

meios de transporte<br />

num único aplicativo.<br />

O ‘bilhete único<br />

nacional’ a 49 Euros<br />

recentemente apresentado<br />

na Alemanha<br />

teve uma adesão<br />

imediata de mais de<br />

10 milhões de utentes<br />

e representou desde<br />

logo consideráveis<br />

INTEGRAÇÃO<br />

O advento dos veículos<br />

autónomos apresenta também<br />

novas possibilidades para<br />

integrar carros e autocarros<br />

autónomos nas redes de<br />

transporte multimodais<br />

poupanças nas emissões e nos congestionamentos. As muitas<br />

‘ilhas’ de 20km/h, e agora também de 10, já existentes ou em<br />

fase de concretização em Barcelona são outro bom exemplo,<br />

com excelentes resultados. E Amsterdão é sobejamente<br />

conhecida pela sua infraestrutura ciclável, perfeitamente integrada<br />

com o transporte colectivo, tornando-se um ex-libris de<br />

mobilidade integrada.<br />

OS DESAFIOS<br />

Embora o potencial da integração na mobilidade seja vasto,<br />

há dificuldades e desafios a serem superados. Como, por<br />

exemplo, a integração tecnológica entre diferentes modos<br />

e sistemas de transporte, por forma a serem capazes de se<br />

comunicarem e compartilharem dados de forma eficaz. E a<br />

coordenação entre decisores e entre operadores. A colaboração<br />

entre as partes interessadas públicas e privadas é vital.<br />

Mas a percepção e a vontade do público é, sem dúvida, o<br />

maior desafio. Implementar mudanças de mentalidades e,<br />

sobretudo, de comportamentos requer educação, campanhas<br />

de consciencialização e acções de demonstração prática dos<br />

benefícios da mobilidade integrada. Ou seja, requer algo que<br />

muito temos desperdiçado: tempo.<br />

Aceleremos, portanto, na integração e na sensibilização. No<br />

que cada um de nós pode fazer melhor, enquanto indivíduo e<br />

enquanto parte integrada no seu meio envolvente e na sociedade.<br />

Só assim se conseguirá atingir um verdadeiro ecossistema<br />

de transporte integrado. Prático, cómodo, sustentável,<br />

saudável e equitativo. Ou seja, racional e feliz.+<br />

Nota: este texto está escrito no português de Portugal que decidi<br />

adoptar, sem a maior parte do (des)acordo ortográfico.<br />

eDAILY.<br />

Liberte uma nova energia.<br />

. APENAS ELÉTRICA<br />

70 e-MOBILIDADE +<br />

A eDAILY 100% elétrica liberta-o de qualquer limitação, dúvida ou compromisso.<br />

Graças ao seu chassi único de longarinas, motor de 140kW com Hi Power Boost,<br />

baterias de 37kWh com possibilidade de expansão, vários modos de carregamento,<br />

ePTO de 15kW e com a mesma capacidade rebocável que a versão Diesel, pode fazer<br />

tudo e ir a qualquer lugar, protegendo o meio ambiente e dando uma nova solução<br />

energética ao seu negócio.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!